
Eu me considero uma das pessoas menos indicadas para escrever uma apreciação crítica do novo disco desse jovem soulman talentoso e esforçado chamado Caio Bosco.
É que eu o conheço bem.
Vejo o Caio há sei lá quantos anos correndo atrás de uma personalidade para seu trabalho, pesquisando incessantemente os mais diversos gêneros e experimentando água de todas as fontes musicais disponíveis.
Ele é um daqueles artistas que já nascem com mentalidade de produtor, e que não sossegam enquanto não encontram a melhor moldura sonora para suas canções – mesmo que esse processo exija uma disponibilidade de tempo que ele, como cantor e compositor, nem sempre tem.
Mas o legal é que, nesse embate meio esquizofrênico consigo mesmo, a música de Caio sai sempre ganhando.

Foi assim com os dois discos que fez à frente do Radiola Santa Rosa entre 2004 e 2006, quando ainda usava o nome Caio Dubfones e circulava pela cena hip-hop com um trabalho "low profile" extremamente original.
E foi assim também com o EP “Diamante”, o primeiro gravado com seu nome Caio Bosco, 3 anos atrás, onde deixava o hip-hop de lado e brincava de Tim Buckley e de Beck Hansen em 6 canções no mínimo inusitadas – eu, pessoalmente, adoro “Eu Não Quero Ser Sua Garota Nunca Mais”, composta depois de presenciar uma discussão entre um casal de meninas.
Pois agora, em 2012, com esse recém-lançado “Caio Bosco”, ele volta novamente repaginado e se afirma como “blue-eyed soulman”, soltando a voz em números expressivos e delicados como “Em Frente”, que remete a Curtis Mayfield no início dos anos 70, e também “Miss High Times”, onde mistura Jorge Ben pré-Banda do Zé Pretinho com grooves que lembram Norman Whitfield.

Caio não mediu esforços para que seu novo disco soasse analógico.
Enviou os tapes para o especialista Jim Waters, responsável por verdadeiros milagres sonoros em discos do Sonic Youth e do Jon Spencer Blues Explosion, além de Lucinda Williams e R L Burnside, e aqui ele repete a dose em grande estilo.
Para completar, "Caio Bosco" foi masterizado em Nova York pelo também especialista Fred Kervokian, responsável pelo arremate final na brincadeira.

Enfim, o motivo pelo qual sou uma das pessoas menos indicadas para escrever uma apreciação crítica do novo disco do Caio Bosco é que eu só consigo ver as virtudes dele, que não são poucas.
É um artista emergente admirável, que, com um pouco de sorte, ainda vai dar muito o que falar.
Claro que ele ainda não é um artista consumado. Ninguém o é.
E claro que Caio ainda pode melhorar muito, tanto como cantor e compositor quanto como produtor – e vai melhorar, sempre, até porque é um artista inquieto em busca da maneira mais acertada de se expressar musicalmente.
No momento, o que ele tem para oferecer é esse cd aqui: “Caio Bosco”.
Acreditem, não é pouco.
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