E então, começou o Santos Jazz Festival.
Comçou muito bem, com o Maestro Guga Petri saudando Hermeto Pascoal e o convidando para juntar-se à Orquestra Sinfônica de Santos num número performático muito divertido, composto por Hermeto especialmente para a ocasião, entitulado "Do Brasil Para O Mundo", onde misturam Stockhausen com forró, Stravinsky com xaxado e Ravel com baião.
Foi uma verdadeira festa, que começou com Hermeto chegando e terminou, de forma inusitada e muito divertida, com todos os integrantes da Orquestra se levantando e indo embora do palco, sem avisó prévio, deixando o público boquiaberto.
E então, no segundo tempo do show, Hermeto volta ao palco do Theatro Coliseu com os vinte músicos da Jazz Big Band, trazendo como convidados seu filho percussionista Fábio Pascoal e sua mulher Aline Morena.
Agora envolvido num approach musical bem jazzístico e um pouco menos experimental, Hermeto passeia por números bem conhecidos de seu repertório, como "Jegue", "Pintado O Sete" e "Quebrando Tudo" -- mas não sem inserir algumas excentricidades preciosas, como um solo de gargarejo e um rápido dueto piano-macaquinho de pelúcia com apito.
Convenhamos, não seria Hermeto Pascoal se não fizesse alguma coisa assim.
Nascido em Olho d´Água e criado em Lagoa da Canoa, na época município de Arapiraca, estado de Alagoas, em 22 de junho de 1936, Hermeto Pascoal continua obsecado por sons e totalmente avesso a convenções musicais depois de todos esses anos.
Sabe que fazendo música totalmente fora dos padrões, mas com sotaque brasileiro, consegue alcançar a universalidade que sempre almejou -- e é por aí que ele segue.
E foi justamente com isso que ele nos presenteou nessa noite de abertura do Santos Jazz Festival.
A lamentar apenas o fato de Hermeto -- que é um multi-instrumentista espetacular -- ter deixado o saxofone e a guitarra completamente de lado de 10 anos para cá, operando desde então com menos instrumentos no palco, e tocando cada vez menos.
Mas considerando que o velho bruxo performático vai completar semana que vem 76 anos de idade, o mínimo que se pode dizer dele é que está em excelente forma, e com tudo em cima para prosseguir conspirando contra as convenções musicais da Música Brasileira por mais uns bons anos.
Vida longa a Hermeto Pascoal.
foto: Nívio Mota
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