quinta-feira, novembro 13, 2014

O RESGATE EMOCIONADO DE RICHARD WRIGHT NA DESPEDIDA EMOCIONANTE DO PINK FLOYD


Pink Floyd é uma banda que sempre desafiou definições e classificações.

O início, viceralmente psicodélico, com o genial Syd Barrett no comando, destoava e muito da cartilha da psicodelia, flertando abertamente com a música avant-garde européia

O trauma causado pela saída abrupta de Barrett da banda por problemas mentais logo após o lançamento do primeiro LP, "The Piper At The Gates Of Dawn", levou o Pink Floyd a se unir de forma muito intensa, estabelecendo um núcleo musical sólido para poder seguir em frente.

Desse núcleo surgiu uma comunhão profunda entre o recém-chegado guitarrista David Gilmour e o tecladista Richard Wright, o baixista Roger Waters e o baterista Nick Mason.

A meta dos quatro membros da banda era seguir na cena combinando seus talentos individuais em um trabalho que pudesse ser relevante, e assim tentar suprir a falta causada pela ausência de Syd Barrett.

Apoiaram-se num padrão de perfeccionismo nunca antes experimentado por uma banda de rock, e seguiram em frente, e alcançaram um sucesso artístico e comercial assombroso.

Por conta desse perfeccionismo,não havia espaço para qualquer tipo de virtuosismo.

Trata-se de uma experiência coletiva por excelência, que gerou álbuns perfeitos como "Atom Heart Mother", "Meddle", "The Dark Side Of The Moon" e "Wish You Were Here", colocando o Pink Floyd num patamar onde nenhuma outra banda jamais esteve.



Infelizmente, rusgas internas entre o baixista Roger Waters e os outros integrantes começaram a vir à tona em meados dos anos 70, refletindo diretamente no trabalho da banda.

Trabalho que, a cada disco, ficava mais conceitual e mais orientado por Roger Waters.

Paradoxalmente, sua liderança começou a conspirar contra a coesão do Pink Floyd.

Essas diferenças artísticas pouco a pouco ficaram tão incontornáveis que Roger Waters teve que deixar a banda após o lançamento do LP "The Final Cut" -- que já tinha todo um jeitão de "seu primeiro disco solo" --, tamanho o desinteresse e a falta de envolvimento de seus parceiros no projeto.

Depois da separação, David Gilmour, Richard Wright e Nick Mason acharam por bem deixar a banda no estaleiro por alguns anos para esperar a poeira baixar.

E então, depois de se dedicarem a projetos solo, os três decidiram que o Pink Floyd voltaria em um novo formato: aboliram o formato original de quarteto e transformariam Pink Floyd numa banda enorme, com vários músicos contratados, sempre prontos para cair na estrada.


Seguiram juntos e coesos -- e sempre no topo das paradas -- até 1994, quando lançaram "The Division Bell".

Promoveram o disco numa tournée vitoriosa, e, ao final dela, se despediram oficialmente de seu público.

E tudo indicava que era o fim mesmo.

O que pouca gente sabia é que "The Division Bell" havia sido projetado originalmente para ser um álbum duplo, com duas horas de música -- sendo um dos discos completamente instrumental, com uma suite musical de uma hora de duração criada por Richard Wright e chamada "The Big Spliff", que permaneceu inédita.

Quando Wright morreu em 2008, pouca gente lembrava que esses tapes existiam em alguma geladeira da Columbia Records.

Mas David Gilmour e Nick Mason lembravam.

Aliás, não só lembravam como acalentavam uma maneira de trazê-la a público numa espécie de álbum de despedida da banda em memória de Richard Wright e em louvor à união inabalável que existia entre eles três.


Foi assim que "The Endless River" -- o décimo quinto disco da banda, lançamento Sony-Columbia -- começou a nascer.

Ano passado, meio que na surdina, Gilmour e Mason começaram a trabalhar nesses velhos tapes.

Daí chamaram o amigo guitarrista e produtor Phil Manzanera para dar uns palpites, além de outros dois produtores.

Eles optaram por desmembrar a suite original para deixá-la ainda mais climática, acrescentando diversos outros instrumentos sem descartar jamais as participações gravadas de Wright no mix final.

E o resultado desse trabalho de resgate é primoroso.

E emocionante.

A faixa de encerramento, "Louder Than Words", escrita por Gilmour e cantada por Polly Samson, sua mulher, dá o tom da união inabalável e da despedida que aponta ao eterno retorno.

Os versos  principais da canção explicam porque de um álbum instrumental nos 45 minutos do segundo tempo e revelam a tônica do que manteve o Pink Floyd em pé ao longo de todos esses anos:

"The sum of our parts / The beat of our hearts / It’s louder than words"



Para mim -- e acredito que para muitos de vocês também -- é um prazer enorme ver o núcleo do Pink Floyd unido novamente, como nos velhos tempos pós-Syd Barrett, nesse projeto que foge por completo ao padrão dos outros 14 discos da banda.

Eu vejo "The Endless River" como um belo posfácio a uma carreira magnífica.

Que começou sob o signo da psicodelia e do música de vanguarda para aos poucos flertar com o atemporal, sem jamais cair em anacronismos.

Faço questão de aplaudir David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright -- e porque não Phil Manzanera? -- pelos momentos deliciosos que "The Endless River" me proporcionou ao longo desta última semana.

E isso não é uma crítica objetiva -- que se dane a objetividade.

Estou é prestando reverência a heróis musicais que cultivo há mais de 40 anos

Bravo, rapazes! Agora é deixar que o rio siga seu curso.



WEBSITE OFICIAL
http://www.pinkfloyd.com/

DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/pink-floyd-mn0000346336/discography

AMOSTRAS GRÁTIS

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