Ninguém pode acusar Graham Nash de ser um compositor prolífico.
Seu último álbum solo, Songs For Survivors, foi lançado 14 anos atrás.
Seu último trabalho de estúdio ao lado de seu parceiro contumaz David Crosby -- o álbum duplo Crosby Nash -- está completando nada menos que 12 anos de lançamento.
E seu último disco de estúdio com o Crosby Stills & Nash, After The Storm, foi lançado em 1994 -- ou seja: 22 anos atrás.
Quem conhece bem o temperamento artístico de Nash sabe que ele gosta de olhar sempre para a frente, e só olha para trás quando estritamente necesssário.
Nesses últimos anos, no entanto, por conta de sua autobiografia Wild Tales - Memoirs Of A Rock & Roll Life e de diversos relançamentos em boxes de CDs envolvendo tanto o Crosby Stills Nash & Young quanto os Hollies, para os quais foi contratado para acompanhar e participar daa produção, Nash andou olhando muito para o passado.
Mais do que deveria, ou gostaria, talvez.
Para piorar, tanto ele quanto Stephen Stills andaram se cansando das psicagens de David Crosby na tournée mundial que o Crosby Stills & Nash realizou em 2012, e desde então parece que o clima entre eles azedou em definitivo.
O caso é que Stephen Stills se afastou do trio em 2013, indo cuidar de seu trabalho na banda The Rides, da qual ele faz parte ao lado do jovem guitarrista Kenny Wayne Shepard e do veterano tecladista Barry Goldberg, e que está anunciando seu segundo LP já para os próximos meses.
Daí, sempre que anunciam a chegada de um novo disco de Graham Nash, a expectativa é inevitável, até porque o histórico artístico de Nash justifica isso sem nenhuma cerimônia.
Pois ele acaba de lançar This Path Tonight, seu sexto disco solo num período de 46 anos, um lançamento Blue Castle Records, sem previsão de lançamento no Brasil.
Gravado em parceria com Shane Fontayne, ex-sideman de Bruce Springsteen e Maria McKee, é um trabalho delicado e primoroso.
Todas as canções do disco são assinadas pelos dois, e logo de cara podemos sentir claramente o quanto a musicalidade de Nash rejuveneceu ao longo deste processo.
A motivação por trás disso tudo foi a separação de Nash de sua companheira de longa data, Susan Sennett, e de seu parceiro musical David Crosby, que fizeram com que ele voltasse a ter vontade de retomar sua carreira solo.
Obviamente, tudo isso acabou trazendo a algumas canções um inevitável sabor agridoce, mas, na maior parte do tempo, Nash fala de si mesmo nas canções, que oscilam entre o confessional e o prosaico.
A busca por um novo amor aos 74 anos de vida é outro tema recorrente no disco -- que é agradabilíssimo, e às vezes, chega a soar surpreendente, em faixas como "Target" e "Mississipi Burning".
Sem contar que "Encore", que encerra o disco, é disparado a canção mais linda que ele já compôs em toda a sua vida.
Nada pesa demais em This Path Tonight.
"De pesado, já basta a vida", diz o velho ditado.
Trocando em miúdos, é isso que Graham Nash quer dizer nessa nova leva de canções que compõem este novo disco, onde ele vem acompanhado por músicos jovens como Todd Caldwell ao órgão Hammond, Patrick Warren ao piano, Jay Bellerose na bateria, Jennifer Condos no baixo e o produtor Shane Fontayne nas guitarras.
Preparem-se para um disco agradabilíssimo, familiar de ponta a ponta, mas com um frescor juvenil delicioso típico de alguém que está de bem com a vida, ou com o que ainda resta dela a essa altura do campeonato.
PS: A propósito, nunca gostei muito dos discos solo de Graham Nash. Sempre os achei insipientes em termos artísticos, fragmentados demais. Sempre tive a idéia de que fora de algum contexto grupal Nash não funciona direito. E então chega esse This Path Tonight para eu engolir minha língua e para de falar bobagens. Bem feito para mim.
Quando Henry Saint Clair Fredericks Jr. --ele mesmo, o fabuloso bluesman do Harlem, Nova York, conhecido por Taj Mahal -- montou uma banda só com craques para acompanhá-lo no disco e na tournée "Dancing The Blues" (1993), num momento particularmente incerto de sua longa carreira, mal ele sabia que estava apadrinhando o surgimento do melhor, mais criativo e mais eclético grupo de blues atualmente em atividade.
Desde então, a Phantom Blues Band tem sido uma combinação curiosa de talentos de vários músicos de estúdio muito tarimbados da região de Memphis, Tennessee, requisitadíssima por artistas como Bonnie Raitt, Joe Cocker e até B B King.
Comandada pelo organista Mike Finnigan -- que participou das bandas de Stephen Stills e Dave Mason nos anos 70 -- e pelo guitarrista Johnny Lee Schell -- colaborador de longa data de artistas como Bonnie Raitt e John Hiatt --, a Phantom Blues Band conta com uma cozinha impecável -- Larry Fulcher no contrabaixo e Tony Braunagel na bateria -- e ainda o sopro suingado do trumpetista Darrell Leonard e do saxofonista Joe Sublett, ambos texanos de Austin.
Juntos, eles trabalham um repertório que usa o blues e o rhythm & blues como ponto de partida para aventuras musicais as mais diversas pelo gospel, pelo jazz, por ritmos latinos, pela country music e, claro, também pelo rock and roll. Detalhe importante: sempre alternando 3 vozes diferentes na linha de frente do repertório do grupo.
Se esse tipo de formação lembra um certo qunteto canadense que ficou famoso depois de ter sido banda de apoio de Bob Dylan no final dos anos 60, acredite: a semelhança com The Band não é mera coincidência.
Ninguém pode acusar o pessoal da Phantom Blues Band de imediatismo.
Seu primeiro disco, "Out In The Shadows" (2006), foi gravado quando a banda completou 13 anos de atividades, depois de participar de vários discos e tournées de Taj Mahal, e foi concebido com muita cautela, trazendo apenas duas composições dos integrantes e muitos covers de clássicos do rhythm & blues.
O segundo disco, "Footsteps", gravado no ano seguinte, já traz metade do repertório de autoria da banda, revelando o alto gabarito das composições de Finnigan e Schell e a pluralidade musical que torna o som da Phantom Blues band absolutamente inclassificável, mas completamente cativante.
Mas então, cinco anos se passaram sem nenhum disco novo da Phantom Blues Band, deixando no ar a pergunta: o que terá sido feito daquela banda espetacular, que estava indo tão bem?
Pois bem, a resposta a essa e outras perguntas está em "Inside Out", o muito aguardado terceiro disco ds Phantom Blues Band.
São 13 números -- metade de autoria deles próprios -- tão envolventes e tão agradáveis que fazem com que os 52 minutos de duração do disco passem voando.
Não é para menos: a combinação Hammond B3 mais uma guitarra limpa na linha de frente, com uma cozinha bem suingada e dois hornmen cuspindo fogo logo atrás, raras vezes funcionou tão bem quanto com esses experientes rapazes, e, particularmente, no contexto desse disco.
Entre as saídas musicais mais inusitadas estão alguns números soul rasgados como "So Far From Heaven", que conta com Joe Sample, dos Cruzaders, no piano, e "Change", um upbeat irresistível que lembra os áureos tempos da Muscle Shoals Rhythm Section.
Tem também uma releitura contagiante de "Shame, Shame", de Jimmy McCracklin, que resgata em grande estilo a essência do beat pedestre de Memphis, uma das instituições musicais americanas mais relevantes dos Século XX.
E, claro, não podemos esquecer da belíssima valsinha "It´s All Right", que lembra algumas das melhores contribuições de Robbie Robertson para o repertório de The Band.
Acreditem, não é pouca coisa o que temos aqui. É música de primeira grandeza.
A Phantom Blues Band pode não ser ainda uma grande instituição musical americana, mas caminha a passos largos para chegar lá em breve.
Basta mais um ou dois discos ousados e no mesmo padrão de excelência de "Inside Out", e pronto.
Quer um conselho? Não deixe para descobrir isso daqui a 4 ou 5 anos o que você pode descobrir hoje.
Siga a trilha gloriosa da Phantom Blues Band rumo à alma musical da América.