segunda-feira, novembro 11, 2013

O UNIVERSO MUSICAL DE GARLAND JEFFREYS SEGUE VIVO E BEM NAS RUAS DO BROOKLYN

A primeira vez que se ouviu falar no nome Garland Jeffreys foi em 1969, quando John Cale, recém-saído do Velvet Underground, gravou seu primeiro LP solo pela Columbia Records.

O disco se chamava "Vintage Violence", e Garland fazia uma participação em uma das faixas.

Como era de praxe naqueles tempos, Garland foi contratado por uma gravadora -- Atlantic Records -- muito interessada em suas habilidades como compositor, mas que não sabia ao certo o que fazer com ele como artista solo.

Em meio a essa indefinição, três anos se passaram sem que Garland pudesse dar o pontapé inicial em sua carreira. Só em 1973, ele finalmente estreou solo. Num disco muito bom, diga-se de passagem. Mas que, infelizmente, tinha mais a cara musical do produtor Dr. John do que a sua, e passou totalmente despercebido por crítica e público.

Tudo bem, a música de Garland Jeffreys é meio difícil de definir, e ele nunca facilitou as coisas para achar mais rapidamente o seu público..

Mulato nascido no Brooklyn, NYC, há 69 anos, ele sempre trafegou por todas as sonoridades do bairro, indo desde o doo-wop e o rock and roll, passando pela soul music e pelas sonoridades latinas, e seguindo em direção ao reggae e ao blues.

Mesmo com um disco na bagagem, Garland Jeffreys continuou um ilustre desconhecido em meados dos anos 70.

Só que um ilustre desconhecido com amigos influentes, como Lou Reed e James Taylor, que não se conformavam com o fato dele ter estreado de forma tão torta, e não sossegaram enquanto não conseguiram para ele um novo contrato com garantia de liberdade artística e direito a escolher seu produtor.

E então nasceu "Ghost Writer" (1976), produzido por David Spinozza para a A&M Records, um dos discos mais emblemáticos da cena novaiorquina pré-CBGB's, que estava em grande evidência com o sucesso internacional de "Born To Run" de Bruce Springsteen e de "Horses" de Patti Smith.

Garland Jeffreys chegou e não perdeu tempo, emplacando logo de cara nas paradas o single "Wild In The Streets", que rapidamente virou uma espécie de hino das ruas nos subúrbios de Nova York.

Daí em diante, sua carreira finalmente engatou dos dois lados do Oceano Atlântico, seguindo de vento em popa por 5 ou 6 anos de tournées constantes, muita exposição na Imprensa Musical e discos anuais sempre bem recebidos.

Infelizmente, depois de outros 2 LPs para a A&M -- "One-Eyed Jack" e "American Boy And Girl" -- e outros 2 para a Columbia -- "Escape Artist" e "Rock & Roll Adult", ambos com a banda The Rumour, de Graham Parker, emprestada --, Garland começou a perder o foco de sua carreira.

Um flerte desastrado com o mainstream no LP "Guts For Love", produzido pelo inadequadíssimo Bob Clearmountain, o levou a um fiasco retumbante de vendas.

Daí em diante, nenhuma grande gravadora quis saber de comprar seu passe, e o jeito foi seguir de mala e cuia para a cena alternativa, onde acabou se dando bem, gravando discos mais esporádicos, mas sempre escapando com frequência para a Europa e Japão, onde nunca deixou de ter uma excelente acolhida de público.

Pois Garland está de volta com "Truth Serum", seu disco mais urgente e menos conceitual em muitos anos.

Como não podia deixar de ser, ele continua flertando com os mais diversos gêneros musicais -- para o desespero da Billboard, que há 40 anos tenta classificá-lo em algum segmento, em vão.

O disco abre com a faixa título, um bluesaço à moda de John Lee Hooker, com harmonica e guitarras distorcidas seguindo num mesmo tom, onde ele fala de excessos com o alcool e da proximidade dos 70 anos.

Mas antes que esses temas comecem a tomar conta do disco inteiro, Garland segue firme em direção a outras direções nas faixas seguintes -- seja falando de amor, de dificuldades do dia a dia, de "generation gaps", ou até mesmo de questões políticas e raciais que sempre fizeram parte do universo de suas canções.

Sua banda, comandada pelo baterista e produtor Steve Jordan, proporciona performances coesas e muito intensas. Garland acertou em cheio na escolha de seus bandmates. Nada melhor do que trabalhar com músicos que sabem exatamente como proporcionar a melhor moldura musical para as canções que vão compor um disco.

Graças a essa integração temática e musical que flui às mil maravilhas nas 10 faixas de "Truth Serum", não é nenhum exagero afirmar que esse novo disco de Garland Jeffreys não só deve agradar em cheio aos velhos fãs que, por um motivo ou outro, o perderam de vista nesses últimos 30 anos, quanto pode cativar novos admiradores que talvez descubram o quanto artistas mais jovens como Ben Harper foram influenciados por ele.

Está mais do que na hora de Garland voltar a ter um público mais extenso.

Ele merece.


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