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quarta-feira, agosto 08, 2012

OMAR AND THE HOWLERS ESTÃO DE VOLTA NUM DISCO FULMINANTE: "I´M GONE"


Se tem uma coisa que Omar Kent Dykes apreendeu ao longo de seus quase 40 anos de carreira à frente do grupo texano Omar and the Howlers foi justamente não complicar o blues.

Não vale a pena, nem faz sentido, pois o blues é um formato de música simples e básico, que recebe facilmente coloridos externos vindos de outros gêneros musicais adicionados a ele, mas que também deteriora facilmente dependendo dos adititivos que recebe.

Uns podem até achar que isso é conservadorismo musical, mas não é não.

É preciso tomar certos cuidados para que essas cores, ao se misturarem com o blues, resultem numa combinação harmoniosa.

Caso contrário, corre-se o risco de perder o contato com a essência do gênero -- que é o grande mal que aflige artisticamente a imensa maioria das bandas de blues-rock que circulam por aí.



Desde que estreou em disco em 1980 no rastro de outra banda de Austin, The Fabulous Thunderbirds, Omar and the Howlers passou a ser considerado a segunda referência máxima em boogie, rhythm & blues e rock and roll e a party band favorita dos frequentadores da noite da cidade.

Começaram no formato power-trio, mas pouco a pouco passaram a receber um sua formação muitos músicos amigos como integrantes eventuais.
 
Resultado: num levantamento recente, descobriram que mais de 30 integrantes passaram por Omar and the Howlers de 1973 para cá -- entre eles, craques como os saudosos Gary Primich e Stevie Ray Vaughan.

Por conta disso, a banda foi pouco a pouco virando um veículo para o talento de Omar Kent Dykes, dono de um vozeirão privilegiado, um carisma fortíssimo no palco e um jeito festivo de misturar todos aqueles ingredientes que fazem parte da música do Texas no eclético repertório da banda, hoje espalhado por uma vasta discografia.


"I´m Gone" é o décimo-oitavo disco do Omar and the Howlers, e o primeiro trabalho de estúdio da banda em 9 anos -- período em que Omar andou trabalhando em projetos diferenciados ao lado de artistas amigos, ainda que mantendo a banda viva e ativa em tournées pela Europa e Japão.

Não se pode dizer que seja um LP que traga novidades ao som da banda. Pelo contrário: não há nenhum experimento novo em "I´m Gone". Apenas a reafirmação de que Omar and the Howlers permanecem imbatíveis no seu jogo, mesmo depois de tanto tempo sem lançar discos.

No entanto, pode-se dizer que eles nunca tocaram com tanta maestria quanto aqui, Funcionam como uma unidade perfeita, mais ou menos no formato de seus quatro primeiros discos, até hoje saudados como clássicos imbatíveis do blues-rock texano.

É como se a herança musical do boogie man Lightning Hopkins fosse mesclada com a herança musical do band leader tex-mex Doug Sahm, e tudo fervesse num mesmo caldeirão musical: o resultado é sempre delicioso.

Se for o caso de destacar algum número musical em particular, "All About The Money" e "Down At The Station" estão entre as mais marcantes canções de Dykes desde sempre, e a balada bêbada "Drunkard´s Paradise" soa como uma homenagem a outra grande banda texana atemporal: The Sir Douglas Quintet. Isso para não falar em "Take Me Back", que encerra o disco de forma fulminante, com a banda cuspindo fogo num número aceleradíssimo que se estende por mais de 6 minutos de duração.



Omar and the Howlers foi uma das bandas que, nos anos 70, ajudou a firmar a cidade de Austin, no Texas, como a Mecca da country-music alternativa, recebendo todos os artistas descontentes com o status quo de Nashville.

Merecidamente, a banda ganhou fama como uma das grandes instituições musicais da cidade, mas, de certa forma, deitou na cama, e se acomodou demais.Faltava talvez um desafio musical para dar uma nova motivação para seguir adiante indo além da mera repetição de tudo o que eles já fizeram. E "I´m Gone" parece ter vindo cobrir essa lacuna, além de restaurar a dignidade criativa dessa grande banda.

Sendo assim, coloque seu chapéu de cowboy, pouse o revolver na mesa, prepare umas doses de bourbon e ponha para tocar o novo disco de Omar and the Howlers.

E seja benvindo ao coração do Estado da Estrela Solitária.




BIO-DISCOGRAFIA
 http://www.allmusic.com/artist/omar-the-howlers-mn0000474865

WEBSITE PESSOAL
http://www.omarandthehowlers.com/

AMOSTRAS GRÁTIS.

terça-feira, abril 24, 2012

LYLE LOVETT SE DESPEDE DE SUA VELHA GRAVADORA COM UM LP NADA CASUAL


 
Os anos 80 foram uma espécie de Nova Idade Média para a cena do rock and roll.

Foi quando surgiu o conceito de LP blockbuster -- difundido por Michael Jackson, Prince e Madonna –, que expulsou do mercado todo e qualquer artista que pretendesse seguir trabalhando com públicos segmentados.

Foi muito cruel. De uma hora para outra, grandes nomes que haviam brilhado intensamente nos anos 70 foram escanteados e impiedosamente trocados por figuras duvidosas inventadas nos escritórios dos executivos das gravadoras.

Essa Nova Idade Média durou até o início dos 90, quando as gravadoras finalmente se deram conta de que estavam jogando fora o que tinham de melhor: seus compositores e seus artistas mais tarimbados.


O engraçado é que, nos anos 80, a cena da country music vivia uma situação diametralmente oposta a essa.

Os produtores de Nashville haviam aceitado uma série de mudanças de comportamento dos artistas da cidade por conta da postura anti-conservadora dos novos astros do gênero que vinham da cena liberal de Austin nos anos 70 – gente como Willie Nelson, Waylon  Jennings e Billy Joe Shaver , e que chegavam abençoados por ninguém menos que Johnny Cash.


E o diabo é que, ao longo dos anos 80, não parava de aparecer em Nashville gente estranha, desalinhada e muito talentosa vinda de Austin. E Nashville deixava entrar. Fazer o que? Era a renovação do gênero que estava em jogo. Os barões de Nashville podiam ser conservadores, mas definitivamente não rasgam dinheiro.

Steve Earle, por exemplo, apareceu tocando um rockabilly bem desaforado quando explodiu com “Guitar Town”.

Dwight Yoakam reinventou o honky-tonk dos tempos de Hank Williams, só que com uma guitarra elétrica nas mãos, na  “Guitars, Cadillacs, etc”.

E K D Lang era estranhíssima: uma homossexual esquimó vinda do Canadá com atitude de Patsy Cline e voz de crooner de orquestras de jazz.


Mas, de todos eles, o mais estranho e inclassificável – e também o mais ambicioso e agradável deles todos – era sem dúvida Lyle Lovett.

Lyle Lovett era um artista múltiplo, capaz de encarar qualquer estilo musical, na mesma tradição texana heróica de seus heróis Bob Willis e Doug Sahm.

Paralelo à sua carreira musical, trabalhava como ator sempre que era convocado por seu amigo e admirador Robert Altman -- que adorava seu queixo quadrado e sua expressão enigmática -- e então, nas filmagens de "O Jogador", conheceu Julia Roberts e os dois se casaram.

Seus primeiros discos com sua Large Band -- que incluía uma extensa sessão de metais que soava redonda tanto em números country e pop quanto em números de jazz, blues e de rock and roll --, deixaram todo mundo boquiaberto, pois tornavam quase impossível qualquer iniciativa de rotulá-lo e empacotá-lo para tocar no rádio. 

E o diabo é que, mesmo assim, ele emplacou vários singles, tanto em emissoras country quanto em emissoras de rock.

Pois bem, 25 anos se passaram desde sua estréia em 1986, e eis que Lyle Lovett agora em 2011 é intimado judicialmente por sua ex-gravadora Curb Records a entregar um último disco para fechar um contrato assinado naquela época.


E não é que, para surpresa geral, ele entrega um disco divertidíssimo, repleto de covers, chamado “Release Me” -- tão bom e tão inteligente que nem parece uma “obrigação contratual”.

O repertório mistura alhos com bugalhos, formando um conjunto estranhamente coeso. 

Tem uma releitura brilhante da balada country cafona “Release Me”, grande sucesso do inclasificável Engelbert Humperdinck, num dueto delicioso com K D Lang.

Tem também uma versão estranhíssima de “Brown Eyed Handsome Man” de Chuck Berry, que lembra o Grateful Dead tocando soul music.

E tem ainda uma releitura desconcertante para “Baby It´s Cold Outside”, grande sucesso de Ray Charles e Betty Carter. Entre muitas outras coisas.


Obviamente, “Release Me” não é um projeto artístico do mesmo nível de “Joshua Judges Ruth”, “I Love Everybody” ou “The Road To Ensenada” – grandes discos da carreira de Lyle Lovett.

Nem pretende ser.

Mas equivale a pedir um prato de arroz com feijão para um grande cozinheiro num excelente restaurante. 

Convenhamos: não existe a menor chance de um prato tão trivial, nas mãos do grande cozinheiro em questão, não se revelar algo no mínimo espetacular. 


INFO:
 http://www.allmusic.com/artist/lyle-lovett-p4798/biography
DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/lyle-lovett-p4798/discography
WEBSITE OFICIAL:
http://www.lylelovett.com/
AMOSTRAS GRÁTIS: