Lembro bem da primeira vez que vi e ouvi Ithamara Koorax cantando.
Foi num programa da extinta TV Manchete, com Marcos Valle ao piano, cantando alguns de seus grandes sucessos dos anos 60 e 70.
Fiquei impressionado com sua vitalidade pop e sua atitude vocal bem jazzística – dois elementos que, bem combinados, sempre faltaram a 90 por cento de nossas cantoras.
Claro que também me impressionou sua beleza: Ithamara era uma gata, toda vestida em couro, linda, irremediavelmente sensual, e o velho beach boy de Ipanema sentado ao piano mal conseguia esconder o prazer de ter suas canções cantadas por uma cantora com tantos predicados.
Vinte anos e quinze discos mais tarde, Ithamara Koorax é -- ao lado de Joyce, Flora Purim e Leny Andrade – uma das cantoras mais bem sucedidas em carreiras internacionais que o Brasil já produziu.
Escolha o país que quiser: pode ter certeza que Ithamara já cantou lá, provavelmente com músicos de lá, já fez amigos por lá, e já deve estar com convites para voltar a cantar lá em breve.
Ao longo desse período, Ithamara se desdobrou um várias cantoras diferentes.
Tem a Ithamara embaixatriz da bossa nova , que brilha em discos aclamados pela DownBeat como “The Luiz Bonfá Songbook” e “Bim Bom – The Complete João Gilberto Songbook”.
Tem também a Ithamara mais experimental -- herdeira musical de Flora Purim -- dos belíssimos discos “Serenade In Blue” e “Love Dance”, ambos gravados para o selo Milestone, que a lançou com todas as honras no mercado americano no final dos anos 90.
E tem ainda a Ithamara pop jazz, que às vezes flerta com o drum & bass, e outras vezes pega mais leve, dividindo a cena com o pianista José Roberto Bertrami, do Azymuth, em aventuras musicais bem internacionais, mas sempre com um molho carioca delicioso e irresistível.
É o caso desse “Got To Be Real”, seu mais novo trabalho, gravado ao vivo num estúdio carioca no último verão de encomenda para a gravadora IRMA, com sua banda de apoio e o grande Bertrami criando os climas mais adequados à bela voz de Ithamara em seus teclados.
A primeira parte traz versões cover arrebatadoras para clássicos pop como “Got To Be Real”, “Never Can Say Goodbye”, “Can’t Take My Eyes Off Of You”, “Goin’ Out of My Head” e “Up, Up and Away”.
Arrebatadoras mesmo.
Climáticas ao extremo, envolventes de uma maneira extremamente perigosa, e nada óbvias.
Já as canções da segunda parte do disco demonstram que havia, aparentemente, um plano B para o caso da gravadora preferir trabalhar um trabalho com um foco mais carioca, e traz releituras bem interessantes para “Pigmalião”, de Marcos Valle e “Toque de Cuíca” do Azymuth.
Se bem que, no final das contas, vingou o repertório internacional mesmo, com um resultado muito superior a, por exemplo, o último disco de Eliane Elias, "Light My Fire", que veio mais ou menos nesse mesmo tom.
"Got To Be Real” começou bem sua carreira internacional e vem sendo bem recebido em vários cantos do mundo, com críticas muito efusivas para tudo o que tem de ousado e arrojado.
Falta ainda Ithamara conseguir ter aqui no Brasil um séquito semelhante ao que possui lá fora.
Não vai ser fácil -- ainda mais depois da diretoria do SESC-SP ter considerado sua música “elitista” e pouco atraente ao público paulista.
Mas tudo bem, Flora Purim passou exatamente pela
mesma via crucis antes de explodir internacionalmente, e conseguiu sobreviver bravamente à obtusidade alheia. É só Ithamara ter um pouquinho de paciência que já já alguma coisa acontece.
Ouça "Got To Be Real" e fique indiferente ao talento implacável de Ithamara Koorax, se for capaz.
BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/ithamara-koorax-mn0000093266
WEBSITE OFICIAL
AMOSTRAS GRÁTIS
4 comentários:
Bom nome p pensarmos em 2013!
Sou apaixonado pelo trabalho de Ithamara, e já tive o prazer de assistir a show seu e conversar com ela ao final; e como um amigo em comum entre nós disse: " Ela é um artista acessível. Não é como esses arrotadores que se acham pela mídia!
Abração,
Rodrigo Davel
Adoro a Ithamara e tudo o que ela faz. Ela é, indubitavelmente, a maior cantora do mundo. Seu talento é incomparável.
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