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segunda-feira, fevereiro 22, 2016

2 OU 3 COISAS SOBRE "DIG IN DEEP", NOVO LP DA RUIVA BLUESEIRA BONNIE RAITT

por Chico Marques


Bonnie Raitt passou por uns maus bocados nesses últimos anos. Perdeu seu pai, o ator e cantor da Broadway John Raitt, em 2004. Logo a seguir, em 2005, perdeu sua mãe, a pianista Marjorie Haydock.

E então, em 2009, perdeu o irmão mais velho, com quem tinha mais afinidade: Steve Raitt, cantor, guitarrista e engenheiro de som na cena de Minneapolis

(Steve morreu de um câncer no cérebro que o castigou por um período bem prolongado, e foi Bonnie quem cuidou dele nos seus últimos anos de vida)


Em meio a todo esse turbilhão emocional, Bonnie Raitt gravou o disco "Slipstream" em 2012, com sua banda de estrada e com a produção do craque Joe Henry – também um excelente artista solo e um arranjador muito criativo --, que soube explorar muito bem as possibilidades dela como artista já bem conhecidas de todos nós, além de outras um tanto quanto inusitadas.

Com "Slipstream", Bonnie retornou aos estúdios com um repertório fortíssimo e não só deu o pontapé inicial em seu próprio selo independente, Redwing Records, como ainda rompeu um silêncio de sete anos da cena fonográfica.

Esse retorno foi devidamente valorizado na Festa dos Grammies daquele ano, quando Bonnie venceu na categoria Best Americana Album, o que ajudou a revigorar sua carreira.

Ela chegou a declarar à Rolling Stone Magazine na ocasião: "essas sessões de gravação foram tão inspiradoras e tão saudáveis que restauraram minha fé na música a ponto de redespertar meu apetite para seguir em frente fazendo o que sei fazer melhor".



Convenhamos: não foi nada fácil ficarmos privados durante sete anos de uma das vozes mais lindas da história do pop mundial, capaz de transitar livremente por todos os gêneros musicais genuinamente americanos.

Sem contar que seu timbre na slide guitar é um dos mais marcantes que o blues e o rock and roll já tiveram o prazer de conhecer.



Pois dessa vez não foi necessário esperar tanto.

Bonnie Raitt está de volta com "Dig In Deep" (Redwing Records), seu vigésimo disco em 45 anos de carreira.

"Dig In Deep" é uma sequência à altura de "Slipstream". O tom dos dois discos é bastante semelhante. As diferenças estão basicamente no repertório e na produção.

Se em "Slipstream" Bonnie trabalhou prioritariamente com canções de amigos como Bob Dylan, Al Anderson e Randall Bramblett, aqui ele privilegia mais seu lado compositora, trazendo nada menos que cinco (ótimas) canções próprias que ela (felizmente) julgou dignas de ser gravadas. E apesar de Bonnie brilhar à frente de covers inusitados para "I Need You Tonight" (do INXS) e "Shakin' Shakin' Shakes" (do Los Lobos), os destaques aqui vão justamente para essas canções próprias -- em particular para "The Coming Round Is Going Through", "The Ones We Couldn't Be" (dedicada a seus pais e a seu irmão) e a adorável faixa título, em que ela homenageia todos os que acompanham sua carreira há quase meio século.  

Detalhe: dessa vez Bonnie dispensou o amigo Joe Henry e assumiu a produção do disco sozinha, o que indica claramente que ela está em busca de desafios -- apesar de sua experiência anterior com antoprodução, no LP "Souls Alike" (2005), não ter sido lá muito feliz. Mas considerando que Bonnie acaba de sair de uma tournée longa, onde teve a oportunidade de amadurecer e testar ao vivo várias dessas novas canções, podemos presumir que não tenha sido complicado para ela encarar a autoprodução do disco com boa parte das novas canções já devidamente azeitadas na estrada. Se ao se autoproduzir em "Dig In Deep" a intenção de Bonnie era se redimir de algum eventual trauma resultante de críticas pouco favoráveis a sua primeira experiência como produtora, eu diria que ela conseguiu seu intuito, pois deu tudo certo dessa vez.  
  

Enfim, Bonnie Raitt está de volta aos 66 anos de idade, madura e intrépida, com mais um belo disco a tiracolo, e à frente de uma banda impecável, pronta para cair na estrada pelo mundo afora, composta por veteranos tarimbadíssimos como Mike Finnigan (teclados), George Marinelli (guitarra), James "Hutch" Hutchinson (Baixo) e Ricky Fattar (bateria).

Na medida em que existe a possibilidade dessa tournée mundial passar aqui pelo Brasil no segundo semestre deste ano, só nos resta torcer para que nossa adorável Ruiva da Statocaster, legítima herdeira musical de Lowell George, inspire a imensa maioria de nossos "guitarristas de blues", espalhafatosos como eles só, a concluir que para alcançar um acorde verdadeiramente bluesy na slide guitar, menos é sempre mais.

Quem viu Bonnie homenageando B B King de forma magnífica na Festa dos Grammies deste ano, sabe bem do que estou falando.


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domingo, julho 29, 2012

THE PHANTOM BLUES BAND REAFIRMA SUA ALMA AMERICANA EM "INSIDE OUT"


Quando Henry Saint Clair Fredericks Jr. -- ele mesmo, o fabuloso bluesman do Harlem, Nova York, conhecido por Taj Mahal -- montou uma banda só com craques para acompanhá-lo no disco e na tournée "Dancing The Blues" (1993), num momento particularmente incerto de sua longa carreira, mal ele sabia que estava apadrinhando o surgimento do melhor, mais criativo e mais eclético grupo de blues atualmente em atividade.

Desde então, a Phantom Blues Band tem sido uma combinação curiosa de talentos de vários músicos de estúdio muito tarimbados da região de Memphis, Tennessee, requisitadíssima por artistas como Bonnie Raitt, Joe Cocker e até B B King.

Comandada pelo organista Mike Finnigan -- que participou das bandas de Stephen Stills e Dave Mason nos anos 70 -- e pelo guitarrista Johnny Lee Schell -- colaborador de longa data de artistas como Bonnie Raitt e John Hiatt --, a Phantom Blues Band conta com uma cozinha impecável -- Larry Fulcher no contrabaixo e Tony Braunagel na bateria -- e ainda o sopro suingado do trumpetista Darrell Leonard e do saxofonista Joe Sublett, ambos texanos de Austin.

Juntos, eles trabalham um repertório que usa o blues e o rhythm & blues como ponto de partida para aventuras musicais as mais diversas pelo gospel, pelo jazz, por ritmos latinos, pela country music e, claro, também pelo rock and roll. Detalhe importante: sempre alternando 3 vozes diferentes na linha de frente do repertório  do grupo.

Se esse tipo de formação lembra um certo qunteto canadense que ficou famoso depois de ter sido banda de apoio de Bob Dylan no final dos anos 60, acredite: a semelhança com The Band não é mera coincidência.



Ninguém pode acusar o pessoal da Phantom Blues Band de imediatismo.

Seu primeiro disco, "Out In The Shadows" (2006), foi gravado quando a banda completou 13 anos de atividades, depois de participar de vários discos e tournées de Taj Mahal, e foi concebido com muita cautela, trazendo apenas duas composições dos integrantes e muitos covers de clássicos do rhythm & blues.

O segundo disco, "Footsteps", gravado no ano seguinte, já traz metade do repertório de autoria da banda, revelando o alto gabarito das composições de Finnigan e Schell e a pluralidade musical que torna o som da Phantom Blues band absolutamente inclassificável, mas completamente cativante.

Mas então, cinco anos se passaram sem nenhum disco novo da Phantom Blues Band, deixando no ar a pergunta: o que terá sido feito daquela banda espetacular, que estava indo tão bem?



Pois bem, a resposta a essa e outras perguntas está em "Inside Out", o muito aguardado terceiro disco ds Phantom Blues Band.

São 13 números -- metade de autoria deles próprios -- tão envolventes e tão agradáveis que fazem com que os 52 minutos de duração do disco passem voando.

Não é para menos: a combinação Hammond B3 mais uma guitarra limpa na linha de frente, com uma cozinha bem suingada e dois hornmen cuspindo fogo logo atrás, raras vezes funcionou tão bem quanto com esses experientes rapazes, e, particularmente, no contexto desse disco.

Entre as saídas musicais mais inusitadas estão alguns números soul rasgados como "So Far From Heaven", que conta com Joe Sample, dos Cruzaders, no piano, e "Change", um upbeat irresistível que lembra os áureos tempos da Muscle Shoals Rhythm Section.

Tem também uma releitura contagiante de "Shame, Shame", de Jimmy McCracklin, que resgata em grande estilo a essência do beat pedestre de Memphis, uma das instituições musicais americanas mais relevantes dos Século XX.

E, claro, não podemos esquecer da belíssima valsinha "It´s All Right", que lembra algumas das melhores contribuições de Robbie Robertson para o repertório de The Band.

Acreditem, não é pouca coisa o que temos aqui. É música de primeira grandeza.





A Phantom Blues Band pode não ser ainda uma grande instituição musical americana, mas caminha a passos largos para chegar lá em breve.

Basta mais um ou dois discos ousados e no mesmo padrão de excelência de "Inside Out", e pronto.

Quer um conselho? Não deixe para descobrir isso daqui a 4 ou 5 anos o que você pode descobrir hoje.

Siga a trilha gloriosa da Phantom Blues Band rumo à alma musical da América.



BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/phantom-blues-band-mn0000844831

WEBSITE OFICIAL 
http://www.phantombluesband.com/

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