segunda-feira, julho 23, 2012

O HARD-BOP DE GENTE GRANDE DE BRANFORD MARSALIS E SEU ASSOMBROSO QUARTETO


Quando surgiram na cena jazzística americana de forma retumbante em meados dos anos 80, Branford e Wynton Marsalis foram acusados por muitos de ter uma atitude "yuppie" na cena jazzística, já que haviam feito estágios curtos demais nas bandas de professores como Clark Terry e Art Blakey e queimado algumas etapas para iniciar logo suas carreiras -- vitoriosas, diga-se de passagem -- como solistas.

O que irritava mais ainda é que os discos tanto de um quanto do outro eram ótimos. Desprezavam solenemente toda a maré fusion que inundou o jazz dos anos 70 e 80. E remetiam diretamente à sonoridade iniguálável do quinteto magnífico que Miles Davis comandou nos anos 60, composto por Wayne Shorter, Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams.

Tudo bem que os Branford e Wynton -- e também Delfayo e Jason Marsalis -- são filhos de um grande professor de música de New Orleans, o pianista Ellis Marsalis, e foram criados respirando jazz desde a mais tenra idade, mas, mesmo assim, como explicar que os dois tenham conseguido se afirmar como ótimos bandleaders desde tão cedo, tendo excursionado tão pouco em bandas alheias?


Seja qual for a resposta, ela não em a menor importância.

O que importa é que o tempo e o conjunto de obra dos dois mostrou que eles sabiam o que estavam fazendo.

Wynton, sempre de forma mais sisuda.

E Branford sempre mais aberto para experiências musicais pouco ortodoxas, e sempre bem humorado.

(num show em São Paulo, quinze anos atrás, ele abriu o set com o "Tema dos Flintstones" e deixou no palco um boneco Fred Flintstone inflável o show inteiro, e na hora de apresentar um a um os integrantes da banda, incluiu Fred nos créditos)



Pois bem: Branford Marsalis está de volta melhor e mais democrático do nunca nesse "Four MFs Playin´ Tunes", comandando seu bravo Quarteto -- Joey Calderazzo, piano, Eric Revis, contrabaixo, e Justin Faulkner, bateria, este recém-integrado ao grupo -- numa empreitada de hard-bop sensacional, com sete temas de autoria dos integrantes do grupo e um clássico de Thelonious Monk no repertório.

Detalhe: MFs significa Motherfuckers. O título do disco, em bom português, seria algo como "Quatro Fodões Tocando Canções" -- o que dá uma idéia da descontração e do bom humor que rola entre entre Branford e seus rapazes. 

É em discos como esse que se vê a grandeza de um band-leader. Sem um comandante com grande presença de espírito, fica inviável ter uma banda tocando redondo desse jeito, e acelerando de forma vertiginosa a todo momento, com todos em perfeita sincronia, sempre esbanjando uma destreza admirável, num flerte constante com o perigo. Branford sabe disso. Aprendeu com Art Blakey.

Aqui em "Four MFs Playin' Tunes" não rola aquele fricote muito comum entre jazzistas de "conceituar o disco", para depois adequar o repertório e os arranjos a uma idéia central. O que foi composto foi simplesmente tocado da maneira mais honesta e vibrante possível, para no final restar apenas o trabalho de juntar as canções gravadas numa sequência em que fizessem sentido.

Simples assim. Perfeito assim.




Não adianta: Branford Marsalis sempre foi impetuoso, nunca respeitou convenções tolas, e não iria ser agora, aos 52 anos de idade e 32 de carreira, que ele se renderia a elas.

Nós, velhos admiradores, encarecidamente agradecemos.

Preparem-se para ouvir um Quarteto espetacular quebrando tudo ao longo de mais de uma hora de jazz de primeiríssima grandeza.

Acredite: eles não se entitulam "Motherfuckers" à toa.

BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/branford-marsalis-mn0000045379

WEBSITE OFICIAL
http://www.branfordmarsalis.net/

AMOSTRAS GRÁTIS

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