quinta-feira, dezembro 01, 2005

A Indústria Fonográfica Perde Mais Uma Batalha (por Chico Marques)



Quem – assim como eu -- acompanha ao longo dos últimos anos essa guerra declarada das Gravadoras contra a Máfia da Pirataria e os Programas de Troca de Arquivos na Web, não se espanta mais em a ver as Corporações da Música levarem a pior em embates contra inimigos infinitamente menores e menos poderosos.

A Máfia da Pirataria eles até conseguem conter, com a ajuda do FBI e da Interpol.

Mas o fato é que, para cada Programa de Troca de Arquivos que a Indústria consegue tirar do ar, dez novos surgem, com tecnologias para transferências de dados cada vez mais rápidas e – mais importante -- cada vez menos visíveis.

Daí, as Corporações da Música, em seu desespero para dar sobrevida ao formato tradicional do CD Áudio, de tempos em tempos inventam algum tipo de dispositivo anti-cópias que invariavelmente sai pela culatra.

Ano retrasado, a BMG inventou um dispositivo desses, que custou alguns milhões de dólares à empresa, e que foi desmoralizado por um garoto de 14 anos, que descobriu – e revelou para todo mundo na Web, claro, senão não tem a menor graça -- que uma simples caneta marcadora tinha o fantástico poder de desativar o efeito bloqueador da engenhoca milionária da BMG.

Um mês depois, a BMG assumiu o fiasco do projeto, e desisitu de continuar equipando seus novos lançamentos em CD com o dispositivo em questão.

Agora, a mesma história se repete, com a Sony Music, só que com contornos mais trágicos.

Ela implantou em seus Cds um novo software bloqueador de cópias chamado XCP, que pode ter causado sérios problemas aos usuários de Windows que tocaram esses Cds nos players de seus computadores.

Esses usuários estão processando a Sony por danos materiais em cem mil dólares para cada cd comercializado.

Detalhe: foram comercializados cerca de 15 milhões de discos, num total de 27 lançamentos diferentes de fim de ano.

Façam as contas: o total é de arrepiar.

O fiasco do XCP da Sony acabou gerando um verdadeiro tsunami nas contas da empresa, que ainda teve que fabricar e redistribuir para efeito de reposição novas edições dos 27 lançamentos de fim de ano em questão, agora sem o XCP, para assim acalmar a fúria jurídica dos consumidores inconformados.

Além disso, artistas como Bob Dylan, Neil Diamond e Trey Anastasio ficaram muito incomodados com o resíduo negativo que esse episódio desagradável possa ter trazido a suas carreiras, e não conseguem esconder sua irritação com a Sony em recentes declarações para a imprensa.

E, como se isso não bastasse, as Companhias Fonográficas concorrentes estão calculando que essa burrada mercadológica da Sony possa ter sido o tiro de misericórdia na imagem pública do CD Áudio, na medida em que desencadeou uma desconfiança em muitos usuários de computadores e players de MP3, que até então não tinham absolutamente nada contra o CD industrializado -- mas agora o estão evitando, seja ele da Sony ou não.

Daí, o que se conclui dessa fábula pós-industrial é que:

Multinacionais aparentemente poderosíssimas como a Sony Music são muito mais frágeis do que aparentam.

Uma atitude unilateral de uma empresa assim, tomada sem o devido amadurecimento, pode gerar efeitos incalculáveis, que podem atingir sem grandes dificuldades a autocanibalização pura e simples – tanto da empresa quanto do próprio negócio no qual ela está inserida.

Ou essas Multinacionais do Disco se unem de uma vez por todas em busca de uma solução comum para dar sobrevida à música comercializada em mídias físicas, ou então é melhor dar essa briga por encerrada, e entregar os pontos de uma vez por todas.

Quem sabe deixando essas ofensivas atrapalhadas e essas derrocadas vergonhosas de lado, o ocaso da Indústria Fonográfica consiga ser menos vergonhoso do que está sendo, e consiga ao menos remeter a seu passado glorioso.

Ele com certeza pode servir como referência às atividades musicais pós-industriais, que já estão aí, pedindo licença para assumir a cena.

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