quarta-feira, agosto 15, 2012

BILLY BOY ARNOLD HOMENAGEIA BIG BILL BROONZY E RESGATA A ALMA DO BLUES


Se engana quem imagina o folk-blues apenas como aquela modalidade rústica de blues acústico tradicionalmente praticada pelo pessoal do Mississipi.

O folk-blues, para quem não sabe, possui uma vertente urbana muito forte, que ganhou a América no início dos anos 40, logo após o lendário espetáculo "From Spirituals To Swing", que John Hammond montou no Carnegie Hall, em Nova York, com a nata do blues e do jazz da época.

Um dos participantes principais do show seria o lendário guitarrista, cantor e compositor Robert Johnson, que morreu assassinado pouco tempo antes de sua realização, naquela história clássica de pacto com o demônio que todo mundo conhece.

Em seu lugar, Hammond escalou um cantor emergente de voz intensa, que sabia tanto cantar com a eloquência dos blues shouters quanto daquele jeitão mais intimista dos jovens cantores brancos, como Frank Sinatra, e que, ainda por cima, era um compositor espetacular, responsável por números que já nasceram clássicos como "Key To The Highway" e "See See Rider".

Seu nome verdadeiro: Lee Conley Bradley.

Nome artístico: Big Bill Broonzy


Nascido em Bolivar County, Mississipi, em 1903, Big Bill Broonzy circulou por todos os cantos dos Sul dos Estados Unidos até decidir virar cantor e assinar um contrato com a Paramount Records em 1924 em Chicago, onde chegou e logo se misturou com o pessoal de jazz da cidade.

Big Bill gravava de tudo na época. Desde blues, work songs e folk music tradicional até versões acústicas de canções do momento que tocavam no rádio. Fazia isso com tamanha personalidade e gabarito que muitas vezes as gravadoras procuravam esconder suas fotos nas capas dos discos, para evitar que sua pele negra atrapalhasse as vendas.

Nos anos 30, brilhou em gravações espetaculares para a Bluebird Records, e começou a ganhar reconhecimento nacional, fazendo longas temporadas em nightclubs de Nova York e Los Angeles com bandas com sonoridade bem mais encorpada, firmando-se como um dos pioneiros do rhythm & blues.
E então, nos anos 40 quando o blues explodiu em Chicago, Big Bill já era veterano na cena da cidade, e conseguiu se sair melhor que a maioria dos novatos promissores que chegavam à cena, ganhando um contrato de vulto com a Mercury, onde produziu mais uma sequência espetacular de canções de sucesso.

Só nos anos 50 é que Big Bill assumiu para valer sua persona musical mais conhecida: a de folk-singer. Ele foi a ponta de lança do revival glorioso do folk-blues na época, gravando LPs magníficos para a Folkways que fizeram dele um dos maiores e mais respeitados tesouros musicais americanos de todos os tempos.

Sua carreira foi interrompida no auge por um câncer na garganta que o tirou de cena em 1958, e seu legado musical influenciou diretamente diversas gerações de bluesmen e folk-singers nesses últimos 50 anos.



Eu confesso que fiquei surpreso quando ouvi dizer que o cantor, guitarrista e grande gaitista Billy Boy Arnold dedicar um disco inteiro ao repertório clássico de Big Bill Broonzy.

É que, francamente, eu nunca achei que houvesse maior afinidade entre a música praticada por eles dois.

Big Bill sempre foi um mestre da delicadeza, enquanto Billy Boy sempre privilegiou um estilo mais truculento e urgente -- característica que ele cultiva desde seus singles gravados nos anos 50, como "I Ain´t Got You" e "I Wish You Would", e seu clássico LP de estréia, o clássico "More Blues On The South Side".

Mas eu estava enganado.

Billy Boy sempre teve grande afinidade com Big Bill. Chegou a conhecê-lo pessoalmente. Trocaram figurinhas em diversas ocasiões diferentes. E, por pouco, Billy Boy não cedeu sua banda na época para acompanhar Big Bill numa tournée rápida, pouco antes de sua morte.

Bom... o caso é que o blues ardido de Billy Boy Arnold suavizou com o passar dos anos, e depois de viver longos períodos tocando na Europa e no Japão, ele finalmente conseguiu retomar sua carreira na América em 1993 com "Back Where I Belong", gravado para a Alligator Records, que o colocou novamente no Olimpo do Blues de Chicago depois de mais de 20 anos de semi-ostracismo.

De lá para cá, vem desenvolvendo discos brilhantes para a Eletro-Fi, e se reinventando artisticamente a cada trabalho.

Quando completou 70 anos de idade, gravou um belo tributo a seu mentor musical e vizinho Sonny Boy "John Lee' Williamson I, e foi alvo de mais elogios e premiações do que jamais antes.



E agora ele surge com esse "Billy Boy Arnold Sings Big Bill Broonzy", mais ou menos no mesmo padrão de excelência da homenagem que fez a Sonny Boy, promovendo um belo passeio pelo repertório de mais esse grande mestre do blues americano.

É um disco respeitoso, mas não necessariamente reverente a Big Bill Broonzy.

Billy Boy deixa claro o tempo todo que é, antes de tudo, um gaitista, e que, por mais forte que seja seu jeito de cantar, ele não tem e jamais terá o magnetismo de Big Bill Broonzy. Com isso estabelecido logo de cara, ele alcança resultados soberbos tanto em números mais manjados de seu repertório, quanto em escolhas incomuns como "San Antonio Blues", "Living On Easy Street" e a adorável "Just Got To Hold You Tight".

"Billy Boy Arnold Sings Big Bill Broonzy" é mais um songbook do que propriamente um disco tributo.

Segue mais ou menos na mesma levada descontraída do grande disco que Muddy Waters fez em 1960 também em homenagem a Big Bill, e que foi tão criticado na época por ser moderno demais.

Convenhamos, ver um artista setentão como Billy Boy Arnold se reinventando mais uma vez, e buscando em 15 números do repertório de Big Bill Broonzy que marcaram sua juventude uma ponte de volta a sua própria origem como bluesman, só pode ser um jornada gloriosa, tanto para os aficionados em blues em geral quanto para os fãs de folk music.

Um disco e tanto!



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