segunda-feira, março 16, 2015

ARETHA FRANKLIN E CLIVE DAVIS SE REÚNEM EM MAIS UM DISCO COMERCIALMENTE CERTEIRO E ARTISTICAMENTE DUVIDOSO


Sempre que Clive Davis e Aretha Franklin se encontram, é tiro e queda: a carreira dela imediatamente volta a ser rentável financeiramente.

Claro que o custo artístico desse resgate é sempre bastante alto, mas isso faz parte do jogo -- e é sempre o reflexo de um primeiro momento, pois logo mais adiante qualidade artística e orientação mercadológica acabam se encontrando e chegando a um acordo.

A primeira vez que Clive e Aretha se encontraram foi no início dos anos 1980.

Aretha estava em baixa. 

Vinha de uma série de LPs com vendagem muito baixa na Atlantic, que, por sua vez, se negou a renovar seu contrato. 

A gota d'água havia sido um disco chamado "La Diva" (1979), produzido por Van McCoy, que tentava situá-la, sem sucesso, na cena disco.


Na ocasião, Clive Davis era proprietário da Arista Records. 

Pois ele a contratou em 1982 na bacia das almas -- ela estava há quase dois anos sem contrato -- e passou a supervisionar sua carreira bem de perto.

Chamou Luther Vandross para assumir como produtor de um disco novo para Aretha, com a missão de deixar tirá-la da década de 1970 e fazer com que sua música encontrasse o tom dos Anos 1980. 

Injetou uma verba considerável na produção, e dessa brincadeira nasceu "Jump To It", um disco mais eficaz do que propriamente bom, que emplacou forte nas paradas da época.

Deu no que deu: a carreira de Aretha renasceu nos Anos 80.

E ela voltou a faturar milhões, ainda que em discos de qualidade meio duvidosa, com repertório sempre irregular e produção quase sempre inadequada -- culpa do escandaloso Narada Michael Walden --, um milhão de milhas distante dos grandes discos que ela gravou na Atlantic sob a batuta de Jerry Wexler, Arif Mardin, Tom Dowd e Quincy Jones nos Anos 1960 e 1970.

Mas ao menos essa virada serviu para sintonizar Aretha com o que acontecia de mais moderno na cena rhythm and blues.

O ápice dessa série de discos foi, sem dúvida, "A Rose Is Still A Rose", de 1997, um trabalho moderno e ousado onde ela se afirmou em definitivo como a Diva Absoluta da cena R&B do Fim de Século, com o repertório e os produtores certos pela primeira vez em muitos anos.


Só que de lá para cá, muita coisa desandou em sua carreira.

Aretha se envolveu em processos judiciais complicados.

Depois teve problemas de saúde bastante complicados.

Por último, sua carreira entrou num declive perigoso e ela acabou ficando à deriva do mercado. 

Quando voltou, tentou virar artista independente, e quebrou a cara em dois discos que só seus fãs mais ferrenhos sabem que existem.

Daí, o jeito foi recorrer novamente a Clive Davis para resgatar sua carreira.



"Aretha Franklin Sings The Great Diva Classics" é seu 38 LP de estúdio, e marca sua volta triunfal à Arista Records.

É uma superprodução concebida como uma homenagem a outras Divas, veteranas ou não, que sejam dignas de uma reverência prestada pela Primeira Dama da Soul Music.

Entre as Divas homenageadas, temos tanto as veteranas Barbra Streisand, Etta James, Dinah Washington, Chaka Khan e Gladys Knight quanto novas Divas que ela considera relevantes, como Alicia Keys, Adele e Sinead O'Connor.

Não é um disco à altura do que Aretha já produziu de melhor.

Na verdade, é mais um daqueles discos criados a partir de uma reunião no Departamento de Projetos Especiais da gravadora, empacotados na medida certa para faturar e à prova de riscos.

Apesar da voz de Aretha já não ter mais o mesmo alcance de antes -- convenhamos, ninguém chega aos 70 anos impunemente --, ela tira o repertório de letra.

Infelizmente, suas releituras de clássicos como "Midnight Train To Georgia", de Gladys Knight, ou "I'm Every Woman", de Chaka Khan, soam redundantes e desnecessárias.

Em baladas lentas como "At Last", de Etta James, ou "People", de Barbra Streisand, os resultados são um pouco melhores, mas, mesmo assim, essas releituras estão longe de ser relevantes".

Para ser franco, existem apenas duas releituras relevantes em 
"Aretha Franklin Sings The Great Diva Classics".

A primeira é de "At Night", de Alicia Keys, que virou um reggae perigosíssimo, onde Aretha mostra toda a exuberância de sua voz e todo o perigo que ainda existe por trás de suas investidas vocais.

E a segunda é "Nothing Compares 2U", de Sinead O'Connor, que virou um tema jazz em uptempo irreconhecível. mas intenso, cativante e brilhante...

Se você achar que duas grandes gravações justificam a compra desse novo disco de Aretha Franklin, vá em frente.



"Aretha Franklin Sings The Great Diva Classics" é seu primeiro álbum em 15 anos a ser produzido por Clive Davis, que o considera "pura e simplesmente sensacional", insistindo que Aretha "está pegando fogo e no topo de seus poderes como cantora".

Clive disse ainda que "é emocionante ver uma artista como ela ainda mostrando o caminho, ainda provocando arrepios na espinha, ainda demonstrando que o que a música contemporânea precisa agora ainda é a voz... e que voz!

Exageros à parte, dá para se divertir com "Aretha Franklin Sings The Great Diva Classics"

Não é o canto do cisne de Lady Soul -- que provavelmente tenha sido "A Rose Is Still A Rose" -- mas é um trabalho simpático.

Eu, que evitei ouvir o disco nos 4 ou 5 meses que separam esse comentário do seu lançamento -- com medo de me decepcionar, pois gosto muito de Aretha Franklin --, confesso que estou aliviado.








AMOSTRAS GRÁTIS

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