Eu lembro como se fosse ontem do primeiro disco da Dirt Dozen
Brass Band que escutei, e do estrago que ele provocou na maneira como eu via até então o
jazz de New Orleans.
Foi 23 anos atrás, com o disco de estréia deles para a Columbia
Records, “Voodoo”, uma pequena obra-prima que misturava a instrumentação clássica
das bandas de rua com o rhythm & blues e o jazz moderno, numa atitude
absolutamente transgressora e, ao mesmo tempo, festiva e dançante, com
participações espetaculares de Dizzy Gillespie e Dr. John.
A grande sacada da Dirty Dozen Brass Band estava em usar o
souzaphone para fazer a marcação do contrabaixo com a pulsação do funk – algo que
ninguém tinha tentado antes.
Depois de ouvir esse disco, confesso que nunca mais tive a menor paciência
com sonoridades clássicas de New Orleans paradas no tempo que se
negam terminantemente a mergulhar no borbulhante e apimentado caldeirão musical
de lá, que inclui ritmos caribenhos, cajun e influências recém-chegadas
da Mãe Africa, .
Foi nessa mesma época – e em parte por causa disso -- que
perdi completamente a paciência com o chorinho e com a atitude purista e babaca da imensa maioria dos chorões -- mas isso é um outro assunto, que não cabe aqui nesse texto,
até porque é meio chatão.
O caso é que a Dirty Dozen Brass Band está de volta com um LP
delicioso chamado “Twenty Dozen” para o selo Savoy Jazz.
Alguns setores da crítica reclamaram dele, alegando ser o mais
ortodoxo e menos transgressor da carreira da banda.Eu, pessoalmente, discordo. É com certeza o álbum menos anárquico que eles já gravaram. Mas
é um trabalho vigoroso, repleto de experimentos musicais iusitados e impressionantes.
A faixa de abertura, “Tomorrow”, por exemplo, começa como um
número de rhythm & blues típico da cidade e evolui para um ska
completamente ensandecido. De tirar o fôlego.
O proto-funk “Joop” é outro exemplo dessas experimentações.
Começa como se fosse um tema de seriado de detetives dos anos 70 e acaba virando
uma brincadeira deliciosa – e nada inconsequente -- entre os trumpetistas, os
saxofonistas e o trombonista da banda.
E ainda tem uma releitura muito estranha -- mas bem divertida
-- para “Don't Stop The Music”, de Michael Jackson, além de versões
absolutamente histéricas – e igualmente divertidas -- para clássicos do repertório
da cidade como “E-Flat Blues” e “When The Saints Go Marchin´ In”, diferentes de todas as outras já executadas pelas inúmeras Brass Bands de New Orleans. .
Enfim, dá para sentir que a Dirty Dozen Brass Band procurou
privilegiar seu lado mais jazzístico em “Twelve Dozen” para satisfazer o
pessoal da Savoy Jazz Records, que bancou o disco.
Isso não significa que eles tenham abandonado aquela anarquia
adorável que eles promovem habitualmente, tanto nas gravações de estúdio quanto
em apresentações ao vivo. Até porque não faria o menor sentido a Dirty Dozen Brass
band abrir do seu grande diferencial apenas para se adequar a uma gravadora.
Agora, vai ser engraçado se -- ao contrário das Brass Bands
tradicionais e dos grupos de Dixieland, que impoem normas de conduta
relativamente rígidas a seus músicos – a Dirty Dozen Brass Band, do alto de
seus 35 anos de carreira, estabelecer toda uma tradição da anarquia musical de
New Orleans.
E, pior, fizer escola.
E, pior, fizer escola.
Aí, aquela cidade vai ficar ainda mais louca do que já é, podem ter certeza...
INFO:
http://www.allmusic.com/artist/the-dirty-dozen-brass-band-p6405/biography
DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/the-dirty-dozen-brass-band-p6405/discography
WEBSITE OFICIAL:
http://www.dirtydozenbrass.com/
AMOSTRAS GRÁTIS:
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