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segunda-feira, dezembro 02, 2013

PEARL JAM, ELTON JOHN, NORAH JONES E BILLIE JOE ARMSTRONG EM 3 LPs MUITO INUSITADOS


Responda rápido: o que Norah Jones, Billie Joe Armstrong, Pearl Jam e Elton John tem em comum?

Em princípio, nada.

No entanto, todos esses artistas lançaram discos mais ou menos na mesma época -- meados do Outono no Hemisfério Norte --, provavelmente torcendo para que virem presentes de Natal -- e isso, com certeza, indica que são artistas com públicos assemelhados.

O caso é que, após toda a crise que assolou a Indústria Fonográfica nos últimos 10 ou 15 anos, algumas lições os executivos da música aprenderam. Por exemplo: nunca menosprezar o poder de fogo de um artista com público cativo, mesmo que esse artista insista muito em lançar um "produto" meio fora dos padrões da Indústria.

É (mais ou menos) o caso de todos os mencionados acima.

Um disco de Norah Jones voltado para os fãs dos Everly Brothers não é uma aposta fácil, nem mesmo para os ecléticos admiradores dela -- e menos ainda para os fãs do Green Day de Billie Joe Armstrong.

O mesmo vale para um cd de Elton John com vários temas instrumentais e sem um single grudento tocando o dia inteiro nas emissoras de rádio para puxar as vendas.

E quem conhece o Pearl Jam sabe que há muitos anos a banda exige de sua gravadora liberdade criativa total, e não aceita fazer concessões nesse sentido, grava o que quer e pronto..

Quinze anos atrás, talvez esses artistas tivessem "projetos fora do padrão" -- como esses que acabam de lançar no mercado -- arquivados por suas gravadoras, sob a alegação de que seriam investimentos muito arriscados e que provavelmente não dariam retorno.

Mas hoje, depois dessas mesmas gravadoras terem finalmente sentido a água bater em suas nádegas, elas não fazem mais isso.

Ao contrário: hoje elas agradecem aos céus por esses artistas veteranos -- que dispensam apresentações e maiores esforços de divulgação -- existirem, e ainda seguirem gravando e abastecendo o mercado com seus novos "produtos".



NORAH JONES E BILLIE LEE ARMSTRONG
FOREVERLY
Reprise (Warner Brasil)

Discos tributo a LPs clássicos raramente resultam em projetos bem resolvidos. Na maioria das vezes, acabam virando homenagens duvidosas envolvendo vários artistas -- vide o que aconteceu com os tributos a "Tapestry" de Carole King e "Rumours" do Fleetwood Mac, para citar apenas dois exemplos. Até por isso, quando a graciosa Norah Jones e o áspero Billie Joe Armstrong decidiram refazer faixa a faixa o clássico LP dos Everly Brothers "Songs Our Daddy Taught Us", de 1958, não chamaram ninguém para dividir a cena com eles, com receio de que o espírito da homenagem se diluísse numa super produção. Fizeram tudo sozinhos, em poucos dias, bem "low profile", para tentar resgatar o mesmo clima intimista que os irmãos Phil e Don Everly conseguiram imprimir na gravação do disco original. Claro que os dois cometem algumas ousadias aqui e acolá, até porque a idéia por trás de "Foreverly", o nome do disco, é não permitir que a homenagem seja reverente demais. São 12 canções tradicionais americanas que Norah e Billie Joe cantam em uníssono à moda dos Everlys. Os arranjos são discretos e delicados, e não seguem o mesmo padrão de instrumentação do LP original, como pode-se perceber em "Oh So Many Years" e "I’m Just Here to Get My Baby Out of Jail". Mas o mais legal de tudo é que tanto Phil Everly quanto Don Everly estão bem vivos -- ainda que meio aposentados, com 75 anos de idade. E homenagem legal é aquela que se recebe em vida.

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PEARL JAM
LIGHTNING BOLT
Monkeywrench-Virgin (Universal Brasil)

Recentemente, uma reportagem da BBC apresentava o Pearl Jam como um novo Grateful Dead, por ter conseguido em 22 anos de carreira imprimir uma marca musical muito forte num repertório extremamente variado em performances ao vivo nunca menos que espetaculares. Realmente, é meio difícil reconhecer no Pearl Jam de hoje aquela banda truculenta de Seattle que virou ícone da cena grunge em seus dois primeiros discos, do início dos anos 1990, e que lutou arduamente para que seus discos seguintes conseguissem sobreviver àquele modismo. Tanto que depois de dois discos quase experimentais -- "Vitalogy" e "No Code" -- o Pearl Jam deixou tanto a fúria quanto a latargia um pouco de lado e mergulhou de cabeça no Mainstream do Rock Americano -- só que com uma atitude bem aventuresca, em que toda e qualquer proposta musical se justifica contanto que não sirva apenas aos discos, mas principalmente aos palcos. Prova disso é que, de "Yield" (1998) para cá, a música do Pearl Jam ganhou uma organicidade que não tinha antes. Maturidade musical? Tesão de Palco? Sintonia fina entre companheiros de banda? Todos esses fatores certaamente contribuíram para a sedimentação do estilo musical da banda. "Lightning Bolt" é o 10º disco de estúdio deles, e quem se der ao trabalho de ouvir vai descobrir um Pearl Jam cada vez mais plural em termos musicais, em composições sempre grudentas e arranjos vigorosos. E fiquem tranquilos quanto ao ukelele de Eddie Vedder: dessa vez ele ficou em casa. Eddie comparece apenas tocando guitarra, piano e soltando a voz. E que voz....! E que banda....!

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ELTON JOHN 
THE DIVING BOARD 
Capitol (Universal Brasil) 

Desde "Songs From The West Coast" (2002), Elton John e Bernie Taupin parecem determinados a resgatar uma atitude que eles cultivavam em seus primeiros trabalhos juntos, quando gravavam álbuns magníficos como "Tumbleweed Connection" e 'Madman Across The Water" sem se preocupar com as paradas de sucessos, que eram supridas por singles desconectados desses LPs. 'Peachtree Road" (2004) e "The Captain & The Kid" (2006), seus discos seguintes, deram sequência a essa tendência vitoriosa em termos artísticos, mas decepcionante (para Elton) em termos comerciais. E então, depois de um projeto em colaboração com Leon Russell, 'The Union", produzido por T-Bone Burnett 3 anos atrás, Elton concluiu que só iria conseguir resgatar o frescor de seu trabalho nos anos 70 de forma plena se resgatasse também a urgência de seu modus operandi de compor e gravar na época, fazendo tudo rapidamente, utilizando poucos músicos, e sem se preocupar em deixar que as canções maturassem antes. "The Diving Board" é o resultado dessa experiência guiada por T-Bone Burnett. São 19 canções, sendo três delas interlúdios instrumentais, metade delas composta ou finalizada em 3 dias em 2012 e a outra metade em outros dois dias no início deste ano. São canções delicadas, vez ou outra auto-confessionais, sempre "no osso", que trazem saídas musicais bem distintas e parecem ter sido criadas para compor um mesmo contexto. Apesar disso, não dá para dizer que "The Diving Board" seja um disco conceitual. É, isso sim, uma espécie de prova de fogo pessoal. Elton John precisa, a essa altura da vida, achar razões para continuar produzindo discos novos -- até porque ele poderia viver tranquilamente fazendo tournées só com seu repertório clássico. Quer fazer isso da maneira menos complicada possível. Sob esse aspecto, "The Diving Board" é um triunfo. Mas eu, pessoalmente, acho que fica um pouco aquém dos 3 belos álbuns que ele compôs com seu parceiro Bernie na primeira década desse novo século.

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terça-feira, abril 12, 2011

EDIE BRICKELL E PAUL SIMON CELEBRAM A VIDA E O AMOR NO MELHOR MOMENTO DE SUAS CARREIRAS (por Chico Marques)


Paul Simon e Edie Brickell são artistas pop de gerações, backgrounds e naturezas muito diferentes. Como eles se encontraram é quase um mistério. Como permanecem juntos há quase 20 anos, um mistério maior ainda. Felizmente, essas coisas são assim mesmo, não obedecem nenhuma regra. Simplesmente funcionam, ou não. O ato de compor canções segue uma lógica bem semelhante. Impossível explicar porque uma determinada canção cai no gosto do público e outra não. E nesse assunto, os dois são craques absolutos.

Paul Simon nasceu em Newark, New Jersey, mas foi criado em Queens, na cidade de Nova York. Na adolescência, queria ser Phil ou Don Everly -- dos Everly Brothers, seus heróis musicais. Na escola, conheceu seu futuro parceiro e amigo Art Garfunkel. Pouco a pouco, descobriu que os dois poderiam seguir a trilha dos Everlys e tentar a sorte do outro lado do rio, em Manhattan. Com Garfunkel, Simon descobriu a América e toda a sua musicalidade. Mais adiante, sem Garfunkel, ele ganhou o mundo, e incorporou tudo o que ouviu em suas andanças na sua música, criando uma sequência incomparável de LPs.

Edie Brickell nasceu há 45 anos em Dallas, Texas. Desde cedo quis ser cantora, compositora e band leader, como Rickie Lee Jones e Laura Nyro. Sonhava com a leveza impossível das planícies no inesgotável céu azul do Estado da Estrela Solitária. Com uma banda de amigos -- The New Bohemians – e canções suaves e desencanadas, Edie alcançou o estrelato já em seu LP de estréia, 22 anos atrás --só que, infelizmente, a banda não resistiu às críticas negativas ao segundo LP, e se desmantelou. Edie casou e teve dois filhos com Paul Simon, e daí em diante optou por uma musicalidade mais doméstica. Deixou as tournées um pouco de lado, se afastou do mainstream musical e passou a gravar discos cada vez mais espaçados um do outro.


Seu mais novo trabalho, “Edie Brickell 2011”, é um achado. À primeira audição, parece um “mais do mesmo” maturado, com as melodias pegajosas habituais e um senso pop típico de quem domina o idioma à perfeição. Mas o caso é que esse novo trabalho tem um alcance muito maior e uma levada muito mais poderosa do que aparenta. Alternando flertes com a leveza cotidiana (“Give It Another Day”), climas docemente obsessivos (“You Come Back”) e reflexões mais densas (“Bad Way”), temos aqui uma Edie Brickell menos turbulenta do que em "Volcano" (2003), mas que esbanja a mesma jovialidade e vigor de seu início de carreira. Gravado ao longo dos últimos 3 anos, “Edie Brickell 2011” é surpreendentemente coeso, e foge do encadeamento óbvio da primeira à última faixa. É a melhor e mais ensolarada de suas coleções de canções -- quase todas cativantes, do tipo que dá vontade de cantar junto já na segunda audição.


Já o novo LP de Simon, “So Beautiful or So What”, parece à primeira audição mais uma coleção de belas canções como tantas outras que ele e Phil Ramone produziram nas últimas décadas. O dado curioso é que, ao mesmo tempo em que tratam de temas pouco mundanos, essas novas canções possuem uma urgência incomum em sua obra. Aos 70 anos de idade, Simon não parece estar disposto a perder tempo desenvolvendo projetos conceituais, até porque não tem mais nada a provar a quem quer que seja. Fala de amor em vários tons diferentes (“Love and Hard Times”, “Love Is Eternal Sacred Light” e “Love and Blessings”), flerta com a morte de forma serena (“Questions For The Angels”) ou irônica (“The Afterlife”), e surpreende com 'Amulet", um tema instrumental belíssimo. “So Beautiful or So What" não tem a preocupação de estar em sintonia com sonoridades mais atuais -- como aconteceu com seu disco anterior, "Surprise". É um LP que já nasceu atemporal. E que funciona quase uma panorâmica por várias estradas musicais onde Simon passou ao longo de seus quase 50 anos de carreira.

Esses últimos LPs do casal Paul Simon e Edie Brickell tem mais em comum do que aparentam à primeira vista. O sunshine pop rasgado de Edie vem ganhando soluções cada vez mais complexas, um pouco semelhantes às que Simon utiliza, mas não tão cerebrais quanto as dele. Já as canções de Simon parecem cada vez menos obsessivas no que diz respeito à perfeição formal, e mais soltas e reflexivas, como as de Edie. É como se, através de suas canções, os dois tivessem firmado uma espécie de pacto com a leveza e o descompromisso, ou coisa que o valha, e só quisessem, de agora em diante, saudar e celebrar a vida que possuem pela frente.

Enfim, nada como dois belos discos de Primavera capazes de desanuviar qualquer Outono chuvoso.





HIGHLIGHTS
EDIE BRICKELL - "EDIE BRICKELL 2011"





HIGHLIGHTS
PAUL SIMON - "SO BEAUTIFUL OR SO WHAT"







ENTREVISTA
PAUL SIMON