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quarta-feira, junho 03, 2015

MICK HUCKNALL FAZ UM NÚMERO SÍLVIO CALDAS E REVIVE O SIMPLY RED NUM DISCO NOVO BEM BACANA CHAMADO "BIG LOVE"

por Chico Marques


Não é fácil ser um ídolo pop e lutar diariamente para se livrar de estigmas que assombram sua carreira. 

Mick Hucknall é um caso assim.

Bem que ele tentou se desvencilhar do Simply Red, sua banda desde 1985, que fez enorme sucesso em seus primeiros 10 anos de vida, com mais de 50 milhões de discos vendidos, mas que, por volta do quinto disco, "Life", perdeu o status de "integrante do primeiro time pop" e também seu frescor musical.

Até aí, tudo bem: as histórias de sucesso são assim mesmo. 

Mas o caso é que Mick Hucknall seguiu insistindo na mesma fórmula por mais 5 discos, levando o Simply Red a um desgaste artístico difícil de contornar. Por pouco, a banda não ingressou no circuito nada seleto das atrações nostálgicas. 

Cansado disso tudo, Mick teria dito ao final do show derradeiro do Simply Red na Arena O2 em Londres cinco anos atrás: "Chega: Simply Red, nunca mais!"

Mas disse isso cedo demais.

Depois de dois discos solo muito interessantes, mas que não decolaram comercialmente e que falharam ao não conseguir arrebanhar o público da banda, Mick Hucknall concluiu o que muita gente já sabia: poucos associam seu nome, Mick Hucknall, ao Simply Red.

Daí, não teve jeito. Mick teve que engolir o que disse na O2 Arena e retomou o Simply Red a pretexto de uma tournée comemorativa de 30 anos de lançamento de seu álbum de estréia, "Picture Book". 
Por insistência de seu empresário e de sua gravadora, o terceiro álbum solo, que já estava com todas as canções compostas e em fase de pré-produção, deixou de ser um disco solo para virar o 11° disco do Simply Red.

BIG LOVE (um lançamento EastWest/Warner) não é, nem de longe, um disco de ruptura -- pelo contrário, traz Mick em busca da essência musical "mezzo Philly, mezzo Motown" do Simply Red que havia se perdido no meio do caminho.

Mas existem ao menos duas diferenças que saltam aos ouvidos nessas novas canções.

A primeira diferença está no tom doméstico de quase metade do novo repertório, em canções nitidamente inspiradas na vida familiar de Mick com sua mulher e sua filha de 8 anos de idade, como "Love Gave Me More" e "Big Love".

E a segunda está na insistência de Mick em apostar numa postura de crooner em números como "The Old Man And The Beer" e "Each Day", que encerram o disco, quebrando um pouco com o que os fãs do Simply Red esperam dele, e dando sequência ao que andou experimentando em seus discos solo.

Como não podia deixar de ser, BIG LOVE tem alguns números em uptempo, como "Tight Tone", "Woru" e "Shine On", que deixam o disco um pouco mais mundano com seu espírito "nightclubbing".

Mas, no geral, o que predomina é a delicadeza romântica habitual, tanto em dedicações de amor como a de "Daydreaming" quanto nas reminiscências de "The Ghost Of Love".
Goste ou não do Simply Red, Mick Hucknall é um tremendo cantor.

Que tentou ao máximo expandir seu espectro musical nos últimos cinco anos, forjando uma persona roqueira ao lado de Ronnie Wood como vocalista convidado do lendário The Faces numa tournée comemorativa.

Que tentou também inaugurar uma persona bluesy num belo disco em homenagem a seu herói musical Bobby Blue Bland, que ainda era vivo quando Mick o lançou.

 E que tentou, antes de mais nada e acima de tudo, manter sua ótima reputação de "blue-eyed soulman" de voz aveludada e sensual.

Foi mais bem sucedido em todos esses quesitos, menos no comercial, daí a volta do Simply Red -- mas manda avisar que ano que vem retoma sua carreira solo.

Quem sabe dessa vez, o velho público do Simply Red o acompanha?



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terça-feira, abril 07, 2015

VAN MORRISON PRODUZ UM DISCO DE DUETOS QUE É TUDO MENOS FROUXO E PREVISÍVEL.



Van Morrison faz 70 anos de idade este ano.

Quando um artista chega a essa faixa de idade, fica mais e mais difícil chegar em alguma gravadora com um projeto para um disco novo em mãos, pois essa gravadora certamente irá encaminhá-lo à "divisão de projetos especiais", que, por sua vez, vai propor a este artista -- até porque não sabe fazer outra coisa -- um disco de duetos, com canções antigas recicladas e convidados estelares. 

Pois bem: chegou a vez de Van Morrison ter que gravar o seu disco de duetos, com canções antigas recicladas e convidados estelares. 

E como não podia deixar de ser, ele fez isso de uma maneira completamente honesta e inusitada, o que fica claro no título seco, curto e grosso do disco: "Duets: Re-Working The Catalogue" (um lançamento RCA). 

Em outras palavras: Sem firulas, please!




Para a surpresa geral, acho que inclusive da sua gravadora, todas as canções mais conhecidas de Morrison -- "Brown Eyed Girl", "Domino", "I've Been Working", "Moondance", "Caravan", "Wild Night", "Jackie Wilson Said", "Have I Told You Lately" -- ficaram de fora de "Duets: Re-Working The Catalogue"

As canções escolhidas são todas, ou quase todas, "album tracks" pouco conhecidas, pinçadas dos discos que ele gravou de 1980 para cá, logo após seu breve estrelato nos Anos 1970.

O critério para essas escolhas de canções aparentemente foi determinado em comum acordo com os artistas escolhidos para contracenar com ele.

Joss Stone, por exemplo, já cantava "Wild Honey" em seus shows, e agora teve a chance de cantá-la ao lado do autor Van Morrison -- o que a deixou lisonjeada, com certeza, mas deixou, antes de mais nada, nosso baixinho irlandês completamente encantado por ela, por seu talento, seu tamanho e sua gostosura. Quem não vibra com mulheres grandalhonas que atire a primeira pedra...

Simbiose semelhante acontece em "Irish Heartbeat", que Mark Knopfler incluiu nos shows de sua última tournée, dois anos atrás. Aqui, nesse dueto com Morrison, aflora uma delicadeza ímpar, onde predomina uma serenidade folk-pop a toda prova.

Em "Born To Sing", um número bem mais truculento, o lendário cantor inglês Chris Farlowe, com quem Morrison rivalizava em meados dos Anos 60 nas paradas inglesas, une forças a  ele e os dois praticamente reivindicam a mesma profissão de fé com suas vozes possantes e encorpadas.

Algo semelhante acontece em "Whatever Happned to P J Proby", número composto dez anos atrás, em que Morrison evoca um grande cantor da década de 1960 que desapareceu por completo da Cena dos Anos 1980 para cá. Pois não é que Morrison localizou P J Proby, e os dois juntos gravaram uma versão definitiva para essa canção?

São gravações assim que fazem de "Duets: Re-Working The Catalog" um ítem complementar muito interessante na discografia de Van Morrison.




Mas "Duets: Re-Working The Catalogue" ainda reserva outros momentos gloriosos, como "How Can A Poor Boy" ao lado de Taj Mahal, ou "Some Peace Of Mind" com o saudoso Bobby Womack, ou ainda "Lord If I Ever Needed Someone" com a magnífica Mavis Staples, que leva nosso querido Mr. Morrison direto aos céus nas asas de um anjo negro.

Se eu, pessoalmente, tiver que escolher uma favorita, fico com "Fire In The Belly", onde Morrison e Steve Winwood trafegam pelo inesgotável território da soul music que ambos sempre souberam defender tão bem.

"Duets: Re-Working The Catalogue" é o trigésimo quinto disco de Van Morrison, e não é um ítem fundamental na sua carreira, e nem pretende ser. Mas é, com certeza, o disco de duetos mais honesto, vibrante e satisfatório que você já ouviu em muitos e muitos anos.

Tentaram empacotar Van Morrison à sua revelia. Não conseguiram. 

Aos quase 70 anos de idade, ele continua indomável.

Van Morrison é a prova derradeira de que Deus não só existe, como é Irlandês.












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