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sexta-feira, outubro 13, 2017

PACOTEIRA MUSICAL DE VETERANOS DA CENA BRITÂNICA: MARIANNE FAITHFULL, ROBERT PLANT, RICHARD THOMPSON, VAN MORRISON & LIAM GALLAGHER

por Chico Marques


Tudo bem, não se faz mais Invasões Britânicas como antigamente.

Mas das últimas Invasões Britânicas que rolaram -- a dos Beatles e dos Rolling Stones (e dos Kinks, dos Animals e do Them) em meados dos anos 1960, e a do pessoal do BritPop em meados dos anos 1990 -- muitos grandes artistas permanecem ativos e muito atuantes na cena musical.

Nossos cinco escolhidos para compor a pacoteira musical de hoje são sobreviventes dessas duas invasões.

Da Invasão mais recente, dos Anos 90, temos o desaforado e irascível Mr. Liam Gallagher, ex-frontman do grupo Oasis, vindo de Manchester.

Já da Invasão dos Anos 60, temos a melancólica Ms. Marianne Faithfull e o multicultural Mr. Richard Thompson (ambos de Londres), além do sempre inquieto Mr. Robert Plant (de Birmingham) e de São Van Morrison (de Belfast, Irlanda).

São todos grandes ícones de vários fronts musicais, com históricos de carreira bem distintos, que estão com discos novos muito festejados pela imprensa e pelo público.

Merecidamente.

Vamos a eles:


ROBERT PLANT
CARRY FIRE
(Nonesuch)

No início dos Anos 80, quando o Led Zeppelin implodiu após a morte de John Bonham e Robert Plant deu o pontapé inicial em sua carreira solo mergulhando de cabeça no MOR no disco Pictures At Eleven, o comentário geral foi: okay, funciona, lembra o Zep, mas falta Jimmy Page. Incomodado com isso, Mr. Plant foi pouco a pouco distanciando sua carreira solo dos ecos do Led Zeppelin, morrendo de medo de virar um daqueles artistas que vivem em função de um passado glorioso. Mas, depois de 5 discos solo bem sucedidos, sentiu que tinha uma situação bem sedimentada e que não corria mais esse risco, daí topou voltar a trabalhar com Mr. Page em dois discos bem distintos: o acústico e revisionista Unledded (1996) e o elétrico e vigoroso Walking Into Clarksdale (1998). O comentário geral foi: okay, funciona, lembra o Zep, mas falta John Paul JonesDe saco cheio do saudosismo dos fãs do Led Zep, Mr. Plant decidiu da virada do século para cá procurar por suas raízes musicais dos dois lados do Atlântico, mergulhando em investigações musicais ao lado da violinista Alison Krauss, depois com a cantora e compositora Shaun Colvin (com quem manteve um romance por cinco anos), e ainda reagrupando a Band Of Joy, banda folk-psicodélica da qual fazia parte antes de ingressar no Led Zeppelin. Cinco anos atrás, promover mais uma virada em sua carreira: voltou para a Inglaterra e montou uma banda espetacular, The Sensational Space Shifters, com quem já gravou 3 LPs. O mais recente, Carry Firecombina rock e folk com música árabe e música eletrônica, e consegue a proeza de fazer com que todas essas vertentes musicais dialoguem ignorando fronteiras musicais, e mostrando que elas não passam de fronteiras mercadológicas. Ao contrário de Lullaby & The Ceaseless Choir (2014), que foi produzido magistralmente por T-Bone Burnett, dessa vez Mr. Plant teve que se auto-produzir, pois a agenda de Mr. Burnett estava cheia. Daí, procurou seguir fielmente as lições que aprendeu com ele no disco anterior, e fez de Carry Fire uma sequência natural dele. Não há highlights a ser destacados, pois o disco é de uma coesão impecável e todos os elementos estão perfeitamente alinhavados. Mesmo assim, vou destacar o único cover do disco: uma releitura eletrônica quase inacreditável da clássica balada rockabilly Bluebirds Over The Mountain, que esbanja uma organicidade musical ímpar, que é a cara de Mr. Plant: moderna e etérea, tudo ao mesmo tempo. Carry Fire é um belo disco, que deve agradar tanto aos velhos fãs do Zep quanto aos que vibraram com Lullaby & The Ceaseless Choir três anos atrás e queriam mais. Pois bem... aqui está!






VAN MORRISON
ROLL WITH THE PUNCHES
(Caroline)

De tempos em tempos, um negão que vive meio adormecido na alma de Van Morrison acorda e dá a luz de sua graça, obrigando-o a interromper sua sequência tranquila e confortável de discos inspirados nas sonoridades da Irlanda para mergulhar de cabeça nas águas rápidas e lamacentas do Rio Mississippi. É mais ou menos isso que rola aqui em Roll With The Punches, um disco ligeiro, coeso e com uma urgência que havia desaparecido da obra de Mr. Morrison há muitos anos. Dizem que o que motivou esse mergulho no blues foi a aproximação dele de um de seus heróis musicais: o grande cantor inglês Chris Farlowe, um pouco mais velho que ele. De três anos para cá, para surpresa geral, os dois ficaram inseparáveis e não desgrudaram mais. Já que o blues e o rhythm & blues são idiomas musicais que ambos dominam à perfeição, foi por aí que eles decidiram seguir sintonizados musicalmente. Temos aqui apenas cinco originais de Mr. Morrison contra dez covers sensacionais de clássicos como Ride On Josephine e I Can Tell, de Bo Diddley, Going To Chicago de Count Basie e Mean Old World de T-Bone Walker. Quem quiser se esbaldar com um disco que é tão certeiro quanto um murro no queixo, é só vir por aqui. Acredite: Roll With The Punches faz juz ao seu nome.





LIAM GALLAGHER
AS YOU WERE
(Warner Bros)

Eu sempre tive uma séria desconfiança quanto a esse embate constante e interminável entre os irmãos Liam e Noel Gallagher. Nunca entendi como eles conseguiam manter uma postura profissional inabalável nos palcos se odiando tão intensamente. Pior: como conseguiram manter o Oasis em pé por 18 anos seguidos vivendo às turras dia após dia. Tem alguma coisa que sempre me pareceu errada nessa equação. Posso estar errado, mas acho que as brigas constantes entre os dois irmãos sempre foram, na verdade, uma estratégia de marketing muito bem arquitetada para manter a banda sempre presente no noticiário de publicações musicais semanais fofoqueiras como o New Musical Express. Desde que o Oasis acabou, os dois deram sequência a suas carreiras formando novas bandas: The High Flying Brds (de Noel) e Beady Eye (de Liam, com todos os integrantes da formação final do Oasis, menos Noel). As farpas de sempre continuaram sendo disparadas de ambois os lados, e os fãs do Oasis, que andavam saudosos dos barracos e da lavagem de roupa suja entre os dois irmãos, seguiram prestigiando suas novas aventuras -- musicalmente muito semelhantes ao que eles produziam quando gravavam juntos. Agora, estranhamente, Mr. Liam Gallagher resolveu chutar o balde e arriscar uma ruptura com o legado do Oasis nesse seu primeiro álbum solo. As doze faixas de As You Were são surpreendentes, ampliando o espectro musical de Mr. Liam Gallagher para muito além do britpop e o situando muito bem em números de blues, rhythm & blues e outros gêneros musicais onde o repertório do Oasis jamais esteve. Ecos de John Lennon, Marc Bolan e Ian Hunter permeiam o disco do início ao fim, revelando que aquela fúria sonora e as sonoridades ásperas que haviam nos shows (não nos discos) do Oasis estavam lá por iniciativa dele, Liam Gallagher. Por mais que ele diga na entrevistas que vem concedendo para promover As You Were que não se sente confortável numa carreira solo e que gosta mesmo é de fazer parte de bandas, eu, francamente, duvido. Para mim é conversa mole. A estréia solo de Mr. Liam Gallagher é simplesmente ótima. Para alguns críticos, é excelente. Suas composições são tão qualificadas quanto as de seu irmão, revelando-se mais ásperas, menos melódicas e mais contundentes que as de seu irmão. O disco todo é extremamente envolvente, e muito bem produzido. Só Mr. Liam Gallagher acha que "talvez não". Continua um belo encrenqueiro depois de todos esses anos...





MARIANNE FAITHFULL
NO EXIT
(Verycords/Ear Music)

Setenta anos de idade. Cinquenta e três anos de carreira. Quem diria que aquela menina linda e melancólica que emplacou em 1964 um hit mundial com As Tears Go By -- canção que ganhou de presente de seu namorado Mick Jagger e de Keith Richards --, iria desenvolver uma carreira tão singular e superlativa. Ms. Faithfull conseguiu impor através de sua voz frágil e docemente ríspida um padrão novo e original que, de tão pessoal, poucas cantoras ousaram tentar seguir na época. Mas se atrapalhou com o fim de seu casamento com Jagger no início dos Anos 70, com suas investidas meio desastradas como atriz e, last but not least, com a dependência de heroína e constantes tentativas de suicídio. Demorou para perceber que nada daquilo tudo apontava para lugar algum. Passou a primeira metade dos anos 1970 num limbo artístico muito cruel, e só conseguiu achar foco para seu carreira ao se reinventar por completo, já em plena era punk, com o LP Broken English. Daí em diante, encontrou um público fidelíssimo, que nunca mais iria abandoná-la. Mergulhou de cabeça no repertório de Kurt Weill em 20th Century Blues, e gravou vários LPs alternando canções próprias com outras de seus amigos Tom Waits e Nick Cave. Em No Exit ela passa sua carreira a limpo numa apresentação ao vivo impecável, e mostra que sua voz, bastante combalida com os excessos dos anos selvagens, ainda consegue passear por seu velho repertório com sua integridade musical intacta. Uma artista carismática, intensa e absolutamente verdadeira.




RICHARD THOMPSON
ACOUSTIC CLASSICS II
(Beeswing)

Richard Thompson é um artista que dispensa apresentações em qualquer canto do mundo -- menos aqui no Brasil, onde nunca teve um
disco lançado. Membro fundador do seminal grupo de folk-rock britânico Fairport Convention, Mr. Thompson desenvolve há 46 anos um trabalho que desafia convenções e rótulos, mesclando em sua guitarra toques de jazz e de música erudita com influências de rock, blues, folk e música oriental. Nunca deixou de ser um cult artist, até porque nunca aceitou se adequar aos requisitos do mercado. Bem que tentaram promovê-lo perante um público mais amplo no final dos Anos 80, mas não funcionou direito. Mr. Thompson já tinha um público cativo extenso àquela essa altura do campeonato. Na medida em que sua integridade artística e sua liberdade criativa sempre foram fatores inegociáveis, e ele estava satisfeito com o que havia conquistado até então, não fazia o menor sentido abrir mão disso. Graças a essa teimosia, Mr. Thompson produziu alguns dos discos mais festejados pela crítica nos últimos 46 anos, como I Want To See The Bright Lights Tonight (1974) e Shoot Out The Lights (1982), ambos com sua ex-mulher Linda Thompson –, ou os trabalhos solo Hand Of Kindness (1983), Across A Crowded Room (1985) e Daring Adventures (1986), todos dignos de figurar em qualquer antologia de melhores LPs desse período. Nos últimos dois anos, Mr. Thompson decidiu se dedicar a desenvolver releituras acústicas de seu extenso repertório, e já está no segundo volume da série. Tudo indica que isso é apenas o começo, e que vem mais por aí. Os dois primeiros LPs da série Acoustic Classics lançados até agora servem tanto como uma curiosidade para os fãs de longa data quanto como uma introdução ao universo musical desse artista gigantesco, ainda que absolutamente desalinhado.




CHICO MARQUES
é comentarista,
produtor musical
e radialista
há mais de 30 anos,
e edita a revista cultural
LEVA UM CASAQUINHO
e o blog musical
ALTO & CLARO 


terça-feira, abril 07, 2015

VAN MORRISON PRODUZ UM DISCO DE DUETOS QUE É TUDO MENOS FROUXO E PREVISÍVEL.



Van Morrison faz 70 anos de idade este ano.

Quando um artista chega a essa faixa de idade, fica mais e mais difícil chegar em alguma gravadora com um projeto para um disco novo em mãos, pois essa gravadora certamente irá encaminhá-lo à "divisão de projetos especiais", que, por sua vez, vai propor a este artista -- até porque não sabe fazer outra coisa -- um disco de duetos, com canções antigas recicladas e convidados estelares. 

Pois bem: chegou a vez de Van Morrison ter que gravar o seu disco de duetos, com canções antigas recicladas e convidados estelares. 

E como não podia deixar de ser, ele fez isso de uma maneira completamente honesta e inusitada, o que fica claro no título seco, curto e grosso do disco: "Duets: Re-Working The Catalogue" (um lançamento RCA). 

Em outras palavras: Sem firulas, please!




Para a surpresa geral, acho que inclusive da sua gravadora, todas as canções mais conhecidas de Morrison -- "Brown Eyed Girl", "Domino", "I've Been Working", "Moondance", "Caravan", "Wild Night", "Jackie Wilson Said", "Have I Told You Lately" -- ficaram de fora de "Duets: Re-Working The Catalogue"

As canções escolhidas são todas, ou quase todas, "album tracks" pouco conhecidas, pinçadas dos discos que ele gravou de 1980 para cá, logo após seu breve estrelato nos Anos 1970.

O critério para essas escolhas de canções aparentemente foi determinado em comum acordo com os artistas escolhidos para contracenar com ele.

Joss Stone, por exemplo, já cantava "Wild Honey" em seus shows, e agora teve a chance de cantá-la ao lado do autor Van Morrison -- o que a deixou lisonjeada, com certeza, mas deixou, antes de mais nada, nosso baixinho irlandês completamente encantado por ela, por seu talento, seu tamanho e sua gostosura. Quem não vibra com mulheres grandalhonas que atire a primeira pedra...

Simbiose semelhante acontece em "Irish Heartbeat", que Mark Knopfler incluiu nos shows de sua última tournée, dois anos atrás. Aqui, nesse dueto com Morrison, aflora uma delicadeza ímpar, onde predomina uma serenidade folk-pop a toda prova.

Em "Born To Sing", um número bem mais truculento, o lendário cantor inglês Chris Farlowe, com quem Morrison rivalizava em meados dos Anos 60 nas paradas inglesas, une forças a  ele e os dois praticamente reivindicam a mesma profissão de fé com suas vozes possantes e encorpadas.

Algo semelhante acontece em "Whatever Happned to P J Proby", número composto dez anos atrás, em que Morrison evoca um grande cantor da década de 1960 que desapareceu por completo da Cena dos Anos 1980 para cá. Pois não é que Morrison localizou P J Proby, e os dois juntos gravaram uma versão definitiva para essa canção?

São gravações assim que fazem de "Duets: Re-Working The Catalog" um ítem complementar muito interessante na discografia de Van Morrison.




Mas "Duets: Re-Working The Catalogue" ainda reserva outros momentos gloriosos, como "How Can A Poor Boy" ao lado de Taj Mahal, ou "Some Peace Of Mind" com o saudoso Bobby Womack, ou ainda "Lord If I Ever Needed Someone" com a magnífica Mavis Staples, que leva nosso querido Mr. Morrison direto aos céus nas asas de um anjo negro.

Se eu, pessoalmente, tiver que escolher uma favorita, fico com "Fire In The Belly", onde Morrison e Steve Winwood trafegam pelo inesgotável território da soul music que ambos sempre souberam defender tão bem.

"Duets: Re-Working The Catalogue" é o trigésimo quinto disco de Van Morrison, e não é um ítem fundamental na sua carreira, e nem pretende ser. Mas é, com certeza, o disco de duetos mais honesto, vibrante e satisfatório que você já ouviu em muitos e muitos anos.

Tentaram empacotar Van Morrison à sua revelia. Não conseguiram. 

Aos quase 70 anos de idade, ele continua indomável.

Van Morrison é a prova derradeira de que Deus não só existe, como é Irlandês.












AMOSTRAS GRÁTIS

quinta-feira, agosto 02, 2012

O LONGO CAMINHO DE VOLTA DE KEVIN ROWLAND E OS DEXYS MIDNIGHT RUNNERS


Em meio à efervescência pós-punk do final dos anos 70, havia uma banda de Birmingham com um cantor irlandês que reciclava o folk celta com o soul americano com uma receita ligeiramente diferente da que Van Morrison e o grupo Them haviam usado nos anos sessenta -- só que com resultados tão explosivos e expressivos quanto.

Essa banda era o Dexys Midnight Runners do guitarrista Al Archer e do tecladista Mick Talbot, mas principalmente do cantor, compositor e gênio pop Kevin Rowland, que idealizou o conceito da banda, mantendo-a funcionando de forma brilhante por três discos magníficos gravados num período de 5 anos extremamente turbulentos

O Dexys começou com dez integrantes e uma série de compactos poderosos para a EMI que emplacaram mundialmente nas paradas -- "Geno, "Burn It Down" --, além de um LP absurdamente vigoroso chamado "Searching for the Young Soul Rebels" (1980), que saudava de forma eloquente a herança soul americana nas Ilhas Britânicas.

Para o segundo disco, já na Mercury Records, Kevin Rowland aproximou o Dexys ainda mais de seu mentor Van Morrison injetando uma dose cavalar de folk celta no som da banda e um toque pop que refinou o som bruto dos Dexys, sem jamais deixar o suingue de lado -- e isso gerou "Too Rye-Aye" (1982), um dos discos fundamentais daquele período.


Mas a essa altura do campeonato, a fama de perfeccionista temperamental de Rowland já tinha chegado à diretoria da gravadora, que não se conformava com o fato dele gastar tanto tempo e tanto dinheiro em estúdios de gravação, além das quedas de braço constantes entre ele e executivos de empresas financiadoras deixaram um histórico de desavenças e contas a pagar que por pouco não arruinaram o terceiro disco da banda, "Don´t Stand Me Down" (1985), que, apesar de tudo, conseguiu ser ainda mais refinado e denso que os trabalhos anteriores -- em parte pelo apoio luxuoso do ex-pianista do Atomic Rooster, Vincent Crane, convocado para substituir Mick Talbot, que saiu do Dexys para se juntar a Paul Weller no igualmente genial Style Council.

Mas, infelizmente, o Dexys estava tão desgastado a essa altura do campeonato que todos os integrantes abandonaram o barco em meio a uma tournée desastrada, pois não suportavam mais conviver com Kevin Rowland.

Paralelo a isso, a Mercury tentou impor um método de trabalho menos dispendioso para Rowland -- uma criatura totalmente perdulária, diga-se de passagem -- e levou um não pela cara.

Um não que acabou custando muito caro para Kevin Rowland.

Nesses últimos anos, Rowland permaneceu atrelado a um contrato leonino com a gravadora, que lançou mais dois discos solo -- "The Wanderer" (1988) e "My Beauty" (1999) --, que, apesar de ótimos, não vingaram e o afundaram ainda mais em dívidas e em drogas.

Por tudo isso, em 2005, quando começou a correr por aí a notícia de que Rowland estaria reformando o Dexys Midnight Runners com vários integrantes originais para gravar um novo disco, todos os admiradores da banda, habituados com o processo criativo demorado de Kevin Rowland, acharam por bem esperar sentados.




Pois agora, finalmente, "One Day I´m Going To Soar", o disco de retorno do Dexys Midnight Runners vê a luz do dia, e a sensação que isso desperta é bastante estranha.

Primeiro por conta da leveza do projeto e da pegada suave e envolvente das novas canções, que oscilam entre o smooth soul de Marvin Gaye e um jeitão pop dance hall bem distante do despojamento dos dois primeiros discos da banda.

(detalhe: esse conceito light da banda original se estende ao nome, que agora está reduzido a Dexys)

E segundo porque o resultado é ótimo.

Eu confesso que fiquei relutante a princípio, achando que Rowland havia diluído o som dos Dexys a um nível perigoso, afastando-o demais de sua proposta original e desprezando elementos que talvez fossem o que a banda tinha de melhor. Mas não. A essência dos Dexys permanece intacta. Só a moldura do quadro está meio diferente.

Kevin Rowland está cantando melhor do que nunca. Mick Talbot está de volta ao piano com um toque que lembra mais o Style Council do que propriamente seu trabalho prévio com o Dexys. A nova cantora Madeleine Hyland é simplesmente espetacular. As canções são todas excelentes, costuradas pelo tema recorrente "Now", que resgata a velha combinação da sessão de metais soul com violinos celtas que é a marca registrada do som do Dexys, deixando que nuances musicais variadas tragam um recheio diferente para o disco.

Não é o caso de destacar um número ou outro. "One Day I´m Going To Soar" é admirável, e estranhamente perfeito. Tanto quanto os 3 trabalhos anteriores dos Dexys.


O Dexys pretende sair em tournée mês que vem pela Inglaterra para promover "One Day I´m Going To Soar", dessa vez sem o stress que marcou as relações pessoais deles nos anos 80..

Quem conhece o histórico deles sabe o quanto o dia a dia de uma tournée pode ser temeroso, e que as chances da banda não conseguir sobreviver a uma tournée são altíssimas.

Resta torcer para que Kevin Rowland esteja mais tranquilo com a idade, agora distante do álcool, da cocaína e da trip de popstar que diversas vezes fez com que ele não sentisse mais o chão, passando anos e anos privando a todos de seu enorme talento.

"One Day I´m Going To Soar" é o resgate à cena principal de um dos maiores artistas musicais que a Grã-Bretanha já produziu, e havia se perdido.

Tomara que, dessa vez, o retorno de Kevin Rowland seja para valer.

  
BIO-DISCOGRAFIA
 http://www.allmusic.com/artist/dexys-midnight-runners-mn0000251361

WEBSITE OFICIAL
http://dexys.info/

AMOSTRAS GRÁTIS