Lá pelo final dos anos 90, quando o Planet Hemp era – ao lado da Nação Zumbi e do Mundo Livre S.A. -- o que havia de mais vigoroso na cena musical brasileira, tive a chance conhecer essa figura curiosa chamada B Negão.
Na época, o Hemp estava lançado "Queimando Tudo", seu disco derradeiro, e a vitoriosa tournée deles passava aqui por Santos, para delírio da molecada de todo o Litoral Paulista.
Fui até o hotel onde estavam hospedados para recepcioná-los em nome da rádio onde trabalhava -- responsável pela divulgação do show -- e tentar registrar uma entrevista num gravadorzinho de MiniDisc.
Chegando lá, não pude acreditar no que vi.
A banda havia tomado um andar inteiro em um hotel 3 estrelas no Centro da Cidade, Assim que saí do elevador, nuvens densas de maconha pairavam pelos corredores, e todas as portas de todos os quartos estavam abertas, com putas passeando para lá e para cá e todo mundo dando sonoras gargalhadas o tempo todo. Ou seja: o conceito roqueiro do Paraíso.
Pensei comigo: bom, a entrevista já rodou, está todo mundo meio fora de órbita e ninguém vai conseguir falar com objetividade em meio a toda essa esbórnia. Procurei por Marcelo D2, e não o encontrei em lugar algum daquele andar do hotel. Já B Negão eu nem precisei procurar muito. Me recebeu muito educadamente. Se apresentou como "o Bernardo". E, para minha surpresa, rendeu uma entrevista lúcida, extremanente clara e objetiva.
Mais tarde, na hora do show, numa casa noturna que funcionava no mesmo velho cinema onde outrora funcionou o Heavy Metal, na Praia do Boqueirão, fiquei de boca aberta com a performance da banda ao vivo.
Eu, que não via nada demais nos discos do Planet Hemp até então, saí de lá fã absoluto deles.
E para mim estava claro que pelo menos 30% do poder de fogo do Hemp ao vivo merecia ser creditado a B Negão e seu suingue fantástico que transbordava em raps fulminantes.
Pois bem, o MC e rapper B Negão dos tempos do Hemp hoje é passado.
"O Bernardo" o dominou completamente, levando-o a experimentar saídas musicais as mais diversas ao longo dos últimos 12 anos, em projetos como The Funk Fuckers, Turbo Trio e Loucomotivos, até chegar às faces musicais múltiplas de "Sintoniza Lá", à frente do grupo Seletores de Frequência.
Já na primeira audição do LP fiquei bastante impressionado com o vigor da empreitada. Tudo soa infinitamente mais intenso que em seu trabalho anterior com os Seletores, "Enxugando Gelo" (2003), e também muito superior a todas as bandas onde embocou nesses anos todos.
"Sintoniza Lá" brilha pela multiplicidade e pela modernidade, e mapeia de forma carinhosa todas as sororidades que fazem a cara das ruas dos dias e das noites do Rio de Janeiro nesse (ainda) início de Século. Por essas e outras, está para o momento musical atual assim como "Da Lata" (1995), de Fernanda Abreu, estava para os anos 90.
Suas 11 faixas trazem ecos dos Paralamas, da Motown, de O Rappa, do funk dos anos 70, do melhor rock and roll e até do Planet Hemp -- mas a maneira como essas sonoridades de alternam ou, vez ou outra, se misturam, nunca é menos que espetacular.
Se Marcelo D2 optou por fazer de sua carreira pós-Hemp um híbrido conceitual de rap e samba -- que aos poucos vai dando sinais claros de esgotamento --, "o Bernardo" prefere partir para uma antropofagia sonora onde se propõe a reinventar seu personagem B Negão a cada faixa do disco.
E B Negão resiste firme e forte.
Aliás, parece ter sido feito para esses tempos em que vivemos, e provavelmente estava quieto, apenas esperando por seu grande momento:
Agora.
Quer um conselho?
Não hesite e caia logo na festa do Bernardo que ele sabe muito bem onde quer chegar, e também onde quer levar você.
Aliás, sempre soube.
Desde aqueles tempos esfumaçados em que vivia queimando tudo até a última ponta.
BIO-DISCOGRAFIA
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