segunda-feira, junho 04, 2012

JACK WHITE SAI EM CARREIRA SOLO E SE REINVENTA POR COMPLETO EM 'BLUNDERBUSS"



Desde quando surgiu à frente do duo The White Stripes -- ao lado de sua mulher, a baterista Meg White --, Jack White parecia ter um plano de vôo bastante claro:

1. Soar estranho
2. Agir de forma incomum
3. Jamais dificultar o acesso de seu trabalho ao grande público e aos meios de comunicação


Meio gênio, meio enganador, Jack White nunca escondeu que ser diferente e popular ao mesmo tempo sempre foi seu grande desafio mercadológico.

Apesar do formato dos White Stripes ser bastante semelhante ao utilizado pelo duo-casal texano Timbuk 3, muito popular nos anos 1990, a sonoridade das duas bandas sempre foi muito diferente.

Toda a excentricidade dos Stripes era exageradamente calculada -- ao contrário do Timbuk 3, que era anárquico e autosuficiente.

Mas tanto um quanto outro nunca deixaram de cultivar uma postura debochada diante do mainstream, além de embarcar em flertes eventuais com ele.

Claro que todo esse esforço não seria possível se a música dos White Stripes não fosse de alto gabarito. Não foi à toa que eles ganharam o mundo em 6 discos extremamente populares, que os projetaram direto para o topo da cena independente.



Mas o diabo é que muitas estações se misturaram, e o fim do casamento de Jack White com Meg White, somado às limitações terríveis do formato guitarra + bateria, acabaram levando ao encerramento de atividades dos White Stripes.

Quando isso aconteceu, Jack White já estava completamente envolvido por com dois projetos paralelos: a superbanda Raconteurs e o grupo de alt-country Dead Weather -- ambos extremamente bem sucedidos e voltados para segmentos de público diferentes.

Para não permitir que estações se misturassem novamente, e também para evitar crises de ciúmes entre seus parceiros de bandas, Jack nunca incluiu material dos Stripes nos shows das duas bandas, e jamais utilizou canções compostas para uma banda no setlist do show de outra, preservando assim a integridade artística de cada um de seus projetos.

Agora, que decidiu gravar seu primeiro álbum solo e sair em tournée com músicos convidados, Jack finalmente incluiu números de suas outras bandas no set list dos seus shows.

Mas não sem antes pedir licença a seus companheiros dos Raconteurs e Dead Weather, que permanecem ativos, mas em férias.

Algum de vocês já ouviu falar de algum astro de rock tão consciencioso assim?


Até agora eu não sei ao certo o que pensar de “Blunderbuss”, seu primeiro disco solo.

Não canso de escutá-lo há quase dois meses, e quanto mais tento entender esse novo passo ousado em sua carreira, mais eu fico sem saber o que dizer.

Cada faixa do disco parece revelar uma faceta diferente de Jack White, e tudo isso junto forma um pacote difícil de definir, mas extremamente fácil de digerir – o que provoca no ouvinte um estranhamento curioso.

Um exemplo disso: “Missing Pieces”, a intrincada faixa de abertura, lembra um pouco algumas brincadeiras musicais do início de carreira do grupo Sparks, que fez algum sucesso nos anos 70 – mas, mesmo sendo familiar, ainda assim soa estranha.

Já as guitarradas de “Sixteen Saltines”, um rock fulminante, lembram Dave Davies, dos Kinks – mas meio de passagem, pois na essência parece mesmo um número dos White Stripes tocado pelos Raconteurs.

A inusitada “Freedom At 21” lembra o Led Zeppelin viajando em velocidade de cruzeiro, mas com Robert Plant com a voz lá nas alturas em meio a uma batida sincopada frenética.

Já a faixa título do disco parece alguma balada fugitiva de "Gasoline Alley", de Rod Stewart.

E por aí vai...


Todas as canções de “Blunderbuss” parecem ter sido compostas no violão, de forma bem simples.

No entanto, seus arranjos foram todos estranhamente moldados ao piano, complicando bastante a estrutura e as harmonias dessas canções.

Tudo isso somado à produção refinadíssima e, ao mesmo tempo, urgente de Jack, acaba gerando os contrapontos musicais e estilísticos que fazem desse disco um dos lançamentos mais intrigantes e, ao mesmo, mais agradáveis deste ano.

Mas... será que isso explica tudo o que “Blunderbuss” propõe em termos artísticos?

Será que é possível desconstruir Jack White de forma tão óbvia, e se satisfazer com definições artísticas que sejam eventualmente simplórias e indignas?

Será que eu não estou sendo leviano com um gênio incompreendido -- ou, quem sabe, estar bancando o ingênuo com um grande pilantra, mesmo depois de 40 anos ouvindo discos novos diariamente?

Se você, assim como eu, acha que já ouviu de tudo na vida, experimente “Blunderbuss”.

Jack White vai dar um belo nó na sua cabeça, pode ter certeza.






BIO-DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/jack-white-mn0000128873

WEBSITE OFICIAL:
http://jackwhiteiii.com/

AMOSTRAS GRÁTIS:

Um comentário:

Julie disse...

Adorei o post! O último playlist do Jack é primoroso.....Beijão.....