quarta-feira, abril 01, 2015

"TRACKER": MAIS UM BELO TRIUNFO ARTÍSTICO, ASSINADO COM ORGULHO POR MARK KNOPFLER


Mark Knopfler é um cara admirável.

Podia perfeitamente estar faturando até hoje em cima de seu passado glorioso à frente dos Dire Straits, fazendo tournées com seus ex-companheiros de banda e mantendo sua carreira solo mais próxima do gosto dos fãs mais conservadores -- que idolatram os Straits, mas se mantém refratários a seu trabalho atual.

O caso é que Mark prefere a aventura, e faz questão de correr riscos apostando em trabalhos às vezes conceituais e complexos, outras vezes um pouco mais prosaicos, mas nunca previsíveis.

Quem viu Mark em tournée ao lado de Emmylou Harris sabe bem do que estou falandosabe bem do que estou falando. Com ela, ele mergulhou tão fundo na alma da country music que não sossegou enquanto não atingiu resultados tão relevantes artisticamente quanto os que Gram Parsons experimentou ao lado da mesma Emmylou no início dos Anos 1970.



Três anos atrás, Mark surpreendeu a todos com um álbum duplo intenso e ambicioso chamado "Privateering", onde mergulhou fundo nas diversas sonoridades que compõem o que se convencionou chamar de Americana. 

Com isso, conseguiu uma proeza admirável: chegou ao topo das paradas inglesas com um trabalho introspectivo, soturno e de acesso nada fácil às emissoras de rádio. 

Pior: deu sustentanção a essa inusitada popularidade através um uma tournée prolongada, onde empurrou goela abaixo do público ranheta dos Dire Straits suas novas canções.



Agora, aos 65 anos de idade, Mark Knopfler está de volta com um novo disco mais prosaico e de apelo um pouco mais imediato, chamado simplesmente "Tracker" (um lançamento Verve Records), e composto por apenas 11 canções, todas de sua autoria.

Como o próprio nome do disco já indica, os temas das canções são novamente nostágicos e introspectivos, só que dessa vez a atitude de Mark é bem diferente: ele olha para trás para vislumbrar os rastros que deixou e as pessoas que mais o marcaram, que agora fazem parte de seu passado.

Um belo clássico disso é "Basil", uma canção extremamente delicada sobre sua amizade de longa data com o poeta Basil Bunting, com quem trabalhou nos anos 1970 no jornal The Newcastle Evening Chronicle.

Outro exemplo interessante é "Beryl", sobre sua afeição pela prolífica romancista inglesa Beryl Bainbridge, que esteve no páreo para ganhar o Booker Prize desde o início dos Anos 1970, mas só foi recebê-lo agora, em 2010, um ano depois de sua morte. 

Existe alguma alegria em "Tracker", mas é uma alegria contida, em tom menor, como a que permeia "Laughs And Jokes And Drinks And Smokes", faixa de abertura do disco,  aparentemente sobre os primeiros anos à frente dos Straits, antes da banda emplacar mundialmente no primeiro LP. É também o caso de "Long Call Girl", uma canção de amor delicada e serena, e de "River Towns", um adorável peaaseio pelo countryside da boa e velha Inglaterra. E, claro, tem ainda números intensos como "Skydiver" e "Mighty Man", ambas com a marca inconfundível do mesmo grande compositor de clássicos como "Love Over Gold" e "Why Worry".

Mark Knopfler fecha o disco com um número belíssimo chamado "Wherever I Go", onde ele divide a cena com Ruth Moody, do trio canadense The Wailin’ Jennys, com resultados tão emocionantes que dá vontade de recomeçar a ouvir o disco desde o início.



"Tracker" é um triunfo considerável para a carreira solo em tom menor de Mark Knopfler.

Com esse disco, ele prova que não precisa ter um projeto ambicioso em mãos, como "Privateering", para conseguir voar alto: basta dispor uma coleção de canções magníficas bem encadeadas, bem executadas, e exemplarmente produzidas como essas.

Simples, não?

Em última análise, "Tracker" é um disco extremamente verdadeiro da primeira à ultima faixa, um belíssimo trabalho, de altíssimo gabarito -- se não fosse, com certeza não levaria a assinatura de Mark Knopfler na capa.





DISCOGRAFIA COMENTADA

AMOSTRAS GRÁTIS





Um comentário:

Unknown disse...

Comentário magnífico do disco do Knopfler e de todos os discos deste blog. Tenho escutado muito os discos do Mark carreira solo e todos são muito legais.