Iggy Pop é, sempre foi, e sempre será uma força da natureza. Para o bem ou para o mal.
Seu nome verdadeiro é James Newell Osterberg. Acaba de completar 66 anos de idade em excelente forma. O apelido Iggy vem de sua primeira banda de rhythm & blues, The Iguanas, onde cantava e tocava bateria, arrepiando a noite de Detroit em meados dos anos 60. Levava tão a sério sua vocação de baterista que caiu fora de Detroit por uns dois anos para se escolar com os mestres do blues em Chicago. Mas acabou voltando a Detroit. Foi quando criou essa persona hiperativa, completamente ensandecida, que resiste bravamente nos palcos do mundo inteiro até hoje: Iggy Stooge, mais tarde Iggy Pop..
(uma curiosidade que revela muito sobre ele: em 1968, a Elektra Records enviou a Detroit um A&R Man encarregado de contratar o MC-5 e mais alguma outra banda interessante que calhasse de ver por lá – e foi aí que Iggy descobriu que não só havia espaço para outsiders como ele e os Stooges na Indústria Fonográfica como ainda receberiam dinheiro para gravar um disco, algo que jamais haviam imaginado.)
Em apenas 3 LPs – ‘The Stooges” (1969), “Funhouse” (1970) e “Raw Power” (1972) – os Stooges viraram lenda, e por muito pouco não naufragaram num coquetel de autodestruição que envolvia drogas pesadíssimas, automutilação e explosões de demência -- que culminaram num salto mortal que Iggy deu de um palco com 7 metros de altura em direção à platéia, condenando-o a uma temporada longa num hospital e sua banda ao completo colapso.
Iggy, obviamente, teve que rever sua postura artística daí em diante.
Graças a seu amigo David Bowie, que o orientou nesse processo, ele conseguiu se reinventar de forma inusitada no disco “The Idiot” (1976), produzido e composto em parceria com Bowie, onde olhava para o passado com um distanciamento carinhoso que foi vital para ele naquele momento.
Basta dizer que, na Bolsa de Apostas de Londres, Iggy era então o artista de rock and roll mais cotado como o próximo a fazer companhia para Jim Morrison, Jimi Hendrix e Janis Joplin.
Pois bem: Iggy sobreviveu e, depois de uma temporada debaixo das asas de Bowie, voltou ao rock and roll rasgado em uma seqüência de discos fulminantes e perigosos. Só que agora sem drogas, sem sacrifício humano nos palcos, e com sua persona hiperativa completamente sobre controle.
Lembro de vê-lo ao vivo em meados dos anos 80 num show no saudoso Teatro Bandeirantes, em São Paulo, em que simulava situações de auto-mutilação no palco, mas sem jamais perder o controle sobre a teatralidade de sua performance.
E então, com o passar do tempo, Iggy foi-se transformando numa figura que desafiava os modismos mercadológicos propostos pelas gravadoras por onde passou. Fazia o que bem entendesse em seus discos, desde flertes abertos com o jazz até incursões pelo hip-hop, claro que sem jamais perder de vista seu indômito espírito roqueiro.
Até que, em 2003, para surpresa geral, recrutou dois de seus velhos parceiros nos Stooges -- os irmãos Ron e Scott Asheton – para reviver a velha banda em duas ou três tournées vigorosas, como nos velhos tempos, e gravando juntos o disco de estúdio “The Weirdness” em 2007. A recepção foi calorosa, tanto de crítica quanto de público.
Mas infelizmente, nesse meio tempo, em 2009, o baixista e guitarrista Scott Asheton foi encontrado morto em sua casa, e, diante disso, Iggy and the Stooges caíram numa encruzilhada. Que só se resolveu dois anos atrás, quando finalmente conseguiu convencer o guitarrista original da banda, James Williamson -- que desde os anos 80 não queria mais saber de fazer tournées -- a reassumir seu velho posto.
E agora, eis que temos os velhos Stooges de volta, em um novo LP bem debochado entitulado “Ready To Die”, que Iggy afirma ser -- e é mesmo! -- uma seqüência natural de “Raw Power”, repleto de números tão básicos e truculentos quanto os que compunham aquele clássico bolachão de 1972.
Basta olhar os nomes dos rocks que abrem o disco novo para sentir a pegada forte dos rapazes: “Gun”, “Burn”, “Sex & Money” e “Job”. Um mais intenso e vigoroso que o outro.
Mas “Ready To Die” vai muito além de uma sequência de rocks violentos e debochados. Traz também baladas como “Beat That Guy”, com certeza uma das melhores composições de Iggy em toda a sua carreira, e a delicadíssima “Unfriendly World”, que poderiam perfeitamente fazer parte dos últimos dois álbuns solo do “chansonier” Iggy Pop.
Iggy, sempre muito bem humorado, andou dizendo por aí que a volta dos Stooges não é motivada exclusivamente por dinheiro, e sim pelo prazer em reunir velhos comparsas que ainda tem muito som e muita fúria para proporcionar não só a seus velhos fãs quanto a toda essa molecada que está descobrindo o rock viceral que a banda esboçou mais de 40 anos atrás só agora.
Bom, nem precisava.
As 10 faixas de “Ready To Die” falam por si próprias.
Dificilmente algum outro artista (ou grupo) veterano conseguirá aparecer com um disco tão urgente e tão implacável quanto este em 2013.
Já quanto à foto da capa, com Iggy vestido de homem-bomba sob a mira de uma arma pesada, pode até ser considerada de mau gosto por alguns -- mas, para mim, é a melhor capa de um disco de rock and roll em muitos e muitos anos.
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