terça-feira, janeiro 31, 2006

A Fábula Maluca da Rhino Records (por Chico Marques)


Era uma vez, no final dos anos 70, uma loja de discos bem descolada no Santa Monica Boulevard, em Los Angeles, Califórnia.

Essa loja atendia clientes que procuravam avidamente por relíquias dos anos 50 e 60, discos de comédia e singles antigos, e apanhava para conseguir essas relíquias para eles, a peso de ouro.

Um belo dia, eles se tocaram que, se alí em Los Angeles havia tanto público para essas velharias maravilhosas, deveria haver muito mais no resto da América e do mundo.

Daí fundaram a Rhino Records, uma gravadora com uma proposta completamente anarquista, que se especializaria em licenciar material esquecido de grandes gravadoras para lançar em edições limitadas, para um público bem específico.

Montaram um departamento jurídico para cuidar da burocracia ligada ao licenciamento, e propuseram às gravadoras proprietárias dos fonogramas que tanto interessavam a eles uma espécie de permuta: eles não pagariam nada pelos fonogramas, mas em troca devolveriam às gravadoras esses mesmos fonogramas restaurados digitalmente – um processo muito caro na época, final dos anos 70, mas muito simples nos dias de hoje.

As gravadoras toparam, e foi assim que começou toda essa onda de relançar no mercado discos antigos remasterizados para digital, que hoje inundam as lojas.

Hoje, quase 30 anos mais tarde, o catálogo da Rhino só não é gigantesco porquê muitas edições esgotaram e não foram renegociadas com as gravadoras originais.

Mas a Rhino não ficou estagnada nesse segmento. Tratou de diversificar suas áreas de atuação, produzindo alguns de seus próprios lançamentos e comprando o acervo de algumas pequenas gravadoras que faliram.

Quase capotaram 15 anos atrás, quando as gravadoras grandes cresceram o olho para seu filão de mercado e pararam de licenciar as obras esquecidas de seus artistas com eles. Mas então, assinaram um acordo operacional com a Warner Bros. Records, e agora trabalham esclusivamente em reedições carinhosas do fabuloso catálogo internacional da WEA.

Querem saber qual o motivo dessa historinha?

Simples. As grandes gravadoras brasileiras, que há mais de 20 anos só querem saber de vender os “discos da estação”, finalmente descobriram que vale muito a pena relançar no mercado em cd velhos lps gravados originalmente nos anos 60 e 70, que sumiram das lojas há muitos anos.

De quebra, constataram o óbvio: que o custo de lançamento desses discos é quase zero, e que os piratas de esquina não demonstram ter o menor interesse nesses discos – e, portanto, eles só estão disponíveis para venda nas lojas e em sites na internet.

Ou seja, descobriram finalmente o que o pessoal da Rhino, aquela loja de discos de Santa Monica da nossa historinha, já havia sacado 25 anos atrás, e aplicado com ótimos resultados de mercado.

Isso tudo revela claramente a que ponto chega a falta de sensibildade de mercado desses executivos da nossa indústria fonográfica.

Não seria uma boa idéia a indústria contratar alguns desses lojistas descolados e transformá-los em executivos? Quem sabe assim elas conseguem sair do vermelho, e parar de praguejar contra a pirataria, os programas de troca de arquivos e outros fantasmas que eles não conseguem combater dos escritórios panorâmicos onde passam seus dias, bem distantes do público consumidor.

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