segunda-feira, agosto 06, 2012

O LENDÁRIO JAZZMAN CURTIS FULLER TROUXE O TROMBONE, E O PRAZER É TODO NOSSO.


Trombonistas são as criaturas mais subestimadas do jazz.

Sempre eclipsados por saxofonistas e trumpetistas exuberantes, eles são constantemente subjulgados a um papel secundário ou terciário em qualquer arranjo musical que envolva um sexteto, septeto ou octeto de jazz -- sim, porque só se lembram de incluir um trombone na formação de um grupo de jazz depois de escalar ao menos um trumpetista e um ou dois saxofonistas.

Pois é uma pena que isso ocorra com tão pouca frequência. Sempre que um combo de jazz recebe um trombone em sua formação, todos os demais instrumentos crescem de forma graciosa e intensa.

Até por isso, ao longo de todo o Século XX, poucos trombonistas como J J Johnson, Kai Winding e Frank Rosolino conseguiram ser protagonistas na história do jazz, gravando com praticamente todos as grandes feras do gênero, e muito eventualmente comandando grupos por trás de suas gigantescas armações de metal brilhante que exigem um fôlego assombroso de quem se aventura a soprá-las.

Por essas e outras, é comum ver trombonistas se aposentando cedo.

Dos trombonistas clássicos da era do bebop, apenas um permanece vivo e ativo: Curtis Fuller.


Curtis Fuller está com 78 anos de idade e em plena atividade, comandando um grupo talentoso de jovens jazzistas meio século mais jovens que ele.

Fuller começou a tocar profissionalmente numa banda que Cannonball Adderley montou pouco antes de servirem o exército. Se alistaram juntos e acabaram integrando a Banda do Exército durante um ano.

Depois trabalhou com Kenny Burrell, Yusef Lateef, Benny Golson, Dizzy Gillespie, Coleman Hawkins, Art Blakey, Count Basie, Miles Davis... pode escolher qualquer artista de jazz: com certeza Curtis Fuller terá em seu curriculum alguma sessão clássica gravada ao lado dele.

Desde 1957, alterna discos como band-leader com experiências como sideman, e criou um estilo único no trombone, sustentando as oitavas em fraseados longos que acomodam muito bem qualquer improviso de qualquer solista por ele convidado, e também fazem dele um sideman muito requisitado.

Ao longo dos anos 90, comandou a Timeless All-Stars numa tournée contínua pelo mundo afora e praticamente abandonou sua carreira fonográfica -- até retornar de forma triunfal em 2004 num disco sensacional para a Delmark chamado "Up Jumped Spring".

De lá para cá, Curtis Fuller passou a trabalhar com os all-stars do Jazztet e vem gravando um LP a cada dois anos, além de seguir em tournée com um sexteto brilhante de Denver, Colorado, composto por Keith Oxman (sax tenor), Al Hood (trumpete, flugelhorn), Chip Stephens (piano), Ken Walker (contrabaixo) e Todd Reid (bateria).


É justamente esse pessoal de Denver que o acompanha nesse suingadíssimo "Down Home".

Aqui, Curtis Fuller esbanja delicadeza em blues e baladas, esboçando um bebop que nunca é rasgado e que jamais flerta com atonalidades. E que, mesmo assim, soa sempre extremamente jovial, moderno e melodioso.

Combinando metade do repertório com números originais de autoria de Fuller com a outra metade composta por clássicos do gênero nos anos 50 e 60, temos aqui jazz classudo, dançante, atemporal, extremamente bem executado e nada cerebral.

Portanto, quem presumir que o título "Down Home" é indicativo de "Nostalgia", vai se enganar.

Não é nada disso. Felizmente.



Curtis Fuller está vivendo um momento muito especial de sua carreira.

Ano passado ele gravou um dos discos mais bonitos da história recente do jazz, "The Story Of Cathy And Me", em homenagem a sua companheira de toda a vida -- que acabara de falecer --, repleto de canções que marcaram seu longo casamento, e algumas novas.

Um pouco antes, com esse mesmo sexteto de "Down Home", gravou outra pequena obra-prima, "I Will Tell Her", só com composições dele próprio, ao vivo em tournée.

É um dos renascimentos musicais mais festejados pela cena jazzística dos últimos anos, e é a reafirmação desse gênero musical incomparável e de primeira grandeza.

Se você gosta de jazz, tente conhecer toda a produção recente de Curtis Fuller. É magnífica. Vale a pena.

Aliás, vale o prazer.



BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/curtis-fuller-mn0000139566

WEBSITE NÃO-OFICIAL
http://hardbop.tripod.com/fuller.html

AMOSTRAS GRÁTIS

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