Quando o punk-rock explodiu na cena anglo-americana em meados dos Anos 1970 -- pregando de forma truculenta aquele discurso de ruptura bem burrão, de classe operária vingativa --, seus líderes achavam estar derrubando muros em busca de algum tipo de libertação.
Na verdade, não tinham massa encefálica suficiente para perceber que a desconstrução das formas musicais que eles combatiam frontalmente era, antes de mais nada, um flerte aberto com o suicídio do rock and roll.
Por sorte, antes de conseguir cumprir seu propósito, o punk-rock se autodestruiu por absoluto esgotamento temático e existencial em apenas dois anos de vida.
Por sorte também, muitas bandas emergentes na época não se deixaram sensibilizar pela atitude autodestrutiva dos punks e saíram em busca de outros caminhos.
E por mais sorte ainda, a cena pós-punk que veio logo a seguir abriu os braços para todas as manifestações musicais desalinhadas que surgiam em todos os cantos do Planeta, e as acolheu sem restrições.
Os californianos The Blasters são uma dessas bandas desalinhadas que surgiram na esteira do punk-rock, mas que do punk-rock herdou apenas o imediatismo musical e atitude do it yourself.
Sob o comando dos irmãos Phil Alvin (voz) & Dave Alvin (guitarra), mais o baterista Bill Bateman e o baixista John Bazz, sabiam combinar de forma brilhante elementos de blues, rhythm & blues e rockabilly, e eram tão bons no preparo desse bem-bolado musical que ganharam fama como a "banda cavalo" favorita dos veteranos desses três gêneros sempre que chegavam sem banda para se apresentar em Los Angeles.
Eram pau para toda obra.
Gravaram seu primeiro disco como quarteto pela Hightone Records em 1980, mesclando muitos clássicos com alguns números originais.
No segundo disco, de 1981, eles se reinventaram como um septeto, com um pianista e dois saxofonistas cuspindo ijá veio pela Slash!, um selo ligado ao Grupo Warner.
Eu, pessoalmente, jamais vou conseguir esquecer da porrada que levei quando conheci a banda através de seu terceiro e excelente LP, Non-Fiction, que chegou a ser lançado pela Warner brasileira em 1983.
Mas, infelizmente, logo após o lançamento do seu quarto disco, Hard Line (1985), os Irmãos Alvin se pegaram no tapa e os Blasters se desintegraram.
Phil Alvin até tinha uma ótima expectativa de futuro como artista solo, e chegou a brilhar em Romeo's Escape (1987), mas perdeu o rumo de sua carreira e não chegou a gravar um segundo disco, preferindo reeditar os Blasters -- só que sem seu irmão Dave.
Dave Alvin, por sua vez, engatou uma carreira solo brilhante, gravando mais de uma dúzia de LPs fundamentais e impecáveis e tornando-se um dos artistas mais respeitados da cena musical americana dos últimos 30 anos, trafegando pela alma musical americana com uma grandeza só comparável ao trabalho de seu amigo, também guitarrista, Ry Cooder.
Pois eis que agora os dois fizeram as pazes ano passado e decidiram gravar um disco juntos depois de 30 anos distantes um do outro.
E na hora de escolher repertório, uma surpresa: os dois optaram por gravar apenas canções do mestre do blues Big Bill Broonzy -- só que com a urgência rockabilly característica dos Blasters.
Essa brincadeira deu nesse delicioso Common Ground (um lançamento Yep Roc Records), uma pequena obra-prima que recicla de forma inusitada o repertório desse grande cantor e compositor americano de blues.
A voz tenor de Phil se alterna com o tom baixo da voz de Dave, e os dois viajam maravilhosamente bem em canções de Big Bill pouco gravadas como Tomorrow, You've Changed e Stuff They Call Money.
Para quem estava com saudades dos Blasters, Common Ground é o antídoto perfeito.
Já para quem ainda não conhece o legado musical brilhante dessa grande banda californiana, é, certamente, um excelente ponto de partida.
AMOSTRAS GRÁTIS
Nenhum comentário:
Postar um comentário