Quem diria que um power trio formado há 8 anos por três brancos de alma roqueira -- muito talentosos e inventivos, mas também extremamente reverentes ao blues ainda hoje praticado no "deep south" americano -- iria conseguir se afirmar de forma tão eloquente em termos artísticos no panorama blueseiro atual?
Pois essa é a história de vida (até agora) do Gravelroad.
Desde o primeiro ano de vida da banda, eles sentiram que, se permanecessem sozinhos, não iriam chegar a lugar nenhum.
Daí uniram forças com o bluesman octogenário T-Model Ford, uma das figuras mais loucas e emblemáticas do blues atual -- analfabeto, pai de 26 filhos, que conseguiu iniciar sua carreira musical nos anos 1960 depois de muitos anos como trabalhando como peão de obra e outros tantos anos cumprindo pena numa Prisão do Mississipi por assassinato.
Gostaram do velhinho, e decidiram virar uma espécie de "banda cavalo" dele.
Foi um casamento perfeito, que resiste bravamente até hoje -- e que permite ao Gravelroad apostar em discos próprios sempre que T-Model Ford está descansando dos palcos e dos estúdios de gravação.
"Psychedelta" é o quarto disco da carreira do Gravelroad, e o mais festejado até agora -- apesar deles ainda não terem conseguido emplacar como mereciam.
Ouvi numa tacada só com muito prazer. Me lembrou muito os primeiros trabalhos do Z Z Top no início dos anos 70, antes deles começarem a brincar com sintetizadores e estragarem tudo. Se bem que o Gravelroad é bem superior musicalmente ao Z Z Top dos dois primeiros LPs.
Pois "Psychedelta" combina essa urgência musical texana com o suingue ríspido, sem contrabaixo, dos combos de blues eletrificados do Mississipi, mais as guitarradas modernosas e atemporais de Jimi Hendrix -- não por acaso, natural de Seattle, assim como os nossos três rapazes.
Formado pelos guitarristas John 'Kirby" Newman e Stefan Zillioux, mais o baterista Martin Reinsel, o Gravelroad define sua música como "acid blues". Se autodefinem "exploradores musicais", transcendendo gêneros e trazendo para seu blend de blues um molho e uma sabedoria musical que faltam a 99% das bandas atuais de "blues-rock" .
Isso se reflete nos vários números instrumentais presentes em "Psychedelta" -- rápidos, rasteiros, e sempre muito climáticos.
E isso também salta aos ouvidos em composições completamente inusitadas como "In The Woods" e "Nobody Gets Me Down", indefiníveis por natureza e fora de qualquer cartilha musical, mas que -- mais uma vez -- remetem ao espírito musical sempre indômito de Jimi Hendrix.
De todas as virtudes que o Gravelroad ostenta, talvez a maior delas seja brigar para repaginar o blues e colocá-lo no mapa musical do Século XXI.
Não é uma tarefa das mais fáceis.
Até porque uma grande parcela do público de blues tradicional torce o nariz para empreitadas crossover com outros gêneros musicais -- tônica principal do que eles fazem.
Já o público adepto do blues-rock consegue ser ainda mais conservador que o do blues tradicional, prestigiando apenas aqueles guitarristas exagerados que são discípulos declarados de Stevie Ray Vaughan -- e não admitem coisa alguma que fuja a esse padrão.
O Gravelroad tem a difícil missão de, pouco a pouco, dobrar essas duas vertentes de público que primam pela teimosia e pelo conservadorismo, para ser aceito por um público mais amplo.
Se vai conseguir, não se sabe.
Mas que a música que eles fazem é grande, de primeira grandeza, e merece uma chance com todo esse público, disso não resta a menor dúvida.
WEBSITE OFICIAL:
http://gravelroadblues.com/
AMOSTRAS GRÁTIS:
Nenhum comentário:
Postar um comentário