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sábado, maio 06, 2017

PACOTEIRA MUSICAL DE FIM DE SEMANA: DAVID BOWIE, GENESIS, CHARLIE WATTS, PHIL MANZANERA & ROBIN TROWER

por Chico Marques


Quando as grandes multinacionais do disco pararam de vender cds feito água e tiveram que rever sua maneira de trabalhar, fechando as torneiras e repensando suas estratégias (caríssimas) para promover novos artistas, todos os veteranos que há anos viviam à margem da Indústria, por venderem poucos discos, voltaram a ser assediados pelas gravadoras de uma hora para outra.

É que, na medida em que a crise estava castigando a Indústria, e eles eram artistas bem conhecidos, que dispensavam investimentos em promoção, seus trabalhos voltaram a ser viáveis comercialmente, e eles passaram a gozar de uma situação confortável com a Indústria como há muito não acontecia. Em tempos difíceis, o público cativo desses veteranos passou a ser um diferencial precioso.

Com isso, tanto os novos discos gravados por veteranos quanto relançamentos ou antologias com material inédito desses artistas passaram a ser disputados a tapa pelas gravadoras e a surgir com frequência no mercado.

Selecionamos 5 discos que seguem mais ou menos este perfil, acabam de chegar ao mercado e, mesmo não sendo fundamentais, merecem ser ouvidos com muita atenção e -- por que não? -- algum carinho.



DAVID BOWIE
Cracked Actor (Live Los Angeles 1974)
(Parlophone UK)

A Indústria Fonográfica tem razões que a própria razão desconhece. Como explicar a pressa da RCA em lançar "David Live" em 1974, com gravações do início atrapalhado da tournée "Diamond Dogs", sendo que as apresentações do meio da tournée em diante foram infinitamente superiores? Aqui, o produtor Tony Visconti assume sua parcela de culpa e repara o erro estratégico da RCA, resgatando com todas as honras um show espetacular de Bowie no L.A. Forum, já com músicos com uma levada soul em sua banda -- Carlos Alomar, David Sanborn, Luther Vandross --, e antecipando o clima musical e algumas canções ainda inéditas que só iriam aparecer no album "Young Americans", do ano seguinte, 1975. Na época, muita gente achou forçação de barra a mudança abrupta de Bowie do glam-rock de "Diamond Dogs" para o glam-soul de "Young Americans". Mas basta ouvir "Cracked Actor" para perceber claramente que existiu um período de transição muito criativo e extremamente orgânico ligando entre essas duas fases. Ele só não estava disponível para nós, pobres mortais admiradores de Mr. Bowie. Pois agora está. Que lindo disco...


GENESIS
50 Years Ago
(Jonjo Music UK)

Era inevitável: todos sabiam que a proximidade do 50° Aniversário de carreira do Genesis iria levar as gravadoras por onde a banda passou a promover uma devassa nas geladeiras em busca de velhos tapes esquecidos que permaneceram inéditos. A antologia "50 Years Ago" é exatamente isso. Focaliza o período 1967-1968, imediatamente anterior ao disco de estreia da banda: "From Genesis To Revelation". Traz versões demo e takes alternativos de praticamente todo o repertório do disco, além de algumas curiosidades e raridades que devem deixar os fãs mais ardorosos da banda completamente alvoroçados. Como o folk-psicodélico de "From Genesis To Revelation" não é exatamente uma unanimidade entre a maioria dos fãs da banda, esse disco vai interessar somente aos fãs mais incondicionais deles. De qualquer maneira, vale a pena conhecer.


CHARLIE WATTS & THE DANISH RADIO BIG BAND
Charlie Watts Meets The Danish Radio Big Band
(Impulse! US)

Muita gente não consegue entender como o baterista da maior banda de rock de todos os tempos consegue levar uma vida paralela como baterista de orquestras de Swing. Até porque Swing e Rock & Roll em princípio não combinam nem musicalmente e nem em termos comportamentais: são gêneros completamente antagônicos. Mas para Charlie não tem tempo ruim, está tudo em casa, ele trafega tranquilamente bem pelos dois terrenos, sem sustos. Se nos Stones ele segura todas as doideiras dos outros membros da banda proporcionando uma base sólida, criativa e infalível, aqui, com a Danish Radio Big Band, ele cumpre exatamente o mesmo papel. Muda apenas o contexto musical. A novidade é que, dessa vez, não se trata de um disco de Swing e sim uma longa suite de jazz à moda de Duke Ellington, trabalhando vocalizações e tonalidades musicais africanas. E então, bem no meio de uma dezena de músicos, lá está o pequeno grande Charlie Watts posando de líder (para puxar a vendagem do disco, claro!), mas na verdade dividindo as responsabilidades com todos os outros músicos da Big Band. Impoluto e imperturbável, como sempre. Figuraça!

PHIL MANZANERA
Live At The Curious Arts Festival
(Expression Records UK)

O guitarrista e produtor Phil Manzanera é um artista surpreendente. Conhecido por seu trabalho sensacional no Roxy Music como produtor, arranjador e compositor, ele sempre manteve uma carreira solo paralela desenvolvendo um trabalho extremamente experimental. Curiosamente, nessa apresentação ao vivo no Curious Arts Festival, ele passeia pelo repertório clássico do Roxy Music acompanhado por músicos jovens e dando suporte a uma jovem cantora excepcional chamada Sonia Bernardo, que reinventa essas velhas canções à moda dela. Fãs mais ardorosos de Bryan Ferry podem eventualmente torcer o nariz. Eu, pessoalmente, achei ótimo. Um disco surpreendente e inusitado.

ROBIN TROWER
Time and Emotion
(V12 Records UK)

Robin Trower é um artista curioso. Em seus tempos no Procol Harum nos Anos 60, era tido como um dos guitarristas mais arrojados e inventivos da Inglaterra. Nos Anos 70, saiu em carreira solo e mudou radicalmente seu estilo, apresentando-se como candidato ao trono de Jimi Hendrix. Ganhou projeção mundial como Ás da Guitarra. E então, dos Anos 80 para cá, pouco a pouco foi deixando os cacoetes hendrixianos de lado e procurando sua identidade musical em discos cada vez mais complexos e menos apelativos ao grande público. Agora, aos 72 anos de idade, nesse "Time & Emotion', Robin parece ter decidido conjugar seus conceitos musicais mais cerebrais com investidas bem explosivas em sua guitarra, sem medo de vez ou outra soar como Jimi Hendrix nos Anos 60, ou como Robin Trower nos Anos 70. "Love & Emotion" é um disco de maturidade. Mas que de frouxo não tem absolutamente nada. Não se enganem: Robin Trower continua uma fera na guitarra. 





CHICO MARQUES
é comentarista,
produtor musical
e radialista
há mais de 30 anos,
e edita a revista cultural
LEVA UM CASAQUINHO
e o blog musical
ALTO & CLARO 



terça-feira, fevereiro 03, 2015

30 ANOS DEPOIS DE "BOYS AND GIRLS", BRYAN FERRY DESAFIA O TEMPO E GANHA A PARADA.



De todos os herdeiros musicais do pop impressionista de Scott Walker nos anos 60, Bryan Ferry é disparado o melhor e o mais original.

Desde seu início de carreira à frente do Roxy Music, sua presença sempre foi intensa e marcante, e se destacava em meio àqueles músicos tarimbadíssimos com uma postura andrógina e trajando decadentistas.

Era uma banda complicada. A orientação musical de Brian Eno e Phil Manzanera nos arranjos e nas composições deixou marcas muito fortes nos primeiros álbuns deles. Bryan, ao invés de confrontá-los para conquistar mais espaço no processo criativo da banda, optou por guardar a maioria das idéias que tinha para usar em seus trabalhos solo. Trabalhos que pareciam mais apêndices aos discos do Roxy, já que eram compostos por covers de suas canções preferidas. Só que, na verdade, não eram apenas covers, e sim ensaios para um projeto artístico que ainda estava em gestação, aguardando o momento certo para vir à público.  

Mas então, em meio a muita tensão, o Roxy Music fez uma pausa de quase 4 anos depois do LP "Siren", e quase todos os integrantes da banda embarcaram em carreiras solo ou projetos paralelos. 

Foi quando Bryan sentiu que estava na hora de dar um tempo com os LPs de covers -- já tinha gravado 3 até então -- para apostar num projeto mais consistente, todo autoral. 

E surpreendeu a todos -- crítica e público -- com dois álbuns solo muito fortes, "In Your Mind" e "The Bride Stripped Bare", onde aqueles estranhamento musical cultivado pelo Roxy Music era trocado por texturas eletrônicas mescladas a guitarras e teclados modernosos e de um bom gosto implacável.




O sucesso desses dois discos solo trouxe a Bryan Ferry um status diferenciado assim que o Roxy Music voltou em 1979 -- até porque foi o único integrante da banda que se deu bem nas suas empreitadas solo. 

E Bryan começou a ganhar cada vez mais espaço dentro do Roxy. 

Nas sessões de gravação de "Flesh + Blood", sua liderança ficou tão evidente que o guitarrista Phil Manzarena não hesitou em entregar os pontos e permitir que a banda se transformasse numa espécie de veículo para as -- ótimas -- idéias musicais de Bryan Ferry. 

Até que em "Avalon" (1982), Bryan finalmente engoliu o Roxy. 

E fez isso num padrão de excelência tão inquestionável que levou os integrantes da banda à terrível conclusão de que a banda não tinha mais onde ir dali em diante -- e encerrou atividades, voltando aos palcos apenas para tournées comemorativas.

É nesse momento que a carreira solo de Bryan Ferry começa pra valer.

E ele passa a apostar em discos caríssimos e extremamente bem produzidos como "Boys And Girls" (1985), " La Bète Noire" (1987), "Mamouna" (1994) e "Olympia" (2010), todos com composições próprias e arranjos altamente sofisticados, envolvendo dezenas de músicos de primeiro time em contrapontos de guitarras com bases eletrônicas que quase sempre resultavam em pequenas peças pop de uma sensualidade à toda prova.


Agora, aos 69 anos de idade, logo depois de gravar um disco instrumental onde, para surpresa geral, rege uma orquestra à moda dos Anos 30, Bryan Ferry surpreende com um novo álbum de inéditas chamado "Avonmore" (um lançamento BMG), onde propõe um resgate pleno daquela sonoridade atemporal do Roxy Music em "Avalon".

"Loop De Li", faixa que abre o disco, é linda, dramática, dançante, absolutamente envolvente, um clássico instantâneo. 

Vem seguida de "Midnight Train", uma canção de amor perdido completamente arrebatadora, composta há mais de 20 anos, e que, estranhamente havia ficado de fora de seus álbuns anteriores.

E então, "Soldier Of Fortune", outra canção intensa, composta em parceria com Johnny Marr, vem emoldurada por um trabalho de guitarra delicadíssimo, simplesmente magnífico.

E por aí vai. Bryan não deixa o ritmo de "Avonmore" cair em momento algum nos cinco números autorais que seguem -- todos de altíssimo gabarito.

Eu só lamento pelos dois covers que encerram o disco. 

Confesso que me pareceu um equívoco o tratamento blasé que ele deu para "Send In The Clowns", de Stephen Sondheim. Por mais audacioso que possa parecer despir uma canção dessas de toda a sua dramaticidade para fazer dela algo pedestre e climático, o caso é que não funcionou.

Já a releitura intimista que ele fez para "Johnny and Mary", de Robert Palmer, sem a urgência obsessiva da versão original, até pode soar simpática à primeira audição, mas infelizmente acentua todas as fragilidades estruturais da canção.

"Avonmore" seria um disco excelente se esses dois covers tivessem sido
eliminados do final cut, mas a empreitada é vitoriosa, apesar desses pequenos deslizes.

E que time de músicos ele reuniu dessa vez: Nile Rodgers, Mark Knopfler, Fonzi Thornton, Marcus Miller, Neil Hubbard, Chris Spedding, Flea, Guy Pratt, Andy Newmark, James Moody e muitos, muitos outros.

A produção, sempre perfeita, é de Bryan com seu velho parceiro Rhett Davies.


Aos 69 anos de idade, Bryan Ferry continua com sua voz intacta e sua presença de palco tão marcante quanto era nos anos 1980.

"Avonmore" tenta vender a idéia de o tempo passou mas nada mudou.

A delicadeza e o refinamento musical de outras décadas podem perdurar indefinidamente, e que não há nada mais moderno do que um projeto artístico atemporal.

A começar pela foto da capa do disco, com nosso galante crooner pop aos 30 e poucos anos de idade.

Se algum de vocês um dia precisar definir em uma imagem a palavra "chic", garanto que uma foto 3x4 de Bryan Ferry resolve a parada.




WEBSITE OFICIAL
http://www.bryanferry.com/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/bryan-ferry-mn0000524050/discography

AMOSTRAS GRÁTIS 

quinta-feira, novembro 13, 2014

O RESGATE EMOCIONADO DE RICHARD WRIGHT NA DESPEDIDA EMOCIONANTE DO PINK FLOYD


Pink Floyd é uma banda que sempre desafiou definições e classificações.

O início, viceralmente psicodélico, com o genial Syd Barrett no comando, destoava e muito da cartilha da psicodelia, flertando abertamente com a música avant-garde européia

O trauma causado pela saída abrupta de Barrett da banda por problemas mentais logo após o lançamento do primeiro LP, "The Piper At The Gates Of Dawn", levou o Pink Floyd a se unir de forma muito intensa, estabelecendo um núcleo musical sólido para poder seguir em frente.

Desse núcleo surgiu uma comunhão profunda entre o recém-chegado guitarrista David Gilmour e o tecladista Richard Wright, o baixista Roger Waters e o baterista Nick Mason.

A meta dos quatro membros da banda era seguir na cena combinando seus talentos individuais em um trabalho que pudesse ser relevante, e assim tentar suprir a falta causada pela ausência de Syd Barrett.

Apoiaram-se num padrão de perfeccionismo nunca antes experimentado por uma banda de rock, e seguiram em frente, e alcançaram um sucesso artístico e comercial assombroso.

Por conta desse perfeccionismo,não havia espaço para qualquer tipo de virtuosismo.

Trata-se de uma experiência coletiva por excelência, que gerou álbuns perfeitos como "Atom Heart Mother", "Meddle", "The Dark Side Of The Moon" e "Wish You Were Here", colocando o Pink Floyd num patamar onde nenhuma outra banda jamais esteve.



Infelizmente, rusgas internas entre o baixista Roger Waters e os outros integrantes começaram a vir à tona em meados dos anos 70, refletindo diretamente no trabalho da banda.

Trabalho que, a cada disco, ficava mais conceitual e mais orientado por Roger Waters.

Paradoxalmente, sua liderança começou a conspirar contra a coesão do Pink Floyd.

Essas diferenças artísticas pouco a pouco ficaram tão incontornáveis que Roger Waters teve que deixar a banda após o lançamento do LP "The Final Cut" -- que já tinha todo um jeitão de "seu primeiro disco solo" --, tamanho o desinteresse e a falta de envolvimento de seus parceiros no projeto.

Depois da separação, David Gilmour, Richard Wright e Nick Mason acharam por bem deixar a banda no estaleiro por alguns anos para esperar a poeira baixar.

E então, depois de se dedicarem a projetos solo, os três decidiram que o Pink Floyd voltaria em um novo formato: aboliram o formato original de quarteto e transformariam Pink Floyd numa banda enorme, com vários músicos contratados, sempre prontos para cair na estrada.


Seguiram juntos e coesos -- e sempre no topo das paradas -- até 1994, quando lançaram "The Division Bell".

Promoveram o disco numa tournée vitoriosa, e, ao final dela, se despediram oficialmente de seu público.

E tudo indicava que era o fim mesmo.

O que pouca gente sabia é que "The Division Bell" havia sido projetado originalmente para ser um álbum duplo, com duas horas de música -- sendo um dos discos completamente instrumental, com uma suite musical de uma hora de duração criada por Richard Wright e chamada "The Big Spliff", que permaneceu inédita.

Quando Wright morreu em 2008, pouca gente lembrava que esses tapes existiam em alguma geladeira da Columbia Records.

Mas David Gilmour e Nick Mason lembravam.

Aliás, não só lembravam como acalentavam uma maneira de trazê-la a público numa espécie de álbum de despedida da banda em memória de Richard Wright e em louvor à união inabalável que existia entre eles três.


Foi assim que "The Endless River" -- o décimo quinto disco da banda, lançamento Sony-Columbia -- começou a nascer.

Ano passado, meio que na surdina, Gilmour e Mason começaram a trabalhar nesses velhos tapes.

Daí chamaram o amigo guitarrista e produtor Phil Manzanera para dar uns palpites, além de outros dois produtores.

Eles optaram por desmembrar a suite original para deixá-la ainda mais climática, acrescentando diversos outros instrumentos sem descartar jamais as participações gravadas de Wright no mix final.

E o resultado desse trabalho de resgate é primoroso.

E emocionante.

A faixa de encerramento, "Louder Than Words", escrita por Gilmour e cantada por Polly Samson, sua mulher, dá o tom da união inabalável e da despedida que aponta ao eterno retorno.

Os versos  principais da canção explicam porque de um álbum instrumental nos 45 minutos do segundo tempo e revelam a tônica do que manteve o Pink Floyd em pé ao longo de todos esses anos:

"The sum of our parts / The beat of our hearts / It’s louder than words"



Para mim -- e acredito que para muitos de vocês também -- é um prazer enorme ver o núcleo do Pink Floyd unido novamente, como nos velhos tempos pós-Syd Barrett, nesse projeto que foge por completo ao padrão dos outros 14 discos da banda.

Eu vejo "The Endless River" como um belo posfácio a uma carreira magnífica.

Que começou sob o signo da psicodelia e do música de vanguarda para aos poucos flertar com o atemporal, sem jamais cair em anacronismos.

Faço questão de aplaudir David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright -- e porque não Phil Manzanera? -- pelos momentos deliciosos que "The Endless River" me proporcionou ao longo desta última semana.

E isso não é uma crítica objetiva -- que se dane a objetividade.

Estou é prestando reverência a heróis musicais que cultivo há mais de 40 anos

Bravo, rapazes! Agora é deixar que o rio siga seu curso.



WEBSITE OFICIAL
http://www.pinkfloyd.com/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/pink-floyd-mn0000346336/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

sábado, junho 14, 2014

JACK BRUCE ESTÁ DE VOLTA EM EXCELENTE FORMA, E COM UM DISCO MAGNÍFICO



Todo ano, entre Fevereiro e Junho, a Indústria Fonográfica Anglo-americana abre alas para os artistas veteranos e também para os artistas alternativos.

É o momento em que eles saem de suas tocas, onde passaram o Inverno trabalhando, e ressurgem no mercado com trabalhos novos.

Daí já engatam uma Tournée de Primavera, que pode ou não se estender verão adentro, dependendo da resposta de público. É assim que a coisa funciona desde sempre.

Desde a crise que assolou o meio fonográfico de 15 anos para cá, no entanto, um fenômeno curioso vem acontecendo.

Artistas veteranos, que antes eram escanteados por não venderem milhões de cópias, hoje são tratados a pão-de-ló pela Indústria por terem público cativo.

Seus discos deixaram de ser lançados de qualquer jeito no último mês de Inverno e, dependendo do potencial de vendas de cada um, estão tendo seus lançamentos deslocados para meados da Primavera, com todo o destaque na Imprensa que eles tem direito.


Jack Bruce é um desses artistas

Em 52 anos de carreira, ele sempre foi sinônimo de integridade e excelência musicais.

Desde o início, em 1962, na noite londrina, tocando no lendário grupo Alexis Korner Blues Incorporated.

Passando pelo Cream, ao lado de Eric Clapton e Ginger Baker, onde, em 1966, definiu o conceito de power-trio e estabeleceu as bases do blues-rock.

E culminando num trabalho solo multifacetado, explorando as formações as mais diversas -- às vezes com músicos de jazz, outras vezes com músicos de rock, às vezes pilotando seu contrabaixo, outras vezes simplesmente sentado ao piano, mas sempre soltando sua voz privilegiadíssima.

Jack esteve aqui no Brasil dois anos atrás com essa banda repleta de músicos jovens na foto abaixo e deixou todo mundo boquiaberto com o vigor musical renovado de sua música.



Nesses últimos 45 anos, Jack Bruce vem gravando discos nada óbvios, nada fáceis e sempre surpreendentes.

Mas dessa vez, com 'Silver Rails" (Esoteric Antenna Records), a surpresa veio curiosamente pela contramão.

É um disco envolvente, coeso, sereno e repleto de canções que grudam nos ouvidos após a primeira audição.

Gravado nos Estúdios Abbey Road com o apoio luxuoso de guitarristas amigos como Phil Manzanera, Robin Trower e John Medeski, "Silver Rails" é o disco mais descomplicado de Jack Bruce desde seu trabalho de estréia, "Songs From A Tailor", de 1969.

Taí um sério candidato a melhor LP deste ano.


"Silver Rails" é, antes de mais nada, uma impecável coleção de canções de um grande artista inglês que, aos 72 anos de idade, está indiscutivelmente no melhor momento de sua longa carreira.

Detalhe para a belíssima capa, inspirada na de "Time Out", LP clássico do Dave Brubeck Quartet, mas que ostenta um mural de Sacha Jafri ao invés da clássica tela de Miró.

E isso, acreditem, é a cara de Jack Bruce.


WEBSITE OFICIAL
http://www.jackbruce.com/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/jack-bruce-mn0000152312/discography

AMOSTRAS GRÁTIS