domingo, março 12, 2006
Sam Phillips, o Pai Legítimo do Rock And Roll (por Chico Marques para Trupe da Terra)
Quem assistiu "Johnny & June", com certeza ficou impressionado com o jeitão despachado e muito afirmativo do dono do pequeno estúdio de Memphis em que Johnny Cash faz sua primeira audição.
Pois ele foi o homem por trás do início de carreira não só de Johnny Cash, mas também de, entre muitos outros, Elvis Presley.
Seu nome: Sam Phillips.
Sam era um produtor de muito renome na cena musical negra americana, responsável por vários artistas de sucesso do elenco da Chess Records.
Foi Sam quem produziu Jackie Brenston e a banda de Ike Turner no compacto "Rocket 88" em 1951 -- para alguns a primeira verdadeira gravação de rock and roll, que acabou não validada pela história por ter sido feita por negros no Sul racista dos EUA.
Foi Sam também quem produziu no mesmo ano "How Many More Years/Moanin' At Midnight", o primeiro disco de Howlin' Wolf, e "Mystery Train", disco clássico de Little Junior Parker.
Em Dezembro de 1952, Sam Phillips montou o Memphis Recording Service, mais conhecido como Sun Studios, num prédio alugado na 706 Union Avenue, em Memphis. A idéia da Sun era produzir discos, tanto para músicos profissionais quanto para amadores dispostos a pagar por uma sessão de gravação e pela prensagem de um disco.
O primeiro lançamento da Sun foi um compacto de 45 rotações de um saxofonista negro chamado Johnny London, que despontou rapidamente para o anonimato. O nome da música era "Drivin' Slow". Um fiasco de vendas na época.
Quando não estava apostado suas fichas em algum jovem artista branco da cena country and western, Sam Phillips voltava suas baterias para artistas negros de rhythm and blues amigos seus, como Howlin' Wolf, James Cotton e B, B, King. Era ousado: tinha brancos e negros em seu elenco, numa época em que isso não era exatamente bem visto, por nenhuma das partes envolvidas. Nos três primeiros anos de atividade, não conseguiu emplacar nenhum artista em nível nacional, e o sucesso de suas produções nunca foi muito expressivo. Se muito, dava para tocar o projeto da gravadora adiante.
Diz a lenda que, um belo dia, um jovem caminhoneiro que queria virar cantor veio bater às portas da Sun Records com suas economias na mão querendo gravar um compacto para dar de presente para sua mãe, e cantou dois números country: "My Happiness" e "That's When Your Heartaches Begin". Esse jovem caminhoneiro, que se chamava Elvis Aaron Presley, era branco mas cantava com uma levada muito semelhante à dos negros que Sam gravava. E então, ele resolveu fazer uma aposta pessoal nele. E... bem, o resto é história.
Sam moldou Elvis, mas tratou de manter sua essência intacta. No entanto, perdeu o controle sobre o sucesso nacional de Elvis, e acabou tendo que vender o seu passe para uma gravadora grande, a RCA, pois não tinha como dar o suporte promocional que era necessário para Elvis naquele momento.
Ou seja, foi obrigado a passar adiante sua galinha dos ovos de ouro, por falta de estrutura como empresário.
Nunca mais cometeria esse erro.
E logo percebeu que haviam muitos outros daquela mesma tribo dando sopa em Memphis: Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Roy Orbison, Johnny Cash, etc.. Contratou a todos, um por um, e ficou rico com o legado musical desses grandes artistas.
Mas o que faz dele uma figura tão importante na cena cultural popular americana foi sua coragem. Os discos que ele lançou na fase de ouro da Sun geravam reações violentas do público conservador do Sul dos Estados Unidos. Basta dizer que os estúdios Sun foram apedrejados diversas vezes na segunda metade dos anos 50. Fazer o que ele fez na época exigia muito mais do que simplesmente oportunismo e visão de mercado. Tinha que ser muito ousado para encarar com galhardia uma situação tão adversa.
Dos anos 70 para cá, Sam Phillips trabalhou eventualmente como produtor de discos -- quase sempre nos antigos Estúdios Sun --, mas procurou concentrar seus esforços dirigindo suas emissoras de rádio no Alabama. Em 1986, foi indicado para o Rock And Roll Hall Of Fame. Em 2001, recebeu todas as honras possíveis e imagináveis no Country Music Hall Of Fame.
Morreu no dia 30 de Julho do 2003, em Memphis, aos 80 anos.
No entanto, de tempos em tempos, ele ressurge das cinzas, como nessa aparição espetacular na cinebiografia de Johnny Cash e June Carter, em cartaz nos cinemas.
Podem ter certeza, vai ser difícil para a história da música popular conseguir esquecer Sam Phillips.
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