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quarta-feira, agosto 12, 2015

BUDDY GUY, ROBBEN FORD E SONNY LANDRETH ESTÃO DE VOLTA COM NOVAS ABORDAGENS AO BOM E VELHO BLUES ELÉTRICO

por Chico Marques para BLUESTIME

Nos início dos Anos 60, quando Otis Rush, Magic Sam, Buddy Guy e Albert King reinventaram o blues, abrindo novas fronteiras musicais para o gênero, que dava sinais claros de esgotamento, todos os artistas que tinham carreiras estabelecidas perceberam que tinham apenas duas saídas pela frente: dançar conforme a música para sobreviver no mercado, ou então migrar para a cena do folk-blues acústico.

Então, em meados dos anos 60, quando os brancos descobriram o blues e o incorporaram a novos formatos musicais bem sucedidos comercialmente, muitos artistas negros entraram mais uma vez em xeque, e desistiram de tentar se adequar aos novos tempos, preferindo deixar de gravar discos e concentrando suas atividades na Europa, onde havia um interesse grande pelos formatos mais clássicos do blues. E assim, entre revoluções e contra-revoluções musicais, o blues foi sobrevivendo, sempre aos trancos e barrancos.

Os três discos que vamos comentar hoje são de três grandes guitarristas de linhagens bem distintas, mas com uma atitude em comum: a fidelidade pela alma do blues, e não necessariamente pelos formatos tradicionais do blues. 

O que prova que se o blues permanece vivo até hoje é graças à atitude pouco ortodoxa, mas sempre fiel, de artistas como esses.


BUDDY GUY
BORN TO PLAY GUITAR
Silvertone RCA
A apenas um ano de virar octagenário, o endiabrado cantor e guitarrista Buddy Guy não sossega o rabo e volta com a corda toda em "Born To Play Guitar", onde -- a exemplo de seu trabalho anterior, o álbum duplo "Rhythm & Blues" (2013) -- ele alterna blues com uma levada mais clássica com números de rhythm & blues mais acelerados e bem eletrificados, num flerte aberto com o rock and roll e com a soul music. Mas cuidado com as expectativas: "Born To Play Guitar" não é um grande disco, e também não traz novidades substanciais em relação à sua produção nos últimos 25 anos. Confesso que achei meio pegajosos os tributos a Muddy Waters e a B B King inseridos no disco, e prefiri mil vezes as dobradinhas dele com o fantástico gaitista Kim Wilson, que remetem diretamente ao trabalho que Buddy desenvolveu ao lado de seu velho e saudoso parceiro Junior Wells por mais de 3 décadas. Mas, por outro lado, também não faz sentido ser rigoroso demais com "Born To Play Guitar", pois o simples fato de Buddy Guy permanecer na ativa a essa altura da vida já é motivo de muita admiração e muito respeito. E pela vitalidade que ele esbanja nas faixas desse disco, não há a menor indicação de que pretenda se aposentar tão cedo.


ROBBEN FORD
INTO THE SUN
(Provogue)
Robben Ford é um músico tão gabaritado e múltiplo que classificá-lo como um artista de blues chega a ser uma heresia. Tudo bem que seu background musical principal origine do blues -- de sua longa associação com a Ford Blues Band, de seus irmãos, e do cantor Jimmy Witherspoon, para quem foi band-leader por muitos anos, antes de sair em carreira solo nos anos 1970. "Into The Sun" dá sequência ao trabalho desencanado e inclassificável que Robben Ford vem desenvolvendo nos últimos anos. Há espaço para tudo aqui, desde rock sulista a jazz funkeado, passando por blues e soul music em doses sempre bem equilibradas. E as participações especiais são realmente especiais, e nada burocráticas: tem desde Warren Haynes e Sonny Landreth até Robert Randolph e Keb Mo, todos quebrando tudo e se divertindo um bocado. Se você não tem uma atitude ortodoxa em relação ao blues, esse disco é para você.


SONNY LANDRETH
BOUND BY THE BLUES
(Provogue)

Desde que o Furacão Katrina assolou o Deep South americano, Sonny Landreth tem trafegado pelos diversos gêneros musicais que compoem a música da região e negligenciado um pouco o blues. Mas agora isso acabou. "Bound By The Blues", seu novo trabalho, traz canções de vários bluesmen que foram importantíssimos em sua formação musical -- como Robert Johnson, Elmore James, Big Bill Broonzy e Skip James -- em releituras modernosas e não muito ortodoxas, o que pode irritar alguns puristas do gênero. Landreth mescla esses números clássicos com composições instrumentais onde se revela masi uma vez um guitarrista absolutamente original, como "Simcoe Blues" e "Firebird" -- esta última dedicada a seu amigo e herói musical Johnny Winter, falecido ano passado. "Bound By The Blues" é uma viagem musical pelo universo do blues sem fronteiras e sem preconceitos musicais. É graças a artistas criativos e corajosos como Sonny Landreth que o blues permanece vivo e testando novas possibilidades. Na minha opinião, o melhor disco de blues deste ano até agora.




terça-feira, setembro 04, 2012

MAGIC SLIM FAZ 75 ANOS EM GRANDE FORMA À FRENTE DOS TEARDROPS EM "BAD BOY"



Talvez Magic Slim seja a essa altura da vida a última lenda viva do blues cru, elétrico e sem rebuscamentos que subiu do Mississipi para Chicago -- o Chicago Blues, em seu formato mais clássico.

Aos 75 anos de idade, vive tranqüilo em Lincoln, Nebraska, mas vive pelo mundo. É um dos representantes da velha guarda que nunca abandonou a estrada, e jamais pretende fazê-lo.

Em 1989, Magic Slim veio ao Brasil pela primeira vez, para o 1.º Festival Internacional de Blues, realizado em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Fez tanto sucesso que, de lá pra cá, voltou para tocar no Brasil quase todo ano, quase sempre acompanhado de sua fabulosa banda, The Teardrops, considerada pela crítica americana o arquétipo da banda de Chicago Blues Moderno.


A lenda de Magic Slim começou em meados da década de 40, no pequeno vilarejo de Torrence, no Mississippi, entre muitas plantações e poucas ruas, onde Morris Holt, um garoto negro nascido em agosto de 1937, dividia seu tempo entre o árduo trabalho na lavoura e a música no coral da igreja e à frente do piano.

Um dia, quando manuseava um descaroçador de algodão, Holt teve o quinto dedo da mão direita prensado e decepado por uma das moendas de sua ferramenta. Depois do acidente, não poderia mais continuar no piano. Aos poucos, se conformou de que precisaria desenvolver suas habilidades em outro instrumento. E então, aos 10 anos de idade, colocou cerdas de uma vassoura de sua casa e improvisou o que viria a ser sua “primeira guitarra”.

Já adolescente, morando na cidade de Grenada, Mississipi, ele ficou muito amigo de um jovem músico que conheceu por lá: Samuel Gene Maghett, ou Magic Sam, que ensinou a ele uma série de truques preciosos na guitarra, mas sempre insistindo que ele deveria criar um jeito próprio de tocar.

Foi o que ele fez, cadenciando cuidadosamente cada nota de sua guitarra entre um verso e outro, embalados pela jeito de cantar à moda do Mississippi.

Magic Sam e Magic Slim chegaram juntos a Chicago em 1955, e comeram o pão que o diabo amassou até Magic Sam conseguir montar sua banda e sair tocando profissionalmente, chamando seu parceiro para atuar como baixista.

Demorou um pouco até adquirir confiança e montar sua própria banda, The Teardrops, com dois de seus irmãos, que também vieram tentar a sorte na cidade grande.

Aos poucos, de tanto tocar em bares e inferninhos da Zona Sul e na Zona Oeste, Magic Slim & The Teardrops viraram afinal figurinhas carimbadas na noite da Windy City.


Magic Slim & The Teardrops possue mais de trinta discos gravados, alguns deles verdadeiros clássicos do gênero, Nos anos 70 e 80, gravaram constantemente para a Wolf Records. Mas de 1990 para cá, sua casa é a conceituada Blind Pig Records, que o trata a pão-de-ló desde sempre, para não perdê-lo.

O mais novo LP deles, “Bad Boy”, acaba de ser lançado, e segue mais ou menos o mesmo formato dos discos dos anos anteriores.

Por mais que Magic Slim tenha gostado das experiências musicais que desenvolveu no disco “Snakebite”, produzido pelo bluesman novaiorquino Papa Chubby, parece claro que daqui por diante seus discos devam seguir um formato mais rotineiro e sem maiores surpresas.

“Bad Boy” alterna composições novas bem marcantes, como “Sunrise Blues” e “Classic Joyride”, com clássicos do blues como a faixa título, de seu amigo Eddie Taylor, e “Champagne and Reefer”, de Muddy Waters – e, de quebra, ainda resgata algumas pérolas meio esquecidas como “Someone Else Is Steppin´ In”, da grande cantora Denise LaSalle, e “How Much More Long” do notável J B Lenoir.



Em "Bad Boy", The Teardrops continuam mais vigorosos do que nunca, e seguem em frente com sua fama de banda-escola, por onde passaram craques em início de carreira como os guitarristas John Primer e Left Dizz.

Atualmente, John McDonald é o segundo guitarrista da banda. O baixo fica a cargo de André Howard e a bateria com B J Jones.

"Bad Boy" está longe de ser um disco surpreendente. Nem pretende ser um grande disco.

Mas é um item bem bacana e extremamente honesto na longa discografia desse grande mestre do Modern Chicago Blues, que segue seu caminho em perfil baixo numa das carreiras mais constantes e prolificas da história deste gênero tradicionalmente perdulário.

Divirtam-se com o mestre.


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terça-feira, agosto 21, 2012

LURRIE BELL SURPREENDE NUM LP ACÚSTICO QUE SEU PAI, CAREY BELL, TERIA ADORADO


Quatro anos atrás, o cantor e guitarrista Lurrie Bell -- atualmente em tournée solo pelo Brasil -- SE apresentou com sua banda no Teatro do SESC-Santos e deixou a platéia com a alma lavada.

Verdade seja dita: há muitos anos não passava por aqui um artista de blues tão cativante e com uma pegada tão perigosa na guitarra. Todos os que foram abduzidos pelo suingue da "Windy City" naquela noite de Agosto -- acredite, não foram poucos --, não acordaram a mesma pessoa no dia seguinte. O Blues tem dessas coisas...

Lembro bem que Lurrie Bell evitou apresentar material próprio, limitando-se ao número instrumental "Lurrie's Blue Groove" logo na abertura. Daí em diante, desfilou um set de clássicos do blues em releituras muito inspiradas, e mesmo quem já ouviu um milhão de vezes "I'm Ready", "Reconsider Baby", "Five Long Years", "Everything's Gonna Be Alright" e "Got My Mojo Working", com inúmeros artistas diferentes, acabou completamente rendido ao talento e à nonchalance de Lurrie Bell e sua Chicago Blues Band.

Acredite: o groove do Blues de Chicago é um negócio muito poderoso.

E o formato musical adotado pelo quarteto de Lurrie Bell é - ao menos em minha opinião - o mais cativante de todos: baixo, bateria, órgão e guitarra. Uma combinação inaugurada nos bares do Lado Oeste de Chicago no final dos anos 50, que acabou dando o tom nos trabalhos dos jovens expoentes do gênero na década de 60, como Otis Rush, Magic Sam, Buddy Guy e Michael Bloomfield.

Se hoje esse formato musical virou clássico, é graças ao talento inigualável desses grandes artistas. 



Lurrie Bell é um herdeiro valoroso do Chicago Blues.

Filho do grande gaitista Carey Bell (falecido seis anos atrás), toca guitarra desde os 5 anos. Aos 16, já fazia parte da banda do pai. Com o passar do tempo, virou o comandante da banda.

Aos poucos, tomou coragem e gravou alguns discos solo para a gravadora JSP no final dos anos 80, sempre sob a supervisão do saudoso amigo Phil Guy (irmão de Buddy Guy) - que, apesar de ótimos, tiveram pouca repercussão na ocasião.

Sua segunda investida solo, numa série brilhante de 4 discos repletos de composições próprias para a Delmark Records, gravados ao longo dos anos 90, já teve melhor sorte.

O primeiro, "Mercurial Son", de 1992, é um ousado trabalho experimental criado à beira da loucura -- Lurrie vivia problemas psicológicos muito complicados na ocasião -- e é tido por setores da crítica como o disco de blues mais estranho de todos os tempos. Foi um desequilíbrio tão intenso que, para se recompor, Lurrie Bell deixou sua carreira solo de lado e se refugiou por cinco anos na banda de seu pai.

Recuperado e seguro de si novamente, ele retomou sua carreira solo em 1997, com "700 Blues", um belo disco no formato clássico do Blues de Chicago dos anos 60. Um ano mais tarde, convocou nada menos que Dave Specter and The Bluebirds como banda de apoio e gravou mais um disco sensacional: "Kiss Of Sweet Blues". E então, em 1999, veio "Blues Had A Baby", uma pequena obra prima, onde todas as suas experiências musicais anteriores se misturam, revelando o grande estilista do blues moderno em que Lurrie Bell se transformou.

De 2000 para cá, Lurrie gravou pouco, mas circulou pelo mundo afora, tanto com seu trabalho solo quanto como escudeiro de seu pai -- muito debilitado fisicamente a essa altura da vida, tanto que subia aos palcos sentado em uma cadeira de rodas. Juntos eles gravaram o DVD documentário "Gettin' Up Live At Buddy Guy's Legends", uma espécie de testamento musical de Carey Bell, que morreu antes de seu lançamento.

Poucos meses mais tarde, Lurrie perderia sua mulher, a fotógrafa Susan Greenberg.

Para não flertar com o desespero, nem cair em depressão, ele mergulhou fundo no trabalho. E o resultado disso foi "Let's Talk About Love", um tributo sereno e delicado a Carey e Susan, e seu primeiro trabalho por seu selo próprio, Aria BG Records -- que leva o nome de sua filha, Aria Bell Greenberg.


Pois bem: Lurrie Bell está de volta, e acaba de lançar seu segundo disco para a Aria BG, "The Devil Ain't Got No Music".

Para surpresa geral, é um disco acústico, o primeiro da cerreira de Lurrie Bell. Mas é tão vigoroso quanto qualquer um de seus LPs elétricos. E tão inusitado quanto eles também, na medida em que alterna folk-blues com gospels, spirituals e até um blues balada meio esquecido de James Taylor de seu início de carreira, "Lo And Behold".

"The Devil Ain't Got No Music" é uma colaboração com o amigo guitarrista Joe Louis Walker e o baterista Kenny "Beedy Eyes" Smith, numa produção bem despojada que captura ao vivo no estúdio performances fulminantes dos três.

Sempre que um músico habituado a tocar elétrico parte para uma empreitada acústica como essa, a tendência é tentar fazer com que o resultado seja tão intenso quanto numa sessão eletrificada. Daí, não estranhem se parecer em alguns momentos parecer estar ouvindo algumas daquelas sessões acústicas clássicas de Buddy Guy com Junior Wells, ou mesmo de Sonny Terry com Brownie McGhee. A idéia é essa mesma.

De qualquer maneira, "The Devil Ain't Got No Music" é um grande disco, eloquente como nenhum outro disco acústico que você vá ouvir este ano.

E um sério candidato a melhor álbum de blues tradicional da Festa dos Grammies deste ano.

Bravo, Mr. Bell.



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