sexta-feira, maio 11, 2012

A ADORÁVEL ANARQUIA MUSICAL DA DIRTY DOZEN BRASS BAND ESTÁ DE VOLTA.


Eu lembro como se fosse ontem do primeiro disco da Dirt Dozen Brass Band que escutei, e do estrago que ele provocou na maneira como eu via até então o jazz de New Orleans.

Foi 23 anos atrás, com o disco de estréia deles para a Columbia Records, “Voodoo”, uma pequena obra-prima que misturava a instrumentação clássica das bandas de rua com o rhythm & blues e o jazz moderno, numa atitude absolutamente transgressora e, ao mesmo tempo, festiva e dançante, com participações espetaculares de Dizzy Gillespie e Dr. John.

A grande sacada da Dirty Dozen Brass Band estava em usar o souzaphone para fazer a marcação do contrabaixo com a pulsação do funk – algo que ninguém tinha tentado antes.

Depois de ouvir esse disco, confesso que nunca mais tive a menor paciência com sonoridades clássicas de New Orleans paradas no tempo que se negam terminantemente a mergulhar no borbulhante e apimentado caldeirão musical de lá, que inclui ritmos caribenhos, cajun e influências recém-chegadas da Mãe Africa, .

Foi nessa mesma época – e em parte por causa disso -- que perdi completamente a paciência com o chorinho e com a atitude purista e babaca da imensa maioria dos chorões -- mas isso é um outro assunto, que não cabe aqui nesse texto, até porque é meio chatão.


O caso é que a Dirty Dozen Brass Band está de volta com um LP delicioso chamado “Twenty Dozen” para o selo Savoy Jazz.

Alguns setores da crítica reclamaram dele, alegando ser o mais ortodoxo e menos transgressor da carreira da banda.Eu, pessoalmente, discordo. É com certeza o álbum menos anárquico que eles já gravaram. Mas é um trabalho vigoroso, repleto de experimentos musicais iusitados e impressionantes.

A faixa de abertura, “Tomorrow”, por exemplo, começa como um número de rhythm & blues típico da cidade e evolui para um ska completamente ensandecido. De tirar o fôlego.

O proto-funk “Joop” é outro exemplo dessas experimentações. Começa como se fosse um tema de seriado de detetives dos anos 70 e acaba virando uma brincadeira deliciosa – e nada inconsequente -- entre os trumpetistas, os saxofonistas e o trombonista da banda.

E ainda tem uma releitura muito estranha -- mas bem divertida -- para “Don't Stop The Music”, de Michael Jackson, além de versões absolutamente histéricas – e igualmente divertidas -- para clássicos do repertório da cidade como “E-Flat Blues” e “When The Saints Go Marchin´ In”, diferentes de todas as outras já executadas pelas inúmeras Brass Bands de New Orleans. .


Enfim, dá para sentir que a Dirty Dozen Brass Band procurou privilegiar seu lado mais jazzístico em “Twelve Dozen” para satisfazer o pessoal da Savoy Jazz Records, que bancou o disco.

Isso não significa que eles tenham abandonado aquela anarquia adorável que eles promovem habitualmente, tanto nas gravações de estúdio quanto em apresentações ao vivo. Até porque não faria o menor sentido a Dirty Dozen Brass band abrir do seu grande diferencial apenas para se adequar a uma gravadora.

Agora, vai ser engraçado se -- ao contrário das Brass Bands tradicionais e dos grupos de Dixieland, que impoem normas de conduta relativamente rígidas a seus músicos – a Dirty Dozen Brass Band, do alto de seus 35 anos de carreira, estabelecer toda uma tradição da anarquia musical de New Orleans.

E, pior, fizer escola.

Aí, aquela cidade vai ficar ainda mais louca do que já é, podem ter certeza...


INFO:
http://www.allmusic.com/artist/the-dirty-dozen-brass-band-p6405/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/the-dirty-dozen-brass-band-p6405/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.dirtydozenbrass.com/

AMOSTRAS GRÁTIS:

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