sexta-feira, junho 20, 2014

JOHN LURIE CONVIDA VOCÊ A PESCAR SURPRESAS MUSICAIS INUSITADAS E SABOROSAS


Quem não queria ser John Lurie nos Anos 80?
Verdade seja dita: não havia ninguém mais cool do que ele no meio do showbiz novaiorquino. 
Como ator, ele arrasava em performances inesquecíveis nos primeiros filmes de Jim Jarmush, "Stranger Than Paradise" e "Down By Law", que fizeram dele um "instant darling" do cinema independente da época.
Como pintor, é altamente gabaritado, e seus quadros estão presentes em museus e galerias do mundo inteiro. Já lançou dois livros com suas obras: "Learn To Draw" (2006), que reúne seus desenhos em preto e branco, e "A Fine Example Of Art" (2008), com 80 pinturas a óleo de sua produção recente. 
Já como personalidade de TV, Lurie criou, produziu e estrelou o talk-show mais insólito de todos os tempos: "Fishing With John", onde pescava e conversava fiado com amigos como Dennis Hopper, Tom Waits e Willem Dafoe. Num dos episódios -- foram produzidos apenas 6 deles -- ele ensina como pescar tubarões com uma pistola automática.
E como saxofonista do grupo The Lounge Lizards, John Lurie sempre desafiou classificações. A mais certeira delas talvez tenha vindo de Robert Palmer, do The New York Times, que escreveu certa vez que "Lurie explora novos territórios musicais à Oeste de Charles Mingus e à leste de Bernard Herrman".

The Lounge Lizards era uma banda muitíssimo especial.
Sempre ao lado de seu irmão, o talentoso pianista e band-leader, John desenvolveu conceitos musicais incomuns, que irritavam tanto os jazzistas mais ortodoxos quanto o pessoal do jazz fusion mais cerebral. Incomodados com o sucesso do grupo, diziam por aí que a música dos Luries era inconsequente e pouco séria. Para John e Ethan, no entanto, isso soava quase como um elogio.
Na falta de um rótulo melhor, The Lounge Lizards acabaram sendo abençoados pela Imprensa especializada sob o rótulo "punk-jazz" -- uma tolice, sem dúvida, mas uma tolice inofensiva, que acabou fazendo bem à banda, ampliando seu público e evitando que ficasse restrita ao meio do jazz que a hostilizava com um sorriso nos lábios.
Durante exatos 20 anos, o grupo virou o jazz novaiorquino de ponta cabeça, e exibiu em suas formações artistas tão inclassificáveis quanto os irmãos Lurie: os guitarristas Arto Lindsay e Marc Ribot, os bateristas Grant Calvin Weston e Billy Martin, os baixistas Eric Sanko e Tony Garnier, além do saxofonista Michael Blake e o trumpetista Steven Bernstein.
E então, em 1999, Lurie estreou solo de forma inusitada com um projeto entitulado "The Legendary Marvin Pontiac Greatest Hits", em que apresentava aos americanos a suposta obra de um grande compositor africano de origem judaica completamente desconhecido na Europa e na América, que, depois de uma vida difícil e cheia de perseguições e maus tratos, teria enlouquecido e abandonado sua carreira. Era um disco estranhíssimo, mas bom. Pela primeira vez, John cantava num disco. Gente como David Bowie e Leonard Cohen saudou a iniciativa e aplaudiu a iniciativa.
Mas então, para surpresa de todos -- inclusive da gravadora, dos produtores e dos músicos envolvidos no projeto -- ficou comprovado mais tarde que Marvin Pontiac nunca existira. Era apenas um personagem fictício criado por John Lurie. Pegou mal com todo mundo. Foi aí que começou a correr um boato de Lurie estaria perdendo a razão. 
Na verdade, Lurie havia sido diagnosticado com Lyme, uma doença autoimune transmitida por um carrapato comum em veados e ursos no Hemisfério Norte, que provoca desarranjos neurológicos crescentes em seres humanos. Por conta dela, Lurie anda com dificuldade e não consegue mais atuar nem tocar saxofone.

Mas consegue pintar.

E, de 15 anos para cá, vem pintando cada vez melhor. 
John Lurie mora e trabalha há alguns anos numa casa em Big Sur, California, onde recebe apenas dois amigos: o baixista Flea, do Red Hot Chili Peppers, e o ator e diretor Steve Buscemi.

Por tudo isso, o lançamento de um disco com gravações inéditas e pouco conhecidas da John Lurie como esse "The Invention Of Animals" é extremamente bem-vindo.
Eu confesso que fiquei um pouco assustado quando li que a John Lurie National Orchestra que assina o disco é na verdade um spin-off um tanto quanto excêntrico dos Lounge Lizards -- apesar do nome pomposo, trata-se apenas de um trio, com Lurie nos saxofones e a dupla de bateristas Billy Martin e Calvin Weston.
Mas assim que comecei a ouvir o trio, ficou claro que não se tratam de solos contínuos de Lurie com a sessão rítmica correndo atrás dele, e sim de um trabalho de trio mesmo, com ritmo e melodia interagindo o tempo todo.
As faixas mais breves foram gravadas em estúdio e usadas como trilha incidental para o programa de TV "Fishing With John". Não há espaço para virtuosismos em nenhuma delas. São temas hipnóticos por excelência e estranhamente envolventes.
A grande surpresa do disco está nas duas faixas mais longas, gravadas ao vivo num nightclub novaiorquino, que revelam um trio poderoso que não cansa de testar os limites do formato, sempre evitando cair na armadilha de permitir que os indivíduos se sobreponham ao conjunto.






"The Invention Of Animals" faz par com 'Men With Sticks" (1993), único disco anterior da John Lurie National Orchestra, e é um experimento bem mais radical que os Lounge Lizards, mas nada inacessível. 
O que temos aqui é apenas música leve, envolvente, cativante e bem-humorada.
Se você é daqueles que não consegue dissociar música inteligente de música cerebral, prepare-se para rever alguns conceitos com esse delicioso "The Invention Of Animals": um posfácio brilhante para a carreira de um músico absolutamente único e inimitável: o caçador de tubarões John Lurie.

WEBSITE PESSOAL 
http://johnlurieart.com/

DISCOGRAFIA SOLO
http://www.allmusic.com/artist/john-lurie-mn0000196826/discography

DISCOGRAFIA THE LOUNGE LIZARDS
http://www.allmusic.com/artist/the-lounge-lizards-mn0000757665/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

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