sexta-feira, maio 11, 2012

ATÉ QUANDO É AGRESSIVA E DESAGRADÁVEL, NORAH JONES SOA DOCE E MAGNÍFICA



Eu tenho um caso sério com Norah Jones.

Desde o momento em que ouvi, dez anos atrás, “Come Away With Me”, seu primeiro disco solo -- onde ela mesclava jazz e pop com uma levada meio bluesy, e às vezes meio folk, mas sempre de extremo bom gosto – fiquei perdidamente enfeitiçado.

Confesso que, na ocasião, não achei original seu approach musical. 

Toda aquela salada que ela prepara alí já havia sido testada antes – mais precisamente no início dos anos 70 -- por artistas como Maria Muldaur, Wendy Waldman e Valerie Carter, que continuam por aí até hoje, mesmo não tendo sido tão bem sucedidas comercialmente quanto ela.
O caso é que havia algo de estranhamente cativante no trabalho de estréia de Norah Jones, do tipo “decifra-me ou te devoro” – que eu confesso que não consegui decifrar, e que me devorou.

Não era apenas a produção do especialista Arif Mardin. Nem a doçura e o alto gabarito dela como cantora e compositora. Era algo mais. Um equilíbrio muito delicado, e verdadeiramente arrebatador. E um mistério: como explicar que uma estreante como ela pudesse chegar à cena mainstream de forma tão determinada e incondicional?

Dez anos e seis discos se passaram e eu continuo sem entender que magia é aquela que vem de “Come Away With Me”, e de todos os outros álbuns solo dessa adorável cantora e pianista, filha de mãe texana e pai indiano – ninguém menos que o genial Ravi Shankar.

Seja lá o que for que emane de Norah Jones, permanece no ar, imagino que encantando a todos. E essa regra vale até mesmo para discos um pouco estranhos, como esse que ela acaba de lançar. 


“Little Broken Hearts” é o sexto trabalho solo de Norah Jones, e o mais aventuresco que ela gravou até agora.
                                                                                                              
Justo quando todos esperavam que -- por conta de seu tumultuado divórcio, muito noticiado pela Imprensa -- Norah fosse reaparecer em cena se rasgando toda e cantando “torch songs” no melhor estilo “Carly Simon vivendo sem James Taylor”, eis que ela surpreende a todos com o disco mais “up” de sua carreira.

"Little Broken Hearts" é dissimulado e envolvente. Nele, a doçura habitual de Norah Jones se esconde por trás de letras truculentas e até meio malcriadas, e suas canções ganham uma moldura sonora pop noir bem modernosa, providenciada pelo craque Danger Mouse, do Gnals Barkley.
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Quase tudo é espinho nos números aparentemente alegrinhos que compoem “Little Broken Hearts”. Na desconcertante “She´s 22”, por exemplo, ela pergunta candidamente a seu ex-amante se sua nova namorada, de apenas 22 anos, consegue fazê-lo feliz? Em “Say Goodbye”, em meio a um riff oriental, ela desdenha seu ex-amante e diz na cara dele, serenamente, que mentirosos como ele só merecem uma coisa: adeus. Mais da metade das canções do disco segue nesse tom.

Só lá pelas tantas, em “Traveling On”, Norah deixa a raiva um pouco de lado e assume sua atitude escapista. É quando as canções passam a ostentar novamente aquela doce melancolia que todos nós conhecemos muito bem de seus discos anteriores. Até chegar em “All A Dream”, faixa de encerramento do disco, em que ela reduz a zero, sem piedade e com uma delicadeza ímpar, o cidadão que inspirou todas as canções desse “Little Broken Hearts”.

É um álbum com a duração de um LP: 45 minutos de duação.

Extremamente climático já a partir da capa, que traz a sempre adorável Norah mais linda do que nunca, fazendo um tipo fatal bem inusitado.

Com certeza não vai agradar aos que encaram Norah Jones como uma artista de pop adulto com um estilo cristalizado. Mas revela uma faceta adorável de sua personalidade musical, que deve introduzí-la a uma nova faixa de público que aprecia as sonoridades muito envolventes de Danger Mouse e o Gnals Barkley.

Enfim, "Little Broken Hearts" é sob medida para fazer novos amigos e também para deixar velhos fãs babões como eu completamente extasiados.

Quer um conselho? Antes de descartar o disco por ser diferente demais, dê a ele uma segunda chance. E uma terceira, se necessário.

Essa menina merece, ela é demais...

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Um comentário:

Cláudia Sardá disse...

Oi,
Amei seu texto sobre Norah Jones. Ao ler tive a sensação que você "roubou" meus pensamentos sobre o trabalho desta magnífica artista. Falou tudo o que penso. Obrigada!!
Cláudia