quinta-feira, junho 07, 2012

NEIL YOUNG AND CRAZY HORSE RESGATAM CANÇÕES DE ESCOLA E CAEM NO ROCK RASGADO


Para quem não sabe, Neil Young é epilético.

E sempre usa esse álibi meio furado para tentar justificar porque seus projetos são tão disparatados -- como se isso fosse uma explicação para essa mania de alternar coleções de rocks rasgados com discos totalmente solo, ou com bandas acústicas, ou meio eletrônicos, ou então simplesmente conceituais como os recentes 'Glendale", "Fork On The Road" e "Le Noise".

Na verdade, Neil Young é genial.

E é completamente maluco também.

Quando acerta, vai ao Nirvana sem escalas -- como nos clássicos "After The Golrush", "Zuma", "Comes A Time" e "Ragged Glory".

Quando erra, a gente faz de conta que não ouviu, e nem comenta nada.

Mais de 40 anos de carreira ininterrupta fornecem esse handicap a qualquer artista popular.

Que o digam Bob Dylan, Paul Simon e Paul McCartney, que gozam dessas mesmas regalias por parte de setores mais generosos da opinião pública.



Sua tão aguardada volta com o Crazy Horse depois de 8 anos é surpreendente.

"Americana" traz Young e os fabulosos Frank SanPedro (guitarra), Billy Talbot (baixo) e Ralph Molina (bateria) numa empreitada absolutamente despretenciosa, desfilando um repertório de covers meio sem pé sem cabeça, onde velhas canções folk ganham arranjos de rock rasgado, e números clássicos de rhythm and blues como "Get A Job" acabam virando brincadeiras inclassificáveis, mas muito divertidas.

Verdade seja dita: ninguém esperava a essa altura da carreira de Neil Young um disco de covers, até porque seu registro vocal faz dele um intérprete totalmente improvável.

Mas ele fez um mesmo assim -- e deve ter sido muito divertido fazê-lo, pois a banda toda ri bastante sempre que encerra cada número.

Teve gente que torceu o nariz para "Americana", e é compreensível.

Afinal, depois de 8 anos sem um disco novo de Neil Young & Crazy Horse, esperava-se algo mais consistente do que um disco casual e desencanado como esse.

Mas "Americana" é muito legal. Abre com duas velhas baladas de cowboy -- "Oh Suzannah" e "Clementine" -- em releituras roqueiras e irreverentes, com as letras originais bastante alteradas, e segue nessa mesma levada virando do avesso baladas folk tradicionais como "Tom Dula", "Gallow´s Pole", "Travel On", "Jesus Chariot" e "Wayfarin'  Stranger".

O mais engraçado de tudo é Neil ter escolhido para fechar o disco "God Save The Queen" -- não a dos Sex Pistols, e sim a original, que ele certamente tinha que cantar na escola onde estudava no Canadá quando era criança.

Aliás, todo o repertório do disco é composto de canções que eram cantadas nas escolas americanas e canadenses dos anos 50 e 60 -- o que explica muito da irritação da crítica.

A sonoridade peculiar e bem festiva do Crazy Horse dá o envolvimento adequado para a brincadeira, e lembra bastante a levada country rock que a banda praticava em meados dos anos 70 -- nada a ver, portanto, com os heroísmos vistos aqui no Brasil, quando eles tocaram nos palcos do Rock In Rio.



Não adianta: ninguém vai conseguir enquadrar Neil Young em qualquer formato que a ele não interesse aos 67 anos de idade.

Há muito tempo ele faz o que quer, e não está nem aí se o disco novo vai vender menos que o anterior, ou se existem metas de vendas a ser alcançadas.

E ai de quem ousar encher a sua paciência com detalhes desagradáveis como esses.


Portanto, quem não quiser se aborrecer como os críticos que mencionei há pouco, recomendo nem chegar perto de "Americana" num dia de mau humor.

Pode estragar a audição de um dos discos mais simpáticos e inusitados lançados este ano.

Divirtam-se bastante ouvindo -- como eles se divertiram fazendo.




BIO-DISCOGRAFIA
http://www.allmusic.com/artist/neil-young-mn0000379125

WEBSITE OFICIAL
http://www.neilyoung.com/

AMOSTRAS GRÁTIS

 

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