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domingo, julho 31, 2016

2 OU 3 COISAS SOBRE "STRANGER TO STRANGER", O NOVO LP DE PAUL SIMON.

por Chico Marques


Uma das (poucas) vantagens de estar ficando velho é a sensação aconchegante de que nossa memória está abarrotada de impressões inesquecíveis da primeira vez que experimentamos algo que até hoje nos traz muito prazer -- como, por exemplo, a primeira vez que ouvimos nossos discos favoritos.

No caso específico desse tampinha novaiorquino do Bronx que completa 75 anos no próximo dia 13 de Outubro, e que atende pelo nome Paul Frederic Simon, eu lembro perfeitamente de quando seu primeiro trabalho solo sem Art Garfunkel chegou às lojas no segundo semestre de 1972, e eu tive o prazer de escutá-lo numa audição coletiva numa loja daqui em Santos, a saudosa Tremendão Discos, gerenciada pelo meu amigo (até hoje) Lourenço Custódio.

A maioria dos que estavam na loja torceu o nariz para o disco -- o comentário geral era de que Simon fugira demais do padrão sonoro que vinha sendo adotado nos discos da dupla.

Já eu gostei bastante do que ouvi. Não simpatizei muito com "Me & Julio Down By The Schoolyard", estranhei um pouco "Mother & Child Reunion", mas tudo mais esstava no mesmo nível de excelência de Bridge Over Troubled Water, lançado dois anos antes.

Fiquei encantado logo de cara com "Everything Put Together Falls Apart" e "Duncan", até porque na época eu estava começando a estudar inglês, e, mesmo com a pouca bagagem que tinha, já conseguia perceber o quão densas em termos poéticos eram as letras dessas canções.



A foto da capa do disco, com Simon agasalhado, e com sua cabeça protegida por um capuz de pele de urso, indicava claramente que ele estava pronto para encarar tempo ruim, caso crítica e público desaprovassem seu disco de estreia.

Mas felizmente não foi isso que aconteceu, e Paul Simon 1972 foi extremamente bem sucedido, tanto em termos artísticos quanto em termos comerciais.

 

 Seu segundo LP, There Goes Rhymin' Simon, lançado no ano seguinte, 1973, já rendeu uma experiência bem diferente para mim.

Esse eu já ouvi sozinho, em casa, e bem alto.

Era um disco mais direto e mais conciso, com canções que grudavam nos ouvidos após a primeira audição, e um tom nostálgico bem alegrinho que era típico da época, e que também estava presente em Don't Shoot Me, I'm Only The Piano Player de Elton John e outros discos.

 Mas foi no seu disco seguinte de Simon que veio o "grande tapa na cara", e a certeza inabalável de que não havia na cena musical do mundo inteiro nenhum outro compositor igualamente gabaritado e nenhum outro performer tão meticuloso na hora de montar um disco.




Still Crazy After All These Years (1975) me deixou completamente boquiaberto quando o ouvi pela primeira vez no apartamento do meu saudoso amigo Paulinho Filgueiras.

Vi logo de cara que se tratava de uma coleção de canções urbanas com uma certa atmosfera jazzística em comum. 

Mas... que coleção de canções!

Uma melhor do que a outra, encadeadas numa sintonia tão fina que conseguia mascarar perfeitamente o fato do disco ser uma colcha de retalhos muito bem alinhavada.

É até hoje um de meus discos favoritos.



Acompanhei com muita atenção tudo o que Paul Simon produziu desde então.

Confesso que nunca tive saco para aturar a rigidez conceitual de discos como Graveland (1986) e Rhythm Of The Saints (1990), ou projetos fechados como a trilha sonora do filme One-Trick Pony (1980) e o score original do estranhíssimo Musical da Broadway The Capeman (1996).

Preferia mil vezes quando ele chegava com algum trabalho sem muita unidade -- como Hearts and Bones (1983), que é um disco magnífico, apesar de não ter pé nem cabeça.

Já You're The One (2000) é um álbum inspiradíssimo, gravado quando ele estava começando a namorar com Edie Brickell, e predomina nele aquele mesmo tom leve e descompromissado dos discos dela.

E tem ainda Surprise (2006), que não só esbanja um frescor musical delicioso como vem recheado de ótimas canções que acabaram injustamente esquecidas.

Confesso que nunca consegui entender porque o público cativo de Paul Simon tende a aprovar sem ressalvas seus discos mais experimentais, e torce o nariz quando ele parte para um trabalho mais descomplicado.



Stranger to Stranger é o 12º LP de estúdio de Simon, e saiu há dois meses pelo selo Concord -- que já havia lançado So Beautiful Or So What? em 2011, um belo lote de canções sobre amor, morte, paternidade tardia, espiritualidade, e o amor pela música.

Se no disco anterior Simon procurava resgatar seu background folk urbano em canções introspectivas densas e reflexivas, aqui ele chuta tudo para o alto e volta a falar das ruas, enveredando por experiências musicais exóticas e mesclando instrumentação etnica com loops eletrônicos e muita percussão.

Stranger to Stranger vem repleto de canções truculentas e inconformadas com a miséria mundial, com a estupidez fundamentalista, e com a boçalidade política reinante na Campanha Presidencial Americana -- Simon não se declara nem democrata, nem republicano, mas odeia tudo o que Donald Trump representa --, e o único defeito dessas canções reside no fato delas parecem ser demasiadamente frágeis para suportar molduras tão pesadas.

Abre com "The Werewolf", um libelo contra a estupidez e prepotência reinantes por todo lado. Vem seguida da estranha mas cativante "Wristband", sobre um cantor que sai para fumar um cigarro, ouve a porta do palco se fechar, percebe que deixou sua pulseira de identificação no camarim e tem que enfrentar um leão de chácara 2 metros de altura, que não o reconhece. Qualquer semelhança entre o que acontece a partir daí e a ironia judaica implacável de certos contos de Isaac Bashevis Singer não é -- mas não é mesmo! -- mera coincidência.

As canções que compõem Stranger to Stranger ostentam muita percussão. Quatro das primeiras seis faixas não tem guitarra alguma, e seguem bem além dos quatro minutos regulamentares, conectando-se sutilmente umas às outras. O resultado é curioso, mas francamente acho que seria muito mais interessante se o conceito fosse menos intrincado e mais casual.

Talvez não haja canção que melhor demonstre onde Stranger to Stranger erra na dose do que "The Riverbank", que descreve o funeral de um veterano que cometeu suicídio -- e que poderia ser uma canção tão contundente quanto "Powderfinger" de Neil Young, que aborda o mesmo tema, mas é estranha e truculenta demais, e irônica de menos.



Para o bem ou para o mal, Stranger to Stranger tem tudo a ver com Graceland (1986) e The Rhythm of the Saints (1990).

É tão ousado e tão experimental quanto os dois, e mescla influências musicais de vários cantos do mundo com a destreza e a meticulosidade habituais -- mas sem a organicidade que faria com que suas gravações soassem efetivamente "vivas".

Produzido como sempre pelo parceiro Roy Halee, levou nada menos que cinco anos para ser gravado no estúdio caseiro de Simon em New Canaan, Connecticut.

É um sucesso de público inquestionável: está no primeiro posto das paradas na Inglaterra e no terceiro posto da Billboard americana.

Jonathan Bernstein, da revista Entertainment Weekly, escreveu que o álbum é “uma coleção das mais ousadas, cheia de novos conceitos e sons que empurram as fronteiras musicais de Simon além do nunca”.

Randy Lewis, do Los Angeles Times, disse que “isso é música em sua forma mais ousada e relevante, sentimento de um representante septuagenário da velha guarda do rock que é, sem dúvida, tão potente como qualquer coisa de artistas aparentemente de vanguarda com um terço de sua idade.”

Ben Rosner, da revista Paste, chamou o álbum de “testemunho de um artista que se recusa a ser comum e rotulado. Com este álbum, Paul Simon criou o seu melhor trabalho em muitos anos.” e Andy Gill, do The Independent, o considerou seu melhor trabalho em muitos anos e declarou que "poucos compositores podem misturar seriedade e capricho como Paul Simon.”

Tem mais: Steve Smith do The Boston Globe afirmou que “é o mais rico manifesto de Simon desde Graceland” e Jim Beviglia de Americana Songwriter declarou que “este álbum apresenta Paul Simon no seu momento mais inquieto, tanto em letras questionando tudo quanto em sons... uma inquietação múltipla infinitamente fascinante.”

Eu, se fosse um crítico de verdade, e não um mero palpiteiro musical, teria que concordar com o que todos disseram, pois não tenho a menor dúvida de que Simon jamais foi tão ousado a ponto e nunca correu tantos riscos quanto neste disco: seu esforço artístico é realmente admirável.

Então, vou discordar, com toda a gentileza e o respeito que Paul Simon merece. Porque eu não consegui gostar do disco. E certamente jamais irei ouví-lo de novo. Francamente, não saberia como acomodá-lo na estante de discos da minha memória afetiva musical, ao lado de Still Crazy After All These Years, There Goes Rhymin' Simon, Hearts and Bones , You're The One, Surprise...


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sexta-feira, fevereiro 26, 2016

2 OU 3 COISAS SOBRE "NEW YORK IS MY HOME", NOVO LP DO PEQUENO GRANDE DION DIMUCCI

por Chico Marques


Bruce Springsteen costuma dizer que Dion DiMucci é o elo perdido entre Frank Sinatra e o Rock & Roll. E ele está corretíssimo.

Quando Dion & The Belmonts gravaram "I Wonder Why" em 1958, misturando num mesmo caldeirão elementos de doo-wop, rock and roll e rhythm & blues, sem querer estavam provocaram um turbilhão na cena musical pop sem precedentes, impondo um DNA étnico, com temperos latinos, no que veio a primeira grande contibuição da música da cidade de Nova York ao rock and roll.

Foi Dion DiMucci que, ao abrir as portas e as janelas da música americana para o skyline de Nova York, deixou tudo escancarado para que manifestações musicais locais como o Velvet Underground, Simon & Garfunkel, Al Kooper, Patti Smith e Bruce Springsteen surgissem e emplacassem no país inteiro nos anos seguintes. Não é à toa que todos esses artistas tem uma gratidão enorme para com ele.


O único problema quanto à enorme longevidade da carreira de Dion é que, por alguma razão difícil de explicar, sempre que ele assina com alguma gravadora é sempre contrato por um, no máximo dois discos -- e todas as gravadoras por onde ele passa estranhamente promovem esses discos como "o retorno de Dion".

É um contrassenso, pois Dion nunca gravou discos nostálgicos, e nunca se dispôs a regravar seus grandes sucessos do passado. Pelo contrário, são quase sempre trabalhos com sonoridade bem atualizada, trazendo canções novas de sua autoria, e acompanhado por músicos que não conseguem disfarçar o orgulho de estar contracenando com uma lenda musical viva.



Mas não adianta. Dion DiMucci, apesar de permanecer ativo e sem sair de férias jamais, seus discos quase anuais continuam sendo saudados como "comebacks". Dion nem liga mais para issso. Dá risadas. Para ele, o que realmente importa é estar vivo e ativo como artista aos quase 77 anos de idade.

E pensar que era para Dion DiMucci ter embarcado naquele vôo fatídico onde morreram Buddy Holly, Richie Valens e Big Bopper em 1959, e, por conta de algum contratempo, ele não embarcou...


De alguns dez anos para cá, quase todos os discos gravados por Dion passaram a ostentar um sotaque blueseiro bem forte, e "New York Is My Home" (Instant Records) não é excessão.

Quase todas as canções originais, além dos dois covers que ele escolheu gravar -- um de Lightning Hopkins e outro de Hudson Whitaker -- são números de blues, e a produção e os arranjos estão a cargo do veterano guitarrista e multinstrumentista Jimmy Vivino, que comanda a houseband do programa de Conan O'Brien na TBS.

“Visionary Heart” e “All Rocked Up” são números deliciosos, com a cara das calçadas da cidade de Nova York. "New York Is My Home", por sua vez, é uma das melhores canções que Dion compôs em quase 60 anos de carreira, e a participação vocal de Paul Simon na gravação só serve para torná-la ainda mais relevante. Proto-rocks como “The Apollo King” e “Ride With You” mostram claramente o quão jovial a música de Dion ainda consegue ser, e “Can’t Go Back to Memphis” é tão boa que parece ter fugido do repertório de Jimmy Reed.



Ao longo de sua vida, Dion nunca parou de produzir boa música e experimentar novos estilos, brilhando intensamente em grandes discos como "Born To Be With You" (1975, produzido por Phil Spector) e "King Of The New York Streets" (1990, produzido por Dave Edmunds), até chegar nesses seus trabalhos mais blueseiros dos últimos 15 anos.

"New York Is My Home" pode ser curtinho, e ter apenas 40 minutos de duração, mas é do tamanho ideal para as intenções de Dion nesse momento de sua carreira.

É um disco grudento à moda antiga, em que a última faixa do Lado B dá saudades da primeira faixa do Lado A, e daí a gente resolve ouvir o disco inteiro de novo.

Convenhamos: produzir 40 minutos de grande música num LP como "New  York Is My Home" não é para quem quer, é para quem pode.

E acreditem: esse italianinho do Bronx ainda tem esse poder depois de todos esses anos.



terça-feira, maio 22, 2012

LADIES AND GENTLEMEN, THIS IS TOM JONES!


Eu admiro Tom Jones desde menino.

Adorava seu programa de TV “This Is Tom Jones”, cheio de convidados muito especiais, que ia ao ar pela TV Record por volta de 1970. Não perdia um. Lembro bem do dia em que vi Ray Charles cantando lá. Se bem que lembro também de uns cantores bem cafonas -- como Engelbert Humperdinck e Caterina Valente -- que batiam o ponto por lá.

Os anos foram passando e, conforme fui crescendo, fui percebendo que, apesar de seu talento, Tom Jones era quase tão cafona quanto a maioria dos seus convidados, e que os arranjos da orquestra que o acompanhava eram de gosto altamente dicutível.

Custei a entender como alguém com uma voz tão espetacular quanto a dele podia escolher tão mal seu repertório, alternando verdadeiras aberrações como “Delilah” e “Help Yourself” com números espetaculares como “She´s a Lady” e “It´s Not Unusual”.

Mais alguns anos se passaram, e vi Tom Jones indo direto para o fundo do poço, virando cantor country em discos deploráveis e cada vez mais prisioneiro da cena artística decadente de Las Vegas.


A partir dos anos 90, no entanto, Tom Jones cansou daquilo tudo, voltou para a Inglaterra e começou a flertar com o pop mais modernoso feito por lá, saindo em em busca do lugar ao sol na cena musical que, até palavra em contrário, era seu por direito. 

Primeiro com aquela gravação espetacular de "Kiss", de Prince, com o pessoal do Art Of Noise, que sacodiu as pistas de dança do mundo inteiro. 

E depois, com o magnífico álbum de duetos "Reload!", onde desfila um repertório bem moderno e contracena com grandes estrelas do rock e do pop, num verdadeiro triunfo artístico.

De lá para cá, ele vem gravando um disco melhor que o outro, sempre agradando crítica e público, e resgatando a dignidade de sua carreira a olhos vistos.


“Spirit In the Room”, recém-lançado, é o disco mais despojado de Tom Jones em toda a sua carreira.

Produzido por Ethan Johns, oscila entre o folk e o gospel em números sempre levados no violão ou na guitarra com uma base rítmica bem simplificada.

É curioso constatar o quanto Tom Jones demonstra estar à vontade nesse contexto -- justo ele, habituado a disparar seu vozeirão sobre instrumentações exageradas.

“Spirit In the Room” abre com uma versão delicadíssima para “Tower Of Song”, de Leonard Cohen, simplesmente de arrepiar, 

E o que vem a seguir é impressionante: canções nada óbvias -- e escolhidas a dedo -- dos songbooks de Paul McCartney, Paul Simon, Richard Thompson, Joe Henry e Tom Waits, uma mais linda e sob medida para sua voz que a outra.

Tom Jones está atualmente com 72 anos de idade, e a 2 anos de completar 50 anos de carreira. Continua cantando muito bem, e sua voz não parece dar sinais de cansaço -- se bem que muito do exibicionismo vocal que ele ostentava em sua juventude parece estar totalmente fora de questão no seu trabalho atual, sempre pautado com muita sensatez pelo "menos é mais".

"Spirit In The Room" faz para a carreira de Tom Jones algo semelhante ao que a série "American Recordings" -- produzida "no osso" por Rick Rubin -- fez por Johnny Cash. Não é um projeto tão radical -- mas é tão intenso quanto, e fornece a dimensão real da sua grandeza artística.

Escutem a gravação que ele fez para o blues "Soul Of A Man", de Blind Willie Johnson, e me digam se esse bravo senhor galês de um metro e meio de altura não canta como um gigante?

Vida longa a Mr. Tom Jones!



INFO:
http://www.allmusic.com/artist/tom-jones-p13357/biography

DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/tom-jones-p13357/discography

WEBSITE OFICIAL:
http://www.tomjones.com/

AMOSTRAS GRÁTIS:

terça-feira, abril 12, 2011

EDIE BRICKELL E PAUL SIMON CELEBRAM A VIDA E O AMOR NO MELHOR MOMENTO DE SUAS CARREIRAS (por Chico Marques)


Paul Simon e Edie Brickell são artistas pop de gerações, backgrounds e naturezas muito diferentes. Como eles se encontraram é quase um mistério. Como permanecem juntos há quase 20 anos, um mistério maior ainda. Felizmente, essas coisas são assim mesmo, não obedecem nenhuma regra. Simplesmente funcionam, ou não. O ato de compor canções segue uma lógica bem semelhante. Impossível explicar porque uma determinada canção cai no gosto do público e outra não. E nesse assunto, os dois são craques absolutos.

Paul Simon nasceu em Newark, New Jersey, mas foi criado em Queens, na cidade de Nova York. Na adolescência, queria ser Phil ou Don Everly -- dos Everly Brothers, seus heróis musicais. Na escola, conheceu seu futuro parceiro e amigo Art Garfunkel. Pouco a pouco, descobriu que os dois poderiam seguir a trilha dos Everlys e tentar a sorte do outro lado do rio, em Manhattan. Com Garfunkel, Simon descobriu a América e toda a sua musicalidade. Mais adiante, sem Garfunkel, ele ganhou o mundo, e incorporou tudo o que ouviu em suas andanças na sua música, criando uma sequência incomparável de LPs.

Edie Brickell nasceu há 45 anos em Dallas, Texas. Desde cedo quis ser cantora, compositora e band leader, como Rickie Lee Jones e Laura Nyro. Sonhava com a leveza impossível das planícies no inesgotável céu azul do Estado da Estrela Solitária. Com uma banda de amigos -- The New Bohemians – e canções suaves e desencanadas, Edie alcançou o estrelato já em seu LP de estréia, 22 anos atrás --só que, infelizmente, a banda não resistiu às críticas negativas ao segundo LP, e se desmantelou. Edie casou e teve dois filhos com Paul Simon, e daí em diante optou por uma musicalidade mais doméstica. Deixou as tournées um pouco de lado, se afastou do mainstream musical e passou a gravar discos cada vez mais espaçados um do outro.


Seu mais novo trabalho, “Edie Brickell 2011”, é um achado. À primeira audição, parece um “mais do mesmo” maturado, com as melodias pegajosas habituais e um senso pop típico de quem domina o idioma à perfeição. Mas o caso é que esse novo trabalho tem um alcance muito maior e uma levada muito mais poderosa do que aparenta. Alternando flertes com a leveza cotidiana (“Give It Another Day”), climas docemente obsessivos (“You Come Back”) e reflexões mais densas (“Bad Way”), temos aqui uma Edie Brickell menos turbulenta do que em "Volcano" (2003), mas que esbanja a mesma jovialidade e vigor de seu início de carreira. Gravado ao longo dos últimos 3 anos, “Edie Brickell 2011” é surpreendentemente coeso, e foge do encadeamento óbvio da primeira à última faixa. É a melhor e mais ensolarada de suas coleções de canções -- quase todas cativantes, do tipo que dá vontade de cantar junto já na segunda audição.


Já o novo LP de Simon, “So Beautiful or So What”, parece à primeira audição mais uma coleção de belas canções como tantas outras que ele e Phil Ramone produziram nas últimas décadas. O dado curioso é que, ao mesmo tempo em que tratam de temas pouco mundanos, essas novas canções possuem uma urgência incomum em sua obra. Aos 70 anos de idade, Simon não parece estar disposto a perder tempo desenvolvendo projetos conceituais, até porque não tem mais nada a provar a quem quer que seja. Fala de amor em vários tons diferentes (“Love and Hard Times”, “Love Is Eternal Sacred Light” e “Love and Blessings”), flerta com a morte de forma serena (“Questions For The Angels”) ou irônica (“The Afterlife”), e surpreende com 'Amulet", um tema instrumental belíssimo. “So Beautiful or So What" não tem a preocupação de estar em sintonia com sonoridades mais atuais -- como aconteceu com seu disco anterior, "Surprise". É um LP que já nasceu atemporal. E que funciona quase uma panorâmica por várias estradas musicais onde Simon passou ao longo de seus quase 50 anos de carreira.

Esses últimos LPs do casal Paul Simon e Edie Brickell tem mais em comum do que aparentam à primeira vista. O sunshine pop rasgado de Edie vem ganhando soluções cada vez mais complexas, um pouco semelhantes às que Simon utiliza, mas não tão cerebrais quanto as dele. Já as canções de Simon parecem cada vez menos obsessivas no que diz respeito à perfeição formal, e mais soltas e reflexivas, como as de Edie. É como se, através de suas canções, os dois tivessem firmado uma espécie de pacto com a leveza e o descompromisso, ou coisa que o valha, e só quisessem, de agora em diante, saudar e celebrar a vida que possuem pela frente.

Enfim, nada como dois belos discos de Primavera capazes de desanuviar qualquer Outono chuvoso.





HIGHLIGHTS
EDIE BRICKELL - "EDIE BRICKELL 2011"





HIGHLIGHTS
PAUL SIMON - "SO BEAUTIFUL OR SO WHAT"







ENTREVISTA
PAUL SIMON


SENHORAS E SENHORES... EDIE BRICKELL


“As coisas que experimentei quando era criança foram determinantes para que eu esteja aqui, agora, fazendo o que eu faço. Mas não sou obsessiva. Apesar de determinada, nunca tive pressa para coisa alguma.”



“Acredite ou não, eu consigo compor em casa, enquanto cuido das crianças, nas brechas da minha rotina diária. Tem sempre um esboço de canção passeando pelos meus pensamentos.”



“Penso que se nesse momento eu conseguir conciliar agora minha carreira com minhas funções de mãe, não vou sofrer com a Síndrome do Ninho Vazio daqui a alguns anos, quando meus filhos saírem de casa e seguirem para a Universidade. Meu futuro é a minha carreira musical".



“Nesses anos todos com Paul (Simon) e as crianças, eu vivo uma vida feliz. Mas sempre tive a impressão de que as canções nos meus discos solo não refletiam essa alegria devidamente. Para corrigir isso, voltei a gravar ao vivo no estúdio com a banda, como nos discos que fiz com The New Bohemians. Funcionou.”



LPs COM THE NEW BOHEMIANS
Shooting Rubberbands at the Stars (1989)
Ghost of a Dog (1990)
Stranger Things (2006)

LPs SOLO
Picture Perfect Morning (1994)
Volcano (2003)
Edie Brickell (2011)


WEBSITE OFICIAL

http://www.ediebrickell.com/