segunda-feira, maio 01, 2006

No princípio do britpop, havia o Echo (por Jotabê Medeiros para o Estadão)


Arctic Monkeys? Babyshambles? Yeah Yeah Yeahs? The Magic Numbers?

Tudo bandinha derivativa, essa é a grande verdade. Se você quer conhecer uma fonte original, suas preces foram atendidas: toca amanhã à noite no Credicard Hall o grupo inglês Echo & the Bunnymen (domingo será em Curitiba, no Master Hall, e na segunda no Rio, no Claro Hall).

Britpop, pop rock indie: rótulos assim nasceram e se cristalizaram a partir do som de grupos como o Echo & The Bunnymen, em atividade desde 15 de novembro de 1978, quando o grupo fez seu primeiro show em Liverpool, sua terra natal, na casa noturna Eric´s, na Mattew Street, abrindo para a banda Teardrop Explodes.

Em uma carreira de quase 30 anos, eles influenciaram grupos como Coldplay, Pavement, Stereophonics, Travis, Keane, Radiohead. Você pode dizer: putz, 30 anos? Isso é mesozóico, falemos de coisas vivas! Ok, seria quase justa a acusação de nostalgia se o Echo não chegasse ao Brasil a bordo de um novo disco sensacional, Siberia, uma das mais saborosas coleções de canções do ano passado.

O Echo deveria ter tocado aqui em março, mas uma confusão burocrática os tirou da rota, levando ao cancelamento dos shows. "Agora está tudo certo, já estamos com os vistos", disse o vocalista Ian McCulloch ao Estado, por telefone, de Londres, na semana passada. Ele revelou que tem planos de atacar de novo de DJ na noite de São Paulo. "Toquei há um mês em um clube chamado Bangers and Mash, em Estocolmo, Suécia, e sempre que posso arrisco um som. E São Paulo é minha segunda casa", disse.

Siberia, nono álbum do Echo, foi gravado no Parr Street Studios de Liverpool, com produção do mesmo Hugh Jones que fez o aclamado disco de 1981 do Bunnymen, Heaven Up Here. Ian McCulloch avisou que o repertório do show provavelmente incluirá quatro das novas canções (pelo privilégio da conversa telefônica, o repórter conseguiu a promessa que All Because of You Days e Stormy Weather estarão no show), além dos clássicos de sempre (Lips Like Sugar, The Cutter, Bring on the Dancing Horses e The Killing Moon).

O líder dos Bunnymen não crê que seja a mão do produtor Hugh Jones que tenha devolvido o toque sagrado ao som dos Bunnymen. "Não há segredos nesse disco. Ou melhor: os segredos são as canções. O mais importante é o sentimento das canções. E há também uma química entre os integrantes do grupo, já que nós passamos três anos juntos tocando e compondo", disse McCulloch, que chegaria ontem à cidade.

No dia 5 de maio, o cantor completará 47 anos (foi na mesma data, 5 de maio de 1979, que os Bunnymen lançaram seu primeiro single, The Pictures on My Wall/Read it in Books, pelo selo independente Zoo Discos). "Não me sinto velho. Sinto-me como se tivesse os mesmos 20 anos. É estranho dizer isso, mas é verdade", disse o cantor. "São tantas boas canções nesses 28 anos. Eu as vejo como pinturas. É mais que rock and roll. Por meio dessas canções, nós mostramos o que somos".

Liderada inicialmente por McCulloch, pelo guitarrista Will Sergeant, o carismático Les Pattinson e o baterista Pete DeFreitas (morto em 14 de junho de 1989), o grupo é uma referência do pop rock.Sua atitute anti-star system, a voz única de Ian e a guitarra minimalista de Sergeant tornaram-se pedra fundamental de um gênero.

McCulloch negou rumores de negociações para que, em setembro, ele toque de novo no Brasil abrindo para o Coldplay. "Não sei de nada disso", afirmou. "Mas não seria uma má idéia". Ele é grande amigo (e influenciador) de Chris Martin, do Coldplay. Em julho, eles serão uma das atrações do prestigioso festival Benicassim, na Espanha.

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