sexta-feira, junho 01, 2012

RON CARTER SE REINVENTA MAIS UMA VEZ. AGORA COMANDA UMA BIG BAND ESPETACULAR.



Jazz sem contrabaixo não existe. 

Ou, ao menos, não existe em toda a sua plenitude. 

É o baixo que determina o drive, que estabelece o chão e que fornece o tapete para que qualquer arranjo -- seja para duos, trios, quartetos, quintetos e até mesmo orquestras -- funcione.

Não é nenhum exagero afirmar que Ron Carter é não só o maior contrabaixista vivo, como também o mais experimentado, o mais elegante e um dos únicos a conseguir estabelecer uma carreira como band-leader.

Domina todas as possibilidades tanto do cello quanto do contrabaixo – e, não satisfeito com isso, ainda desenvolveu um instrumento acústico muito interessante chamado Picollo Bass, bastante difundido de uns tempos para cá. 

Só não é muito chegado em baixos elétricos, apesar de ter feito uso esporádico deles nos anos 1980.


A carreira de Ron Carter é nada menos que espetacular. 

Desde o início prá lá de eloquente, em meados dos anos 50, nas bandas de Chico Hamilton e de Eric Dolphy. 

Depois brilhando como sideman em combos de diversos formatos com os amigos Cannonball Adderley, Randy Weston, Thelonious Monk, Bobby Timmons e Art Farmer. 

Até desembarcar no inigualável Miles Davis Quintet em 1963, ao lado de Tony Williams, Herbie Hancock e Wayne Shorter, virando os conceitos do jazz de ponta cabeça e libertando-o de todas as amarras ao longo de seis anos extremamente produtivos.

Foi quando percebeu que não cabia mais em grupo algum na condição de sideman e iniciou uma carreira como solista e band-leader em discos nada menos que espetaculares, como “Blues Farm” (CTI 1973), “Milestones with Sonny Rollins & McCoy Tyner” (Milestone 1980) “The Bass And I” (Blue Note 1997) e “Dear Miles” (Blue Note 2006)


Vocês já ouviram falar de algum baixista que tivesse comandado uma Orquestra de Jazz?

Pois foi exatamente o que Ron Carter decidiu fazer – e fez -- ano passado, reinventando-se mais uma vez como artista de jazz nesse espetacular “Ron Carter´s Great Big Band”, com arranjos bastante incomuns providenciados por Robert M Freedman para clássicos do jazz compostos entre os anos 1920 e 1970, e utilizando alguns dos melhores músicos de Nova York nos 13 números – nenhum deles com mais de 5 minutos de duração -- que compõem o disco.

Os destaques – se é que é o caso de destacar alguma coisa aqui, já que o disco inteiro é espetacular – ficam por conta de “The Eternal Triangle”, de Sonny Stitt, e  “Line For  Lions”, de Gerry Mulligan, números clássicos que ganham releituras tão intensas que certamente deixariam seus autores orgulhosos.

O mesmo vale para “Com Alma”, um dos temas favoritos de Dizzy Gillespie, além de “Footprints” de seu velho comparsa Wayne Shorter e das releituras extremamente originais para “Caravan”, de Duke Ellington, e “St. Louis Blues”, de W C Handy. 

Em meio a tudo isso, números como “Loose Change” e “Opus 1.5 - Theme For Clifford Brown”, ambos de autoria do próprio Ron Carter, e com linhas de contrabaixo espetaculares, caem redondos como um brandy bem maturado e um bom charuto.


Ron Carter estudou cello desde menino, no Estado do Mississipi, porque queria tocar em Orquestras Sinfônicas quando adulto.

Já quase adulto, nos anos 1950, tentou mas nunca conseguiu ser aceito tantos nas Orquestras Sinfônicas do Sul dos Estados Unidos quanto na Detroit Symphony.

O motivo: Segregação Racial.

E foi isso que o obrigou a trocar o cello pelo contrabaixo, e a música erudita pelo jazz.

Daí, ver Ron Carter comandando uma Orquestra com seu contrabaixo em plena Era Obama, e alternando seu trabalho jazzístico com discos solo com temas de Bach tocados no cello -- como em "Ron Carter Plays Bach", que está sendo lançado por esses dias --, é algo no mínimo emocionante.

É a evidência definitiva de que justiça poética pode ter swing.



BIO-DISCOGRAFIA:
http://www.allmusic.com/artist/ron-carter-mn0000275832

WEBSITE OFICIAL:
 http://www.roncarter.net/officialSite.html

AMOSTRAS GRÁTIS:

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