Tem muita gente que não consegue
entender a lógica que rege a carreira de Iggy Pop.
Eu consigo.
Na minha cabeça, faz todo o
sentido do mundo ele ter reatado sete anos atrás com seus velhos companheiros
dos Stooges, com quem brilhara em três LPs armados e extremamente perigosos gravados entre 1969 e 1973 – o último deles, “Raw Power”, produzido por seu amigo David
Bowie, que mais adiante iria guiá-lo num flerte musical sombrio com a música
eletrônica em dois discos solo magníficos gravados na Alemanha: “The Idiot” e
“Lust For Life”.
Da mesma forma, não consigo ver
nada de muito estranho no fato dele ter insistido por tanto tempo numa atitude roqueira que exigia
demais dele em termos físicos -- para então agora,
aos 65 anos de idade, aparentemente de uma hora para outra, começar a posar de chansonier e passar a gravar discos com velhas canções românticas.
Na verdade, essa "trip de
chansonier" começou quando convidaram Iggy para participar de um projeto de releituras de
canções dos filmes de James Bond, e entregaram a ele a tarefa difícil de regravar “We
Have All The Time In The World”, originalmente defendida por Louis Armstrong –
que ele tirou de letra, soltando sua voz cavernosa com delicadeza e com o peso existencial que a canção exigia.
O passo seguinte foi participar de um dueto em
princípio improvável com sua musa Françoise Hardy em “I'll
Be Seeing You”, com resultados absolutamente divinos.
Foi daí em diante que Iggy começou a vislumbrar a possibilidade de seguir gravando discos em inglês ou em francês sem precisar se entregar mais a tournées tão fisicamente desgastantes quanto as que fazia antes.
Foi daí em diante que Iggy começou a vislumbrar a possibilidade de seguir gravando discos em inglês ou em francês sem precisar se entregar mais a tournées tão fisicamente desgastantes quanto as que fazia antes.
Começou em 2009, quando surpreendeu a todos com “Préliminaires”,
uma climática coleção de canções baladas de Leonard Cohen, de Serge Gainsbourg e dele próprio..
E agora está de volta com este “Après”, seu primeiro disco apenas como intérprete, reunindo um repertório
composto quase que exclusivamente por canções românticas clássicas – a maioria em
francês, e algumas poucas em inglês, com todas com um tom bem europeu nos arranjos.
É muito engraçado ouvir Iggy
cantando coisas como “Et si tu n'existais pas”, de Joe Dassin, ou “La Javanaise”, de Serge Gainsbourg, alternando sopros e cordas com uma bateria dura,
típica de bateristas de rock, o que provoca um estranhamento bastante interessante.
Sua interpretação de “La Vie Em Rose” é quase um remake da versão de Louis Armstrong, e surpreende pela passionalidade com que Iggy passeia pelos versos belíssimos de Jacques Brel. Que contrasta com a leveza de “Syracuse” e de “Les Passantes”, ambas lindíssimas, dois triunfos artísticos indiscutíveis.
Sua interpretação de “La Vie Em Rose” é quase um remake da versão de Louis Armstrong, e surpreende pela passionalidade com que Iggy passeia pelos versos belíssimos de Jacques Brel. Que contrasta com a leveza de “Syracuse” e de “Les Passantes”, ambas lindíssimas, dois triunfos artísticos indiscutíveis.
Já os números em inglês deixam um pouco a desejar.
Não que Iggy não tenha se esmerado neles.
É que vários dos arranjos são certinhos demais para ele. Parecem até base de karaokê. "Michelle", de Lennon & McCartney, e "Everybody´s Talkin´", de Fred Neil, padecem desse mal.
Não que Iggy não tenha se esmerado neles.
É que vários dos arranjos são certinhos demais para ele. Parecem até base de karaokê. "Michelle", de Lennon & McCartney, e "Everybody´s Talkin´", de Fred Neil, padecem desse mal.
A única exceção à regra é a releitura de
“Only The Lonely”, cantada de um jeito meio engasgado e esbanjando uma
melancolia de meia idade que não combina, em princípio, com a notória hiperatividade de Iggy Pop.
Pesando prós
e contras, essa empreitada de Iggy como chansonier é bem positiva, e muito mais honesta que
qualquer um dos 4 volumes do "Great American Songbook" que Rod Stewart andou gravando de dez anos para cá.
O que nos discos de Rod soa cafageste, no de Iggy soa autêntico até o talo, revelando uma faceta absolutamente surpreendente de seu talento.
Reforça mais uma vez a tese de que Iggy Pop é a criatura mais louca e improvável que o rock and roll já produziu.
Torço para que, em sua próxima empreitada no gênero, ele escolha canções mais com cara de dancehalls e menos com cara de cabarets.
Não é por nada -- é que vê-lo posando de crooner de orquestra e cantando de smoking vai ser simplesmente o máximo!
BIO-DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/iggy-pop-mn0000926548
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WEBSITE OFICIAL:
http://www.iggypop.com/
AMOSTRAS GRÁTIS:
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