Jazz sem contrabaixo não existe.
Ou, ao menos, não existe em toda a sua plenitude.
É o baixo que determina o
drive, que estabelece o chão e que fornece o tapete para que qualquer arranjo -- seja
para duos, trios, quartetos, quintetos e até mesmo orquestras -- funcione.
Não é nenhum exagero afirmar que
Ron Carter é não só o maior contrabaixista vivo, como também o mais
experimentado, o mais elegante e um dos únicos a conseguir estabelecer uma
carreira como band-leader.
Domina todas as possibilidades
tanto do cello quanto do contrabaixo – e, não satisfeito com isso, ainda
desenvolveu um instrumento acústico muito interessante chamado Picollo Bass,
bastante difundido de uns tempos para cá.
Só não é muito chegado em baixos
elétricos, apesar de ter feito uso esporádico deles nos anos 1980.
A carreira de Ron Carter é nada menos que
espetacular.
Desde o início prá lá de eloquente, em meados dos anos 50, nas bandas de Chico
Hamilton e de Eric Dolphy.
Depois brilhando como sideman em combos de diversos formatos com os amigos
Cannonball Adderley, Randy Weston, Thelonious Monk, Bobby Timmons e Art Farmer.
Até desembarcar no inigualável Miles Davis Quintet em 1963, ao lado de Tony
Williams, Herbie Hancock e Wayne Shorter, virando os conceitos do jazz de ponta
cabeça e libertando-o de todas as amarras ao longo de seis anos extremamente
produtivos.
Foi quando percebeu que não cabia
mais em grupo algum na condição de sideman e iniciou uma carreira como solista
e band-leader em discos nada menos que espetaculares, como “Blues Farm” (CTI
1973), “Milestones with Sonny Rollins & McCoy Tyner”
(Milestone 1980) “The Bass And I” (Blue Note 1997) e “Dear Miles” (Blue Note
2006)
Vocês já ouviram falar de algum
baixista que tivesse comandado uma Orquestra de Jazz?
Pois foi exatamente o que Ron
Carter decidiu fazer – e fez -- ano passado, reinventando-se mais uma vez como
artista de jazz nesse espetacular “Ron Carter´s Great Big Band”, com arranjos bastante
incomuns providenciados por Robert M Freedman para clássicos do jazz compostos entre os
anos 1920 e 1970, e utilizando alguns dos melhores músicos de Nova York nos 13
números – nenhum deles com mais de 5 minutos de duração -- que compõem o disco.
Os destaques – se é que é o caso
de destacar alguma coisa aqui, já que o disco inteiro é espetacular – ficam por
conta de “The Eternal Triangle”, de Sonny Stitt, e “Line For
Lions”, de Gerry Mulligan, números clássicos que ganham releituras tão
intensas que certamente deixariam seus autores orgulhosos.
O mesmo vale para “Com Alma”, um
dos temas favoritos de Dizzy Gillespie, além de “Footprints” de seu velho
comparsa Wayne Shorter e das releituras extremamente originais para “Caravan”,
de Duke Ellington, e “St. Louis Blues”, de W C Handy.
Em meio a tudo isso, números como
“Loose Change” e “Opus 1.5 - Theme For Clifford Brown”, ambos de autoria do
próprio Ron Carter, e com linhas de contrabaixo espetaculares, caem redondos
como um brandy bem maturado e um bom charuto.
Ron Carter estudou cello desde
menino, no Estado do Mississipi, porque queria tocar em Orquestras Sinfônicas
quando adulto.
Já quase adulto, nos anos 1950,
tentou mas nunca conseguiu ser aceito tantos nas Orquestras Sinfônicas do Sul dos Estados Unidos quanto na
Detroit Symphony.
O motivo: Segregação Racial.
E foi isso que o obrigou a trocar o cello pelo contrabaixo, e a música erudita pelo jazz.
O motivo: Segregação Racial.
E foi isso que o obrigou a trocar o cello pelo contrabaixo, e a música erudita pelo jazz.
Daí, ver Ron Carter comandando
uma Orquestra com seu contrabaixo em plena Era Obama, e alternando seu trabalho jazzístico com discos solo com temas de Bach tocados no cello -- como em "Ron Carter Plays Bach", que está sendo lançado por esses dias --, é algo no mínimo
emocionante.
É a evidência definitiva de que justiça poética pode
ter swing.
BIO-DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/ron-carter-mn0000275832
WEBSITE OFICIAL:
http://www.roncarter.net/officialSite.html
AMOSTRAS GRÁTIS:
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