domingo, março 01, 2015

JOSEPH ARTHUR CELEBRA LOU REED COMUNGANDO DA MESMA ATITUDE ICONOCLASTA PERANTE VIDA E ARTE


A carreira musical de Lou Reed foi uma carreira plena.

Em quase 50 anos desde o surgimento do Velvet Underground até "Lulu", seu último suspiro artístico ao lado do Metalllica, Lou experimentou praticamente tudo o que lhe veio à cabeça, muitas vezes arrumando encrencas monumentais tanto com seu público quanto com as gravadoras RCA, Arista e Sire, que nem sempre aprovavam seus projetos mais diletantes.

Se ficou faltando fazer alguma coisa em sua carreira, talvez tenha sido um álbum acústico com releituras de seus grandes sucessos -- se bem que em "Perfect Night Live In London" (1997) ele chegou perto desse conceito, só que optou por trabalhar um repertório mais obscuro.


O novo álbum de Joseph Arthur, "Lou" (um lançamento Vanguard), pretende ser um tributo carinhoso e pouco reverente a Lou Reed, de quem era amigo pessoal.

Mas o caso é que a falta de reverência foi tamanha que o projeto acabou ganhando contornos amplos e se transformando em muito mais que um mero tributo.

"Lou", da maneira como foi gravado, é um mergulho criativo na obra de um grande artista.

Totalmente acústico, e repleto de releituras que, vez ou outra, tornam números muito conhecidos do repertório de Mr. Reed irreconhecíveis, "Lou" dispensa bateria, baixo e instrumentos adicionais para recriar apenas com voz, violão e piano algumas das canções mais marcantes de duas, três ou quatro gerações.

São doze canções no total.

Abre com uma versão minimalista de "Walk on the Wild Side", sem o cinismo habitual e com uma ternura para com os personagens da canção jamais antes imaginada por Lou. 

"Stephanie Says" traz vocalizações em reverb que transformam os versos da canção quase num diálogo.

"Heroin" vira um blues rasgado, como Lou jamais imaginou gravá-la antes.

"Wild Child" e "Sattelite Of Love" transformam-se em baladas hipnotizantes, 

"NYC Man" e "Coney Island Baby" ganham contornos inusitados na voz gutural de Joseph Arthur.

E "Pale Blue Eyes" e "Magic and Loss" deixam de ser flertes com a morte para transformarem-se em celebrações à vida em tom menor.




Joseph Arthur nasceu em Akron, Ohio, 40 anos atrás, mas caiu fora de lá assim que pôde.

Foi tentar a sorte no circuito folk da Califórnia, e em 1997 deu a sorte -- e também o azar -- de ser descoberto por Peter Gabriel, que o contratou para seu selo New World, voltado prioritariamente para artistas de world music.

Seu primeiro disco para o selo, “Big City Secrets”, serviu para tirá-lo do ghetto folk e projetá-lo para o público de Peter Gabriel. 

Só no seu terceiro trabalho, “Come To Where I'm From” (2000), com produção de T-Bone Burnett e uma levada mais country rock, Joseph Arthur conseguiu atingir um público mais amplo.

Devidamente amparado pela Virgin Records, ele começou a desenvolver projetos mais ambiciosos, sempre influenciado por Gabriel e seguindo conselhos de amigos como Joe Henry e T-Bone Burnett.

Levou alguns anos até a Virgin finalmente se desinteressar dele, mas quando isso aconteceu, ele já era uma força emergente na cena independente.

De lá para cá, gravou uma série de Lps e EPs impeacáveis com sua banda The Lonely Astronauts para seu selo próprio, mesclando folk com pop em contextos sonoros no mínimo inusitados e firmando-se como um dos compositores mais solicitados da cena atual.


Joseph Arthur é um compositor prolífico, e nunca pensou em gravar um disco de covers antes de "Lou".

Talvez por isso mesmo, e também por admirar Lou Reed tão profundamente, essa homenagem ganhou contornos tão especiais e tão pessoais.

O que se pode concluir depois de ouvir "Lou" é que Lou Reed e Joseph Arthur compartilham da mesma atitude iconoclasta perante suas vidas e sua arte.

Da mesma forma que Lou não via nenhuma barreira entre seu trabalho como cantor-compositor e fotógrafo, Joseph adora dizer que sua obra musical e suas pinturas são uma coisa só, que ele chama carinhosamente de “Museum Of Modern Arthur”.

Ou seja: existem mais afinidades entre o autor da homenagem e o homenageado do que pode supor nossa vã filosofia.

Essas afinidades estão todas presentes em "Lou", um disco a ser descoberto.







AMOSTRAS GRÁTIS







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