domingo, julho 29, 2012

PITTY & MARTIN E SEU FOLK FOFO E AGRIDOCE


Taí uma baianinha prá lá de arretada.

Desde bem pequena, quando ainda era Priscilla Novaes Leone e imitava Kurt Cobain cantando "Smells Like Teen Spirit" no karaokê do bar de seu pai, em Porto Seguro.

Criada num ambiente bem rock and roll à beira-mar, ela nunca se desgarrou de suas origens -- daí, quando seguiu para Salvador para estudar Música na Universidade Federal da Bahia, ninguém estranhou quando ela se envolveu com várias bandas de rock até finalmente conseguir formar sua própria, que ela batizou com seu apelido de infância: Pitty.

Pitty foi descoberta rapidamente por gente de A&R da Universal que procurava urgentemente alguém que tivesse gabarito para se candidatar a ocupar a vaga deixada por Cassia Eller no cenário musical brasileiro.



Então, em 2003, aos 25 anos de idade, Pitty estreou com um disco de rock poderoso: "Admirável Chip Novo", esbanjando atitude e um sotaque baiano bem carregado.

No ano seguinte, ela e a banda repetiram a dose em "Anacrônico", ainda mais cru e truculento que o disco anterior.

Enquanto isso, Pitty destruía corações por aí, sendo eleita pelo público a mais bela cantora de rock da América Latina, e flertar com o mercado internacional através de DVDs ao vivo poderosíssimos, que pouco a pouco abriram as portas da cena independente americana para ela.

Mas então, depois de "Chiarossauro"(2009), um terceiro disco meio esquisitão, e de uma tournée milionária, Pitty decidiu dar um tempo. E deu.

E não deu maiores explicações.



Foi aí que ela e o guitarrista Martin Mendonça decidiram apostar num projeto paralelo chamado Agridoce, só com canções folk.

Que, para surpresa geral, deu certíssimo: gravaram um belo disco do final de 2011, fizeram uma tournée internacional bem rápida e até se apresentaram no badaladíssimo Festival South By Southwest, em Austin, Texas.

Criado a partir de horas ociosas e descompromissadas ao piano e violão em uma casa nudo começou a Serra da Cantareira, o Agridoce traz sonoridade leve, letras densas e melodias que evidenciam o amadurecimento e auto conhecimento dos músicos.

São canções que recriam a imagem de rock da dupla e expressam a busca por novos desafios musicais, além de deixar transparecer a forte influência poética e musical de artistas como The Smiths, Eddie Vedder e Sean Lennon, inspirações assumidas do casal.

Curiosamente, a Agridoce começou como uma brincadeira, que acabou ficando séria quando Pitty e Martin publicaram no MySpace uma gravação preliminar de "Dançando". Foi o suficiente para que a brincadeira ganhasse o status de projeto, e a partir daí os dois começaram a acalentar a idéia de gravar um disco nesse formato.

A coisa cresceu tanto que o Agridoce agora está em tournée pelo Brasil, seguindo pelos circuitos alternativos. E, para dar um gás adicional à empreitada, Pitty & Martin acabam de lançar um EP com quatro faixas que ficaram de fora do disco de estréia -- que não acrescentam muito às 12 que compõem o disco original, mas servem para fazer algum barulho na Imprensa.



Enfim, às vésperas de comemorar dez anos de carreira e já poder ser considerada uma veterana da cena roqueira brasileira, essa adorável baianinha segue trazendo surpresas muito bem vindas.

Mesmo no formato folk, a postura de Pitty permanece essencialmente roqueira, e sua música, inquieta.

Já Martin parece relutante: “Quando fomos gravar, deixamos as músicas seguirem seus próprios caminhos. Ainda estou meio confuso para tentar entender em que o nosso som se transformou”

Seja lá o que for, é intenso, é honesto, e é surpreendente.

E é também estranhamente... agridoce.

  
BIO-DISCOGRAFIA
 http://pt.wikipedia.org/wiki/Pitty

WEBSITE OFICIAL
http://agridoce.net/ 

LPS JÁ À VENDA NA DISQUERIA-SANTOS:
 

AMOSTRAS GRÁTIS 

THE PHANTOM BLUES BAND REAFIRMA SUA ALMA AMERICANA EM "INSIDE OUT"


Quando Henry Saint Clair Fredericks Jr. -- ele mesmo, o fabuloso bluesman do Harlem, Nova York, conhecido por Taj Mahal -- montou uma banda só com craques para acompanhá-lo no disco e na tournée "Dancing The Blues" (1993), num momento particularmente incerto de sua longa carreira, mal ele sabia que estava apadrinhando o surgimento do melhor, mais criativo e mais eclético grupo de blues atualmente em atividade.

Desde então, a Phantom Blues Band tem sido uma combinação curiosa de talentos de vários músicos de estúdio muito tarimbados da região de Memphis, Tennessee, requisitadíssima por artistas como Bonnie Raitt, Joe Cocker e até B B King.

Comandada pelo organista Mike Finnigan -- que participou das bandas de Stephen Stills e Dave Mason nos anos 70 -- e pelo guitarrista Johnny Lee Schell -- colaborador de longa data de artistas como Bonnie Raitt e John Hiatt --, a Phantom Blues Band conta com uma cozinha impecável -- Larry Fulcher no contrabaixo e Tony Braunagel na bateria -- e ainda o sopro suingado do trumpetista Darrell Leonard e do saxofonista Joe Sublett, ambos texanos de Austin.

Juntos, eles trabalham um repertório que usa o blues e o rhythm & blues como ponto de partida para aventuras musicais as mais diversas pelo gospel, pelo jazz, por ritmos latinos, pela country music e, claro, também pelo rock and roll. Detalhe importante: sempre alternando 3 vozes diferentes na linha de frente do repertório  do grupo.

Se esse tipo de formação lembra um certo qunteto canadense que ficou famoso depois de ter sido banda de apoio de Bob Dylan no final dos anos 60, acredite: a semelhança com The Band não é mera coincidência.



Ninguém pode acusar o pessoal da Phantom Blues Band de imediatismo.

Seu primeiro disco, "Out In The Shadows" (2006), foi gravado quando a banda completou 13 anos de atividades, depois de participar de vários discos e tournées de Taj Mahal, e foi concebido com muita cautela, trazendo apenas duas composições dos integrantes e muitos covers de clássicos do rhythm & blues.

O segundo disco, "Footsteps", gravado no ano seguinte, já traz metade do repertório de autoria da banda, revelando o alto gabarito das composições de Finnigan e Schell e a pluralidade musical que torna o som da Phantom Blues band absolutamente inclassificável, mas completamente cativante.

Mas então, cinco anos se passaram sem nenhum disco novo da Phantom Blues Band, deixando no ar a pergunta: o que terá sido feito daquela banda espetacular, que estava indo tão bem?



Pois bem, a resposta a essa e outras perguntas está em "Inside Out", o muito aguardado terceiro disco ds Phantom Blues Band.

São 13 números -- metade de autoria deles próprios -- tão envolventes e tão agradáveis que fazem com que os 52 minutos de duração do disco passem voando.

Não é para menos: a combinação Hammond B3 mais uma guitarra limpa na linha de frente, com uma cozinha bem suingada e dois hornmen cuspindo fogo logo atrás, raras vezes funcionou tão bem quanto com esses experientes rapazes, e, particularmente, no contexto desse disco.

Entre as saídas musicais mais inusitadas estão alguns números soul rasgados como "So Far From Heaven", que conta com Joe Sample, dos Cruzaders, no piano, e "Change", um upbeat irresistível que lembra os áureos tempos da Muscle Shoals Rhythm Section.

Tem também uma releitura contagiante de "Shame, Shame", de Jimmy McCracklin, que resgata em grande estilo a essência do beat pedestre de Memphis, uma das instituições musicais americanas mais relevantes dos Século XX.

E, claro, não podemos esquecer da belíssima valsinha "It´s All Right", que lembra algumas das melhores contribuições de Robbie Robertson para o repertório de The Band.

Acreditem, não é pouca coisa o que temos aqui. É música de primeira grandeza.





A Phantom Blues Band pode não ser ainda uma grande instituição musical americana, mas caminha a passos largos para chegar lá em breve.

Basta mais um ou dois discos ousados e no mesmo padrão de excelência de "Inside Out", e pronto.

Quer um conselho? Não deixe para descobrir isso daqui a 4 ou 5 anos o que você pode descobrir hoje.

Siga a trilha gloriosa da Phantom Blues Band rumo à alma musical da América.



BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/phantom-blues-band-mn0000844831

WEBSITE OFICIAL 
http://www.phantombluesband.com/

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JIMMY OWENS MIRA NO UNIVERSO MUSICAL DE THELONIOUS MONK E ALCANÇA O NIRVANA



Norman Granz, lendário fundador da Verve Records nos anos 50, e também da Pablo Records nos 70, sempre incentivou seus artistas a gravar discos conceituais.

Não porque tivesse alguma predileção por eles.

É que discos conceituais -- que podiam tanto ser songbooks de grandes compositores quanto tributos a grandes artistas -- saiam do forno com relativa facilidade nas sessões de gravações com artistas de jazz tarimbados e com conhecimento vasto do repertório alheio.

E ele, Norman Granz, como todo dono de gravadora, nunca gostou de ver seus contratados perdendo tempo precioso nos estúdios caríssimos que alugava a peso de ouro em Nova York ou Los Angeles. Não é à toa que a maioria dos discos da Verve e da Pablo trazem sempre nas fichas técnicas as datas em que foram registrados -- um, dois, no máximo três dias.

Pois essas empreitadas de Norman Granz conceituando discos fizeram escola e passaram a ser adotadas por produtores de diversas gravadoras, servindo com pretexto para montar sessões all-star a um custo assessível e até para promover à condição de band-leaders artistas talentosos que, por um motivo ou outro, nunca conseguiram se afirmar como artistas solo e que permaneceram na cena apenas como -- excelentes -- sidemen.


Jimmy Owens é um desses casos.

Trumpetista da pesada, com um sopro robusto e exuberante, ele tocou na banda de Miles Davis, no início dos anos 60, mas não teve a sorte de participar de nenhum de seus discos de estúdio.

Trabalhou também nas bandas de Lionel Hampton, Charles Mingus e Dizzy Gillespie, sem chamar muito a atenção de ninguém.

Apareceu um pouco mais intensamente em 1966, quando passou a integrar a That Jones/Mel Lewis Orchestra e o New York Jazz Sextet, e nos anos 1970 em grupos como como o Mingus Dinasty e o Chuck Israels´ National Jazz Ensemble.

Mas, mesmo assim, só foi ganhar alguma notoriedade quando participou durante dois anos da house band do popular programa da BBC-TV de David Frost.

Os discos de Jimmy Owens gravados como band-leader são pouco mais de meia dúzia e todos de primeira grandeza -- só que, infelizmente, conhecidos apenas por iniciados.

Ou seja: muito pouco para alguém que está prestes a completar 70 anos de idade e 55 de carreira.



Por tudo isso, e por seus méritos artísticos também, "The Monk Project", esse novo trabalho de Jimmy Owens, soa muito especial, e vai muito além dos discos tributos ligeiros que pipocam no mercado, que quase sempre se limitam a saudar os artistas homenageados de forma cerimoniosa.

Aqui, Jimmy Owens reúne jazzistas de peso como seu velho parceiro de muitas empreitadas musicais, o veterano pianista Kenny Barron, e também o "tuba master" Howard Johnson, que se alterna no sax barítono, para tomar a frente de uma banda de músicos jovens e impetuosos: Wycliffe Gordon (trombone), Marcus Strickland (sax tenor), Kenny Davis (contrabaixo) e Winard Harper (bateria).

"The Monk Project" não comete o erro de ser cerimonioso com a memória e o legado musical de Thelonious Monk, até porque os músicos que conviveram com Monk -- e Jimmy Owens teve esse prvilégio --, nunca deixaram de se impressionar com sua capacidade de reinventar suas trilhas musicais constantemente, e também de aceitar o desafio de seguir seus passos, sempre largos e inusitados.

O resultado da abordagem de Owens nesse disco é simplesmente soberbo.

Uma conjunção perfeita de experiências musicais de ex-parceiros e alunos de Monk com admiradores distantes, que mal conseguem esconder o fascínio de serem angolidos pela delicadeza multidemensional dos arranjos monkianos providenciados por Owens, Barron e Johnson.

Sim, porque o que "The Monk Project" saúda é a essência da música de Thelonious Monk, e o quão importante ela foi para o jazz dos anos 60 e 70, e o quanto ela pode ser vital para os novos rumos do jazz nesse novo século.

Ou seja: ao contrário dos discos tributos em geral, esse aqui olha para a frente.

E vê longe.



Não deveria ser surpresa para ninguém que Jimmy Owens abordasse o trabalho de Monk dessa forma.

Seu conceito de trabalho no saudoso grupo Mingus Dinasty, que trabalhava o repertório e os conceitos musicais de Charles Mingus, seguia mais ou menos pelo mesmo caminho, e de cerimonioso não tinha nada.

A surpresa, na verdade, fica mesmo por conta de Owens só agora estar tendo sua grande chance de se afirmar como o grande músico e band-leader que é.

Se você faz parte da legião de admiradores de Thelonious Monk, prepare-se para fortes emoções com esse "The Monk Project".

Já se este for seu primeiro contato com o universo musical desse grande mestre da música do Século XX, prepare-se:

Vai ser uma experiência e tanto....



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quarta-feira, julho 25, 2012

O BLUES CLASSUDO E VIBRANTE DE JOHNNIE BASSETT, NUMA NOVA EMPREITADA IMPECÁVEL


Detroit fica bem longe do Rio Mississipi.

Mas só em termos geográficos.

Apesar de ficar localizada no Centro-Oeste dos Estados Unidos, à beira do Lago Michigan, Detroit recebeu tantos negros do Sul dos Estados Unidos desde os anos 1940, por conta da expansão das linhas de produção da Indústria Automobilística Americana, que muitos dos costumes dos Estados do Sul que desciam pelo Rio Mississipi rumo ao Mar do Caribe, passaram a subir até lá.

Para Detroit, isso foi ótimo, pois a cidade conseguiu, a partir daí, esboçar traços culturais próprios -- particularmente na música popular, dando origem a modalidades híbridas de blues, rhythm & blues e rock and roll muito interessantes e conservando tantas outras que deixavam de existir em outros centros urbanos como Chicago e San Francisco.



Johnnie Bassett é um dos caras que ajudou a fazer do "blues de Detroit" o que ele é hoje.

Nascido na Florida há 77 anos, e acostumado a ver Tampa Red e Arthur Big Boy Crudup tocando no quintal de sua casa, Johnnie seguiu para Detroit a reboque de sua família, que saiu em busca de trabalho nas montadoras de veículos instaladas lá, e logo se envolveu com uma banda teen de rhythm &blues chamada Joe Weaver & The Blecknotes.

Pouco a pouco, foi virando músico de estúdio profissional, passando a cantar e tocar guitarra em bandas de apoio de grandes músicos dos anos 50, tanto em estúdios quanto em excursões. Só de 1980 para cá, no entanto, é que Johnnie tomou coragem e engatou uma carreira solo à frente de sua banda, The Blues Insurgents.

Seu primeiro disco, "I Gave My Life To The Blues", de 1995, é uma aula preciosa de jump blues com diversas variaantes do ChIcago Blues. No entanto, "I Gave My LIfe To The Blues" convenceu a crítica mas não entusiasmou o público, e não emplacou.

Seu segundo disco, "Bassett Hound", tão bom quanto o primeiro, também não.

Só no terceiro e no quarto discos, "Cadillac Blues" e "Party My Blues Away", é que Bassett passou a ser visto como um dos últimos sobreviventes ativos de uma era muto importante na História do Blues, seguindo com o legado musical de T-Bone Walker.



"I Can Make That Happen", o mais novo trabalho de Johnnie Bassett & The Blues Insurgents, se, por um lado, não traz grandes novidades, em momento algum decepciona quem acompanha sua carreira há anos.

Johnnie segue alternando material próprio com clássicos do blues e do rhythm & blues -- como "Cry To Me", de Solomon Burke e "Reconsider Baby", de Lowell Fulsom --, e injetando swing em meio a ataques sempre certeiros na sua bela guitarra semi-acústica.

Sua voz permanece extremamente agradável, mesmo em números um pouco mais ardidos como "Proud to Be from Detroit" e "Motor City Blues", e a banda serve como um exemplo perfeito do melhor blues produzido naquela cidade.



O mais legal de ver artistas veteraníssimos como Johnnie Bassett na ativa com uma banda clássica como The Blues Insurgents, seguindo as velhas lições de mestres como T-Bone Walker e Robert Lockwood Jr, é ter a certeza de que esse idioma musical não morre tão cedo.

Não que o blues tenha que seguir obrigatoriamente a cartilha elaborada por esses mestrr es, muito pelo contrário.

Mas, na medida em que o blues-rock levou o idioma do blues para uma encruzilhada perigosa dos anos 80 para cá, nada sensato do que resgatar certos formatos que possam servir como via de escape enquanto eventuais encruzilhadas não se definam.

Com seu jeitão low-profile e sua música agradável, despretenciosa e dançante, Johnnie Bassett pode perfeitamente vir a ser um dos salvadores do blues clássico perante as novas gerações.

Torçamos para que ele permança vivo, ativo e suingado por muito tempo.



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segunda-feira, julho 23, 2012

O HARD-BOP DE GENTE GRANDE DE BRANFORD MARSALIS E SEU ASSOMBROSO QUARTETO


Quando surgiram na cena jazzística americana de forma retumbante em meados dos anos 80, Branford e Wynton Marsalis foram acusados por muitos de ter uma atitude "yuppie" na cena jazzística, já que haviam feito estágios curtos demais nas bandas de professores como Clark Terry e Art Blakey e queimado algumas etapas para iniciar logo suas carreiras -- vitoriosas, diga-se de passagem -- como solistas.

O que irritava mais ainda é que os discos tanto de um quanto do outro eram ótimos. Desprezavam solenemente toda a maré fusion que inundou o jazz dos anos 70 e 80. E remetiam diretamente à sonoridade iniguálável do quinteto magnífico que Miles Davis comandou nos anos 60, composto por Wayne Shorter, Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams.

Tudo bem que os Branford e Wynton -- e também Delfayo e Jason Marsalis -- são filhos de um grande professor de música de New Orleans, o pianista Ellis Marsalis, e foram criados respirando jazz desde a mais tenra idade, mas, mesmo assim, como explicar que os dois tenham conseguido se afirmar como ótimos bandleaders desde tão cedo, tendo excursionado tão pouco em bandas alheias?


Seja qual for a resposta, ela não em a menor importância.

O que importa é que o tempo e o conjunto de obra dos dois mostrou que eles sabiam o que estavam fazendo.

Wynton, sempre de forma mais sisuda.

E Branford sempre mais aberto para experiências musicais pouco ortodoxas, e sempre bem humorado.

(num show em São Paulo, quinze anos atrás, ele abriu o set com o "Tema dos Flintstones" e deixou no palco um boneco Fred Flintstone inflável o show inteiro, e na hora de apresentar um a um os integrantes da banda, incluiu Fred nos créditos)



Pois bem: Branford Marsalis está de volta melhor e mais democrático do nunca nesse "Four MFs Playin´ Tunes", comandando seu bravo Quarteto -- Joey Calderazzo, piano, Eric Revis, contrabaixo, e Justin Faulkner, bateria, este recém-integrado ao grupo -- numa empreitada de hard-bop sensacional, com sete temas de autoria dos integrantes do grupo e um clássico de Thelonious Monk no repertório.

Detalhe: MFs significa Motherfuckers. O título do disco, em bom português, seria algo como "Quatro Fodões Tocando Canções" -- o que dá uma idéia da descontração e do bom humor que rola entre entre Branford e seus rapazes. 

É em discos como esse que se vê a grandeza de um band-leader. Sem um comandante com grande presença de espírito, fica inviável ter uma banda tocando redondo desse jeito, e acelerando de forma vertiginosa a todo momento, com todos em perfeita sincronia, sempre esbanjando uma destreza admirável, num flerte constante com o perigo. Branford sabe disso. Aprendeu com Art Blakey.

Aqui em "Four MFs Playin' Tunes" não rola aquele fricote muito comum entre jazzistas de "conceituar o disco", para depois adequar o repertório e os arranjos a uma idéia central. O que foi composto foi simplesmente tocado da maneira mais honesta e vibrante possível, para no final restar apenas o trabalho de juntar as canções gravadas numa sequência em que fizessem sentido.

Simples assim. Perfeito assim.




Não adianta: Branford Marsalis sempre foi impetuoso, nunca respeitou convenções tolas, e não iria ser agora, aos 52 anos de idade e 32 de carreira, que ele se renderia a elas.

Nós, velhos admiradores, encarecidamente agradecemos.

Preparem-se para ouvir um Quarteto espetacular quebrando tudo ao longo de mais de uma hora de jazz de primeiríssima grandeza.

Acredite: eles não se entitulam "Motherfuckers" à toa.

BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/branford-marsalis-mn0000045379

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domingo, julho 22, 2012

OS BEACH BOYS CONTEMPLAM O FIM DO VERÃO ETERNO NUM NOVO DISCO SERENO E ADORÁVEL


A última vez que Brian Wilson uniu forças aos Beach Boys, nem é bom lembrar.

Foi há exatos 27 anos, naquele disco sem nome que trazia canções medianas como "California Calling", "Getcha Back" e "Just A Matter Of Time", e outras bem fraquinhas, quase desprezíveis.

Na ocasião, os Beach Boys viviam em pé de guerra -- e não era guerra de areia, não.

Al Jardine e Mike Love batiam boca em público com muita frequência, e por pouco um não arrancou o escalpo do outro numa entrevista no talk-show de Johnny Carson.

Enquanto isso, Brian saía de um tratamento psiquiátrico aparentemente eficaz, mas bastante controvertido -- até porque transformou em parceiro nas suas composições o seu psicanalista, um certo Dr. Eugene Landy, que mais tarde foi impedido de exercer a profissão, acusado de cometer abuso psicológico em seus pacientes, e acabou expulso da Ordem dos Psicoterapeutas da California.

Eram tempos muito estranhos aqueles, e a produção da banda naquele momento refletia bem isso..

Tanto que, logo depois desse disco, Brian Wilson caiu fora e saiu em carreira solo, Mike Love interditou Al Jardine e tomou as rédeas da banda, não sossegando até transformar os Beach Boys numa banda nostálgica da pior espécie, fazendo tournées caça-níqueis que desonravam de forma flagrante o seu passado glorioso.


Mas então, em 2011, "Smile", o disco clássico inédito dos Beach Boys, de 1967, finalmente viu a luz do dia numa edição luxuosa e muito carinhosa da Capitol Records, supervisionada pelo próprio Brian -- que, apesar de ter realizado o disco praticamente sozinho na época, fez questão de chamar todos os sobreviventes da banda para participar deste resgate musical tão aguardado por todos os fãs da banda.

Na verdade, isso tudo já era uma prévia do grande evento que iria acontecer agora, em 2012: as comemorações de 50 anos de atividade da banda, com direito a disco novo com material inédito e uma tournée mundial com os sobreviventes das várias formações da banda.

Uma empreitada ambiciosa, sem dúvida.

Que, se por um lado gerava uma grande espectativa, por outro não despertava muita confiança em ninguém, a julgar pelo que os Beach Boys produziram nesses 27 anos -- apesar de ter o aval de Brian Wilson, que nunca deixou de gravar discos solo belíssimos nesse período.

O caso é que ninguém imaginava que, a essa altura do campeonato, depois de tantas desavenças e tanto desrespeito com a própria história da banda, os Beach Boys pudessem ressurgir das cinzas e se reafirmar novamente como a grande banda que sempre foi. 


Pois bem: confesso que minha primeira audição desse "That's Why God Made The Radio" foi feita com muita desconfiança.

Primeiro, procurando novidades no trabalho da banda e não achando.

Depois, estranhando um pouco o pastiche que Brian fez unindo os arranjos clássicos da fase "Pet Sounds" com o padrão sonoro da banda dos anos 80.

E então, procurando defeitos nas novas canções.

Tudo em vão.

O caso é que as canções são lindas. E as vocalizações são delicadíssimas, e extremamente intrincadas, como de hábito. E os arranjos são magníficos. E o astral da empreitada, nada menos que simplesmente perfeito. E eu me senti um idiota por ficar procurando defeitos numa pequena obra-prima como essa. Bem feito para mim.

As três belíssimas faixas de encerramento do disco -- "From There To Back Again", "Pacific Coast Highway" e "Summer´s Gone" -- formam uma pequena suite que fala desse momento da vida em que todos eles estão, contemplando o passado e olhando para o tempo que lhes resta de forma serena, alegre e generosa. Usando o Verão mais uma vez como metáfora para a vida, mas deixando o hedonismo de lado para saudar a chegada do Outono como um ensaio para o adeus derradeiro.

E então, vem a melancolia inevitável.

E a música termina, deixando apenas o som eterno das ondas quebrando ao fundo.



Não há o que discutir: "That´s Why God Made The Radio" ostenta um padrão de perfeição pouco comum na longa discografia dos Beach Boys.

É superior a qualquer disco gravado pela banda de "15 Big Ones" (1975) para cá.


E é o melhor álbum de retorno cometido por uma banda clássica desde "Breathe Out, Breathe In" (2010), dos ingleses The Zombies.

E sou capaz de apostar que "That´s Why God Made The Radio" é, desde já, um dos cinco melhores álbuns deste ano.

Do meu toca-discos, eu garanto que ele não sai tão cedo.

BIO-DISCOGRAFIA
 http://www.allmusic.com/artist/the-beach-boys-mn0000041874

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sexta-feira, julho 20, 2012

O MESTRE DA GUITARRA JUNIOR WATSON RETORNA COM SEU JUMP BLUES IMPLACÁVEL


Mike "Junior" Watson é uma das figuras mais conhecidas da cena blueseira de Los Angeles, e um dos guitarristas mais respeitados dentro do que se convencionou chamar "Wesr Coast Blues" -- um mix bem dosado do Swing do Texas com o Jump Blues de Kansas City e o Blues de Chicago.

Herdeiro musical de T-Bone Walker e Luther Tucker, Junior surgiu na cena impulsionado por seu amigo e professor Mike "Hollywood Fats" Mann, e logo se revelou um ás da guitarra capaz de passear por qualquer gênero musical, sempre com bom humor e uma levada implacável.

Foi parceiro do grande gaitista Rod Piazza durante dez anos, na primeira encarnação de sua banda, The Mighty Flyers.

Mais adiante, uniu forças ao baixista Larry Taylor e ao baterista Fito de la Parra, últimos remanescentes da formação original do Canned Heat, e juntos cunharam uma expressão sofisticada e pluralista para o tradicional boogie frenético da banda.

Atuou como sideman de bandas de amigos gaitistas como James Harman, William Clarke, Kim Wilson, Lynwood Slim, John Nemeth e Mitch Kashmar, e vem desenvolvendo um belo trabalho ao lado do excelente pianista Fred Kaplan, com quem divide a cena tanto em discos quanto gigs sempre muito elogiadas.


Como artista solo, no entanto, Junior Watson sempre deixou a desejar.

Por melhores que fossem seus discos solo, eles tinham um defeito grave: eram esporádicos demais.

Seu primeiro LP, "Long Overdue", foi gravado em 1987 para a  Black Top Records,  é predominantemente instrumental e funciona como um showcase impecável para o estilo de Watson, sempre econômico e espirituoso, privilegiando sua interação com seus companheiros de banda em detrimento de arrombos virtuosísticos inócuos e inoportunos.

Seu segundo disco solo só foi surgir quinze anos mais tarde, em 2002: "If I Had A Genie", gravado em parceria com o pianista Gene Taylor, tem uma levada bem diferente, é completamente descontraído, e foi gravado ao vivo no estúdio sem maiores requintes de produção.



Só agora, dez anos mais tarde, é que Junior Watson tomou coragem e achou uma brecha na sua agenda de sideman para arriscar uma terceira investida solo.

"Jumpin´ Wit Junior" reprisa, de certa forma, a parceria com seu velho parceiro Fred Kaplan, que vem desde o tempo em que tocavam nas bandas de Hollywood Fats.

Mas é um disco mais rude e mais ligeiro que "Long Overdue", gravado 25 anos atrás.

Primeiro porque os dois foram atrás daquela sonoridade clássica dos estúdios de Chicago dos anos 50 que Fred Kaplan já haviam expermentado em vários discos anteriormente -- seus e de amigos como Kim Wilson --, deixando inclusive o mix final em mono.

Segundo porque eles novamente gravaram tudo ao vivo no estúdio, sem overdubs e sem perder tempo, como se fazia antigamente, e o resultado final é deliciosamente expontâneo.

O repertório de "Jumpin´ Wit Junior" é bem suingado e segue em ritmo de festa, alternando clássicos do blues com números originais de Watson e Kaplan, e mais algumas pequenas excentricidades, como uma versão divertidíssima para o tema do seriado "Bonanza".



Enfim, que já viu Junior Watson num palco -- e ele já tocou duas vezes aqui no Brasil --, sabe perfeitamente bem do que ele é capaz.

Sabe também que ele é, ao lado de Little Charlie Baty, Jimmie Vaughan e Kid Ramos, um dos guitarristas mais safos e mais divertidos do Oeste Americano.

Sim, porque erra quem pensa que, no blues, rapidez é documento.

Não é mesmo.

Quem é rápido demais, normalmente não tem tempo de ser malicioso com seu instrumento, não consegue interagir com sua banda e passa ao largo do verdadeiro prazer de tocar esse tipo de música.

Ouçam "Jumpin´ Wit Junior" de Junior Watson e vocês vão entender o que estou falando.

Acreditem: um "twang" na sua Harmony Stratotone modelo 1963 vale mais que mil palavras.



BIO-DISCOGRAFIA
 http://www.allmusic.com/artist/junior-watson-mn0000304962

WEBSITE PESSOAL
http://juniorwatson.com

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terça-feira, julho 17, 2012

O NOVO DISCO DE JOE JACKSON REDIMENSIONA O FABULOSO LEGADO DE DUKE ELLINGTON


Nos dias de hoje, quem vê Elvis Costello se desdobrando em diversas frentes musicais -- ora gravando um disco de jazz para a Verve Records, ora gravando música erudita para a Deutsche Grammophon, ou então simplesmente oscilando entre o pop classudo de Burt Bacharach, o rock rasgado de sua banda, The Imposters, e flertes com country music ao lado de T-Bone Burnett -- não imagina que, muito antes dele, e fazendo muito menos barulho que ele, um outro artista de sua geração já havia percorrido todos esses caminhos -- de forma muito mais inusitada.

Esse artista é o cantor, pianista e saxofonista inglês Joe Jackson.

Jackson, para quem não lembra direito, foi uma das forças emergentes mais vitais da cena pós-punk inglesa, ao lado de Costello, Graham Parker, Dave Edmunds, Nick Lowe, The Clash e The Pretenders. À frente de um quarteto rápido e rasteiro, ele brilhou em uma sequência impecável de LPs bem desaforados e até hoje muito divertidos de se ouvir: "Look Sharp", "I´m The Man" e "Beat Crazy"

Mas assim que sentiu que a efervecência do pós-punk estava se dissipando, Joe Jackson deixou sua banda de lado e passou a perseguir um projeto musical pop muito requintado, com raízes no cancioneiro clássico americano e no jazz, mas também com um pé nos conceitos pop de seu amigo Thomas Dolby.

Nessa brincadeira, surgiram "Night & Day" e "Body & Soul", dois discos deliciosos e extremamente bem sucedidos comercialmente, onde Joe Jackson explora todas as vocações musicais que tinha até então, e mais algumas.



Pois bem: quase 30 anos se passaram desde então.

De lá para cá, Jackson seguiu explorando novas vocações musicais, criando trilhas sonoras para filmes, sinfonias jazzísticas e peças um tanto quanto idiossincráticas, sem jamais fazer concessões e seguindo firme num projeto artístico que cada vez mais se distanciava de seu trabalho mais consagrado, cujo valor -- tudo indicava a essa altura do campeonato --só iria ser devidamente reconhecido depois que ele morresse ou se aposentasse.

Mas nada disso foi necessário, felizmente.

Depois do retorno triunfal de seu quarteto original dos anos 70 para gravar um ótimo disco de estúdio e uma tournée que resultou num álbum ao vivo espetacular, Jackson parece estar empenhado em não permitir mais que seus projetos musical falem línguas diferentes das que ele já testou no passado, e menos ainda que sejam esnobados por seus velhos fãs.



"For Duke", seu novo trabalho, é um triunfo artístico assombroso.

Partindo do pressuposto de que Duke Ellington nunca teve uma atitude reverente em relação aos arranjos mais conhecidos de seus números clássicos, e sempre tratou de reinventar esse repertório das mais diversas maneiras possíveis, Joe saiu em busca de uma maneira original e pessoal para abordar o universo ellingtoniano.

E achou, sem dificuldades.

Sua primeira providência foi retirar todos os metais dos arranjos de Ellington e substituí-los por teclados e guitarras, para depois reinventar os andamentos e dar ao repertório um toque bem "lush", com climas musicais oscilando entre o cocktail bar, clubes de jazz e cabarets pós-modernos -- tudo isso sem jamais diluir os originais, ou sufocá-los com arranjos mal dimensionados.

Muitos jazzófilos mais tradicionalistas torceram o nariz para "For Duke".

Acharam o que Jackson fez uma heresia musical, e um desrespeito pára com Ellington.

Mas não é não.

É um trabalho ousado, corajoso, extremamente intrincado, que reúne num mesmo conceito musical músicos de naturezas muito diferentes -- como Iggy Pop e Sharon Jones, o guitarrista Steve Vai, o contrabaixista Christian McBride, a violinista Regina Carter e até a cantora brasileira Lilian Vieira, que faz uma releitura para "Perdido" que é quase um sambinha.

E, cá entre nós, eu que achava a versão que os Neville Brothers fizeram 20 e poucos anos atrás para "Caravan" um achado musical, fiquei completamente boquiaberto com a diversidade de idiomas culturais e musicais que Joe Jackson conseguiu afluir para sua releitura desse clássico ellingtoniano.

"For Duke" é um triunfo que é porque Joe Jackson partiu do presuposto de que Ellington jamais se importaria que a essência de sua música servisse de ponto de partida para investigações pessoais de outros artistas de naturezas diferentes da dele, e mergulhou fundo.

Ouça com carinho e deixe-se envolver, pois vale a pena.

Você provavelmente ficará espantado não só com as possibilidades que o universo ellingtoniano oferece, mas também com o altíssimo gabarito dos arranjos e das investidas musicais regidas por Jackson.

A este bravo príncipe punk que perdeu deliberadamente o caminho de casa e vagou sem rumo muito claro por exílios os mais diversos por tantos anos -- mas jamais irá admitir isso, até porque "angry young men" como ele não costumam ter vocação para filho pródigo --, minhas saudações:

Benvindo de volta, Mr. Jackson, estávamos com saudades.



BIO-DISCOGRAFIA
 http://www.allmusic.com/artist/joe-jackson-mn0000784732

WEBSITE OFICIAL
 http://joejackson.com/

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quarta-feira, julho 11, 2012

O DNA TROPICALISTA NO SWING CEREBRAL DO DR. MORRIS E OS VIVOS, HOJE NO SESC-SANTOS


São Paulo, para quem não sabe, tem mais judeus de origem italiana que a própria Itália.

Os judeus italianos que conseguiram escapar de Benito Mussolini e dos Campos de Concentração na Segunda Guerra Mundial, vieram para o Brasil e se estabeleceram.

Sabiam que, em São Paulo, não só teriam uma boa chance para recomeçar suas vidas como poderiam tentar trabalhar com os muitos imigrantes italianos bem estabelecidos na cidade.

Com o passar do tempo, eles foram se misturando com judeus vindos de vãrios outros países europeus e também com os italianos que ajudaram a formar o DNA da cidade de São Paulo.

Resultado prático disso: viraram brasileiros.

Ao que consta, poucos judeus italianos voltaram para a Itália depois desse exôdo, e preferiram permanecer aqui.



Pois bem: Morris Picciotto é filho de um desses judeus italianos radicados em São Paulo, que, ao chegar aqui, conheceu uma bela moça síria, casou e constituiu família.

Nascido em Maio de 1968, em pleno apogeu da Tropicália, Morris não sabia ainda que sua vida estaria fortemente conectada com esse movimento musical por muitos e muitos anos.

Aos poucos, descobriu que ninguém nasce em Maio de 1968 impunemente.

Tentou de tudo na sua juventude, mas nada deu muito certo. Vagou pelo Brasil e gostou muito do que viu, mas não achou nenhuma direção muito clara para sua vida.

Um belo dia, depois de sair à francesa de um kibutz em Israel para circular livre, leve e solto pela Europa, encanou que seria músico. E decidiu começar a estudar violão.

Alguns anos mais tarde, já músico profissional, Morris criou trilhas para vários espetáculos teatrais e filmes, e passou a ser muito requisitado nesses segmentos.

Nas horas vagas, participou da Urbanda, um projeto musical que promovia retrospectivas nas obras de compositores brasileiros.

Mais adiante, começou a esboçar o que ele mesmo chama de "Tropicalismo Paulista de Imigrante", mesclando sopros, cordas e levadas de percussão em baladas, sambinhas, skas e outros ritmos em composições próprias que remetem tanto a Tom Zé e Jorge Mautner quanto à Isca de Polícia e ao Karnak.


E assim, em meio a essa brincadeira, foi nascendo o Dr. Morris e Os Vivos, com uma sonoridade muito peculiar, a partir de uma formação básica de cinco músicos -- que pode se expandir a nove, dependendo da ocasião.

Mesclando samba e ritmos do Nordeste com música suingada de vários cantos do planeta, eles testaram o formato da banda em várias casas noturnas de São Paulo até se sentirem seguros para entrar em estúdio e gravar um disco -- bem rapidinho, quase ao vivo no estúdio, para que o orçamento do projeto não estourasse.

E então, em 2009, chegou às melhores lojas do ramo o cd "5", muito elogiado pela crítica e bem recebido por certos segmentos de público -- tanto aqui quanto na Argentina, onde o Dr. Morris e Os Vivos conquistou um público fiel depois de algumas gigs muito aplaudidas.

"5" é uma carta de intenções muito interessante, onde uma infinidade de gêneros musicais se mistura numa brincadeira que começa bem suingada e, aos poucos, vai ficando mais e mais cerebral, sem jamais perder o bom humor.

A herança tropicalista, claro, está toda lá, em números geniais como "Looping" e "Uma Tarde no Shopping Iguatemi". Muito da busca de Morris por uma identidade artística, também.

"5" é um disco estranhamente pop. Envolvente e cativante. Vibrante e arejado. Nada a ver com a cena underground paulista, como andaram dizendo por aí.

Todas as canções do disco -- com excessão, claro, de "Norwegian Wood", de Lennon & McCartney -- são de autoria de Morris e sua mulher, Eloísa Elena, e são muito bem resolvidas.

Fazendo (bom) uso de um velho clichê, eu diria que Dr. Morris e Os Vivos é a cara de São Paulo.

Vale uma conferida, é um trabalho bastante original.
  



No momento, Dr. Morris e Os Vivos estão correndo atrás de patrocinadores para viabilizar a gravação de um projeto bem mais arrojado, com 33 contos do escritor mineiro Murilo Rubião musicados.

Vários desses "contos musicados", além de números de "5", serão apresentados nessa quinta, dia 12, às 21:30 horas, na Comedoria do SESC-Santos, onde farão uma apresentação que promete ser bem inusitada, e bem dançante também.

Apareçam lá.

O ingresso mais caro custa apenas 8 reais.

Às 20 horas, uma hora antes da abertura do show, os DJs do Futuráfrica Luis Dias Lufer, Stéfanis Caiaffo e Wagner Parra cuidam das preliminares, promovendo um mini-baile afrojazzlatino.

Aliás, os primeiros que passarem na Disqueria Santos na tarde dessa quinta-feira e comprarem alguma coisa levam um par de ingressos para o show.

WEBSITE OFICIAL
 http://drmorris.com.br/

ONDE COMPRAR
Av Conselheiro Nébias 850, quase em frente ao Presidente 
Telefone: 3232-4767

AMOSTRAS GRÁTIS 


O BLUESMAN SONNY LANDRETH RETORNA NUM ÁLBUM INTEIRAMENTE INSTRUMENTAL


A essa altura do campeonato, é pouco provável que algum aficcionado em blues ainda não conheça -- e não admire muito -- o trabalho do fabuloso guitarrista de Lafayette, Louisiana,

Landreth é uma unanimidade no meio musical.

Como sideman, é o guitarrista que sempre providencia o toque que faltava nos trabalhos de artistas de primeiro time -- como seus amigos John Hiatt, Mark Knopfler e Jimmy Buffett, além do pessoal do grupo Little Feat.

Como artista solo, é um guitarrista dono de um estilo absolutamente único, que mescla o fingerpickin´ do rockabilly com técnicas de slide guitar dos bluesman clássicos. Só que, assim como Knopfler, ele usa sempre todos os dedos de sua mão direita, o que dá um toque jazzístico a seu blend musical de blues, zydeco, cajun, e tudo mais que quiser mergulhar em seu cozido musical à moda da Lousiana.

Como compositor, Sonny é muito bom.

Como cantor, ele até que dá para o gasto.

Já como band-leader, Sonny Landreth é um craque absoluto.

Prova irrefutável disso é a consistência impressionante de seu trabalho solo, em 10 LPs prestigiados por crítica e público que vem gravando de 1973 para cá -- primeiro para selos obscuros da Louisiana e depois para selos independentes prestigiados como Zoo Records, Sugar Hill Records, e agora para a Land Fall Records.


"Elemental Journey" é seu décimo-primeiro LP, e o seu primeiro totalmente instrumental.

Não é um disco de blues.

É um daqueles trabalhos que desafiam classificações mercadológicas.

E é tão eloquente e elegante que deve deixar mesmo fãs de blues mais ortodoxos sem saber como fazer para torcer o nariz para uma aventura musical tão ensolarada e tão delicada.

Tem de tudo um pouco em "Elemental Journey". Desde guitarradas relativamente comedidas ao lado de amigos escandalosos, como Joe Satriani e Eric Johnson, até arranjos muito melódicos -- do trio Steve Cann (teclados), Brian Brignac (bateria) e David Ranson (baixo) -- que ganham texturas musicais densas com o apoio luxuoso da Acadian Symphony Orchestra, prata da casa lá de Lafayette, Louisiana.

E funciona.

Ao longo de seus quarenta e cinco minutos de duração, em momento algum "Elemental Journey" soa arrastado ou tedioso.

É um disco de banda. Conciso. Bem focado musicalmente. Nem parece trabalho solo de guitarrista. Às vezes lembra um pouco certos temas instrumentais de Joe Walsh em seus discos solo nos anos 70 e 80, o que não deixa de ser uma referência um tanto quanto curiosa..


Quem gosta de exageros na guitarra, talvez não se sinta muito à vontade com "Elemental Journey".

É um trabalho muito diferente do habitual de Sonny Landreth.

Mas um trabalho que só o engrandesce em termos musicais.

Eu, pessoalmente, sempre vou preferir Sonny mergulhando de cabeça no blues centenário de seus mestres com sua abordagem musical única e seu tempero bem apimentado -- até porque não existe hoje guitarrista branco de blues mais gabaritado do que ele nos Estados Unidos.

Mas imagino que para Sonny Landreth seja interessante manter portas abertas para os mais diversos segmentos de público, e abraçar desde os aficcionados em Robert Johnson e Skip James, passando por Chet Atkins e Scotty Moore, até chegar nos devotos de Joe Satriani e Eric Johnson.

Está no ramo há 40 anos, deve saber bem onde está pisando.


BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/sonny-landreth-mn0000044994

WEBSITE PESSOAL
 http://www.sonnylandreth.com/

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