quarta-feira, dezembro 30, 2015

2 OU 3 COISAS SOBRE "SOULTIME", NOVO LP DE SOUTHSIDE JOHNNY & ASBURY JUKES

por Chico Marques


Quando Bruce Springsteen virou herói nacional em 1975 com seu 3º disco, BORN TO RUN, todas as gravadoras americanas -- com excessão da Columbia, onde ele gravava, e grava até hoje -- começaram a correr atrás dos artistas de New Jersey que elas próprias haviam rejeitado sistematicamente nos anos anteriores por considerá-los meio cafonas. 

A esperança era de que algum deles, quem sabe, conseguisse pegar carona no sucesso estrondoso e merecido daquele "tampinha" do balneário decadente de Asbury Park que se transformava num gigante sempre que subia ao palco, à frente de sua E Street Band. 

O que vimos na cena musical anglo-americana nos anos que se seguiram ao surgimento de Bruce Springsteen foi uma verdadeira avalanche de novos roqueiros com um sotaque soul bem carregado, como Graham Parker, Willie Nile, Joe Grushecky, Melissa Etheridge e Jon Bon Jovi. 

Isso sem contar muitos veteranos que estavam meio apagados, quase à margem do mercado, que aproveitaram a deixa para pegar carona naquela onda -- o caso de Garland Jeffreys, Elliott Murphy, Nils Lofgren, Ian Hunter, Gary U.S. Bonds e Dion DiMucci, entre vários outros.


Curiosamente, de todos esses "seguidores", o mais interessante de todos foi justamente um outro grupo de Asbury Park com um cantor espetacular (Johnny Lyon), um guitarrista e band-leader poderoso (Steve Van Zandt) e uma sessão de metais poderosíssima, que o próprio Bruce apadrinhou e a Columbia contratou: Southside Johnny & The Asbury Jukes.

Os três primeiros discos dessa banda enorme são absolutamente notáveis: verdadeiras aulas de soul music com sotaque roqueiro, resgatando o melhor do Northern Soul e, de quebra, sempre apresentando novas canções inéditas que Bruce Springsteen dava de presente para eles gravarem. 

Os três discos seguintes, gravados para a Mercury, já sem o comando de Steve Van Zant e sem os presentões de Bruce Springsteen, não possuem a mesma grandeza. Mas, por outro lado, não fazem feio em momento algum, mantendo a chama artística da banda bem acesa.


De meados dos Anos 80 em diante, conforme Bruce foi se distanciando mais e mais de suas raízes soul, a sonoridade clássica do Southside Johnny & The Asbury Jukes começou a ser questionada pelas gravadoras como sendo datada demais e apelativa de menos para os novos públicos. Daí, a saída para eles foi cair fora do mainstream para preservar sua integridade musical e seguir para a cena independente.

Assim, a banda vem dançando conforme a música nos últimos 30 anos, sempre a reboque do prestígio inabalável de Bruce, que nunca negou fogo a eles, dando todo o suporte possível para que eles conseguissem se manter no mercado musical com aquela sessão de metais poderosa (e onerosa) sempre ativa.


Pois bem: Southside Johnny & The Asbury Jukes estão de volta com um novo disco, SOULTIME(um lançamento Leroy Records, selo do próprio Johnny Lyon), que resgata mais uma vez a sonoridade original da banda em uma série de novas canções que, de tão familiares, mais parecem clássicos da soul music revisitados.

SOULTIME! não traz nenhuma grande novidade em relação aos dois discos anteriores com canções inéditas da banda, GOING TO JUKESVILLE (2002) e "PILLS AND AMMO (2010). Dá para sentir que as mudanças constantes nos integrantes dos Asbury Jukes não surtiram um efeito positivo na identidade musical na banda, mas, por outro lado, não chegaram a prejudicar muito o produto final. E, claro, há sempre alguns números no repertório de SOULTIME! que brilham de forma tão intensa que fazem com que esqueçamos esses detalhes. 

É o caso da balada"The Heart Always Knows", uma pequena pérola que parece ter fugido do repertório de Jackie Wilson. Ou de "I'm Not That Lonely", que soa como o lado B de algum compacto dos Four Tops. Ou de "Walking In A Thin Line", que lembra algumas gravações clássicas dos Temptations com Norman Whitfield. E olha que tem ainda as envolventes "Looking For A Good Time" e "Don't Waste My Time", que remetem diretamente ao Philly Sound de Kenny Gamble & Leon Huff do início dos Anos 70.


SOULTIME! é um disco altamente recomendável, apesar de estar longe de ser tão relevante quanto as gravações iniciais de Southside Johnny & The Asbury Jukes perpetuadas 40 anos atrás.

Sua maior virtude é trazer uma dose cavalar daquilo que a banda sabe fazer melhor: Soul Music da Costa Leste Americana, bem dançante, com um sotaque levemente italianado e uma atitude truculenta tipicamente irlandesa.

É, antes de mais nada, um trabalho de resistência de uma banda veterana que nunca cansou de brigar contra as adversidades para continuar seguindo em frente. 

Bandas como o Southside Johnny & The Asbury Jukes, que sempre suam a camisa e nunca deixaram de ostentar uma dignidade inabalável, jamais poderão ser chamadas de "caça-níqueis", pois são o sal da terra do classic rock anglo-americano.


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