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quarta-feira, dezembro 03, 2014

T-BONE BURNETT FAZ COM QUE BOB DYLAN TENHA 26 ANOS DE IDADE NOVAMENTE EM 2014


T-Bone Burnett é um cara admirável.

Desde os tempos da Alpha Band nos anos 70, passando por sua carreira solo brilhante a partir dos anos 80, ele sempre gostou de encarar desafios complicados -- fosse como cantor-compositor-arranjador-guitarrista, ou apenas como produtor.

Parceiro musical de Bob Dylan desde os tempos da Rolling Thunder Revue, Burnett recebeu ano passado um desses desafios complicados, e adorou..

Dylan entregou a ele um pacote com cerca de 50 letras escritas -- mas não musicadas -- quando tinha 26 anos de idade, na ocasião de seu retiro na Casa de Woodstock com The Band, que gerou os festejados "Basement Tapes" em 1967.

Missão: montar uma espécie de banda de ocasião com artistas de relevo que topassem pegar aquelas letras escritas 47 anos atrás e não apenas transformá-las em canções, mas envolvê-las num projeto que pudesse soar sereno e grandioso, como uma versão revista e atualizada dos seus 'Basement Tapes".

Burnett gostou da idéia e encampou o projeto, mas não quis se envolver nele como músico -- ao menos, não diretamente.

Assumiu a cadeira de produtor.

Escolheu a dedo vários artistas amigos.

E os convidou para uma aventura musical sem precedentes na história do rock and roll.



O time de compositores convocado por T-Bone Burnett é composto por sua alma gêmea Elvis Costello, mais Jim James (do My Morning Jacket), Marcus Mumford (do Mumford & Sons), Rhiannon Giddens (Carolina Chocolate Drops) e Taylor Goldsmith (The Dawes).

Todos seguiram não para o velho estúdio improvisado no porão da Casa Rosa de Woodstock, onde os "Basement Tapes' originais foram gravados, mas para o Studio One da Capitol em Los Angeles, California -- provavelmente, o melhor estúdio de áudio de todo o Planeta Terra.

Conforme os ensaios e as sessões quase coletivas de composição corriam, todos iam achando o tom certo para suas participações no projeto.

E, sem perceber, começaram a interagir uns com os outros de uma maneira quase fraternal, com um envolvimento bem semelhante ao que rolou entre Bob Dylan e The Band em 1967..

Elvis Costello explica que todos procuraram tratar o parceiro Bob Dylan como um integrante da banda com 26 anos de idade que, por motivo de doença, não estava presente ao estúdio naquele dia.

A partir daí, saíram buscando maneiras de interagir com ele através de seus escritos -- sem reverências de espécie alguma, apenas como um talentoso companheiro de trabalho.

E foi assim que conseguiriam desenvolver um projeto sem ranço nostálgico e sem a preocupação de ter que correr atrás daquele mesmo tom dos "Basement Tapes" originais, preservando a personalidade musical de cada um dos integrantes.

Uma das preocupações principais deles todos foi tentar não compor melodias usando os fraseados musicais que Dylan adota habitualmente nas suas canções.

Não foi muito fácil a princípio.

Mas, depois que acharam o Norte, a coisa toda seguiu às mil maravilhas.



Das 50 canções que Dylan enviou, 20 ganharam melodia e foram finalizadas para este belíssimo "Lost In The River - The New Basement Tapes"

A primeira audição já impressiona, e muito, tanto pela beleza e pela densidade das canções quanto pela grandeza artística do projeto.

É nesses momentos que fica clara a enorme diferença que faz ter alguém como T-Bone Burnett no comando.

Serenamente, ele facilitou para cada um dos integrantes da "banda" achasse mais rapidamente o seu papel no projeto, e permaneceu a maior parte do tempo do outro lado do vidro, acompanhando as coisas da mesa de gravação.

Não se preocupou em imprimir seu toque pessoal acima das contribuições dos participantes, e buscou como produtor aquela mesma organicidade musical que faz do seu trabalho como artista solo algo tão intenso.

É impressionante como "Lost In The River" cresce a cada audição, combinando talentos jamais combinados antes de forma genial.


É sempre bom lembrar que, antes dos "Basement Tapes", Dylan era um compositor solitário, que interagia com suas bandas apenas nos palcos, na hora de tocar.

Nos "Basement Tapes" ele, pela primeira vez, teve a chance de ter parceiros nas suas canções -- vide "This Wheel's On Fire", composta com Rick Danko, e "Tears Of Rage", composta com Richard Manuel, ambos de sua banda na ocasião -- e os resultados foram notáveis.

Há diversas canções em "Lost In The River" em que essa mesma simbiose artística acontece -- e isso, por si só, já revela o quanto essa aventura musical é preciosa.

Essas canções vem encadeadas de forma delicada e envolvente, o que ajuda a fazer de "Lost In The Flood" um sério candidato a maior e mais bem resolvida empreitada musical do ano.

Como eu disse no início do texto, T-Bone Burnett é um cara admirável.

É o único produtor de discos que Bob Dylan nunca conseguiu levar à loucura.

Acreditem: não é pouca coisa..



WEBSITE OFICIAL
http://www.thenewbasementtapes.com/

AMOSTRAS GRÁTIS

quarta-feira, maio 11, 2011

INDEPENDÊNCIA OU MORTE, COM THE FLEET FOXES E MY MORNING JACKET (por Chico Marques)


Até bem pouco tempo atrás, a cena musical independente americana servia como trampolim para que jovens artistas chegassem ao “mainstream”.

Grupos hoje extremamente bem sucedidos como REM, Wilco e Phish ralaram um bocado fazendo o tradicional trabalho de formiguinha na promoção de discos e shows pelas rádios universitárias do país afora -- muitas vezes dormindo de favor na casa de amigos por absoluta falta de verba para bancar um hotel.

Nos últimos dez anos, no entanto, a crise na Indústria Fonográfica e o surgimento das novas medias eletrônicas forçaram a cena independente a mudar de cara.

Para muito melhor, diga-se de passagem.

Antes os produtores independentes se preocupavam em criar projetos ousados apenas na medida certa para chamar a atenção e conseguir rapidamente a bênção de algum executivo das grandes corporações musicais.

Hoje, diante da impossibilidade de qualquer artista independente virar um “million seller”, ninguém precisa mais sacrificar a natureza de seu trabalho bajulando executivos em troca de acesso ao estrelato.

Na verdade, esse fenômeno mercadológico começou muito antes da crise da Indústria Fonográfica. Basta rever o filme “Singles”, de Cameron Crowe, sobre a cena roqueira de Seattle no início dos anos 1990, para constatar que a prática de criar planejamentos mercadológicos visando autopromoção não é nenhuma novidade. A novidade é que passou a existir uma cena independente forte, viável e próspera. Capaz de abrigar as mais diversas manifestações musicais sem impor restrições ao processo criativo desses novos artistas.

Dois bons exemplos dessa nova tendência são os grupos americanos Fleet Foxes e My Morning Jacket.


O Fleet Foxes é, em princípio, um grupo de folk rock. Estranhamente surgido em Seattle, faz uma música leve e ensolarada que pouco ou nada tem a ver com a metereologia da cidade. Imaginem grupos de British Folk como o Fairport Convention ou o Steeleye Span usando vocalizações semelhantes às de Brian Wilson nas canções dos Beach Boys. Ou a superbanda californiana Crosby Stills Nash & Young cantando madrigais do Século XVI. Ou ainda Jon Anderson e Chris Squire reinventando “The Yes Álbum” num contexto totalmente folk. É mais ou menos por aí.


Mas a música dos Fleet Foxes está longe de ser apenas uma colcha de retalhos musical atemporal. Formado por músicos na faixa dos 25 anos de idade – Robin Pecknold no vocal principal e nas guitarras, além de Skyler Skeljet (guitarras), Brym Lumsden (baixo), Nicholas Peterson (bateria) e Chris Wellcott (teclados) --, eles produzem música acústica com um frescor e uma leveza difíceis de se encontrar hoje na cena folk. Seu liquidificador musical incorpora influências as mais diversas, como Elliott Smith, Bob Dylan e Judee Sill, a ponto de um crítico dizer que eles parecem ter iniciado seu trabalho em Laurel Canyon (na Grande Los Angeles) em 1970 e desabrochado só agora.


Seu primeiro LP surgiu em 2008, pelo selo Sub Pop, e foi seguido de uma tournée que fez muitos amigos pela Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia. Pois agora eles estão de volta com “Helplessness Blues”, uma nova coleção de canções delicadíssimas ainda mais envolventes que as que brilharam no LP de estréia da banda. É um trabalho extremamente ousado e bem produzido, que incorpora dissonâncias psicodélicas a arranjos musicais cada vez mais barrocos. Basta uma audição para perceber porque os Fleet Foxes estão a um milhão de anos de distância de outras bandas folk atuais, como o Mumford & Sons. A música deles é ousada, inusitada. Desafia definições, e, de tão prazeirosa e original, até inibe reflexões críticas. Não duvide: “Helplessness Blues” é um daqueles discos com o poder de clarear qualquer cotidiano sombrio, que ganham o ouvinte na primeira audição. Se você ainda não conhece os Fleet Foxes, experimente. O encanto musical dessa banda é irresistível.


Musicalmente falando, o My Morning Jacket é ainda mais aventuresco que os Fleet Foxes, mas sempre seguiu caminhos bem diferentes. Quando apareceram no final do século passado, queriam apenas tocar como o Crazy Horse e trafegar pelo universo musical de Neil Young. Mas eram de Louisville, Kentucky, e morriam de medo de ser classificados dentro do universo restritivo do rock sulista, moldado por bandas como Lynyrd Skynyrd. Daí, começaram a fazer experiências inusitadas, para tentar soar diferente de tudo o mais na cena musical, e a brincadeira deu bons resultados. O primeiro LP da banda chamou a atenção de pouca gente nos Estados Unidos. Mas, graças a uma pequena tournée européia feita na raça, o My Morning Jacket voltou para casa com boas críticas e novas perspectivas. Não demorou muito até conseguirem um contrato com um selo associado à RCA, e serem saudados como sendo da mesma linhagem aventuresca do Phish e do Wilco. Apesar de seu blend musical ficar mais estranho disco após disco -- mesclando desde Velvet Underground a Prince até country, folk, blues, reggae e rock progressivo --, é ao vivo que a banda se garante. E como se garante...

“Circuital” é o oitavo LP do My Morning Jacket, um atestado de maturidade musical para o My Morning Jacket. Dessa vez, nossos bravos rapazes se preocuparam em fazer um disco de estúdio que pudesse ser reproduzido ao vivo por inteiro, e que tivesse também o impacto inebriante de suas performances ao vivo. Daí, evitaram números com mais de 5 minutos de duração e apostaram na diversidade das novas canções. Impossível não ficar impressionando com baladas poderosas como “The Day Is Coming”, “Slow Slow Tune” e “Wonderful”, ou com números mais acelerados e bem humorados como “Holding On To Black Metal” e “You Wanna Freak Out” -- todas de autoria do líder da banda, o cantor e guitarista Jim James. Apesar de vários membros originais do My Morning Jacket não fazerem mais parte da banda, James consegue em “Circuital” manter a personalidade musical da banda preservada, sem sacrificar a criatividade dos novos integrantes. Convenhamos, não é tarefa das mais fáceis.


O sucesso de bandas como os Fleet Foxes e o My Morning Jacket na cena musical independente americana é sintomático de que -- enquanto as grandes gravadoras ainda apanham para tentar se ajustar às novas dimensões do mercado fonográfico – toda uma geração de novos artistas já achou a saída para o futuro da música gravada. O sonho dourado de estrelato foi descartado. O abismo do fracasso também. Permanece a música e o público. Cada vez menos distantes um do outro. Cada vez mais generosos um com o outro. Cada vez mais integrados um ao outro.

É sempre bom lembrar que a última vez que um fenômeno desse tipo aconteceu foi na segunda metade dos anos 1960, e os resultados estão aí até hoje.

O

HIGHLIGHTS
"HELPLESSNESS BLUES"






HIGHLIGHTS
"CIRCUITAL"