Mostrando postagens com marcador Michael Bublé. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Michael Bublé. Mostrar todas as postagens

terça-feira, abril 07, 2015

VAN MORRISON PRODUZ UM DISCO DE DUETOS QUE É TUDO MENOS FROUXO E PREVISÍVEL.



Van Morrison faz 70 anos de idade este ano.

Quando um artista chega a essa faixa de idade, fica mais e mais difícil chegar em alguma gravadora com um projeto para um disco novo em mãos, pois essa gravadora certamente irá encaminhá-lo à "divisão de projetos especiais", que, por sua vez, vai propor a este artista -- até porque não sabe fazer outra coisa -- um disco de duetos, com canções antigas recicladas e convidados estelares. 

Pois bem: chegou a vez de Van Morrison ter que gravar o seu disco de duetos, com canções antigas recicladas e convidados estelares. 

E como não podia deixar de ser, ele fez isso de uma maneira completamente honesta e inusitada, o que fica claro no título seco, curto e grosso do disco: "Duets: Re-Working The Catalogue" (um lançamento RCA). 

Em outras palavras: Sem firulas, please!




Para a surpresa geral, acho que inclusive da sua gravadora, todas as canções mais conhecidas de Morrison -- "Brown Eyed Girl", "Domino", "I've Been Working", "Moondance", "Caravan", "Wild Night", "Jackie Wilson Said", "Have I Told You Lately" -- ficaram de fora de "Duets: Re-Working The Catalogue"

As canções escolhidas são todas, ou quase todas, "album tracks" pouco conhecidas, pinçadas dos discos que ele gravou de 1980 para cá, logo após seu breve estrelato nos Anos 1970.

O critério para essas escolhas de canções aparentemente foi determinado em comum acordo com os artistas escolhidos para contracenar com ele.

Joss Stone, por exemplo, já cantava "Wild Honey" em seus shows, e agora teve a chance de cantá-la ao lado do autor Van Morrison -- o que a deixou lisonjeada, com certeza, mas deixou, antes de mais nada, nosso baixinho irlandês completamente encantado por ela, por seu talento, seu tamanho e sua gostosura. Quem não vibra com mulheres grandalhonas que atire a primeira pedra...

Simbiose semelhante acontece em "Irish Heartbeat", que Mark Knopfler incluiu nos shows de sua última tournée, dois anos atrás. Aqui, nesse dueto com Morrison, aflora uma delicadeza ímpar, onde predomina uma serenidade folk-pop a toda prova.

Em "Born To Sing", um número bem mais truculento, o lendário cantor inglês Chris Farlowe, com quem Morrison rivalizava em meados dos Anos 60 nas paradas inglesas, une forças a  ele e os dois praticamente reivindicam a mesma profissão de fé com suas vozes possantes e encorpadas.

Algo semelhante acontece em "Whatever Happned to P J Proby", número composto dez anos atrás, em que Morrison evoca um grande cantor da década de 1960 que desapareceu por completo da Cena dos Anos 1980 para cá. Pois não é que Morrison localizou P J Proby, e os dois juntos gravaram uma versão definitiva para essa canção?

São gravações assim que fazem de "Duets: Re-Working The Catalog" um ítem complementar muito interessante na discografia de Van Morrison.




Mas "Duets: Re-Working The Catalogue" ainda reserva outros momentos gloriosos, como "How Can A Poor Boy" ao lado de Taj Mahal, ou "Some Peace Of Mind" com o saudoso Bobby Womack, ou ainda "Lord If I Ever Needed Someone" com a magnífica Mavis Staples, que leva nosso querido Mr. Morrison direto aos céus nas asas de um anjo negro.

Se eu, pessoalmente, tiver que escolher uma favorita, fico com "Fire In The Belly", onde Morrison e Steve Winwood trafegam pelo inesgotável território da soul music que ambos sempre souberam defender tão bem.

"Duets: Re-Working The Catalogue" é o trigésimo quinto disco de Van Morrison, e não é um ítem fundamental na sua carreira, e nem pretende ser. Mas é, com certeza, o disco de duetos mais honesto, vibrante e satisfatório que você já ouviu em muitos e muitos anos.

Tentaram empacotar Van Morrison à sua revelia. Não conseguiram. 

Aos quase 70 anos de idade, ele continua indomável.

Van Morrison é a prova derradeira de que Deus não só existe, como é Irlandês.












AMOSTRAS GRÁTIS

terça-feira, dezembro 02, 2014

NEIL YOUNG ESTÁ LOUCAMENTE APAIXONADO. DURMA-SE COM UM BARULHO DESSES...



Nenhum artista de rock and roll -- nem mesmo Bob Dylan -- coleciona tantas idiossincrasias quanto Neil Young.

São esquisitices que sempre existiram no trabalho dele, mas que ganharam uma força adicional na virada dos anos 1970 para os 1980, em pleno período pós-punk, com um álbum estranho e disforme chamado "Re.act.or", que deixou a Reprise Records bastante irritada na ocasião.

De lá para cá, excentricidades as mais variadas ressurgem pontualmente em seus discos de tempos em tempos.

Neil Young já pagou caro por essas idiossincrasias, mas não adianta: ele não aprende.

Nos Anos 80, foi processado por David Geffen -- seu patrão na Geffen Records, que, ingenuamente, havia concedido a ele liberdade criativa total na elaboração de seus projetos -- sob a alegação de que, de um contrato de cinco álbuns, sua gravadora recebeu de Neil Young quatro LPs estranhíssimos e de difícil comercialização.


De volta à Reprise Records no final dos Anos 80, ainda meio assustado com o processo que perdeu para David Geffen, Neil sossegou por uns tempos, e brindou seu público e sua gravadora com discos às vezes elétricos, às vezes acústicos, sem excentricidades exageradas e sempre com um alto gabarito artístico.

Mas com a virada do milênio, alguma coisa estranha aconteceu.

Provavelmente, alguns parafusos de Neil afrouxaram, e ele pouco a pouco foi retomando sua velha rotina idiossincrática de produzir discos conceituais e experimentais cada vez mais estranhos e voltados para um público cada vez mais dirigido.

A sorte dele é que, a essa altura da vida, sua gravadora não nutria mais grandes expectativas nele, seus projetos passaram a ter um custo relativamente baixo e seu público permaneceu grande e fiel o suficiente para garantir vendagens expressivas para os padrões minguados da Indústria Fonográfica nos dias de hoje.



Pois bem: a nova idiossincrasia musical de Neil Young se chama "Storytone".

É um disco bastante incômodo e pouco satisfatório.

São dez canções novas com o tom minimalista habitual, sempre muito delicadas -- metade delas composta para sua atual namorada, a ex-sereia (e ex-Senhora Jackson Browne) Daryl Hannah --, gravadas ao vivo diante de uma orquestra de cordas arranjada e regida por Michael Bearden, ou de uma Big Band comandada por Chris Walden, parceiro musical de Michael Bublé.

Até aí, nada demais.

O problema é que as baladas dessa sua nova lavra são muito frágeis melodicamente, simples e despojadas demais, e os arranjos de cordas encomendados caem feito bigornas em cima delas, inviabilizando qualquer interação entre Neil -- o crooner mais improvável do mundo -- e o tsunami de cordas que afoga, sufoca e ridiculariza essas canções.

Lembra um pouco aqueles arranjos exagerados que Neil encomendou para a London Symphony Orchestra 42 anos atrás, em canções como "Words" e "A Man Needs A Maid", na época duramente criticados.

Verdade seja dita: o que 42 anos atrás era apenas inadequado, agora chega a ser embaraçoso.

Nas faixas em que Neil vem acompanhado pela Big Band de Rhythm & Blues, o resultado final é bem melhor -- até lembra um pouco "This Note's For You" (1989) --, mas peca vez ou outra por imprimir às canções um registro de swing jazzístico sofisticado demais para o jeitão gauche meio bronco de Neil Young.

"Storytone" não chega a ser uma decepção, mas irrita, e muito.

É um grande equívoco artístico -- bem intencionado, claro, mas um grande equívoco artístico sem sombra de dúvida.



Okay (1), sejamos tolerantes: Neil Young está apaixonado, e todo ser apaixonado perde o senso do ridículo, o que é perfeitamente natural.

Okay (2), Daryl Hannah é bem melhor apessoada do que Pegi Young, com quem ele foi casado por mais de 35 anos.

Okay (3), é inegável que o cd bonus que acompanha "Storytone", com as mesmas canções tocadas "no osso" -- sem esses arranjos estapafúrdios, e na sequência original das canções -- não só é bastante satisfatório, como mostra que ele continua um mestre em compor canções curtas e emocionantes.

O que realmente chateia nessa nova empreitada amalucada de Neil Young é que, dessa vez, ele chegou bem perto de produzir um daqueles "pequenos grandes álbums" que antes pontuavam sua carreira a cada cinco anos -- e que, desde "Silver And Gold", de 2000, simplesmente deixaram de chegar.

Quem sabe no próximo disco -- isso se esse romance durar, ou se conseguir sobreviver a esse "late bloom" fulminante  --, Neil acerta a mão novamente.



WEBSITE OFICIAL
http://www.neilyoung.com/index2.html

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/neil-young-mn0000379125/discography

AMOSTRAS GRÁTIS