quinta-feira, julho 28, 2011

A VOLTA DE CINCO BANDAS VETERANAS QUE ESTAVAM SUMIDAS HÁ TEMPO DEMAIS (por Chico Marques)

Houve um tempo em que a crítica torcia o nariz sempre que uma banda veterana resolvia voltar à cena musical, depois de seus integrantes quebrarem a cara em carreiras solo mal sucedidas.

Essas bandas eram eram acusadas de ser oportunistas, de estarem caçando níqueis, e de insistirem em se manter artificialmente num mercado do qual não mais faziam parte.

Claro que, com o passar do tempo, esse radicalismo talibã da crítica foi dando lugar a uma atitude mais ponderada e criteriosa em relação a bandas retornadas após longos hiatos.

Muitas delas voltavam para fazer caixa e ganhar fôlego financeiro para insistir mais alguns anos em carreiras solo que custavam a engrenar, enquanto outras simplesmente retomavam suas atividades mais ou menos do ponto em que pararam.

Tanto num caso quanto no outro, fica a pergunta: o que pode haver de tão desonesto nisso?

Do ano passado para cá, várias bandas veteranas que estavam sumidas do mapa há muito tempo voltaram à cena.

Algumas com trabalhos pouco ou nada expressivos – caso do Blondie, dos Cars e dos New York Dolls.

E outras com trabalhos brilhantes, urgentes, contundentes -- como essas cinco escolhidas para a pauta desta semana em Alto&Claro.

Há vinte anos os novaiorquinos The Feelies não gravam um disco. Há oito anos, The Jayhawks (de Minneapolis, Minnesota) estão afastados dos estúdios. E há seis anos não se ouve falar de trabalhos novos dos Pernice Brothers (de Boston, Massachussets), do Teenage Fanclub (de Glasgow, Escócia) e do Cake (de Sacramento, Califórnia).

Toda essa gente estava afastada da cena principal, mas todos ainda tem muito o que dizer.

E se a única maneira deles conseguirem viabilizar isso for através do revival de suas velhas bandas, que seja assim então.

Benvindas de volta The Jayhawks, The Feelies, Cake, Pernice Brothers e Teenage Fanclub.

















THE JAYHAWKS

MOCKINGBIRD TIME
Este é o primeiro álbum dos Jayhawks desde “Rainy Day Music”, de 2003, e marca o retorno à banda do cantor e guitarrista Mark Olson, depois de uma série de discos solo relativamente bem sucedidos. Acreditem, não é pouca coisa. Mark Olson e Gary Louris formam uma das melhores duplas de compositores que a cena do alt country já conheceu. Os dois brilharam nos anos 80 e 90, daí brigaram feio e só voltaram a se falar 6 anos atrás, meio na moita, sendo que só de dois anos para cá assumiram publicamente que a velha parceria musical estava reativada. A expectativa em torno dessas novas composições da dupla era grande nos últimos meses. Mas agora a expectativa acabou. “Mockingbird Time”, o novo disco da banda, resgata a sonoridade country-rock dos primeiros discos dos Jayhawks e os coloca a banda num contexto mais acelerado que o habitual, fugindo dos excessos pop de discos como “Smile”. Em tournée desde o ano passado, eles tiveram a chance de testar o novo material da estrada, e os fãs da banda aprovaram. Como 2011 é o ano em que a banda comemora 25 anos de carreira, e muitos de seus discos originais estão relançados em edições remasterizadas e expandidas, a chegada de “Mockingbird Time” é mais que oportuna. Traz os bons e velhos Jayhawks rejuvenecidos e totalmente pilhados, mesclando alt country com rock e pop como só eles sabem fazer, e como há muito tempo não se via por aí. Nada mal para uma banda que sempre foi considerada, ao lado do Wilco e do Son Volt, como uma das grandes forças da cena independente americana.
















THE FEELIES
HERE BEFORE

Não deixa de ser curioso os Feelies terem surgido com seu rock and roll melódico e contagiante justo na cena punk novaiorquina dos anos 70, em meio a outros peixes fora d´água como Robert Gordon e Jonathan Richman & The Modern Lovers. Não foi à toa que os primeiros passos da banda tenham sido tão incertos. Seus primeiros LPs gravados para selos independentes ingleses como Stiff e Rough Trade foram solenemente ignorados, até que finalmente foram contratados pela A&M Records e apadrinhados por Peter Buck, do REM, que conseguiu abrir algumas portas para a banda. E que banda! Os guitarristas Glenn Mercer e Bill Million revelaram-se especialistas em estabelecer pontes musicais curiosas entre o rock pedestre do Velvet Underground e soluções melódicas emprestadas do power pop, enquanto a baixista Brenda Sauter e os percussionistas Stanley Demeski e Dave Weckerman forneciam a base segura, mas sempre criativa, para as aventuras musicais da banda. Os Feelies nos brindaram com 4 LPs espetaculares entre 1980 e 1991, seguidos por uma série de tournées de retorno da banda e discos individuais sem foco. Até que, no ano passado, eles assinaram com o selo independente Bar None e gravaram este que é o primeiro disco da banda em 20 anos. O resultado é surpreendente: o frescor musical dos Feelies permanece intacto, as canções estão ainda mais envolventes, e a quantidade de números mais acelerados mostra que a banda está voltando com vigor redobrado, pronta para cair na estrada e conquistar novos admiradores. “Here Before” é um dos melhores discos lançados este ano, e, certamente, o mais ensolarado de todos já gravados por essa banda que um dia foi classificada pelo Village Voice como “a melhor banda underground de Nova York”, e que tem entre seus fãs mais ardorosos gente tão diversa quanto o diretor de cinema Jonathan Demme e o romancista Rick Moody.















CAKE

SHOWROOM OF COMPASSION

Cake surgiu há exatos 20 anos como uma resposta geek à infinidade de bandas grunge que pipocavam de Seattle e infectavam a música de todos os cantos da América. Na época, todo mundo achou muito estranho uma banda de rock ter um trumpetista em sua formação e utilizar instrumentos de percussão tão exóticos, mas, como a música deles era intrigante o suficiente para que ninguém fizesse muitas perguntas, o jeito era tentar entender o conceito musical esboçado por eles. Foi assim que todo mundo percebeu que o Cake era totalmente acessível ao grande público. Com isso, seus 3 primeiros discos fizeram carreiras internacionais bastante satisfatórias. Mas de 2000 para cá, o Cake passou a ser visto como uma “curiosidade engraçadinha dos anos 90”, e isso estigmatizou a banda, fechando algumas portas e levando inclusive a férias prolongadas de quase 3 anos para toda a banda. Felizmente, em 2010, com todos os integrantes vivendo novamente em Sacramento e trabalhando com outras coisas, o Cake decidiu voltar. Como nenhuma gravadora demonstrou interesse neles, decidiram bancar eles próprios esse “Showroom Of Compassion” -- o disco mais arrojado, mais maduro, e menos engraçadinho da banda até agora. O resultado é muito positivo. As canções de John McCrea estão mais intensas que antes e seus vocais menos entediado. Além disso, a banda está tocando de uma maneira mais envolvente e vibrante, e o trumpete de Vincent DiFiore, que antes servia para dar um tom de estranhamento nos arranjos da banda, agora dá um colorido mariachi perfeitamente integrado ao novo repertório. Existe aqui uma coesão que, com certeza, não existia antes, apesar de, aparentemente, o som da banda não ter mudado quase nada do último disco para cá. Resta torcer para que essas sutilezas saltem aos ouvidos dos fãs do Cake espalhados pelo mundo, e que eles saibam receber de volta essa banda totalmente ímpar depois desse sumiço prolongado. Tom Zé – grande amigo da banda -- já ouviu, e aprovou.















THE PERNICE BROTHERS
GOODBYE, KILLER
Joe Pernice é, desde meados dos anos 90, uma das figuras mais inusitadas e brilhantes – para não dizer geniais – da cena independente angloamericana. Comandante de bandas memoráveis como Scud Mountain Boys e Chapaquiddick Skyline -- que mesclavam alt country com power pop e letras de alto gabarito literário --, Joe só foi conseguir reconhecimento quando, ao lado de seu irmão Bob e alguns amigos, gravou para o selo SubPop um LP repleto de baladas pop com arranjos orquestrais densos e criativos chamado “Overcome By Happiness” e assinado por The Pernice Brothers. Como já era de se esperar, o disco passou meio batido nos EUA. Mas foi saudado pelos ingleses como “the next best thing”, o que facilitou e muito os próximos passos da banda. Vários discos brilhantes se seguiram, ano após ano, até que Joe deu uma parada em 2007 e 2008 para escrever um romance e trabalhar em outros projetos, voltando com a banda em 2010, numa tournée que culminou com o lançamento deste “Goodbye, Killer”, um disco que começa com canções fulminantes e atípicas como “Bechamel” e “Jacqueline Susann”. Mas que, já na terceira faixa, nos devolve ao território musical onde os Pernice Brothers viajam melhor. E aí eles brilham intensamente, e mostram que, além de serem a melhor banda de pop barroco da cenas americana atual, são também uma grande banda power pop quando optam por trabalhar com uma instrumentação mais básica, como nesse “Goodbye, Killer”. Imaginem a sagacidade de Elvis Costello com a carga dramática de Morrisey e a non-chalance de Graham Parker. É meio por aí.
















TEENAGE FANCLUB
SHADOWS
Deveriam existir mais bandas como o Teenage Fanclub para mostrar tanto aos que sonham com o estrelato quanto aos que ainda desfrutam de certas regalias das gravadoras que, em nome da longevidade de suas bandas, é sempre bom ter um Plano B para suas carreiras na cena independente, para não ser pego de surpresa pelas idiossincrasias do Indústria Fonográfica. Em 1993, quando emplacaram seu segundo LP, “Bandwagonesque”, nas paradas americanas, esses roqueiros pop escoceses vislumbraram a possibilidade de seus trabalhos seguintes não venderem tão bem. Daí, trataram de não perder o chão de vista, para evitar tombos. Tudo bem que maturidade e rock and roll não costumam combinar bem, mas, no caso do Teenage Fanclub, a coisa foi providencial. Há mais de 10 anos gravando independente e lançando um LP a cada 5 anos -- mas nunca deixando de excursionar --, eles seguem firmes e fortes como ícones da cena power pop e herdeiros diretos de bandas clássicas como Big Star e Badfinger. Nesse mais recente trabalho da banda, “Shadows”, lançado há alguns meses, todas as virtudes principais deles estão muito bem expostas. As composições de Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGinley seguem mais reflexivas que o habitual, mas seus refrões continuam grudentos como sempre. Os arranjos e o instrumental da banda são impecáveis, não tem uma única canção no LP que não possa ser tocada ao vivo no mesmo formato em que foi gravada – o que é típico de artistas habituados a amadurecer o repertório testando-o primeiro na estrada. Enfim... aos 25 anos de carreira, nossos bravos highlanders pop seguem firmes e fortes fazendo uma música tão jovial e tão descomplicada quanto a que marcou seus primeiros discos.

DISCOGRAFIAS

LPs THE JAYHAWKS
The Jayhawks (1986)
Blue Earth (1989)
Hollywood Town Hall (1992)
Tomorrow The Green Grass (1995)
Sound Of Lies (1997)
Smile (2000)
Live From Women´s Club (2002)
Rainy Day Music (2003)
Mockingbird Time (2011)

LPs THE FEELIES
Crazy Rhythms (1980)
The Good Earth (1986)
Only Life (1988)
Time For Witness (1991)
Here Before (2011)

LPs CAKE
Motorcade Of Generosity (1994)
Fashion Nugget (1996)
Prolonging The Magic (1998)
Comfort Eagle (2001)
Pressure Chief (2004)
Showroom Of Compassion (2011)

LPs THE PERNICE BROTHERS
Dance The Night Away (com Scud Mountain Boys 1995)
Pine Box (com Scud Mountain Boys 1996)
Massachussets (com Scud Mountain Boys 1996)
Overcome By Happiness (1998)
Chapaquiddick Skyline (com Chapaquiddick Skyline 2000)
Big Tobacco (solo 2001)
The World Won´t End (2001)
Yours, Mine & Ours (2003)
Nobody´s Watching, Nobody´s Listening (2004)
Discover A Lovelier You (2005)
Live A Little (2006)
It Feels So Good When I Stop (2009)
Goodbye, Killer (2011)

LPs TEENAGE FANCLUB
A Catholic Education (1990)
Bandwagonesque (1991)
Thirteen (1993)
Grand Prix (1995)
Songs From Northers Britain (1997)
Howdy! (2000)
Words Of Wisdom And Hope (2002)
Man-Made (1995)
Shadows (2011)


PORTA-RETRATOS

“Mark e eu compomos canções de maneiras muito diferentes. Quando nos juntamos para compor, nossos modos de trabalho entram em conflito, e o resultado disso são canções sempre estranhamente desconjuntadas. Talvez seja isso o que faz do repertório dos Jayhawks tão diferente das outras bandas da cena alt country.” (Gary Louris, Jayhawks)

“Desde os primeiros ensaios até a volta efetiva dos Feelies, todos os passos da banda foram pensados e digeridos lentamente por todos os envolvidos. Felizmente, estamos muito mais maduros emocionalmente hoje. Quando a banda encerrou atividades em 1991, estávamos numa encruzilhada: podíamos seguír para o mainstream, como queriam 50% das pessoas que trabalhavam conosco, ou então voltar para a cena aindependente. Não consequimos chegar a um consenso e a banda acabou.” (Glenn Mercer, Feelies)

“Eu vejo a música como um belo hobby para a maioria das pessoas nos próximos 10 anos. Vejo muitos conhecidos – alguns deles, artistas de muito prestígio – estudando para poder trabalhar com outras coisas num futuro próximo.” (John McCrea, Cake)

“Se os discos dos Pernice Brothers são considerados tão bons, isso com certeza tem a ver com o fato de eu adorar o que faço. Posso garantir que se algum dia eu experimentar alguma coisa que seja tão prazeirosa quanto compor e cantar, sou capaz de largar tudo o que faço hoje e me dedicar exclusivamente a ela.” (Joe Pernice, Pernice Brothers)

“Esse nosso último disco foi gravado em pouco mais de uma semana em 2008. Os dois anos seguintes nós passamos fazendo acertos no disco e aguardando a hora certa de lançá-lo. Quando se é independente, o jeito é planejar todos os passos da possível carreira do disco.” (Ray McGinley, Teenage Fanclub)

“É um prazer estar trabalhando com Gary Louris novamente. Nos discos solo que fiz nos anos em que estive afastado dos Jayhawks senti minha música ficando doméstica demais, previsível demais, ao menos para mim. Senti muita falta de um parceiro que bagunçasse meu meio de campo e puxasse as canções para um lado diametralmente oposto ao almejado por mim. Agora está tudo em casa novamente”. (Mark Olson, Jayhawks)

“Esse disco foi feito de uma maneira totalmente diferente dos outros que fizemos antes. Como estávamos todos com outras atividades e sem muito tempo para trabalhar juntos, trocávamos arquivos musicais com idéias para canções para canções por email. Isso, de certa forma, nos obrigou a ser mais eficientes e objetivos.” (Glenn Mercer, Feelies)

“Tivemos que, de certa forma, reavaliar todo o aspecto business no lançamento desse novo disco. Sabíamos de antemão que não valeria a pena estar vinculado a uma grande gravadora nesse momento específico da Indústria Fonográfica, mas, por outro lado, corríamos o risco de sermos esmagados com insetos ao lançar o disco por nosso próprio selo. Por sorte, está dando certo, mas confesso que nunca tivemos grandes espectativas quanto à vendagem do disco. É tudo muito estranho: chegamos ao primeiro posto do Top 200 da Billboard na semana de lançamento do disco, mas vendemos apenas 45 mil discos.” (John McCrea, Cake)

“Meu irmão Bob participa quase sempre das gravações dos discos dos Pernice Brothers. Só que ele não gosta de sair em tournée. Eu o respeito por isso. Ele é um cientista brilhante e gosta de ser um músico diletante. Nunca pretendeu ser músico profissional 100% do tempo.” (Joe Pernice, Pernice Brothers)

“Nós fomos uma das primeiras bandas a insistir nessa coisa de tocar álbuns inteiros ao vivo, na seqüência original das faixas. É uma maneira da gente conviver com aquelas canções que a gente não gosta mais, e sempre acaba deixando de lado dos shows. É importante aprender a conviver com essas canções. Até porque alguém certamente gosta delas, e vez ou outra vai pedir que as toquemos nos shows.” (Ray McGinley, Teenage Fanclub)


AMOSTRAS GRÁTIS
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CAKE





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