sexta-feira, abril 15, 2016

2 OU 3 COISAS SOBRE "THIS PATH TONIGHT", NOVO LP DE GRAHAM NASH

por Chico Marques


Ninguém pode acusar Graham Nash de ser um compositor prolífico.

Seu último álbum solo, Songs For Survivors, foi lançado 14 anos atrás.

Seu último trabalho de estúdio ao lado de seu parceiro contumaz David Crosby -- o álbum duplo Crosby Nash -- está completando nada menos que 12 anos de lançamento.

E seu último disco de estúdio com o Crosby Stills & Nash, After The Storm, foi lançado em 1994 -- ou seja: 22 anos atrás.
 

Quem conhece bem o temperamento artístico de Nash sabe que ele gosta de olhar sempre para a frente, e só olha para trás quando estritamente necesssário.

Nesses últimos anos, no entanto, por conta de sua autobiografia Wild Tales - Memoirs Of A Rock & Roll Life e de diversos relançamentos em boxes de CDs envolvendo tanto o Crosby Stills Nash & Young quanto os Hollies, para os quais foi contratado para acompanhar e participar daa produção, Nash andou olhando muito para o passado.

Mais do que deveria, ou gostaria, talvez.


Para piorar, tanto ele quanto Stephen Stills andaram se cansando das psicagens de David Crosby na tournée mundial que o Crosby Stills & Nash realizou em 2012, e desde então parece que o clima entre eles azedou em definitivo.

O caso é que Stephen Stills se afastou do trio em 2013, indo cuidar de seu trabalho na banda The Rides, da qual ele faz parte ao lado do jovem guitarrista Kenny Wayne Shepard e do veterano tecladista Barry Goldberg, e que está anunciando seu segundo LP já para os próximos meses. 


Daí, sempre que anunciam a chegada de um novo disco de Graham Nash, a expectativa é inevitável, até porque o histórico artístico de Nash justifica isso sem nenhuma cerimônia.

Pois ele acaba de lançar This Path Tonight, seu sexto disco solo num período de 46 anos, um lançamento Blue Castle Records, sem previsão de lançamento no Brasil.

Gravado em parceria com Shane Fontayne, ex-sideman de Bruce Springsteen e Maria McKee, é um trabalho delicado e primoroso.

Todas as canções do disco são assinadas pelos dois, e logo de cara podemos sentir claramente o quanto a musicalidade de Nash rejuveneceu ao longo deste processo.

A motivação por trás disso tudo foi a separação de Nash de sua companheira de longa data, Susan Sennett, e de seu parceiro musical David Crosby, que fizeram com que ele voltasse a ter vontade de retomar sua carreira solo.

Obviamente, tudo isso acabou trazendo a algumas canções um inevitável sabor agridoce, mas, na maior parte do tempo, Nash fala de si mesmo nas canções, que oscilam entre o confessional e o prosaico.

A busca por um novo amor aos 74 anos de vida é outro tema recorrente no disco -- que é agradabilíssimo, e às vezes, chega a soar surpreendente, em faixas como "Target" e "Mississipi Burning".

Sem contar que "Encore", que encerra o disco, é disparado a canção mais linda que ele já compôs em toda a sua vida. 


Nada pesa demais em This Path Tonight.

"De pesado, já basta a vida", diz o velho ditado.

Trocando em miúdos, é isso que Graham Nash quer dizer nessa nova leva de canções que compõem este novo disco, onde ele vem acompanhado por músicos jovens como Todd Caldwell ao órgão Hammond, Patrick Warren ao piano, Jay Bellerose na bateria, Jennifer Condos no baixo e o produtor Shane Fontayne nas guitarras.

Preparem-se para um disco agradabilíssimo, familiar de ponta a ponta, mas com um frescor juvenil delicioso típico de alguém que está de bem com a vida, ou com o que ainda resta dela a essa altura do campeonato.


PS: A propósito, nunca gostei muito dos discos solo de Graham Nash. Sempre os achei insipientes em termos artísticos, fragmentados demais. Sempre tive a idéia de que fora de algum contexto grupal Nash não funciona direito. E então chega esse This Path Tonight para eu engolir minha língua e para de falar bobagens. Bem feito para mim.



AMOSTRAS GRÁTIS