domingo, julho 03, 2016

2 OU 3 COISAS SOBRE "A CURE FOR LONELINESS", NOVO LP DE PETER WOLF

por Chico Marques


Pode ser difícil de acreditar para os mais jovens, mas, ao longo de toda a primeira metade da década de 70, Peter Wolf brilhava na linha de frente de uma banda sensacional -- hoje meio esquecida -- que promovia performances ao vivo tão vigorosas a ponto de rivalizar diretamente com os Rolling Stones.

A J. Geils Band era implacável em todos sentidos: tinha um repertório demolidor focado no rhythm and blues dos Anos 60 mas com uma velocidade típica dos Anos 70, quase todo assinado pelo engraçadíssimo cantor Peter Wolf e pelo endiabrado tecladista Seth Justman.

Claro que a harmonica anfetaminada de Magic Dick, o suingue acelerado da guitarra de Jay Geils e a cozinha rapidíssima de Stephen Jo Bladd e Daniel Klein sempre fizeram toda a diferença.



Mas diferenças artísticas e pessoais fizeram com que Peter Wolf deixasse a banda no início dos Anos 80 para seguir carreira solo, justo no momento em que a banda vendia milhões de discos.

Eles bem que tentaram seguir em frente sem Wolf, mas não teve jeito:

Ele não era apenas a voz da banda, era também a cara dela. 



Não se pode dizer que a carreira solo de Peter Wolf nunca tenha prosperado como merecia.

Mas o fato é que ela nunca decolou para valer rumo ao estrelato, até porque Wolf nunca facilitou muito as coisas para agradar ao grande público.

Fiel ao rhythm and blues praticado desde os tempos da J Geils Band, Wolf começou a experimentar novas saídas musicais como compositor, trabalhando com diversos parceiros e mudando de mala e cuia para a cena independente para poder trabalhar em paz, sem interferências de executivos de gravadoras.



Agora, Peter Wolf está de volta com solo em 32 anos: A Cure for Loneliness (um lançamento Concord Records), um disco leve e descompromissado onde assume seus 70 anos de idade sem olhar muito para trás e não permitindo em momento algum que isso pese nas suas costas.

A mistura musical que permeia o disco é tão curiosa que chega a ser risível. Vai do folk urbano classudo ao country dor de corno sem a menor cerimônia, passando por números de rock and roll, soul music, cajun e até gospel, quase todos compostas em parceria com e especialista Will Jennings.  

As excessões são It Was Always So Easy (To Find an Unhappy Woman), uma balada country de Moe Bandy que fez algum sucesso em 1974, Tragedy, um número clássico do grupo de doo-wop DeLons e Love Stinks, número de rock clássico do repertório de sua própria J Geils Band, que aqui recebe um arranjo bluegrass engraçadíssimo.



Tem um número musical em A Cure For Loneliness que foge um pouco ao tom do desencanado que predomina no disco.

Trata-se de It’s Raining, composta em parceria com o amigo soulman Don Covay, falecido ano passado.

Wolf propôs ao também amigo e soulman Bobby Womack gravar a canção em dueto, numa homenagem a Don Covay.

Mas então, pouco antes de entrarem em estúdio, para surpresa geral, Bobby Womack faleceu.

O jeito foi gravá-la sozinho, num arranjo bem pedestre, à moda de Memphis, e dedicá-la a esses dois grandes mestres e parceiros musicais.

Como um tributo à longevidade e à teimosia em seguir em frente, sempre.



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