Joey DeFrancesco é uma das figuras mais curiosas da cena jazzística da Costa Leste americana.
Filho do lendário organista Papa John DeFrancesco, que tocou muito tempo com os Irmãos Dorsey e também com algumas das figuras mais vibrantes do bebop nos anos 40, 50 e 60, ele descobriu o Hammond B-3 ainda criança e decidiu seguir os passos de seu pai, que o escolou ainda adolescente na cena jazzística da Philadelphis e da Tri-State Area, composta pelos Estados de New Jersey, New York e Connecticut;
Por conta disso, seu estilo oscila entre o soul e o blues jazzificados de Jimmy Smith e Les McCann e o bebop desenfreado de Larry Young.
Graças a toda essa versatilidade, Joey DeFrancesco conseguiu promover um verdadeiro renascimento na utilização do Hammond B-3 no jazz -- isso numa época em que parecia haver espaço apenas para pianistas ou então pilotos de sintetizadores e emuladores de outros instrumentos.
Sua carreira, tanto como artista solo quanto como sideman, já tem quase 25 anos, e é extremamente bem sucedida.
Sempre teve predileção por trabalhar com guitarristas, e seus parceiros mais contumazes tem sido craques do gabarito de John McLaughlin, Pat Martino e John Scofield, sem contar o saudoso Danny Gatton.
Seus discos recentes para a Concord e para a High Note alternam projetos totalmente originais, com canções próprias, com discos tributo com releituras muito inusitadas para as obras de artistas tão díspares quanto Frank Sinatra, Horace Silver e, pasmem, Michael Jackson.
Acredite: são todos muito interessantes, e altamente recomendáveis.
"Wonderful! Wonderful!", o mais recente deles, é, no mínimo, surpreendente, pois reúne DeFrancesco com dois veteranos gabaritadíssimos: o guitarrista Larry Coryell e o baterista Jimmy Cobb.
Juntos, eles passeiam de forma extremamente descontraída por um repertório que alterna clássicos do jazz -- como "Five Spot After Dark" (de Benny Golson), "Wagon Wheels" (de Sonny Rollins) e "Solitude" (de Duke Ellington) -- com canções melosas de décadas pessadas, como "Love Letters", grande sucesso de Nat King Cole, e a faixa título, clássico do repertório de Johnny Mathis.
A combinação soa um pouco indigesta à primeira vista, mas funciona.
E isso acontece em parte graças ao ecletismo de Coryell, que desfila com uma guitarra semi-acústica limpa e totalmente straight-ahead, à moda de seus mestres Charlie Christian e Barney Kessel, que fornece o contraponto perfeito aos ataques de Joey nas teclas de seu Hammond B-3.
O que mais impressiona em "Wonderful! Wonderful!" é que, por mais excessivos que possam parecer os diálogos guitarra-órgão entre Coryell e DeFrancesco, em momento algum eles soam cansativos, graças ao ecletismo do repertório e à estranha -- e especialíssima -- combinação de talentos desse trio.
Só por curiosidade, acabo de escutar o disco de Joey deFrancesco com Danny Gatton, gravado 20 anos atrás, e é inegável como essa mesma brincadeira, que já vem daqueles tempos, amadureceu e ganhou proporções espetaculares ao longo do anos.
Portanto, se você gosta do som casado do Hammond B-3 com a guitarra no jazz, e não escuta um bom disco com esse perfil há muito tempo, prepare-se para embarcar num resgate emocional irresistível de uma das tradições mais gloriosas do jazz.
Acredite: o nome "Wonderful! Wonderful!" não é nenhum exagero no caso desse LP.
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