terça-feira, junho 16, 2015

THE JAYHAWKS COMEMORAM 30 ANOS DE CARREIRA COM UM ÁLBUM AO VIVO PERFEITO.

por Chico Marques


Era uma vez, 30 anos atrás, numa galáxia distante e gelada chamada Minnesota, um grupo de bandas pós-punk de altíssimo gabarito, absolutamente desconectadas umas das outras, que brigavam por um lugar ao sol em meio a todo aquele frio e todo aquele gelo de Minneapolis e Saint Paul -- conhecidas por "the twin cities". 

Rolava de tudo na cena musical das Cidades Gêmeas. Tinha desde o punk melódico descabelado dos Replacements e do Husker Du até o rock and roll rasgado do Soul Asylum, passando pela soul music roqueira moderníssima de Prince e várias outras manifestações no mínimo curiosas. 

Em meio a tanta pluralidade musical, não podia faltar uma banda country-rock clássica, à moda do Poco e dos Flying Burrito Brothers, que viria a se tornar um dos tesouros mais preciosos da música americana dos últimos 30 anos.
The Jayhawks começou em 1985 com uma proposta musical que combinava uma postura revisionista com uma atitude extremamente moderna. 

Seus dois primeiros discos, gravado para selos locais de Minneapolis, são pequenos clássicos, e trazem excelentes composições, mostrando logo de cara como o time de compositores composto por Mark Olson e Gary Louris podia render maravilhas, se bem orientado. 

A partir do terceiro disco, "Hollywood Town Hall", produzido por George Drakoulias para a American Recordings, The Jayhawks já começa a deixar de lado o revisionismo country-rock para flertar abertamente com saídas musicais inusitadas, com resultados aplaudidíssimos.

E então, no quinto disco, "Smile", produzido por Bob Ezrin, The Jayhawks assume de vez sua porção roqueira e chuta para o alto seu passado country -- mas alguma coisa sai errado, os membros da banda se desentendem, e cada um vai para um lado diferente, em trabalhos solos bons, bem focados, mas independentes, e com pouca projeção.
Daí em diante, por uma questão de sobrevivência, o jeito foi alternar essas carreiras solo com retornos eventuais de The Jayhawks, para apresentar suas novas canções, mescladas com seus grandes sucessos, aos fãs da banda que não acompanhavam suas carreiras solo.

 Podiam ficar apenas nas tournées, mas não. De tempos em tempos, tomavam coragem e gravavam discos novos como banda -- caso do delicioso "Rainy Day Music", de 2003, e do elogiadíssimo "Mockingbird Time", de 2011.

Pois bem: The Jayhawks está comemorando 30 anos de carreira, com pompa e circunstância, neste ano. 

Todos os seus discos estão sendo reeditados em edições especiais, com faixas adicionais, aquela coisa toda...

Daí, decidiram reunir todas os músicos das fomações clássicas da banda para uma tournée comemorativa. 

E um show dessa tournée, no dia 16 de Janeiro deste ano, no Belly Up Club em Solana Beach, California, acabou virando um disco ao vivo.

 E que disco!
"Live at the Belly Up" é um souvenir precioso dessa tournée, e o disco ao vivo que faltava na discografia da banda, já que o anterior "Live From The Women's Club" era totalmente acústico e fora dos padrões sonoros habituais da banda.

Aqui, temos a alma de The Jayhawks por inteiro, em 20 números escolhidos a dedo nos 8 LPs de estúdio da banda, cobrindo por completo os 80 minutos regulamentares permitidos pelo CD.

Não há o que destacar. Quase todas as canções são velhas conhecidas dos fãs da banda, e as versões ao vivo são inspiradíssimas. 

Esses velhos rapazes podem brigar o quanto quiserem, mas jamais conseguirão disfarçar que tem um prazer enorme em tocar juntos. 

Até por isso um disco ao vivo de The Jayhawks fazia tanta falta -- e agora não faz mais.


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quarta-feira, junho 03, 2015

MICK HUCKNALL FAZ UM NÚMERO SÍLVIO CALDAS E REVIVE O SIMPLY RED NUM DISCO NOVO BEM BACANA CHAMADO "BIG LOVE"

por Chico Marques


Não é fácil ser um ídolo pop e lutar diariamente para se livrar de estigmas que assombram sua carreira. 

Mick Hucknall é um caso assim.

Bem que ele tentou se desvencilhar do Simply Red, sua banda desde 1985, que fez enorme sucesso em seus primeiros 10 anos de vida, com mais de 50 milhões de discos vendidos, mas que, por volta do quinto disco, "Life", perdeu o status de "integrante do primeiro time pop" e também seu frescor musical.

Até aí, tudo bem: as histórias de sucesso são assim mesmo. 

Mas o caso é que Mick Hucknall seguiu insistindo na mesma fórmula por mais 5 discos, levando o Simply Red a um desgaste artístico difícil de contornar. Por pouco, a banda não ingressou no circuito nada seleto das atrações nostálgicas. 

Cansado disso tudo, Mick teria dito ao final do show derradeiro do Simply Red na Arena O2 em Londres cinco anos atrás: "Chega: Simply Red, nunca mais!"

Mas disse isso cedo demais.

Depois de dois discos solo muito interessantes, mas que não decolaram comercialmente e que falharam ao não conseguir arrebanhar o público da banda, Mick Hucknall concluiu o que muita gente já sabia: poucos associam seu nome, Mick Hucknall, ao Simply Red.

Daí, não teve jeito. Mick teve que engolir o que disse na O2 Arena e retomou o Simply Red a pretexto de uma tournée comemorativa de 30 anos de lançamento de seu álbum de estréia, "Picture Book". 
Por insistência de seu empresário e de sua gravadora, o terceiro álbum solo, que já estava com todas as canções compostas e em fase de pré-produção, deixou de ser um disco solo para virar o 11° disco do Simply Red.

BIG LOVE (um lançamento EastWest/Warner) não é, nem de longe, um disco de ruptura -- pelo contrário, traz Mick em busca da essência musical "mezzo Philly, mezzo Motown" do Simply Red que havia se perdido no meio do caminho.

Mas existem ao menos duas diferenças que saltam aos ouvidos nessas novas canções.

A primeira diferença está no tom doméstico de quase metade do novo repertório, em canções nitidamente inspiradas na vida familiar de Mick com sua mulher e sua filha de 8 anos de idade, como "Love Gave Me More" e "Big Love".

E a segunda está na insistência de Mick em apostar numa postura de crooner em números como "The Old Man And The Beer" e "Each Day", que encerram o disco, quebrando um pouco com o que os fãs do Simply Red esperam dele, e dando sequência ao que andou experimentando em seus discos solo.

Como não podia deixar de ser, BIG LOVE tem alguns números em uptempo, como "Tight Tone", "Woru" e "Shine On", que deixam o disco um pouco mais mundano com seu espírito "nightclubbing".

Mas, no geral, o que predomina é a delicadeza romântica habitual, tanto em dedicações de amor como a de "Daydreaming" quanto nas reminiscências de "The Ghost Of Love".
Goste ou não do Simply Red, Mick Hucknall é um tremendo cantor.

Que tentou ao máximo expandir seu espectro musical nos últimos cinco anos, forjando uma persona roqueira ao lado de Ronnie Wood como vocalista convidado do lendário The Faces numa tournée comemorativa.

Que tentou também inaugurar uma persona bluesy num belo disco em homenagem a seu herói musical Bobby Blue Bland, que ainda era vivo quando Mick o lançou.

 E que tentou, antes de mais nada e acima de tudo, manter sua ótima reputação de "blue-eyed soulman" de voz aveludada e sensual.

Foi mais bem sucedido em todos esses quesitos, menos no comercial, daí a volta do Simply Red -- mas manda avisar que ano que vem retoma sua carreira solo.

Quem sabe dessa vez, o velho público do Simply Red o acompanha?



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