domingo, abril 08, 2012

OS VELHOS CANIBAIS DA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA BRASILEIRA CONTINUAM INVESTINDO EM ESTRAGOS FUTUROS


Há exatos 56 anos, a Columbia Records americana decretou o fim dos discos 78RPM de 10 polegadas, e anunciou que, dalí em diante, os "singles" -- discos com uma única música de cada lado -- teriam 7 polegadas e rodariam em 45 rotações.

Simultaneamente a isso, anunciou também que os LPs de 10 polegadas -- que rodavam em 33RPM e tinham capacidade para 4 músicas de cada lado -- também teriam sua fabricação "descontinuada", permanecendo como padrão para o formato LP os discos levemente maiores, de 12 polegadas, com capacidade para receber entre 15 e 20 minutos de música de cada lado.


Foi a primeira vez que a Indústria Fonográfica Mundial abandonou definitivamente um formato em prol de outro.

Curiosamente, a atitude não foi copiada da imediato pela Indústria Fonográfica Européia, que ainda preservou os dois formatos por mais alguns anos.

Aqui no Brasil então, a demora para a retirada do mercado desses formatos foi maior ainda -- tanto que os compactos simples e compactos duplos de 33 rotações, muito populares na Inglaterra, só foram surgir por aqui em 1964.

Eram tempos prósperos e nada imediatistas.

Canibalizar um formato, encerrarando a produção de um determinado produto -- atitude que seria cada vez mais comum na Indústria Fonográfica a partir dos anos 80 --, era algo impensável então.

Mas então, com o passar dos anos, tudo mudou, e começou a degola implacável dos formatos de áudio.

A primeira vítima foram os cartuchos 4-Track, ainda nos anos 70, seguidos das fitas cassete no final dos anos 80.


E então, por volta de 1990, com o sucesso dos compact-discs, a Indústria Fonográfica Americana decidiu canibalizar o formato LP 12 polegadas, muito popular há 40 anos, sendo seguida alegremente pela deslumbrada e emergente Indústria Fonográfica Brasileira.

Os europeus, mais uma vez, hesitaram.

Não viram sentido em canibalizar um formato tradicional defendido por muitos audiófilos como detentor de um padrão sonoro superior ao digital.

Daí disseram não à canibalização do LP, e mantiveram o formato ativo.

Por conta de todas essas decisões executivas atrapalhadas e imediatistas tomadas por essa legião de oportunistas incompetentes, hoje, 20 anos mais tarde, temos o seguinte cenário:

A Indústria Fonográfica Brasileira acaba de anunciar que vai abandonar o formato compact disc até o ano que vem, passando a operar apenas com venda de música por download -- mas não será seguida pelos artistas e selos independentes, que pretendem manter as fábricas de cds bastante ocupadas com sua produção artística corrente.

A mesma Indústria Fonográfica Brasileira, através de uma única fábrica de LPs de vinil, a DeckDisc, começa a colocar no mercado reedições de álbuns clássicos manjadíssimos e facílimos de se encontrar em Sebos pelo equivalente a 50 dólares cada --, um valor completamente fora da propósito, ainda mais se comparado aos 18 dólares cobrados por um LP novo nas lojas dos EUA e aos 15 Euros cobrados na Europa.

Enquanto isso, artistas independentes brasileiros, interessados em lançar seus novos discos no formato LP, preferem mandar prensá-los em fábricas na República Tcheca do que entregar suas matrizes para a brasileira DeckDisc -- que cobra quase o triplo do preço de fabricação praticado pelos tchecos, incluindo as texas de importação.


Enfim, com atitudes empresariais cretinas como essas, a Indústria Fonográfica Brasileira demonstra mais uma vez não ter aprendido as lições que as Indústrias Fonográficas do resto do mundo apreenderam a duras penas com a crise que assolou o segmento nos últimos 10 anos.

Continua apostando no imediatismo e na falta de uma proposta estrutural ao se entregar por completo (e com muito atraso) a um modelo de comercialização pós-industrial que já demonstra sinais de cansaço, e que deve ser substituído nos próximos anos por algum modelo menos óbvio do que esse praticado hoje pela iTunes Music Store, da Apple, e suas concorrentes diretas.

A incapacidade desses setores em aceitar que a relação "artista gravado-público consumidor" mudou radicalmente nos últimos tempos -- e vai mudar mais ainda num futuro bem próximo, com o fim da necessidade de adquirir arquivos de áudio através de downloads, pagos ou não -- deve levar a Indústria Fonográfica a um novo colapso em poucos anos, por absoluta incompetência e falta de visão de seus dirigentes.

Enquanto isso não acontece, a música segue rolando por aí em toca-discos analógicos e digitais, em gravadores cassete, em dvd e blu-ray players, em tablets e smartphones e em qualquer aparelho com conexão USB a partir de qualquer minúsculo pen drive, deixando bem claro que formatos são "medias", não prisões, e que toda manifestação industrial de natureza canibalística promovida por velhos executivos espertalhões da Indústria Fonográfica é, antes de mais nada, uma declaração de incompetência gerencial e uma irresponsabilidade para com o futuro do negócio do disco.

Um comentário:

Anônimo disse...

A coisa está ficando melhor sem eles, a indústria fonográfica.
Viva o Lyra Paulistana !
E o vinil não vai "voltar", porque ele apenas mudou de endereço.

DJ Moisés!