terça-feira, dezembro 04, 2012

PARA QUEM NÃO ACREDITA QUE EXISTE JAZZ E RHYTHM & BLUES INSTRUMENTAL NO TEXAS, AQUI VAI A PROVA EM CONTRÁRIO


Existe uma linha tênue que separa o rhythm & blues instrumental do jazz.

São dois conceitos que se confundem com alguma facilidade, mas que tem caras muito definidas.

O rhythm & blues instrumental trabalha com números musicais de, no máximo, 4 minutos de duração. Os improvisos, portanto, não podem se prolongar demais, e quase sempre são divididos entre dois solistas da banda -- preferencialmente sax e guitarra, ou sax e piano, ou os 3 juntos. Por mais habilidosos que sejam os músicos, esses improvisos nunca podem se afastar demais da linha melódica do tema principal.

É para funcionar como single, compacto. E tem que ser dançável. E assoviável. É para tocar no rádio.

O rhythm & blues instrumental nunca teve grande respeito no meio do jazz, mas sempre serviu como uma salvaguarda financeira abençoada para muitos jazzístas.

Illinois Jacket que o diga.

Sua banda, uma das mais famosas e requisitadas do gênero entre os anos 40 e os anos 60, tocava mais de 200 noites por ano pelos Estados Unidos lotando salas de cinema e dancehalls, sem a menor frescura e o menor purismo.

Com a chegada dos anos 60, e a explosão de bandas pop instrumentais como The Ventures e Booker T & The MGs, muitos músicos que tocavam com o pessoal do rhythm & blues decidiram arriscar carreiras solo.

De todos eles, os mais bem sucedidos foram o guitarrista Grant Green, o tecladista Les McCann e, claro,  o fabuloso saxofonista King Curtis, que conseguiu a proeza de virar unanimidade entre o pessoal do jazz, do rock, do blues e da soul music, trazendo para o rhythm & blues instrumental uma respeitabilidade nunca almejada pelos praticantes do gênero -- e que, um pouco mais adiante, já nos anos 70, ajudaria a abrir as portas para carreiras igualmente vitoriosas de artistas jovens como Grover Washington Jr, David Sanborn, Larry Carlton, e vários outros.

Pois bem; o veterano saxofonista tenor Mike Sweetman, comandante de uma banda espetacular chamada The Southside Groove Kings, é uma figura carimbada da pluralíssima cena musical de Austin, Texas -- que consegue comportar tanto artistas de country music e blues quanto manifestações pop incomuns e alguns jazzistas com um trabalho bastante original, fora as manifestações inclassificáveis de praxe.

Esse seu único disco, "Austin Backalley Blue", gravado 20 anos atrás para o selo independente Wildchild, apareceu nos últimos meses entre os relançamentos de jazz e surpreendeu a todos os que tiveram a curiosidade de ouví-lo.

Nele, sua banda, composta de outros músicos de estúdio texanos, rasgata de forma brilhante uma série de sonoridades que infestaram o sul dos Estados Unidos 50 anos atrás, e depois desapareceram do mapa, eclipsadas pelo advento da soul music.

Dizer que "Austin Backalley Blue" é espetacular é chover no molhado. Nunca ouvi uma versão mais desengonçada e bem humorada de "Harlem Nocturne" quanto a desse disco. Perfeita também a releitura de "Looking Good", um dos números favoritos do grande Magic Sam. E o que dizer da abertura vigorosa com "Jest Smoochin'", já saudando de cara a herança musical de King Curtis?.

Só espero que essa banda espetacular ainda exista, e que Mike Sweetman esteja em forma para poder usufruir do frisson que anda rolando por conta do relançamento dessa pérola esquecida: "Austin Backalley Blue", um disco de tirar o chapéu.

E acredite: isso no Texas não é pouca coisa.


Dessa vez, não temos amostras grátis no YouTube, nem referências bio-discográficas, dada a natureza obscura deste disco. Mas dá para escutar alguns trechos dele no website da Mapleshade Records.

Divirtam-se: http://www.mapleshaderecords.com/cds/02752.php





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