terça-feira, dezembro 04, 2012
PARA QUEM NÃO ACREDITA QUE EXISTE JAZZ E RHYTHM & BLUES INSTRUMENTAL NO TEXAS, AQUI VAI A PROVA EM CONTRÁRIO
Existe uma linha tênue que separa o rhythm & blues instrumental do jazz.
São dois conceitos que se confundem com alguma facilidade, mas que tem caras muito definidas.
O rhythm & blues instrumental trabalha com números musicais de, no máximo, 4 minutos de duração. Os improvisos, portanto, não podem se prolongar demais, e quase sempre são divididos entre dois solistas da banda -- preferencialmente sax e guitarra, ou sax e piano, ou os 3 juntos. Por mais habilidosos que sejam os músicos, esses improvisos nunca podem se afastar demais da linha melódica do tema principal.
É para funcionar como single, compacto. E tem que ser dançável. E assoviável. É para tocar no rádio.
O rhythm & blues instrumental nunca teve grande respeito no meio do jazz, mas sempre serviu como uma salvaguarda financeira abençoada para muitos jazzístas.
Illinois Jacket que o diga.
Sua banda, uma das mais famosas e requisitadas do gênero entre os anos 40 e os anos 60, tocava mais de 200 noites por ano pelos Estados Unidos lotando salas de cinema e dancehalls, sem a menor frescura e o menor purismo.
Com a chegada dos anos 60, e a explosão de bandas pop instrumentais como The Ventures e Booker T & The MGs, muitos músicos que tocavam com o pessoal do rhythm & blues decidiram arriscar carreiras solo.
De todos eles, os mais bem sucedidos foram o guitarrista Grant Green, o tecladista Les McCann e, claro, o fabuloso saxofonista King Curtis, que conseguiu a proeza de virar unanimidade entre o pessoal do jazz, do rock, do blues e da soul music, trazendo para o rhythm & blues instrumental uma respeitabilidade nunca almejada pelos praticantes do gênero -- e que, um pouco mais adiante, já nos anos 70, ajudaria a abrir as portas para carreiras igualmente vitoriosas de artistas jovens como Grover Washington Jr, David Sanborn, Larry Carlton, e vários outros.
Pois bem; o veterano saxofonista tenor Mike Sweetman, comandante de uma banda espetacular chamada The Southside Groove Kings, é uma figura carimbada da pluralíssima cena musical de Austin, Texas -- que consegue comportar tanto artistas de country music e blues quanto manifestações pop incomuns e alguns jazzistas com um trabalho bastante original, fora as manifestações inclassificáveis de praxe.
Esse seu único disco, "Austin Backalley Blue", gravado 20 anos atrás para o selo independente Wildchild, apareceu nos últimos meses entre os relançamentos de jazz e surpreendeu a todos os que tiveram a curiosidade de ouví-lo.
Nele, sua banda, composta de outros músicos de estúdio texanos, rasgata de forma brilhante uma série de sonoridades que infestaram o sul dos Estados Unidos 50 anos atrás, e depois desapareceram do mapa, eclipsadas pelo advento da soul music.
Dizer que "Austin Backalley Blue" é espetacular é chover no molhado. Nunca ouvi uma versão mais desengonçada e bem humorada de "Harlem Nocturne" quanto a desse disco. Perfeita também a releitura de "Looking Good", um dos números favoritos do grande Magic Sam. E o que dizer da abertura vigorosa com "Jest Smoochin'", já saudando de cara a herança musical de King Curtis?.
Só espero que essa banda espetacular ainda exista, e que Mike Sweetman esteja em forma para poder usufruir do frisson que anda rolando por conta do relançamento dessa pérola esquecida: "Austin Backalley Blue", um disco de tirar o chapéu.
E acredite: isso no Texas não é pouca coisa.
Dessa vez, não temos amostras grátis no YouTube, nem referências bio-discográficas, dada a natureza obscura deste disco. Mas dá para escutar alguns trechos dele no website da Mapleshade Records.
Divirtam-se: http://www.mapleshaderecords.com/cds/02752.php
segunda-feira, novembro 26, 2012
HARRY ALLEN, SCOTT HAMILTON E O JAZZ QUE É A CARA DA CIDADE DE NOVA YORK.
Houve um momento "encruzilhada" na história do jazz em que as big bands começaram a ficar inviáveis comercialmente, e os integrantes dessas bandas passaram a se reunir em grupos menores -- com 3, 4 ou 5 músicos no palco -- para tocar o mesmo repertório swingado das orquestras com uma levada mais intimista em pequenos nightclubs.
Isso aconteceu em meados nos anos 40, logo depois da Segunda Guerra Mundial, entre o fim da Era do Swing e a alvorada do Bebop.
Foi quando inauguraram umas das instituições musicais mais sólidas do pré-bebop: os combos de jazz com dois saxofonistas tenor no comando.
Eram dobradinhas espetaculares: Coleman Hawkins e Ben Webster, Lester Young e Zoot Sims, e muitos outros que vieram a se tornar grandes mestres.
Mas, com o advento do bebop e o estrelato de Charlie Parker, todo jovem saxofonista ascendente passou a preferir o sax alto ao sax tenor, e essa deliciosa tradição das dobradinhas de tenores foi-se perdendo com o passar das décadas.
Mas não se perdeu por completo, claro. Dexter Gordon e Al Cohn reativaram esse modelo nos anos 60, e Warne Marsh e Chris Christlieb conseguiram devolvê-lo às paradas de jazz nos anos 70, em meio àquela enxurrada de fusion jazz que reinava na ocasião.
Felizmente, com a entrada em cena dos Irmãos Marsalis e de toda a sua turma de neo-boppers de New Orleans, muitas tradições do jazz dos anos 40 e 50, como a das duplas de saxofonistas tenor, deixaram de ser mera curiosidade para voltar a fazer parte do cardápio variado de manifestações jazzísticas em voga.
Harry Allen e Scott Hamilton não tem absolutamente nada a ver com os Irmãos Marsalis.
Ambos são da cidade de Nova York, onde gravam discos e tocam na noite há quase 40 anos, sempre com público cativo e casa cheia -- mas raramente juntos, apesar de serem amigos de longa data.
"Round Midnight", segundo disco em colaboração entre os dois, não só é primoroso, como revela uma naturalidade musical rara entre jazzistas nos dias de hoje.
A música que eles tocam é atemporal, e o repertório oscila entre vertentes jazzísticas diversas, mas segue sempre um mood bem alegre e cativante, que permite que um clássico dos anos 30 como "My Melancholy Baby", ainda que numa versão bem rejuvenecida, divida a cena com um número truculento e inventivo como "Flight Of The Foo Birds", composto por Neal Hefti para a Count Basie Orchestra nos anos 60.
Outro exemplo dessa pluralidade delicada da alquimia muiscal que os dois desenvolvem está na maneira como conseguem compatibilizar uma versão hard-bop inusitada para "Lover", de Dick Rodgers e Larry Hart, com uma releitura pré-bop de "Round Midnight", de Thelonious Monk -- justamente um dos números mais emblemáticos do bebop.
Com o suporte luxuoso de Ronnie Sportiello ao piano, e da cozinha exemplar do baixista Joel Forbes e do baterista Chuck Riggs, tudo funciona às mil maravilhas nessa sessão, encaixando ecos de Eras diferentes da história do jazz numa mesma aventura musical aparentemente leve e descompromissada, mas densa e muito adorável.
"Round Midnight" é, de certa forma, a cara do jazz da cidade de Nova York: uma manifestação musical centenária que sempre encontrou por lá um público disposto a encarar tanto o que o gênero tem de mais dançante quanto o que ele tem de mais experimental.
Seria uma heresia chamar Harry Allen e Scott Hamilton de neo-tradicionalistas, apesar dos dois terem surgido na onda do jazz neo-tradicionalista dos anos 80, pois eles mesclam tantas tendências, e de forma tão inusitada, que seria injusto reduzi-los a tão pouco.
Felizmente o swing tem uma lógica própria, que desafia a própria historiografia do jazz.
E essa dupla de saxofonistas tenor brinca com essa dicotomia, com uma nonchalance impecável.
Acredite: tem sabedoria musical tem de sobra em "Round Midnight".
BIODISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/harry-allen-mn0000668457
http://www.allmusic.com/artist/scott-hamilton-mn0000254879
WEBSITES OFICIAIS
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sábado, novembro 10, 2012
sexta-feira, novembro 09, 2012
JOHN CALE CHEGA AOS 70 ANOS DE IDADE FLERTANDO COM O CORAÇÃO DAS TREVAS
John Cale é um daqueles casos raros em que um talento enorme e múltiplo acaba roubando o foco de uma carreira que tinha tudo para ser estelar, e que, por algum motivo, não conseguiu ser.
Nascido em uma família de classe operária em Wales, na Grã-Bretanha, Cale se revelou um músico prodígio muito cedo, e ganhou bolsas para estudar música tanto em Londres quanto em Nova York -- sob a tutela de grandes mestres como Aaron Copland e Leonard Bernstein.
Mas foi sua paixão por música avant-guarde que o levou a se aproximar de mestres do gênero em diversas modalidades artística. Conheceu Andy Warhol, e acabou convidado para dar um tom experimental a uma banda de rock composta por uma Nico, uma cantora alemã um tanto quanto sombria, e alguns analfabetos musicais extremamente talentosos, comandados por Lou Reed, nos quais Andy estava apostando.
Essa banda era, claro, o Velvet Underground. E as idéias musicais arrojadas de Cale, em contraponto às baladas e rocks rasgados de Reed, acabaram sendo o grande diferencial dos dois primeiros LPs do Velvet.
Infelizmente, as dificuldades de relacionamento entre os dois não foram poucas, e acabaram levando a um racha dentro da banda.
Nico e Cale seguiram caminhos diferentes do Velvet -- que, desse ponto em diante, deixou os experimentalismos de lado e passou a apostar exclusivamente no rock and roll urbano mais contundente de que se tem notícia até hoje.
Foi a partir daí que a carreira de Cale se subdividiu em diversas frentes.
Havia o John Cale produtor e arranjador, que impulsionou de forma brilhante carreiras de músicos os mais diversos, como Nico, Jonathan Richman, Patti Smith, Iggy Pop e vários outros.
Havia também o John Cale artista erudito, que fazia experiências avant-guarde com LaMonte Young e Terry Riley, além de trilhas sonoras para filmes e uma série magnífica de discos com composições para piano e orquestra para o selo francês Crepuscule Disques.
E, para completar, havia o John Cale artista popular, com um trabalho musicalmente acessível, que aborda temas filosóficos, psicológicos e poéticos, e que possui uma discografia extensa e de alto gabarito artístico -- mas infelizmente sem grande apelo popular.
Pois é justamente desse John Cale que vamos falar aqui.
"Shifty Adventures In The Nookie Wood", seu mais novo disco, é um trabalho que aposta numa levada roqueira e sombria que remete aos primeiros anos de sua carreira solo, em LPs como "Paris 1919", "Fear" e "Slow Dazzle". Mas que, curiosamente, também mantém uma levada eletrônica semelhante à de alguns dos últimos cds gravados por David Bowie antes de se aposentar. Considerando que tanto Bowie quanto Cale trocam figurinhas constantemente com Brian Eno, nada a estranhar.
A maioria das canções dos disco chama a atenção pela contundência nos temas abordados e pelas melodias que grudam nos ouvidos logo na primeira audição -- apesar de alguns arranjos exageradamente eletrônicos, que vez ou outra conspiram contra as próprias canções.
Claro que esses exageros fazem todo o sentido do mundo na mente barroca avant-guarde de John Cale.
"Shifty Adventures In The Nookie Wood", assim como outros discos de John Cale, funciona como um jogo de espelhos. A linda e obsessiva faixa de abertura, "I Wanna Talk 2 U", gravada com a coleboração de Danger Mouse, já dá logo de cara o tom soturno e surreal da viagem que vem pela frente. Vem seguida pela envolvente 'Scotland Yard". Que engata em "Hemingway", uma homenagem ao espírito indômito e ao coração sombrio do grande escritor americano.
Daí para a frente, somos engolidos pela esquizofrenia musical de Cale, onde baladas lindíssimas como "Living With You" e "Flying Dutchman" se misturam com canções enigmáticas como "Midnight Feast", "Face To The Skies" e "December Rains", sempre seguindo a musicalidade "berlinense" que sempre emoldurou muito bem a voz gutural de Cale.
Não é uma viagem musical das mais leves.
Mas é intensa.
No geral, "Shifty Adventures In The Nookie Wood" soa como uma radicalização do trabalho desenvolvido por John Cale em seus dois discos anteriores, "Hobo Sapiens" e "Black Acetate", fechando talvez uma trilogia de discos surreais e sombrios.
Traz John Cale em plena forma, esbanjando jovialidade e criatividade aos 70 anos de idade, e, ao mesmo tempo, fazendo uma revisão de suas motivações artísticas mais básicas -- e isso, por si só, já é uma excelente recomendação.
Benvindo âs idiossincrasias musicais e temáticas de "Shifty Adventures In The Nookie Wood".
Prepare-se para emoções loucas e intensas com John Cale.
BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/john-cale-mn0000224638
WEBSITE OFICIAL
http://john-cale.com/
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terça-feira, novembro 06, 2012
RICKIE LEE JONES PASSEIA POR CANÇÕES ALHEIAS E SE REINVENTA MAIS UMA VEZ
É comum ver cantores e compositores lançando discos de covers de tempos em tempos por motivos estratégicos e oportunistas.
Convenhamos: é sempre muito mais fácil vender um disco assim. A maioria das canções escolhidas já são conhecidas, e essas releituras tem entrada facilitada nas programações das rádios adultas.
Além do mais, discos de covers são sempre saídas honrosas para qualquer artista em crise criativa ou em final de contrato com uma gravadora, pois a gravadora raramente reclama desse tipo de disco e o artista não pode guardar suas novas canções para seu disco de estréia na sua próxima gravadora.
Nenhuma dessas regras oportunistas, no entanto, se aplica a Rickie Lee Jones,. garota de Chicago que circulou por toda a América até aparecer ao lado do namorado Tom Waits no disco "Foreign Affairs" (1977) a convite de seus amigos de infância Lenny Waronker e Russ Titelman.
Desde o momento em que apareceu com seu disco de estréia em 1979, Rickie Lee causou um frisson impressionante na cena musical. O que dizer de uma cantora e compositora com a sensibilidade de Joni Mitchell e a atitude de um moleque de rua? Ela era inclassificável, e tirou proveito disso emplacando discos originalíssimos na sequência de seu trabalho de estréia, sem jamais se deixar engolir pelo mainstream -- mas tirando, sempre que possível, bom proveito dele.
Bom, mas como estava dizendo, Rickie Lee vem gravando há quase 30 anos discos de covers, um a cada dez anos, e nenhum deles tem perfil.oportunista. Muito pelo contrário, são discos em que ela mergulha fundo em suas lembranças, seus anos de formação artística e sua alma inquiete.
O primeiro disco de covers que ela gravou, "Girl At Her Volcano" (1983) é de uma delicadeza aterradora. Uma combinação eclética de canções de várias épocas, num contexto dramático e que dava uma nova dimensão á sua persona artística.
O segundo, "Pop Pop" (1991), já tem um tom mais jazzístico e uma seleção de canções que alterna canções dos anos 40 e 50 com clássicos da psicodelia como "Up From The Skies", de Jimi Hendrix.
Já o terceiro, "It´s Like This", tem uma sonoridade um pouco mais soul que o habitual, mas a origem do repertório é novamente muito eclética. o resultado final, no entanto, é extremamente coeso.
E agora, eis que Rickie Lee retorna com mais uma aventura musical muito pessoal com repertório alheio.
Em "The Devil You Know", ela volta a trabalhar com Ben Harper como produtor, e juntos eles desenvolveram arranjos bem "no osso" -- piano e baixo, violão e baixo, coisas assim -- sobre um repertório bastante conhecido, que ganhou feições inteiramente novas em releituras muito inusitadas.
O disco abre com uma versão intimista, quase uterina, para Sympathy For The Devil" -- sem percussão, sem explosões, trabalhando uma espécie de catarse interna. Segue com a versão mais delicada e inocente já gravada para "Only Love Can Break Your Heart", de Neil Young. Um pouco adiante, temos uma versão voz e piano quase inacreditável para "The Weight", clássico de Ronnie Robertson e do The Band, E por aí vai. Tudo muito simples, e muito incomum.
Eu confesso que fiquei completamente cativado pela sua interpretação de "Play With Fire", dos Stones, com um tom desamparado e, ao mesmo tempo, perigosíssimo, que dá a dimensão exata do poder de fogo de Rickie Lee como intérprete.
Além disso, ela escolheu duas canções que fazem parte do disco 'Every Picture Tells A Story", de Rod Stewart: "Reason To Believe", de Tm hardin, e "Seems Like A Long Time" de Ted Anderson. Tanto uma quanto a outra seguem leituras bem menos vibrantes que as de Rod, mas são muito mais eloquentes e verdadeiras.
E não pára por aí. "The Devil You Know" tem algumas outras surpresas a ser descobertas. Canções de Donovan, Van Morrison, Ben Harper, etc.
Eu, no entanto, prefiro encerrar por aqui.
Apesar de ser um disco de covers, "The Devil You Know" está longe de ser um disco de apelo fácil.
Nenhum disco de Rickie Lee Jones gravado nos últimos 20 anos tem apelo fácil.
Muita gente vai chegar com as reclamações de sempre: de que seu trabalho está cerebral demais, jovial de menos, climático demais, urgente de menos...
Eu, na condição de admirador quase incondicional do trabalho de Rickie Lee Jones, não tenho nenhuma observação a fazer. Achei o disco ótimo, intenso, certamente o melhor dos 4 discos de covers que ela já gravou. Torço sinceramente para que venham outros.
Quanto ao fato dela insistir em trabalhos que não possuem apelo imediato ao longo desses últimos 20 anos, não há muito o que dizer. Joni Mitchell e Laura Nyro também promoveram viradas radicais em determinados pontos de suas carreiras, e o tempo provou que elas estavam no rumo certo. As chances de Rickie Lee estar também na rota certa não são pequenas.
Enfim, nada melhor que o passar do tempo para dar as perspectivas histórica e artística certas para essas coisas que nem sempre estão estampadas bem na cara da gente.
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HANS THEESSINK E TERRY EVANS NADAM DE BRAÇADA NAS ÁGUAS DO RIO MISSISSIPPI E VIVEM PARA CONTAR EM "DELTA TIME"
Bem no início dos anos 1990, a Gravadora Estúdio Eldorado, de São Paulo, muito entusiasmada depois de adquirir os direitos para lançamento no Brasil do catálogo riquíssimo da independente americana Rounder Records, colocou nas lojas um LP espetacular chamado "Live And Let Live!", da dupla de cantores Terry Evans e Bobby King, integrantes da banda regular do guitarrista Ry Cooder, que também produziu o disco, lançado originalmente nos Estados Unidos em 1988.
"Live And Let Live!" teria passado completamente despercebido pelo grande público, se não fossem dois pequenos detalhes: a promoção espontânea da Grande Imprensa através de seus Cadernos de Cultura e a carência enorme que existia em relação a discos contemporâneos de blues e rhythm and blues num mercado onde só eram lançados discos clássicos da Chess Records e da Vee-Jay Records.
Bobby King e Terry Evans são de backgrounds musicais bem diferentes. Bobby vinha da cena gospel da Louisiana, e sempre imprimiu as características estilísticas típicas do gênero tanto nas composições quanto nas vocalizações da dupla. Já Terry vinha do Mississippi e trazia em sua bagagem anos de trabalho ao lado de craques do rhythm and blues como Louis Jordan e Ike Turner.
A união dos dois tinha tudo para não dar certo, mas funcionou às mil maravilhas em vários discos de Ry Cooder gravados nos anos 70 e 80, e também em dois discos como dupla.
De 1991 em diante, no entanto, a dupla, que raramente compunha canções em conjunto, se separou.
Bobby decidiu levar seu "falsetto" de volta para a cena gospel, onde milita até hoje.
E Terry seguiu explorando nas raízes musicais do Mississipi, sempre com um approach bem moderno, em discos nunca menos que magníficos, ainda que pouco conhecidos até mesmo pelo público de blues.
Os dois permaneceram amigos e eventuais parceiros musicais em projetos de músicos amigos, mas nunca mais retomaram o trabalho glorioso da dupla em discos próprios.
Pois bem: vinte anos se passaram, e então Terry Evans mergulhou em uma nova e bem sucedida dobradinha musical, dessa vez com o prolífico e muito aplicado guitarrista de folk-blues holandês Hans Theessink.
Juntos gravaram um disco espetacular hamado "Visions" (2008), com participação do guitarrista inglês Richard Thompson, onde trafegavam pelas águas da folk music que irrigam tanto o blues tradicional e o gospel quanto o rhythm and blues urbano e a soul music.
E agora, os dois estão de volta numa nova empreitada musical ao lado do amigo Ry Cooder e dos cantores Willie Greene Jr. e Arnold McCuller, mergulhando fundo na alma da música do sul dos Estados Unidos, sem distinção de gênero e sem respeitar fronteiras culturais.
"Delta Time" conquista logo de cara pelo despojamento musical e pela sofisticação na maneira de abordar o repertório, que alterna canções clássicas com originais de Hans Theessink, aluno aplicadíssimo de Ry Cooder..
Totalmente acústico, ele segue pelas mesmas trilhas que marcou boa parte do trabalho desenvolvido por Cooder nos anos 70, resgatando aquele mesmo padrão de excelência musical que parecia ter-se perdido com o passar dos anos.
É o outro lado daquela mesma moeda do trabalho totalmente elétrico que Evans realizava com Bobby King.
A recriação dramática eles promovem, por exemplo, na clássica "Down In Mississippi", de J B Lenoir, é de arrepiar.
As releituras acústicas de "Honest I Do" e 'Pouring Water On a Drowning Man" dão uma dimensão totalmente nova a esses números já gravados à exaustão por outros artistas.
E, como se isso não bastasse, os quatro originais de Theessink são magníficos, composições de um mestre que merece ser descoberto urgentemente por todos os aficcionados em blues que resistem à invasão europeus que vem tomando conta do gênero nos últimos anos.
"Delta Time" é um disco de blues acústico moderno que nasce clássico.
A alma de tudo o que se produziu, e ainda se produz, na música do Sul dos Estados Unidos está impregnada nele por inteiro.
Enquanto ouvia esse disco, me lembrava de algumas declarações do saudoso Levon Helm no programa de Dave Letterman um ou dois anos antes de morrer. Helm dizia que sua cidade no Arkansas era muito pobre e ficava à beira do Mississipi, mas do outro lado do Rio ficava a gloriosa Memphis, e um pouco mais acima estava Nashville.
Segundo ele: "Nos arredores dessas duas cidades todas as variantes musicais da Música do Sul se mesclavam sem distinção de gênero ou de cor, e isso acontecia de forma perfeitamente natural, na medida em que, em última instância, era tudo a mesma coisa, era tudo Country Music..."
"Delta Time" não só reforça essa tese, como abre um horizonte espetacular para quem pretende seguir explorando a música do Coração da América.
PS1: Um pedido apenas ao Sr. Evans e ao Sr. Theessink: "Visions" e "Delta Time" merecem virar, ao menos, uma trilogia -- ou uma trinca de discos, se assim preferirem. Pensem nisso com carinho, por favor. God Bless...
PS2: A propósito, PARABÉNS, BARACK OBAMA. God Bless...
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CONHEÇAM THE COOKERS, A MAIOR SUPER BANDA DE HARD-BOP DA HISTÓRIA DO JAZZ
Existia nos anos 50 e 60 uma tradição na Blue Note Records de chamar de "cooker" todo jovem músico que brilhasse de forma muito intensa como band-leader em discos da gravadora.
Uma tradição que funcionava mais como uma gentileza do que propriamente como um rótulo.
Mas que fornecia credenciais suficientes para apresentar aos admiradores do bebop jovens talentos de grande potencial que caíam na rede da gravadora.
O primeiro dos grandes "cookers" da Blue Note foi o lendário trumpetista Lee Morgan, que aos 19 anos gravou um disco espetacular com esse nome, e imediatamente entrou para o rol dos grandes mestres de seu instrumento.
O segundo dos grandes "cookers" da Blue Note veio no início dos anos 60: o jovem trumpetista Freddie Hubbard, que não sossegou enquanto não teve o apelido em questão estampado na capa de um de seus discos -- justamente o álbum ao vivo "Night Of The Cookers", onde divide a cena com seu mentor Lee Morgan.
Daí para a frente, jovens saxofonistas como Wayne Shorter e Billy Harper também passaram a ostentar o termo crookers também -- até que, com o advento do jazz fusion e o ocaso do hard bop e da Blue Note Records no final dos anos 60, a gíria saiu de moda e caiu em desuso.
Mas não morreu.
Com o ressurgimento vigoroso do hard bop em meados dos anos 80, novos "young men with a horn" como Wynton & Branford Marsalis, Terence Blanchard e Donald Harrison trataram de resgatar algumas velhas tradições do jazz, e, entre outras coisas, decidiram se auto entitular "cookers" também, retomando a velha tradição.
De lá para cá, essa brincadeira não parou mais, a ponto de um time de grandes jazzistas veteranos da noite da cidade de Nova York decidir se apropriar do nome e formar uma superbanda de hard bop para Leonard Feather nenhum botar defeito.
Assim, em 2009, nasceu The Cookers, reunindo o lendário saxofonista tenor Billy Harper, os trumpetistas Eddie Henderson e David Weiss, o saxofonista alto Craig Handy, o pianista George Cable, e ainda o baixista Cecil McBee e o baterista Billy Hart.
A idéia de montar o grupo foi de Harper, entusiasmado por um lampejo de estrelato decorrente de sua participação comovente no filme "O Terminal", de Steven Spieberg. Ele achou que não fazia sentido não capitalizar em cima disso, e fez muito bem.
The Cookers estreou com um bom disco em 2010, "Warriors", prestando uma bela homenagem a Freddie Hubbard, que acabara de falecer. A crítica, apesar de favorável, apontou como único pecado do disco ser tímido e sistemático demais em relação ao potencial que aquele conjunto espetacular de músicos poderia oferecer.
O segundo disco do grupo, "Cast The First Stone", do ano passado, tratou de consertar esse pequeno erro, colocando os sete músicos em performances muito menos comportadas, e interagindo muito mais uns com os outros -- e os aplausos vieram de imediato, e de forma unânime, tanto de crítica quanto de público.
E então, eis que nossos bravos boppers estão de volta com um terceiro disco, só com composições próprias, para sedimentar de uma vez por todas a razão de ser do grupo: reunir as vivências musicais desses músicos experimentadíssimos num projeto comum que faça juz a suas reputações individuais.
"Believe" abre com um número inusitadamente manso de oito minutos de duração chamado "Believe, For It Is True", onde Billy Harper mostra, para quem não o conhece direito, como é perfeitamente possível ser terno e perigoso ao mesmo tempo, usando e abusando de um senso de concisão único, sempre esbanjando melodia no desenvolvimento do tema através de solos inebriantes.
E o que vem a seguir é uma aula de diversidade musical, onde todos os rumos que o hard bop tomou entre os anos 60 e 70 convergem para um mesmo porto seguro, onde cabem tanto influências de renovadores do bebop como Charles Mingus e Miles Davis quanto dos mestres clássicos do gênero.
Acredite: o que The Cookers faz é jazz de primeiríssima grandeza.
Ouçam e tirem suas próprias conclusões.
Billy Harper sempre foi um dos meus tenores favoritos.
Pude vê-lo ao vivo uma única vez, em 1985, à frente de um quarteto poderosíssimo, num show espetacular no Teatro Nacional de Brasília, e lembro como se fosse ontem de saír de lá completamente boquiaberto com a vitalidade de seu sopro e a levada perigosa de sua banda.
Depois daquele show inesquecível, tratei de conhecer melhor a carreira de Mr. Harper. Para minha surpresa, ele tinha pouquíssimos discos gravados como solista, apesar de sua longa carreira. Fiquei com a impressão de que Harper era daquele tipo de artista que faz milagres nos discos de amigos, mas tem dificuldades sérias em comandar projetos pessoais.
Passados 25 anos disso tudo, confesso que, para mim, é um imenso prazer ver Harper, já septuagenário, comandando um septeto espetacular como esse, e proporcionando aos apreciadores de hard bop música de primeira grandeza como a que compõe esse grande disco.
E, claro, desfazendo por completo minha impressão equivocada de 25 anos atrás.
'Believe" tem essa grandeza toda, sim. Pode fazer uma fé nele que vale a pena.
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quinta-feira, outubro 04, 2012
A VOLTA DO MESTRE DO BLUES SUGAR BLUE NUM ÁLBUM AO VIVO DE TIRAR O FÔLEGO
Sugar Blue é o tipo de artista que nove em cada dez puristas do blues odeia de paixão.
Desde que surgiu na cena musical, no início dos anos 70, no Harlem, Nova York, bem distante do Mississipi, ele vem se revelando não só um gaitista extraordinariamente intenso e criativo, como também um intérprete poderoso, capaz de trafegar por todas as nuances musicais que compõem a música negra das ruas de Nova York.
Dono de um vozeirão e de um sopro implacáveis, Sugar Blue foi constantemente comparado a Junior Wells e James Cotton, por conseguir trafegar tranquilo e com muita desenvoltura entre o blues e a soul music.
Essa atitude eclética acabou dando o norte a sua carreira emergente. E com isso, ele logo passou a ser chamado com frequência para gravar tanto com artistas de rock e soul quanto com grandes mestres do blues de passagem pelos estúdios da cidade -- como os saudosos Johnny Shines, Brownie McGhee e Louisiana Red.
Essas gravações foram parar em discos excelentes desses veteranos do blues, mas infelizmente foram ouvidos por poucos.
Por sorte, entre esses poucos estavam Mick Jagger e Keith Richards, que já conheciam a reputação de Sugar Blue quando foram apresentados pessoalmente a ele num clube de blues em Paris, em 1977.
Desse dia em diante, começou uma longa associação entre ele e os Rolling Stones, que dura até os dias de hoje, em participações memoráveis em quase todos os discos da banda gravados desde então.
É engraçado como a carreira fonográfica solo de Sugar Blue segue num rumo inversamente proporcional ao impacto fulminante de seu jeito de cantar e tocar. Ele gravou apenas 6 discos solo de estúdio de 1980 para cá -- muito pouco para alguém que nunca esteve distante dos palcos.
São discos muito consistentes e de alto gabarito, baseados no blues e no rhythm and blues, com influoências musicais bem urbanas e bem diversas sempre pipocando entre um número e outro.
Seus dois trabalhos gravados para a Alligator nos anos 90 -- "Blue Blazes" e "In Your Eyes" -- são multifacetados e surpreendentes em termos artísticos.
"Code Blue", de 2007, gravado para o selo Beeble, chuta para todos os lados com grande maestria e é considerado uma pequena obra prima do blues moderno.
Já "Threshold", seu mais recente trabalho, também para a Beeble, lançado ano passado, é bem menos bluesy que o habitual, e mais roqueiro e funkeado. Mesmo assim, é praticamente tão intenso quanto seus trabalhos anteriores.
Curiosamente, em contraponto a esses poucos discos de estúdio, Sugar Blue tem pelo menos outros 6 discos ao vivo lançados por aí pelos mais diversos selos, atestando o quanto ele tem sido presente e constante nos palcos do mundo inteiro ao longo desses anos todos.
"Raw Sugar Blue Live!" é mais um desses registros ao vivo excepcionais.
Comandando uma banda que traz o grande guitarrista Rico McFarland, seu colaborador contumaz, e uma cozinha excepcional composta por músicos bem jovens, Sugar Blue mostra todo o seu poder de fogo num repertório bem variado nesse álbum duplo contagiante.
Impossível ficar indiferente a "Red Hot Mama", uma shuffle aceleradíssimo, que vem seguido de verdadeiras aulas de swing em números como "One More Mile" e a quase jazzística "Swing Chicken". E tem ainda clássicos como "Hoochie Cootchie Man", de Muddy Waters, e "Messin´ With The Kid", de seu mestre Junior Wells, revistos de forma pouco reverente e sempre muito vigorosa.
E, para completar, como não podia deixar de ser, "Raw Sugar Blue Live!" traz uma surpreendente releitura de "Miss You", clássico dos Stones, que tem Sugar Blue na gaita em sua versão original. Ele se apropriou devidamente da canção e fez dela o número mais aguardado em em seus shows, e também em seus discos ao vivo.
Conversando com Sugar Blue alguns anos atrás numa mesa de bar, depois de um show demolidor no SESC-Santos -- e assombrado com a quantidade impressionante de doses de Velho Barreiro que ele estava bebendo desde antes de começar o show --, perguntei a ele se tinha viajado muito pelas rotas do blues do sul dos Estados Unidos.
A resposta foi não. Sempre tocou blues em Nova York mesmo, onde vive praticamente desde sempre.
Não satisfeito, tentei puxar dele, completamente bêbado, como e onde ele teve seu primeiro contato com o blues.
Ele respondeu: "foi no Vietnam".
Não perguntei mais nada depois disso.
Toda a urgência e a truculência da música de Sugar Blue passaram a fazer todo o sentido do mundo para mim depois dessa declaração.
Desde que surgiu na cena musical, no início dos anos 70, no Harlem, Nova York, bem distante do Mississipi, ele vem se revelando não só um gaitista extraordinariamente intenso e criativo, como também um intérprete poderoso, capaz de trafegar por todas as nuances musicais que compõem a música negra das ruas de Nova York.
Dono de um vozeirão e de um sopro implacáveis, Sugar Blue foi constantemente comparado a Junior Wells e James Cotton, por conseguir trafegar tranquilo e com muita desenvoltura entre o blues e a soul music.
Essa atitude eclética acabou dando o norte a sua carreira emergente. E com isso, ele logo passou a ser chamado com frequência para gravar tanto com artistas de rock e soul quanto com grandes mestres do blues de passagem pelos estúdios da cidade -- como os saudosos Johnny Shines, Brownie McGhee e Louisiana Red.
Essas gravações foram parar em discos excelentes desses veteranos do blues, mas infelizmente foram ouvidos por poucos.
Por sorte, entre esses poucos estavam Mick Jagger e Keith Richards, que já conheciam a reputação de Sugar Blue quando foram apresentados pessoalmente a ele num clube de blues em Paris, em 1977.
Desse dia em diante, começou uma longa associação entre ele e os Rolling Stones, que dura até os dias de hoje, em participações memoráveis em quase todos os discos da banda gravados desde então.
É engraçado como a carreira fonográfica solo de Sugar Blue segue num rumo inversamente proporcional ao impacto fulminante de seu jeito de cantar e tocar. Ele gravou apenas 6 discos solo de estúdio de 1980 para cá -- muito pouco para alguém que nunca esteve distante dos palcos.
São discos muito consistentes e de alto gabarito, baseados no blues e no rhythm and blues, com influoências musicais bem urbanas e bem diversas sempre pipocando entre um número e outro.
Seus dois trabalhos gravados para a Alligator nos anos 90 -- "Blue Blazes" e "In Your Eyes" -- são multifacetados e surpreendentes em termos artísticos.
"Code Blue", de 2007, gravado para o selo Beeble, chuta para todos os lados com grande maestria e é considerado uma pequena obra prima do blues moderno.
Já "Threshold", seu mais recente trabalho, também para a Beeble, lançado ano passado, é bem menos bluesy que o habitual, e mais roqueiro e funkeado. Mesmo assim, é praticamente tão intenso quanto seus trabalhos anteriores.
Curiosamente, em contraponto a esses poucos discos de estúdio, Sugar Blue tem pelo menos outros 6 discos ao vivo lançados por aí pelos mais diversos selos, atestando o quanto ele tem sido presente e constante nos palcos do mundo inteiro ao longo desses anos todos.
"Raw Sugar Blue Live!" é mais um desses registros ao vivo excepcionais.
Comandando uma banda que traz o grande guitarrista Rico McFarland, seu colaborador contumaz, e uma cozinha excepcional composta por músicos bem jovens, Sugar Blue mostra todo o seu poder de fogo num repertório bem variado nesse álbum duplo contagiante.
Impossível ficar indiferente a "Red Hot Mama", uma shuffle aceleradíssimo, que vem seguido de verdadeiras aulas de swing em números como "One More Mile" e a quase jazzística "Swing Chicken". E tem ainda clássicos como "Hoochie Cootchie Man", de Muddy Waters, e "Messin´ With The Kid", de seu mestre Junior Wells, revistos de forma pouco reverente e sempre muito vigorosa.
E, para completar, como não podia deixar de ser, "Raw Sugar Blue Live!" traz uma surpreendente releitura de "Miss You", clássico dos Stones, que tem Sugar Blue na gaita em sua versão original. Ele se apropriou devidamente da canção e fez dela o número mais aguardado em em seus shows, e também em seus discos ao vivo.
Conversando com Sugar Blue alguns anos atrás numa mesa de bar, depois de um show demolidor no SESC-Santos -- e assombrado com a quantidade impressionante de doses de Velho Barreiro que ele estava bebendo desde antes de começar o show --, perguntei a ele se tinha viajado muito pelas rotas do blues do sul dos Estados Unidos.
A resposta foi não. Sempre tocou blues em Nova York mesmo, onde vive praticamente desde sempre.
Não satisfeito, tentei puxar dele, completamente bêbado, como e onde ele teve seu primeiro contato com o blues.
Ele respondeu: "foi no Vietnam".
Não perguntei mais nada depois disso.
Toda a urgência e a truculência da música de Sugar Blue passaram a fazer todo o sentido do mundo para mim depois dessa declaração.
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terça-feira, outubro 02, 2012
DIANA KRALL VOLTA À ALVORADA DO GREAT AMERICAN SONGBOOK EM SEU NOVO LP
Ninguém pode acusar Diana Krall de ser uma artista previsível.
Em vinte gloriosos anos de carreira, essa loura canadense estonteante (em todos os sentidos) já se revelou uma excelente pianista de jazz, e também se afirmou como uma cantora envolvente e versátil a ponto de conseguir cativar as mais sisudas platéias de jazzófilos.
Claro que, ao longo de todo esse tempo, nem tudo foram flores.
Nossa loura deu, sempre que pode, algumas puladas de cerca artísticas que, se por um lado lhe renderam alguns arranhões com setores mais ortodoxos da crítica, por outro lado foram deliciosamente aventurescas e divertidas.
Uma atitude positiva, bem na medida certa para quebrar com a obviedade que parecia estar reservada para sua carreira.
Pois bem: Diana Krall é não só surpreendente, mas também imensamente vaidosa.
Adora incorporar musas da canção de outras épocas
Se divertiu muito posando de Julie London no LP 'The Look Of Love" (2001).
Ficou muito à vontade brincando de Astrud Gilberto em "Quiet Nights", lançado no ano passado.
Até se deu ao luxo de cometer "The Girl In The Other Room", um belo disco de jazz com repertório contemporâneo de gente como Joni Mitchell, mesclado com 6 canções próprias inspiradas em Joni e compostas em parceria com o maridão Elvis Costello, com quem vive há quase 10 anos.
Diana topa qualquer parada para não cair prisioneira do formato que a consagrou em seu início de carreira.
Não que ela não goste de comandar um quarteto de jazz. Gosta, e muito. Mas não esconde de ninguém que almeja um público muito maior.
Seu novo LP, "Glad Rag Doll", é mais um ítem ousado em sua discografia.
Produzido por T-Bone Burnett a partir de um repertório de 35 canções meio obscuras dos anos 20, 30 e 40, que ela conhecia dos discos 78 rotações da coleção pessoal de seu pai, foi gravado utilizando pela primeiríssima vez um piano honky-tonk de armário, ao invés dos Steinways habituais.
Sua banda é composta por colaboradores contumazes de Burnett, como o multiinstrumentista Marc Ribot, o baterista Jay Bellerose e o baixista Dennis Crouch, mesclando sonoridades de ragtime com boogie woogie e, pasmem, até rock and roll.
Nossa loura certamente ficou impressionada com a multiplicidade musical dos últimos discos de seu marido produzidos por T-Bone, e quis tentar uma experiência semelhante, mesclando tradição e modernidade e subvertendo alguns padrões de mercado que devem irritar muito artistas criativos e desalinhados como ela.
Todas as canções de "Glad Rag Doll" são ótimas. Ela está cada vez mais arrojada como intérprete. A faixa título, por exemplo, apresentada em duas versões diametralmente diferentes, dá o tom exato dessas suas qualificações.
Isso para não mencionar as gravações soberbas e muito originais que ela fez para dois clássicos dos anos 50: "I'm A Little Mixed Up" -- um número de rock and roll rasgado -- e "Lonely Avenue" -- composta por Doc Pomus para seu amigo Ray Charles, aqui num arranjo todo climático e levemente atonal.
Verdade seja dita: Diana Krall está mais arrebatadora do que nunca na capa de "Rag Baby Doll".
Como ela consegue, aos 48 anos de idade -- que ela completa no dia 18 de Novembro --, isso só ela sabe.
Nossa loura abusa de seus atributos físicos na capa do disco, vestida como uma honky tonk girl dos tempos do ragtime e do vaudeville -- se bem que com alguns detalhes em couro liso que indicam uma atitude um pouco mais barra pesada,
Em outras palavras: Diana Krall continua uma artista e uma mulher fascinantes -- dois conceitos que não costumam ser complementares, mas que nossa lora sabe mesclar numa mesma persona artística como poucas outras divas da canção americana conseguiram.
"Glad Rag Doll" é, indiscutivelmente, desde seu conceito até o resultado final, um grande disco.
Traz Diana Krall bem do jeito que o diabo gosta -- e nós aqui também.
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quinta-feira, setembro 27, 2012
ROBERT CRAY VOLTA REPAGINADO, MAS COM O SWING DE SEMPRE EM "NOTHIN' BUT LOVE"
O cantor e guitarrista americano foi acusado diversas vezes nos anos 80 de ser um bluesman com atitude yuppie, por mesclar em seus discos rhythm and blues, soul music e rock-pop na medida certa para agradar aos programadores de rádio de diversos segmentos musicais e, com isso, favorecer rapidamente sua carreira musical.
Desnecessário dizer que, além de despeitada e desrespeitosa, essa afirmação é também injusta e imprecisa.
Desde que surgiu, em 1980, com "Who's Been Talkin'", Robert Cray vem apurando seu blend musical híbrido com muita sabedoria, aperfeiçoando-o disco após disco. Sua voz é suave e suingada, bem soul, enquanto seu toque na guitarra alterna influências que vão desde o rhythm and blues rasgado de Earl King e Lowell Fulsom, até o jazz elegante de heróis como Wes Montgomery e Kenny Burrell.
Depois que passou seu grande momento, proporcionado pelo sucesso internacional de seu quarto LP, "Strong Persuader", de 1986, Cray vem experimentando pequenas alterações em sua receita musical. Alterações que até podem parecer irrisórias aos menos atentos. Mas que saltam aos ouvidos de todos os que acompanham sua carreira bem de perto.
Basta comparar seus discos gravados nos últimos 13 anos para vários selos independentes, para ver que Robert Cray jamais parou de crescer musicalmente, tanto como intérprete quanto como guitarrista e band leader.
"Nothin' But Love" é seu décimo-sexto disco de estúdio.
Depois de vários trabalhos ficados unicamente em seu quarteto, sem o suporte de uma sessão de metais, aqui ele resgata sua sonoridade mais soul, em meio a um repertório bastante apelativo e grudento (no bom sentido).
Essa orientação, certamente, é do produtor Kevin Shirley, um dos mais requisitados do momento, que tem por norma de trabalho evitar correr riscos desnecessários sempre que trabalha com artistas veteranos. Shirley é o anti-Rick Rubin. É incapaz de reduzir a sonoridade de seus artistas ao essencial. Faz um jogo mais óbvio: se esse é o som que favorece o reconhecimento imediato de Robert Cray por parte do seu público, então é por aí que seu trabalho de produção deve seguir. Ainda mais em tempos bicudos como esseso mais óbvio: em que vive a indústria fonográfica.
Se por um lado isso rompe com as simpáticas experiências musicais de seus discos anteriores -- mais blueseiros e climáticos --, por outro lado expõe a um público bem mais amplo que Robert Cray está vivo e produtivo, e que seu trabalho permanece tão intenso, agradável e válido quanto era antes.
"Nothin' But Love" é um trabalho de resultados, não tenha a menor dúvida quanto a isso.
Mas é também um trabalho honesto, como podem atestar baladas soul certeiras como "Fix This", "Sadder Days", "I'll Always Remember You" e "Won´t Be Coming Home", que, vez ou outra, suingam com uma precisão impressionante, lembrando a quem estava esquecido que este Robert Cray aqui é aquele mesmo de antes, só que 25 anos mais velho, mais experiente e -- porque não? -- mais experimentado.
Quem duvida disso, que escute "I´m Done Cryin'", talvez a única ousadia musical do disco -- um blues balada com quase 10 minutos de duração onde ele e sua banda mostram sua maestria musical em toda a plenitude, em improvisos espetaculares.
Robert Cray pode até parecer pacato e assentado depois de todos esses anos, em dorrência da maturidade musical -- afinal, ninguém chega aos 60 anos impunemente.
Mas não se engane: sua Fender Stratocaster continua sendo a mesma "smoking gun" de tempos atrás.
E isso nunca há de mudar.
Desnecessário dizer que, além de despeitada e desrespeitosa, essa afirmação é também injusta e imprecisa.
Desde que surgiu, em 1980, com "Who's Been Talkin'", Robert Cray vem apurando seu blend musical híbrido com muita sabedoria, aperfeiçoando-o disco após disco. Sua voz é suave e suingada, bem soul, enquanto seu toque na guitarra alterna influências que vão desde o rhythm and blues rasgado de Earl King e Lowell Fulsom, até o jazz elegante de heróis como Wes Montgomery e Kenny Burrell.
Depois que passou seu grande momento, proporcionado pelo sucesso internacional de seu quarto LP, "Strong Persuader", de 1986, Cray vem experimentando pequenas alterações em sua receita musical. Alterações que até podem parecer irrisórias aos menos atentos. Mas que saltam aos ouvidos de todos os que acompanham sua carreira bem de perto.
Basta comparar seus discos gravados nos últimos 13 anos para vários selos independentes, para ver que Robert Cray jamais parou de crescer musicalmente, tanto como intérprete quanto como guitarrista e band leader.
"Nothin' But Love" é seu décimo-sexto disco de estúdio.
Depois de vários trabalhos ficados unicamente em seu quarteto, sem o suporte de uma sessão de metais, aqui ele resgata sua sonoridade mais soul, em meio a um repertório bastante apelativo e grudento (no bom sentido).
Essa orientação, certamente, é do produtor Kevin Shirley, um dos mais requisitados do momento, que tem por norma de trabalho evitar correr riscos desnecessários sempre que trabalha com artistas veteranos. Shirley é o anti-Rick Rubin. É incapaz de reduzir a sonoridade de seus artistas ao essencial. Faz um jogo mais óbvio: se esse é o som que favorece o reconhecimento imediato de Robert Cray por parte do seu público, então é por aí que seu trabalho de produção deve seguir. Ainda mais em tempos bicudos como esseso mais óbvio: em que vive a indústria fonográfica.
Se por um lado isso rompe com as simpáticas experiências musicais de seus discos anteriores -- mais blueseiros e climáticos --, por outro lado expõe a um público bem mais amplo que Robert Cray está vivo e produtivo, e que seu trabalho permanece tão intenso, agradável e válido quanto era antes.
"Nothin' But Love" é um trabalho de resultados, não tenha a menor dúvida quanto a isso.
Mas é também um trabalho honesto, como podem atestar baladas soul certeiras como "Fix This", "Sadder Days", "I'll Always Remember You" e "Won´t Be Coming Home", que, vez ou outra, suingam com uma precisão impressionante, lembrando a quem estava esquecido que este Robert Cray aqui é aquele mesmo de antes, só que 25 anos mais velho, mais experiente e -- porque não? -- mais experimentado.
Quem duvida disso, que escute "I´m Done Cryin'", talvez a única ousadia musical do disco -- um blues balada com quase 10 minutos de duração onde ele e sua banda mostram sua maestria musical em toda a plenitude, em improvisos espetaculares.
Robert Cray pode até parecer pacato e assentado depois de todos esses anos, em dorrência da maturidade musical -- afinal, ninguém chega aos 60 anos impunemente.
Mas não se engane: sua Fender Stratocaster continua sendo a mesma "smoking gun" de tempos atrás.
E isso nunca há de mudar.
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terça-feira, setembro 25, 2012
TOOTS THIELEMANS COMPLETA 90 ANOS COM PLENOS PODERES SOBRE SUA ARTE
Toots Thielemans completou 90 anos este ano de gloriosos serviços prestados ao jazz, e, acreditem ou não, segue em plena atividade artística, em tournée pelo mundo.
Esse belga admirável, que nunca pretendeu ser músico -- mas que, a partir da Segunda Guerra Mundial, acabou virando um dos maiores jazzistas que a Europa já produziu --, começou na guitarra, alternando o estilo mamouche de Django Reinhardt com a guitarra eletrificada de Charlie Christian, e vez ou outra acrescentando a seus temas solos de assovio sensacionais, absolutamente inimitáveis.
Quando a Guerra acabou, saiu procurando trabalho nos clubes noturnos de Paris, e logo encontrou. Pouco a pouco, foi conhecendo músicos de bebop americanos e europeus de passagem pela cidade, e participando de jams e gigs variadas. Até que um dia foi convidado para integrar a banda de Benny Goodman, onde trabalhou lado a lado com o grande saxofonista tenor Zoot Sims. Juntos, os dois iriam integrar no ano seguinte o Charlie Parker's All Stars, com Milt Jackson e o jovem Miles Davis.
Seu maior sucesso solo foi "Bluesette", de 1962, um número de guitarra e assovio magnífico, que quase todo mundo conhece, mas não imagina que seja dele. Por uma razão muito simples|: o Toots Thielemans que conhecemos é o fantástico gaitista, que conseguiu transformar a harmonica num instrumento de jazz por excelência.
São raros os músicos brasileiros que não tenham tido o privilégio de contracenar com Toots Thielemans nesses últimos 40 anos.
Toots já é uma espécie de brasileiro honorário, com parcerias constantes com Sivuca, Ivan Lins e muitos outros que resultaram numa simbiose musical com o Velho Continente que começou em 1970, num disco muito bonito gravado ao lado de Elis Regina, pouco conhecido por aqui, mas que serviu para apresentá-la ao mercado europeu na época.
Sua carreira como gaitista nunca seguiu qualquer padrão de linearidade.
Deixou o jazz por alguns anos para se dedicar a compor jingles, depois passou a compor trilhas sonoras para filmes, e retomou sua carreira somo jazzista por um viés mais pop, através de participações em LPs crossover de Quincy Jones.
Desde então, tem-se mantido exemplarmente ativo, tanto em discos de jazz quanto fazendo participações em discos de artistas pop, e ainda partindo para experiências musicais inusitadas, como o duo Word Of Mouth, onde contracenou com o saudoso baixista Jaco Pastorious.
Neste ano, várias antologias dos mais de 60 anos de carreira de Toots Thielemans estão chegando ao mercado, todas impecáveis e irresistíveis. Mas nenhuma delas tem o apelo de "90 Yrs", cd e dvd ao vivo recém-lançados, onde contracena com seu chiquérrimo European Quartet.
Aqui, Toots está completamente à vontade, passeando por vários gêneros musicais, com uma delicadeza assombrosa e um bom gosto musical que chega a assustar. Não há grandes surpresas no repertório. Mas suas reinterpretações altamente climáticas de números que há muitos anos compõem seu repertório, apresentadas dessa vez sem virtuosismos, são no mínimo desconcertantes, de tão lindas.
Desde a abertura com 'Waltz For Sonny", até o encerramento com a adorável "Old Friends", Toots passeia com sua harmonica por um repertório transcontinental, onde há espaço tanto para Tom Jobim ("Wave", "One Note Samba") quanto para Paul Simon ("I Do It For Your Love") e Louis Armstrong ("What A Wonderful World").
É difícil definir até onde vai o ecletismo musical de Toots nesse "90 Yrs", mas o caso é que, a essa altura do campeonato, isso não tem mais a a menor importância.
Bem vindos a um recital espetacular de um artista inigualável.
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domingo, setembro 16, 2012
LOS LOBOS, A MAIS VIBRANTE BANDA LATINA DA AMÉRICA, SE REINVENTA EM "KIKO LIVE"
Assim como The Band foi a banda síntese da musicalidade da América nos anos 1960, e o Little Feat o equivalente nos anos 1970, é inegável que os los angelinos do Los Lobos sejam os legítimos representantes dessa gloriosa categoria de grandes bandas nos anos 1980.
Desde seus primeiros LPs "How Will The Wolf Survive" e "By The Light Of The Moon" -- bem menos descompromissados artisticamente do que aparentam à primeira vista --, até o conceitual e intenso "The Neighborhood", Los Lobos trilhou de forma brilhante as rotas musicais possíveis da América do Norte, mesclando todas as variantes musicais latinas que dão o tom no Lado Leste de Los Angeles com pop, rock, blues, soul, jazz, tex-mex, country e até cajun e folk.
Los Lobos já era consagradíssimo por crítica e público quando, em 1992, eles surpreenderam com um disco ambicioso e complexo chamado "Kiko", que leva toda essa mistureba musical às últimas consequências -- e que faz parte de muitas listas de melhores discos dos anos 1990.
De tão bom e tão multifacetado, "Kiko" quase virou um problema para Los Lobos.
Todos os discos seguintes da banda que não pretenderam ser tão superlativos quanto esse foram duramente criticados. Não por serem discos ruins. Pelo contrário, eram trabalhos mais focados em temas específicos, enquanto "Kiko" funcionava como um mosaico musical riquíssimo. Tanto que, nos anos seguintes, só "Good Morning Aztlán" (2002) e "The Town And The City" (2006) conseguiram chegar perto da grandeza de "Kiko".
Os líderes do Los Lobos, David Hidalgo e Cesar Pérez, no entanto, não se deixam abater com isso, e seguem sempre em frente com novos projetos.
Enquanto preparam o novo álbum de estúdio de Los Lobos, decidiram ganhar tempo lançando no mercado "Kiko Live", um concerto temático gravado em 2006 lançado em cd e dvd, em que a banda revisita o repertório de "Kiko" com abordagens um pouco diferentes das originais.
Aqui, Los Lobos vira quase uma jam band, esticando bastante a duração de alguns dos temas originais, e mostrando claramente que ser capaz de levar ao vivo toda a pluralidade musical de "Kiko".
É emocionante ver-ouvir esse grande disco novamente com uma nova roupagem, ao vivo e "passado a sujo" 15 anos depois das gravações originais, sem a produção intrincada que Mitchell Froom imprimiu no disco clássico.
Trata-se de uma verdadeira odisséia musical em 15 canções, que segue bravamente pelos mais diversos gêneros musicais, até desaguar na emocionante valsa-mariachi 'Rio de Tenampa", numa versão vibrante.
Sendo assim, quem quiser conhecer a alma latina da América, a entrada é por aqui mesmo.
Viva Los Lobos!
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