sexta-feira, abril 12, 2013

RAPIDINHAS: Duke Robillard, Ronnie Earl, 4 Jacks, Bobby Rush, Big Bill Morganfield


Tem muita gente por aí que ainda vê o Blues nos dias de hoje como “aquele idioma musical restrito tocado por negros pobres que não tiveram a chance de aprender a tocar jazz”.

Assim como muita gente insiste em afirmar que Blues é “música de gente sofrida, válvula de escape para os dramas diários de gente triste.

Sim, e tem ainda aqueles tradicionalistas die-hard que bradam de boca cheia que “só os negros são capazes de entender o verdadeiro sentimento do Blues”.:

Pois bem: os três primeiros discos comentados aqui são de brancos e dois últimos de negros -- todos artistas de primeiro time, bem sucedidos comercialmente e nada ortodoxos em termos musicais.

Ou seja: cinco pesadelos para esses pobres equivocados que adoram cultivar frases prontas e lugares comuns.

Com vocês, a alma do blues moderno.

Divirtam-se


DUKE ROBILLARD BAND
Independently Blue 
(Stony Plain) 

O veterano guitarrista e produtor Duke Robillard é um dos músicos mais completos da cena americana dos últimos 45 anos, desde que iniciou sua carreira à frente do grupo Roomful of Blues. Trafega pelo blues e pelo rhythm and blues com a mesma destreza com que investiga o jazz e o rock and roll, e é um band-leader de mão cheia. Durante muito tempo, apostou suas fichas em discos temáticos que, se por um lado, mostravam que ele era capaz de mergulhar fundo em diversos idiomas musicais sem perder sua identidade musical, por outro empacotavam a ele e sua banda de forma um tanto quanto incômoda. Aqui, no entanto, nesse novo disco, “Independently Blue”, Duke e sua banda chutam na direção oposta e apostam todas as fichas na diversidade das composições e na versatilidade das abordagens musicais. E o resultado disso é surpreendentemente positivo. São doze faixas, em que o rhythm and blues e o blues rasgado dão o tom a maior parte do tempo. Mas sempre permitindo ousadias, como a deliciosa balada jazzy “You Won’t Ever” e uma homenagem a Cab Calloway na colorida “Patrol Wagon Blues”, de autoria do convidado especial Monster Mike Welch, que veio para fazer uma participação especial e acabou se integrando à banda e tocando no disco inteiro. Vocês sabem, o blues tem dessas coisas...


RONNIE EARL & THE BROADCASTERS
Just For Today
(Stony Plain) 

Ronnie Earl surgiu na cena musical em 1979, substituindo Duke Robillard como guitarrista do Roomful Of Blues. Ficou apenas 5 anos por lá – tempo suficiente para perceber que não iria conseguir crescer muito musicalmente numa banda dominada por uma sessão de metais, e também que tinha fôlego para alçar um vôo solo. Foi quando se auto-promoveu a band-leader e -- sempre à frente de sua banda, The Broadcasters -- iniciou uma das carreiras mais espetaculares que um guitarrista de blues já ousou fazer, trafegando por diversos gêneros musicais e sempre mesclando blues e jazz de forma intensa e apaixonada. “Just For Today”, seu novo álbum ao vivo, é mais um desses deliciosos showcases musicais, com doze números instrumentais gravados em sua última tournée, onde há espaço tanto para uma releitura intrincadísima de “Equinox”, de John Coltrane, quanto para homenagens a seus heróis musicais Otis Rush (“Rush Hour”), Hubert Sumlin (“Blues For H.S.”) e Robert Nighthawk (“R. H. Stomp”). A grande surpresa fica por conta da cantora (extraordinária) Diane Blue, que faz uma releitura precisa de “I’d Rather Go Blind” que acaba servindo como um tributo à inesquecível Etta James. É a 13ª e única faixa não-instrumental nos exatos 80 minutos de duração de “Just For Today”, um disco ao vivo exemplar.


4 JACKS
Deal With It 
(EllerSoul) 

Desde a morte de seu velho parceiro musical, o blues shouter Sam Myers, em 2006, o grande guitarrista texano Anson Funderburgh andava meio sem rumo. Sua banda, The Rockets, foi temporariamente desativada, e ele passou a vagar pelas bandas de amigos em busca de algum sentido para sua carreira. Choveram convites para gravar discos solo. Anson descartou todos eles, e seguiu participando de gigs com praticamente todo mundo na cena do blues. Numa dessas brincadeiras, ele encontrou um irmão musical no ótimo pianista Kevin McKendrea, e os dois tomaram emprestado a cozinha da banda de Delbert McClinton -- o baixista Steve MacKey e o baterista Big Joe Maher -- para tentar esboçar um projeto em grupo. Daí nasceram os 4 Jacks, a superbanda instrumental mais low-profile do blues atual, batizada em homenagem ao saudoso trio The Aces – dos lendários irmãos guitarristas Louie e Dave Myers, mais o baterista Fred Below. O som dos 4 Jacks, no entanto, não tem nada a ver com o Chicago Blues classudo dos Aces. A música deles é, na verdade, a cara do Texas: suingada e seca, colorida e ríspida, urgente e atemporal, tudo ao mesmo tempo agora. “Deal With It” mescla de forma notável todas as vertentes musicais que formam a música do sul dos Estados Unidos, e marca a volta triunfal desse guitarrista fabuloso, Anson Funderburgh, ao que sabe fazer de melhor: romper fronteiras e estabelecer novos parâmetros musicais.


BOBBY RUSH
Down In Louisiana
(Deep Rush) 

Aos 77 anos de idade, eis que Bobby Rush decide se reinventar em seu 22º LP solo: “Down In Louisiana”, que marca o retorno triunfal desse grande cantor e multinstrumentista conhecido no mundo inteiro a suas raízes musicais nos pântanos da Louisiana. Não que ele tenha abandonado o conceito musical do “folkfunk”, seu grande difencial musical, desenvolvido ao longo de toda a sua carreira. A diferença é que aqui, em “Down In Louisiana”, Rush está trabalhando com uma banda menor, e com acordeons onde antes haviam sessões de metais. E o resultado é vigoroso, um passeio musical pela alma da música da Louisiana. Não é nenhum exagero afirmar que Bobby Rush rejuveneceu 20 anos nesse disco, o danado está com a corda toda. Os destaques ficam para as desbocadas “You Look Like A Dresser” e “Bowlegged Woman”, que devem ficar ainda mais divertidas em suas performances ao vivo.


BIG BILL MORGANFIELD
Blues With A Mood 
(Black Shack) 

Muddy Waters deixou uma quantidade enorme de filhos pelo mundo, e vários tentaram seguir seus passos como artista de blues. De todos eles, só Big Bill Morganfield demonstrou ter talento para tanto. Big Bill tem um timbre vocal semelhante ao de seu pai, ainda que um pouco mais suave, e não se importa de vez ou outra passear pelo repertório clássico dele. Mas faz questão de desenvolver um trabalho extremamente pessoal, tanto como compositor e intérprete quanto como instrumentista. Esse é seu sexto disco, talvez o melhor até agora. Em “Blues With A Mood”, Big Bill recebe grandes artistas formados pelo seu pai participando como sidemen, e o resultado musical disso é sempre caloroso e acolhedor. Os destaques vão para 3 ótimas composições de Big Bill: as divertidas “No Butter For My Grits” e “Money’s Getting Cheaper”, e a autobiográfica “Son Of The Blues”, que fala francamente sobre a bênção e a maldição de ser filho do maior artista de blues de todos os tempos. Mas Big Bill Morganfield nem sonha em jogar a toalha e largar essa vida. Pelo contrário, faz dessas adversidades matéria prima para sua música. Que melhora a cada disco.


AMOSTRAS GRÁTIS

DUKE ROBILLARD BAND
http://www.dukerobillard.com/

RONNIE EARL AND HIS BROADCASTERS WITH DIANE BLUE
 http://www.ronnieearl.com/

ANSON FUNDERBURGH AND THE ROCKETS WITH KIM WILSON
http://www.myspace.com/ansonfunderburghandtherockets

BOBBY RUSH 
http://www.songkick.com/artists/408475-bobby-rush
BIG BILL MORGANFIELD 
http://bigbillmorganfield.net/
 

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